Não havendo por aqueles sítios árvores suficientemente
altas, os seus captores deviam ter pensado que dentro da choça encontrariam
alguma viga. E por isso se dirigiam para ali.
Loman odiava morrer num lugar sórdido. O seu último desejo
teria sido pedir que o deixassem acabar À luz do sol. Mas nem isso pôde fazer.
A fadiga e a dor impediram-no de modular uma palavra.
Ao voltar a si, estranhou não sentir no pescoço a pressão da
soga. Mas sentia-se tão dolorido que teve a impressão de que estava a ser
enforcado. Respirou intensamente, ergueu os olhos e viu Lena junto de si.
Era ela, não havia dúvida. Estava ali serena e sozinha.
Os dois homens haviam desaparecido.
E foi então que Loman se deu conta de que o haviam amarrado
solidamente a um caixilho de uma janela sem vidros. Além disso tinham-no
despojado da camisa estiraçada deixando-lhe p torax desnudo. A mulher que via
na sua frente atirava-lhe um olhar irónico, zombeteiro, desafiador.
Lena empunhava um chicote quase tão comprido como um látego,
mas muito mais duro, feito de couro entrelaçado.
- Ainda bem que acordaste - disse Lena com fundo desprezo. – Ficaria
dececionada se te visse morrer, sem sentires nada.
Loman tinha a boca pastosa, cheia de sangue. Mas conseguiu
falar:
- E os outros?
- Foram-se embora. Pedi-lhes que me deixassem a sós contigo.
- Que romântico! Tencionas declarar-te?
O chicote fustigou-lhe o peito.
- Para a outra vez chicoteio-te a cara! Antes de te matar,
hei-de marcar-te!
- Marcaste-me no próprio momento em que te vi.
Os olhos da mulher cintilaram..
- Que queres dizer?
- Apenas isto: que os teus olhos me queimaram como ferro em
brasa, que a tua voz ficou gravada nos meus ouvidos, que a tua figura me
aparece em todos os sonhos. Foi isso que me fizeste. Marcaste-me para toda a
vida.
Houve um leve estremecimento nos ombros de Lena. Um
estremecimento que não pôde evitar, embora fizesse um esforço e mordesse os
lábios. Depois dominou-se.
- A tua vida durará muito pouco, peçonhento.
Descarregou outra vez o chicote no peito de Loman, que teve
de afogar um gemido.
- A tua vida durará muito pouco, mas estas marcas durarão
enquanto existir a tua pele! – arquejou a mulher. – Quero que te lembres de
tudo que fizeste! Que lamentes cem vezes a morte de Sheridan! Que ladres como
um cão martirizado, que é o que tu és!
Bruce Loman cerrou os dentes.
- Estás a fazer uma figura de imbecil enquanto os homens de
Derringer se preparam para desferir o melhor golpe da sua vida.
Lena parecia À beira do paroxismo. Empunhou o chicote com as
duas mãos.
- Chamas a «isto» fazer figura de imbecil? E a «isto»?
Mais uma vez o chicote castigou violentamente o peito de
Loman. Mas o jovem sabia que não tardaria muito que Lena lhe golpeasse o rosto.
- Não me causas dano, Lena! Nada que venha da tua mão me
pode causar dano! Mas perdes o teu tempo aqui. Derringer vai assaltar o carro
que transporta o ouro do Banco Federal! Fá-lo-á dentro de minutos e morrerão
vários homens.
- Julgas que me enganas? Ainda que isso fosse verdade, a
única coisa que tu lamentarias seria não poderes participar no assalto.
Fez estalar outra vez o chicote. Agora no pescoço do jovem.
Bruce Loman olhou-a intensa e estranhamente. E a sua
pergunta foi mais estranha ainda:
- Amavas Sheridan?
A rapariga pareceu ficar, por instante, paralisada, sem
forças.
- Ia casar-me com ele…
- Isso nada significa. Amava-lo?
- E a ti que te importa? – gritou Lena, furiosa, deixando
cair outra vez o chicote.
- Se naõ te atreves a confessá-lo é porque não o amavas.
A ira da mulher pareceu centuplicar-se. Os seus dentes
rangeram e o seu braço direito, o único que segurava agora o chicote, começou
então a mover-se com rapidez vertiginosa. O couro percutiu três vezes o peito
de Loman, deixando nele horrível marca e outras três vezs o pescoço, onde
apareceram pintas de sangue.
E, no entanto, Bruce Loman sorria. Sorria de forma
desafiante incompreensível, entontecedora.
(Coleção Búfalo, nº 46)
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