Contexto da passagem: Ron tinha apanhado uma bebedeira na
companhia de uma garota para abafar as mágoas e conduziram-no ao seu quarto. No
dia seguinte, reparou que lhe tinham roubado todo o dinheiro e voltou ao “local
do crime” onde contou o caso a «miss» Diamond que resolveu esclarecer tudo.
Ouviram-se passos e vozes na escada. Godfrey descia à sala
seguido por uma rapariga loura que vestia uma camisa de dormir e trazia o
cabelo atado numa grande trança.
- É esta a pequena com quem esteve ontem à noite, senhor
Stephens? – perguntou «miss» Diamond.
- Sim – respondeu Ron envergonhado.
- Rudy – prosseguiu dizendo «miss» Diamond – a este senhor
desapareceram-lhe ontem cento e vinte dólares que trazia no bolso ao entrar
aqui.
- Menina Patrícia ! – protestou a rapariga. – Insinua que
sou uma ladra?
- Deus me livre de insinuar uma coisa tão horrível –
respondeu «miss» Diamond. – Só quero que devolvas o dinheiro a este cavalheiro.
- Mas…
- Devolve-lho! – repetiu a jovem secamente.
Rudy meteu a mão no decote da camisa e tirou um punhado de
notas de um dólar que entregou a Ron com um brusco e indignado movimento.~
- Toma, patego! E
nunca mais volte por aqui, ou lhe…
- Conte-o, senhor Stephens – disse «miss» Diamond.
- Não é preciso – murmurou Ron, sentindo-se bastante
ridículo.
- Então, contarei eu – disse a jovem com aspereza.
E arrancando dum sacão o dinheiro da mão de Ron contou-o com
rapidez.
Faltavam cinquenta dólares para a conta de Ron Stevens.
- Venham! – disse «miss» Diamond estendendo a mão em direção
a Red.
O gigante ruivo meteu a mão no bolso e tirou resmungando
quinze dólares, que entregou à patroa. Godfrey contribuiu com outros quinze
dólares, que pôs de mau modo na mão aberta de «miss» Diamond.
- Jopplin! – disse a jovem voltando-se para o homem vestido
de negro. – Dê ao senhor Stephens vinte dólares da conta da caixa.
- Ouça, menina Diamnod! – gritou Ron indignado. – Vim buscar
o meu dinheiro, o que me furtaram aproveitando-se da minha embriaguez. Mas não
quero que pague do seu bolso os copos que bebi, as atenções desta pequena, nem o
serviço destes dois patifes.
- Dê-lhe o seu dinheiro, Jopplin – repetiu «miss» Diamond,
com uma voz onde vibrava uma ira mal contida.
- Não pense que me humilha como costuma fazer com os seus
conterrâneos, menina Diamond – gritou Ron.
E dando meia volta encaminhou-se para a porta.
Pum!...
Soou o estampido dum revólver e uma bala cravou-se mesmo aos
pés de Ron Stephen, arrancando algumas falhas de madeira do chão.
Ron parou surpreendido. Nas suas costas, ouviu-se a voz
imperiosa de «miss» Patrícia Diamond:
- Venha cá receber o seu dinheiro, senhor Stephens.
Ron rangeu os dentes e continuou a andar para a porta.
Pum!...
O revólver voltou a crepitar nas costas de Ron. E desta vez
a bala arrancou-lhe o chapéu da cabeça, atirando-o a uns cindo passos de
distância.
- Venha cá, senhor Stephens! – gritou Patrícia Diamond.
O jovem deu uns passos para a frente e baixou-se para
apanhar o chapéu. O «colt» voltou a troar. Uma bala passou entre as suas pernas
e incrustou-se na madeira da parede, a menos de três centímetros da sua mão.
Ron Stephens ficou uns instantes a contemplar o furo que a
bala fizera na parede. Depois ergueu-se e continuou a andar para a porta.
- Pare, seu cabeçudo do diabo! – gritou «miss» Diamond. – Ou
juro que lhe abrirei o crânio com uma bala antes de transpor a porta!
E como a corroborar a ameaça, o «colt» voltou a soar, e uma
bala passou zumbindo um pouco acima do ombro de Ron, indo cravar-se na madeira
da porta.
Ron Stephens voltou a parar, considerando por um segundo a
gravidade da situação.
Má coisa era a rapariga ter jurado que disparava contra a
sua nuca se desse mais um passo. Em geral um juramento obrigava quem o proferia
ao seu cumprimento, sobretudo se era feito perante testemunhas e imediatamente
após a ameaça.
Mas Ron Stephens não podia voltar para trás nem passar pela
humilhação que aquela mulher queria impor-lhe.
Não regressaria embora o matassem… Respirou fundo, apertou
os dentes e empurrou a porta esperando sentir dum momento a outro a bala que
poria fim à sua vida.
Os batentes da porta gemeram debilmente ao cederem ante o
empurrão de Ron Stephens.
(Coleção Búfalo, nº 44)
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