domingo, 29 de janeiro de 2023

CLT017.05. Uma noiva desesperada e armada

Tony Trevor sentiu um calafrio pela espinha. Fechou a porta que tinha na sua frente e voltou a cabeça enquanto levantava a pistola um pouco. A voz dela soou outra vez forte e seca:

— Tem dois segundos para deixar cair a arma no chão!... Um!...

Tony abriu a mão e o «Colt» caiu no chão.

— Muito bem — disse Lídia. — Agora volte-se.

Tony girou sobre os calcanhares e contemplou a outra parede do quarto. Os olhos de Lídia relampeavam de ira e o seu peito agitava-se. Por cima da sua cabeça, pregada á parede, havia uma vitrine. Nesta notava-se o sítio onde tinha sido tirado o revólver que a jovem lhe apontava.

— Que se passa, senhora? — disse Tony. — Não compreendo a sua atitude.

Ela abanou a cabeça e sorriu sem vontade.

— Não compreende, não é verdade?... Tudo é muito estranho para si... Eu soube que você era um assassino quando estiveram aqui o «sheriff» e Ronald. Teria sido suficiente uma palavra minha para eles o crivarem de balas. Mas não o fiz. Não o fiz, senhor Trevor. E em troca, aproveitando agora um descuido seu, sou eu que o tenho nas minhas mãos... Dar-lhe-ei a explicação que você pediu, senhor Trevor.

— Deve ser muito interessante.

— Não quis que o «sheriff» ou Ronald o matassem. E sabe porquê?... Porque quero ser eu a matá-lo!

Houve uma breve pausa.

— Você? ----disse Tony. — Creio que está um pouco nervosa. Não sabe o que diz.

— Sei perfeitamente o que digo, senhor Trevor. Você matou Lee Carey e para fazê-lo com toda a segurança não lhe deu nenhuma oportunidade. Provavelmente atingiu-o pelas costas... e talvez aproveitando enquanto dormia.

— Não...

— Cale-se! — atalhou ela. — Sabe por acaso que classe de homem era a sua vítima?

— Já lhe disse que não o conheço.

— Claro que sim. Somente o viu no momento de o matar. Lee Carey era o que se chama um homem bom, um homem honrado que sabia cumprir com todas as suas obrigações. Não existia pessoa mais generosa em Pau Verde... E eu amava-o, senhor Trevor.

No rosto de Trevor desenhou-se uma careta. Lídia prosseguiu:

— Diverte-o a minha confissão, senhor Trevor?... Eu amava Lee Carey e ele correspondia-me!... Íamo-nos casar. Lee teve de juntar dólar a dólar para que pudéssemos realizar o nosso sonho... Dentro de dois meses casávamo-nos, senhor Trevor. Ele era muito mais rápido que você com o revólver. Não passou ninguém por Pau Verde mais rápido e com maior pontaria do que ele, mas mesmo assim contentou-se com um pequeno ordenado. Mas você é de outra massa, não é verdade, senhor Trevor? Você soube de qualquer forma que ele transportava dinheiro e atacou-o para o roubar... E teve de o assassinar para apoderar-se do dinheiro! Você manchou as mãos com o seu sangue!...

— Porque não serena, pequena?

— Isso já me disse antes. Será que tem medo? Sim, tem medo, basta olhar para a sua cara... Sente pânico porque sabe que vai morrer.

— Porque não me ouve um momento?

— Nada tenho de ouvir! — Lídia levantou o revólver disposta a disparar.

As palavras brotaram rapidamente dos lábios de Tony.

— Dois indivíduos ofereceram-se para eu trocar o cavalo do seu noivo; depois, compraram-me o relógio por vinte dólares. Por isso cheguei montando o cavalo de Lee Carey. Por essa razão paguei no «saloon» com dinheiro da remessa... Mas continuo a dizer que nada tenho a ver com a desaparição de Carey.

— Você é um farsante!

Tony deu dois passos para ela.

— Não a estou a enganar.

— Mente! Mente descaradamente!

— Que raio de povo é este que ninguém acredita no que possa dizer um desconhecido? — e deteve-se a menos de dois passos dela.

— Você é um foragido, um «pistoleiro»! Que classe de passado é o seu? Roupas sujas, suadas, essa barba... Só um olhar basta para ver que você seria capaz de matar apenas por uma moeda de prata.

— Não devemos julgar as pessoas pelo seu aspeto.

Tony deu outro passo e saltou sobre a jovem. Lídia disparou quando ele ia a alcançar a mão armada. A bala roçou o ombro de Tony e foi bater no chão. Em seguida o jovem perdeu o equilíbrio e arrastou-a na queda. A mãe de Lídia soltou um grito do seu quarto. A jovem continuava a esgrimir a arma e fazia esforços para apontar ao corpo dele. Estavam muito juntos. Os seus rostos estavam muito perto, e retorciam-se numa máscara pelo esforço feito.

— Mato-o, assassino! — gritou Lídia.

— Solte o revólver ou ver-me-ei obrigado a partir-lhe os queixos!

