domingo, 10 de novembro de 2013

PAS153. São Francisco

Quando os cascos do seu soberbo cavalo golpearam as pranchas de madeira que retumbaram qual gigantesco tambor, Gary Mac Call deteve-o com um ligeiro esticão da brida, e apoiando-se sobre aborraina da negra sela mexicana, magnificamente lavrada e com rutilantes incrustações de prata, ficou absorto contemplando o agitado e ensurdecedor tráfego dos extraordinários molhes. Acres e acres tinham sido roubados ao mar, e sobre fortes estacas assentavam aqueles estrados sobre os quais rapidamente haviam sido construídos, nos mais dispares tamanhos, armazéns, lojas, tabernas e habitações.
Entre estes edifícios os espaços livres apareciam abarrotados de amontoadas mercadorias e por toda a parte se agitava uma multidão que febrilmente trabalhava para produzir a confusão que a chegada quase constante de novos barcos tornava caótica. Junto da linha grácil dos veleiros que haviam dobrado o cabo Hornos, aparecia o pesado vapor de rodas proveniente das rotas de Nova Iorque e Panamá. Buques das mais distantes partes do mundo chegavam cheios de gente em busca de fortuna, que desembarcava açodadamente como se temesse chegar tarde, agregando-se à multidão que se apinhava ao longo da costa, seguida a maior parte das vezes pela própria tripulação, e, assim, o porto ia-se enchendo de uma frota silenciosa, cujos mastros, como braços que clamassem ao céu, se elevavam formando um fantástico bosque de erectas árvores mortas, entre o lúgubre clamor dos cordames agitados pelo vento.
Aquilo era São Francisco!
(Coleção Búfalo, nº 42)

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