segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

CWB299.04 Os encontros da bela Hellen


Por mais de duas horas Donkey esquadrinhou a margem do Arkansas, onde o homem que lhe estendera uma emboscada na noite anterior em Pueblo o deixara meio morto. E pensava ao mesmo tempo em Hellen Miller, a mulher que desejava a sua morte, mas que não tivera coragem para o matar quando o tivera à sua disposição, completamente, indefeso.

De repente, montou a cavalo e empreendeu o regresso a cidade. E, algumas milhas percorridas, viu-a.

O seu primeiro pensamento foi retroceder, mas ela já o tinha visto e era tarde para isso, pelo que foi caminhando, lentamente até deter o animal que montava a poucas jardas do dela. A jovem parecia aguardá-lo, mas foi ele o primeiro a falar, e fê-lo em tom jocoso:

— Parece-me que o caminho é de todos, Hellen. Queres deixar-me passar?

— Sim, logo que acabe de falar contigo. O xerife Porter veio hoje ao rancho. O facto não te diz nada?

— Não.

— Perguntou-me se te conhecia e disse-lhe que sim, contando-lhe que és um assassino e que a tua vítima foi o meu próprio irmão. Parece-me que vai sendo tempo de pagares esse crime, Joe.

— Por tuas próprias mãos?

— Não, Joe, não. Já o tentei duas vezes e não fui capaz. Agora pus o caso nas mãos de Porter. Ele atuará. Prometeu-mo. Falta apenas que eu vá ao seu escritório para que se decida a isso.

— Porque esperas, nesse caso? — perguntou Donkey, friamente.

Hellen desorbitou os seus belos olhos verdes.

— Mas, vais deixar-me ir apesar do que te disse? Não me vais assassinar, tal como a meu irmão?

— Acredita que não me falta vontade, mas primeiro está teu pai, "miss" Miller — acentuou o apelido como se o triturasse com os dentes, o que fez com que ela enrubescesse intensamente —. O velho salvou-me a vida.

— Um assassino como tu não merece viver, Joe. E não viverás por muito tempo, juro-te.

Afastou o cavalo do centro do caminho, fê-lo caracolar e, sem esperar resposta, afastou-se a galope na direção de Pueblo. Entrou no escritório do xerife como uma bala, dizendo:

— Acabo de o ver e falei com ele, Don. Vais ajudar-me?

— Já te disse que sim — replicou Porter com voz rouca — Mas não sei até que ponto poderei fazê-lo. Esse delito cometeu-se muito longe daqui e não existe reclamação alguma contra ele.

— Põe-te em contacto com o xerife de Cheyenne e talvez arranjes algo em que te basear. Mas tens de fazer qualquer coisa, compreendes!

Porter compreendia-a. Além disso, amava-a, amava-a, entranhadamente, e querida ajudá-la. Tentou um ligeiro sorriso e respondeu:

— Farei o que me for possível, mas antes de chegar qualquer resposta de Cheyenne, nada poderei fazer.

Ela baixou os olhos e durante alguns segundos não pronunciou uma só palavra. Porter mal podia adivinhar as trombas de ódio e fúria que a sacudiam por dentro.

— Eu sei, Don — disse, por fim —. Eu sei que farás tudo o que poderes e eu... eu agradeço-te.

No regresso ao rancho, e quando lhe faltavam apenas duas milhas para chegar aos seus pastos, Hellen encontrou-se com um cavaleiro. E ao reconhecê-lo, exclamou, alegremente:

— Elmer! Elmer Tracy em pessoa! Que fazes tu em Pueblo?

Tracy exibiu um sorriso triste.

— Não devias perguntar-me tal coisa, querida. Quando sucedeu aquilo fui procurar-te, mas já não vos encontrei. Teu pai recebera uma porção de dólares e vocês desapareceram da comarca. Durante todo este tempo não tenho feito outra coisa que procurar o teu rastro. O teu e o desse assassino. Certamente, sabes onde ele se encontra agora...

— Aqui, em Pueblo — replicou ela, sem pensar muito no que dizia.

Fez uma ligeira pausa e continuou:

— Não devias procurar-me, Elmer. Bem sabes que não deves fazê-lo.