— Lídia! — gritou a mãe da jovem. — Socorro!... Lídia!

A jovem fechou os olhos num gesto de dor, pois Tony torcia-lhe cada vez mais o pulso. Por fim deu um suspiro e abriu os dedos, deixando escapar a arma. Então ele soltou-a dando-lhe um empurrão.

Levantou-se e sacou o revólver que tinha no coldre esquerdo. A jovem endireitou-se apoiando-se na parede, soluçando. Os cabelos caíam-lhe para a cara e ficou ligeiramente curvada olhando para Tony.

— Não me ouves, Lídia? — gritou outra vez sua mãe. — Que se passa?

— Não foi nada, mamã — respondeu ela.

— Você teve a culpa — disse Tony. — Não devia ter feito isto... Podia-me ter matado.

— Devia tê-lo feito antes de lhe ter dado oportunidade de se aproximar!

Tony voltou-lhe as costas e ela lançou-se sobre ele como uma fera e agarrou-se ao braço armado.

— Maldita mulher! — murmurou enquanto tentava desembaraçar-se.

Nesse momento abriu-se a porta da rua e Smilles e Ronald apareceram com um «Colt» em cada mão.

— Renda-se, Trevor, ou assamo-lo como a um vitelo gritou o «sheriff».

Lídia continuou agarrada com todas as suas forças ao braço esquerdo de Tony. Então Ronald adiantou-se rapidamente e deu uma coronhada na mão armada de Tony. O segundo revólver foi também parar ao chão. A jovem separou-se de Tony e este voltou a cabeça para olhá-la.

— Está satisfeita... Conseguiu o que queria. Em breve me verá morto.

Lídia lançou para trás o cabelo que lhe caía para a cara e levantou altivamente a cabeça.

— Terá simplesmente o que merece.

— Você está cega pela paixão. Não pode ser imparcial...

— Basta de conversa! — disse Ronald. — Ou quer que lhe parta todos os dentes com uma coro-chada?

Trevor tinha suportado demasiado o ajudante do «sheriff». Não pensou um segundo. Com toda a sua força aplicou o punho direito no queixo de Ronald. Ouviu-se um estalo e o ajudante voou por cima da mesa levando na sua frente um jarrão de cristal, que se partiu em mil bocados, e em seguida caiu no chão, dando uma volta completa sobre si próprio.

— Você está louco? — gritou o «sheriff».

Tony levantou as mãos, suspirando ofegante.

— Sim, «sheriff», estou ficando louco..., mas são vocês que me levam a isso — e voltando a cara, com um sorriso para Lídia: — Não lhe contei algo, de um javali perseguido por uma matilha de cães?...

Os olhos da jovem lançaram chispas.

— O javali é um animal selvagem e perigoso. E nesta comarca organizam-se batidas todos os anos para exterminá-los.

— Muito eloquente.

Naquele momento Ronald levantou-se, apoiado na borda da mesa. Ficou inclinado para a frente, mostrando a cara transfigurada pela ira. Dos seus lábios saía um fio de sangue.

— Maldito gun-man! Vou-te pisar até partir-te todos os ossos.

Deu a volta à mesa para lançar-se sobre Tony, que o esperava de punhos fechados. O «sheriff» interpôs-se entre eles, gritando:

— Acabaram-se as lutas!

Na porta apareceram Carrol e outro homem, que olhavam assombrados para a cena que se lhes oferecia ante os seus olhos.

— Que se passa? — perguntou o barbeiro.

Ronald olhou para o «sheriff» e depois para o prisioneiro.

— Tens sorte, foragido, mas muito em breve se apagará a tua boa estrela, quando começares a espernear na ponta da corda.

Carrol desatou a rir.

— Bem; já o apanhámos. Que lhe parece isto «sheriff»? Este tipo é de cuidado. Proponho que seja julgado por um comité de cidadãos e depois o enforcaremos em menos de uma hora.

— Eu entregava-o com muito gosto — disse Ronald.

— Não se fará nada disso! — interveio o «sheriff», com voz autoritária. — Já disse no «saloon» de Sandy que teria um julgamento legal. E por Deus que o vai ter. Doa a quem doer!

Fez-se silêncio. Lídia entrou no quarto e os homens, que ficaram na sala puderam ouvir a sua voz acalmando a mãe

— Não se passou nada. Tudo está em ordem.

— Santo Deus Julguei que se passava alguma coisa de mau.

— Não te preocupes, mamã.

A jovem voltou a sair. Smilles fez um sinal com o revólver a Tony.

— Comece a andar, Tony, e mantenha-se próximo de mim. Os ânimos estão revoltados. Não responda a nenhuma das acusações que lhe façam durante o trajeto até ao meu escritório.

Tony fez um gesto afirmativo com a cabeça e dirigiu-se para a porta. Carrol e os restantes homens desviaram-se para um lado. Antes de sair, Trevor voltou-se e os seus olhos encontraram os de Lídia. Durante uns segundos permaneceram imóveis, observando-se mutuamente. Por fim o jovem saiu, seguido por Smilles e Ronald.

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