- Você é má, rancorosa e vingativa… - dizia Ron para «miss»
Patrícia Diamond – porque tem nas veias sangue de judeu e de selvagem
pele-vermelha, que a fazem ao mesmo tempo mesquinha e avarenta, sanguinária e
violenta… A força é a sua lei e o ouro o seu único deus. A Lei, a verdadeira lei
protege os seus interesses, embora de uma maneira que lhe não agrada. Para quê
intentar ações em juízo contra uns desgraçados que ganham o pão arriscando a
pele? Deles não pode você receber dinheiro, mas apenas aborrecimentos e
despesas de ações. E, no fim duns meses de prisão, voltariam à mesma. Ah! Não!
Isso não lhe agrada. É melhor fazer voar em pedaços alguns deles, para que os
restantes fujam em debandada deixando-lhe o campo livre. Isso poupa-lhe tempo,
maçadas, despesas com a justiça e os ordenados dos seus espiões e pistoleiros.
A sua cartada saiu mal, porque há uma Lei de Deus e Ele dispôs as coisas de
forma a deixar o rasto do seu crime. Agora, receia as consequências e vem para
mim, com os seus grandes olhos cheios de lágrimas, tentar convencer-me de que
não interveio no assunto. Mas você sabe tão bem como eu que esses desgraçados
estão mortos porque assim o determinou.
Ron Stephens chegou ao fim do seu indignado discurso com a
face roxa, os olhos injetados de sangue e a respiração ofegante. Ante ele,
Patrícia Diamond contemplava-o com os olhos esbugalhados pelo espanto,
indignação e despeito. O seu lindo rosto estava pálido e o busto arfava
precipitadamente.
Subitamente, ela levantou a mão e aplicou uma tremenda
bofetada no rosto de Ron.
Impelido por cego instinto, Ron Stephens deitou-lhe as mãos
ao pescoço alabastrino. Ela só não fugiu a esta violenta prisão, como praticamente
se entregou, deitando a cabeça para trás de tal maneira que o xaile caiu-lhe
deixando nus os ombros. Os seus grandes olhos fitavam-no com expressão de
desafio.
- Maldita! – rugiu Ron, sentindo-se estremecer no contato
morno daquela pele acetinada. – Se merecesse a ena alguém perder-se por sua
causa!...
- Aperte! – gemeu ela com voz afogada. – Mate-me se
realmente me julga culpada!... Ande, mate-me!
Mas o impulso não era bastante cego para o levar até ao
homicídio. Os seus dedos afrouxaram a pressão no pescoço de Patrícia. Ela
olhava-o com as suas pupilas verdes, brilhantes como carvões incandescentes.
Ron viu-a formosa… fatal e soberbamente formosa. E um novo e avassalador
sentimento envolveu-o como num torvelinho.
O suave perfume de virgem que emanava dela perturbou-o. As
mãos resvalaram do pescoço para os ombros nus da jovem. Sentiu um irresistível
desejo de a beijar, de a apertar e esmaga-la nos seus braços, como uma boneca
desejada mas impossível de possuir. Ela entregava-se, arrebatadora, incitante,
e ele…
Deixando escapar um gemido, Ron abraçou-a e procurou os seus
lábios entreabertos e delicados. A boca dela não se furtou. Ao contrário, foi
ao encontro da sua e colaram-se, num beijo interminável, selvagem, louco. Os
braços dela apertaram-se em torno do pescoço de Ron, como duas serpentes. Ele
beijou-a. Beijou-a com raiva até sentir-se quase asfixiado.
- Ron, meu amor! – suspirou Patrícia com voz desfalecida…
(Coleção Búfalo, nº 44)
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