quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PAS159. O revólver disparou quatro vezes

Contexto da passagem: Ron tinha apanhado uma bebedeira na companhia de uma garota para abafar as mágoas e conduziram-no ao seu quarto. No dia seguinte, reparou que lhe tinham roubado todo o dinheiro e voltou ao “local do crime” onde contou o caso a «miss» Diamond que resolveu esclarecer tudo.
 
Ouviram-se passos e vozes na escada. Godfrey descia à sala seguido por uma rapariga loura que vestia uma camisa de dormir e trazia o cabelo atado numa grande trança.
- É esta a pequena com quem esteve ontem à noite, senhor Stephens? – perguntou «miss» Diamond.
- Sim – respondeu Ron envergonhado.
- Rudy – prosseguiu dizendo «miss» Diamond – a este senhor desapareceram-lhe ontem cento e vinte dólares que trazia no bolso ao entrar aqui.
- Menina Patrícia ! – protestou a rapariga. – Insinua que sou uma ladra?
- Deus me livre de insinuar uma coisa tão horrível – respondeu «miss» Diamond. – Só quero que devolvas o dinheiro a este cavalheiro.

- Mas…
- Devolve-lho! – repetiu a jovem secamente.
Rudy meteu a mão no decote da camisa e tirou um punhado de notas de um dólar que entregou a Ron com um brusco e indignado movimento.~
- Toma, patego! E  nunca mais volte por aqui, ou lhe…
- Conte-o, senhor Stephens – disse «miss» Diamond.
- Não é preciso – murmurou Ron, sentindo-se bastante ridículo.
- Então, contarei eu – disse a jovem com aspereza.
E arrancando dum sacão o dinheiro da mão de Ron contou-o com rapidez.
Faltavam cinquenta dólares para a conta de Ron Stevens.
- Venham! – disse «miss» Diamond estendendo a mão em direção a Red.
O gigante ruivo meteu a mão no bolso e tirou resmungando quinze dólares, que entregou à patroa. Godfrey contribuiu com outros quinze dólares, que pôs de mau modo na mão aberta de «miss» Diamond.
- Jopplin! – disse a jovem voltando-se para o homem vestido de negro. – Dê ao senhor Stephens vinte dólares da conta da caixa.
- Ouça, menina Diamnod! – gritou Ron indignado. – Vim buscar o meu dinheiro, o que me furtaram aproveitando-se da minha embriaguez. Mas não quero que pague do seu bolso os copos que bebi, as atenções desta pequena, nem o serviço destes dois patifes.
- Dê-lhe o seu dinheiro, Jopplin – repetiu «miss» Diamond, com uma voz onde vibrava uma ira mal contida.
- Não pense que me humilha como costuma fazer com os seus conterrâneos, menina Diamond – gritou Ron.
E dando meia volta encaminhou-se para a porta.
Pum!...
Soou o estampido dum revólver e uma bala cravou-se mesmo aos pés de Ron Stephen, arrancando algumas falhas de madeira do chão.
Ron parou surpreendido. Nas suas costas, ouviu-se a voz imperiosa de «miss» Patrícia Diamond:
- Venha cá receber o seu dinheiro, senhor Stephens.
Ron rangeu os dentes e continuou a andar para a porta.
Pum!...
O revólver voltou a crepitar nas costas de Ron. E desta vez a bala arrancou-lhe o chapéu da cabeça, atirando-o a uns cindo passos de distância.
- Venha cá, senhor Stephens! – gritou Patrícia Diamond.
O jovem deu uns passos para a frente e baixou-se para apanhar o chapéu. O «colt» voltou a troar. Uma bala passou entre as suas pernas e incrustou-se na madeira da parede, a menos de três centímetros da sua mão.
Ron Stephens ficou uns instantes a contemplar o furo que a bala fizera na parede. Depois ergueu-se e continuou a andar para a porta.
- Pare, seu cabeçudo do diabo! – gritou «miss» Diamond. – Ou juro que lhe abrirei o crânio com uma bala antes de transpor a porta!
E como a corroborar a ameaça, o «colt» voltou a soar, e uma bala passou zumbindo um pouco acima do ombro de Ron, indo cravar-se na madeira da porta.
Ron Stephens voltou a parar, considerando por um segundo a gravidade da situação.
Má coisa era a rapariga ter jurado que disparava contra a sua nuca se desse mais um passo. Em geral um juramento obrigava quem o proferia ao seu cumprimento, sobretudo se era feito perante testemunhas e imediatamente após a ameaça.
Mas Ron Stephens não podia voltar para trás nem passar pela humilhação que aquela mulher queria impor-lhe.
Não regressaria embora o matassem… Respirou fundo, apertou os dentes e empurrou a porta esperando sentir dum momento a outro a bala que poria fim à sua vida.
Os batentes da porta gemeram debilmente ao cederem ante o empurrão de Ron Stephens.
(Coleção Búfalo, nº 44)

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