- É o cavalo mais bonito e inteligente que ainda vi – disse
inesperadamente uma voz agradável e de ricas tonalidades com ligeiro acento
estrangeiro, que fez dar um salto a Gary, que estava selando «Flash» com quem
ia chalaceando como se o nobre bruto pudesse entendê-lo. Velho hábito adquirido
nas longas jornadas solitárias nas planícies do Texas, quando durante dias e
dias o cavalo era o seu único companheiro.
- Alteza – sorriu, tirando o chapéu depois de uns instantes
em que ficou paralisado pelo assombro. – A verdade é que me alegro duplamente
de vê-la antes de marchar.
- Duplamente? – perguntou ela com um gracioso sorriso de
estranheza.
- Sim, condessa. Sempre…
- Por favor, Mac Call. É certo que na Rússia tinha esse
título, mas aqui não sou mais que «miss» Olga Selanova.
- Aqui e em qualquer parte merece a senhora um trono por ser
bonita. E sempre digo que é agradável poder admirar uma beleza como a sua, mas
neste caso, além disso, queria pedir-lhe perdão pelo meu brutal comportamento
desta manhã. Não consigo explicar como pude chegar a semelhantes extremos, e,
ainda que não possa esperar que me desculpe, uns olhos tão maravilhosos como os
seus só podem conceder perdão, porque seria um crime anuviá-los com rancor.
-É verdade… o senhor afirma coisas muito bonitas – sorriu
encantadoramente a condessita.
Gary não saia do seu assombro. Aquela nova versão de uma
Olga sensível e sorridente parecia-lhe impossível. A rapariga embelezava-se
extraordinariamente de cada vez que o coral dos seus lábios frescos e carnudos
se entreabria para mostrar o nacarado tesouro do seus dentes iguais e pequenos.
(Coleção Búfalo, nº 42)
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