— Porquê? Sempre te quis muito e chegámos a ser prometidos. Achas que posso esquecer-me disso?

— Eu também te quis, mas isso acabou, Elmer. As coisas já não podem continuar como então. Compreendes, não é verdade?

O frio rosto de Elmer nublou-se um tanto.

— Eu sei, como também sei que me desprezaste por causa desse reles assassino. Diz-me, onde posso encontrá-lo?

Hellen olhou-o, atentamente e respondeu:

— Julgas que fazendo o que estás a pensar conseguirias algo de mim, Elmer? Não, nada conseguirias.

Lamento-o, mas já não te ama. Aquilo passou e... Ele interrompeu-a.

— Claro, é bem simples... Enamoraste-te dele, não é verdade, Hellen?

— Eu? Estás doido, Elmer! Completamente, doido se pensas isso!

Tracy retomou o caminho de Pueblo e Hellen o do seu rancho. Nessa noite, sem poder dormir, ela jurou a si própria matar Joe Donkey, murmurando consigo mesma:

— Será a última coisa que faço na minha vida, mas desta vez não falharei. Podes estar certo disso, Joe Donkey!

Levantou-se e foi até à janela. Olhou por ela na direção de Pueblo, onde se encontravam os dois únicos homens que haviam intervindo na sua vida de uma forma definitiva.

Um pouco depois, sem que ela o notasse, a porta do seu quarto abria-se, dando passagem ao velho Miller.

Hellen sentiu um sobressalto quando se apercebeu da presença do pai no seu quarto, já que não dera pela sua entrada. Abandonou a janela e encarou-o.

— Vi-te entrar há pouco e desejava saber de onde vinhas — começou o pai, depois de se desculpar da intromissão — Há algum inconveniente em mo dizeres?

O rosto de Hellen crispou-se.

— Fui a Pueblo falar com Porter. Pedir-lhe para que detenha esse homem. Matou meu irmão e não descansarei enquanto o não vir enforcado.

— Hellen!

— Sempre a mesma coisa, pai! — os olhos da jovem brilhavam como nunca e o peito arfava — lhe violentamente —. Procuras por todos os meios que eu não intervenha nisto. Porquê, pai? Porquê?

— Escuta-me de uma vez por todas, minha filha — disse o velho Miller com severidade —. Tu és ainda muito jovem para julgar alguém... Jamais acreditei que fosse Joe o assassino de Jim, entendes? E nunca o acreditarei! Conheço Donkey desde criança. Impetuoso, mas íntegro. Não, não foi ele o assassino de teu irmão. Seria capaz de o jurar. Portanto, filha, esquece-te disso. Procura consegui-lo. Joe não o matou. Podes ter essa certeza, apesar do revólver que foi encontrado ao lado do corpo de Jim.

— Falas assim talvez por influência dos cento e cinquenta mil dólares que te emprestou seu pai. Sim, deve ser isso. Vendeste a vida de teu filho por uma porção de míseros dólares. Mas tem a certeza, pai. Eu mesma, se Porter não o conseguir, me encarregarei de fazer com que esse assassínio não fique impune...

Miller, com o rosto transtornado, deu um passo em frente, e disparou a mão direita. Hellen recebeu a bofetada e caiu sobre o leito, os seus grandes olhos desorbitados pelo estupor, mas sem uma única lágrima neles.

— E agora um conselho, pequena. Não te metas no que não te diz respeito. Deixa que a lei proceda como julgar conveniente. De contrário, tu e eu acabaremos mal...

Com estas palavras, deu meia-volta e saiu do quarto, deixando a filha com os seus verdes e grandes olhos repletos de ódio, derrubada sobre o leito, com o pensamento concentrado em Joe Donkey.

Na manhã seguinte, vestiu uma blusa e saia de montar, tomou um dos "Colts" do rancho, extraiu dele todas as balas menos uma, e foi à cavalariça.

Selou um cavalo e verificou a carga do rifle. Feito isso subiu para a sela e, procurando não ser vista por seu pai nem por nenhum dos vaqueiros do rancho, tomou o caminho do Arkansas.

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