Lovejoy saltou da caleche e dirigiu-se ao interior da casa.
Gary desmontou então calmamente e, dando uma palmada em «Flash», subiu também
ao encontro da rapariga com ares de princesa, que parecia esperá-lo.
- Vinha com «mister» Lovejoy? – perguntou ela com voz que
recordou ao vaqueiro o vivificante e cristalino murmúrio de um arroio de água
fresca e clara em pleno deserto, com um estranho acento desconhecido para ele.
Não pôde logo responder porque estava ocupado em admirar a
perfeição daquele rosto que se erguia para ele, deslumbrando-o com a luz de uns
olhos glaucos tão maravilhosos como nunca vira.
Mas a sua descarada observação pareceu desagradar à rapariga,
que tomou uns ares de princesa ultrajada, pretendendo fulminá-lo com o desprezo
que uma rainha sentiria pelo mais miserável dos seus vassalos que ousasse
importuná-la. Não obstante, essa repulsa tornou-se inofensiva para a alegre
desfaçatez do jovem que abriu os lábios num ligeiro sorriso mostrando a fila
branca dos seus dentes sãos e fortes, que contrastavam com o tisnado do rosto.
- De onde se escapou a senhora, princesa? – perguntou com a
sua maneira lenta e arrastada de falar, sem afastar os olhos dela, de modo que
por fim a fez pestanejar e desviar os seus. – Apenas aos marinheiros ouvira
histórias de sereias tão formosas como um bocado do sol no Texas.
Um leve rubor de indignação tingiu as acetinadas faces da
rapariga, e por um momento pareceu que ia dizer alguma coisa, mas pensando
melhor deu meia volta e atravessando o amplo pórtico desapareceu na cas, altiva
e airosa como ninguém.
- Bem – resmungou Gary consigo, tirando tabaco e enrolando
um cigarro. – Quem será esta orgulhosa preciosidade?
(Coleção Búfalo, nº 42)
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