segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

CLT017.06. Condenado à forca

 — Levante-se o acusado para ouvir a sentença do Júri— disse o juiz Arthur Frinch.

Tony Trevor pôs-se de pé. O escrivão do tribunal aproximou-se do estrado do Júri e recolheu do presidente um papel dobrado, que entregou ao juiz. Este desdobrou o papel e leu o conteúdo do mesmo por cima dos óculos. Em seguida, anunciou:

— Os doze homens que constituem o Júri declaram culpado o réu.

Houve uma ligeira agitação na sala e o juiz deu duas marteladas na mesa.

— Silêncio ou ordeno que a sala seja evacuada.

Quando os rumores se extinguiram Frinch olhou para Tony Trevor e disse:

— De acordo com as leis deste Estado, eu te condeno, Anthony Trevor, a ser pendurado numa árvore e enforcado até que o teu corpo exale o último suspiro. A sentença será levada a cabo no próximo dia catorze às seis horas da manhã. Está encerrada a sessão.

Uns quantos espectadores começaram a aplaudir. O juiz levantou-se da sua cadeira e dirigiu-se para uma porta que havia ao fundo. O «sheriff» Smilles que estava sentado próximo do lugar que ocupava Tony, tamborilou com os dedos sobre a mesa, e olhou com uma careta para o réu, que continuava de pé. Ronald afastou-se da parede onde se encostava e veio para onde estava Tony.

— Que se passa? — perguntou com um irónico sorriso. — Acaso esperava que o soltassem?

Tony negou com a cabeça.

— Não. Tudo está claro. Mas será melhor que não se dirija a mim nesse tom, Ronald. Agora já nada tem importância e garanto-lhe que tenho ganas de acabar o que comecei no outro dia. E desta vez aposto dobrado contra singelo que lhe arranco a cabeça a murros.

Ronald mordeu os lábios com força, raivosamente.

— Tente mover um dedo contra mim e eu não consentirei que o enforquem, Trevor! Executá-lo-ei eu mesmo com o revólver.

Smilles pôs-se de pé.

— Andam sempre como o cão e o gato! — disse com resignação. — Hoje é o teu dia de folga, Ronald. Não fazia falta que viesses.

Ronald sorriu.

— Julga que ia perder isto?

Smilles deu um suspiro e tirou umas algemas que levava no cinto. Pôs-lhe uma no pulso direito e a outra no esquerdo.

— Vamos, filho.

Começaram a andar e saíram pela mesma porta que o juiz. Em seguida dobraram por um corredor e pouco depois encontravam-se na rua. Havia-se reunido muita gente naquele lugar. Uns quantos carros que se encontravam na calçada estavam cheios de homens.

— Ali vai o assassino! — gritou alguém.

O «sheriff» e Tony detiveram-se uns instantes a observar os excitados cidadãos.

— Em breve verás o inferno, Trevor — gritou outro.

— E quando lá chegares, tenta escapar-te — sugeriu um terceiro.

Soaram fortes gargalhadas. Smilles afastou com o braço os homens que tinha na frente, ordenando com voz seca:

— Abram caminho 1... Eu disse que deixem a passagem livre!

Começaram a avançar por entre a revoltosa multidão.

— Porque não o deixa um momento livre, «sheriff»'? — disse uma voz rouca. — Falta-nos um parceiro para uma Partida de «poker».

O novo sarcasmo encontrou eco na multidão. Tony continuou a avançar com a cabeça levantada, observando todos os rostos. De repente, alguém lhe cuspiu na cara. O «sheriff» voltou-se furioso.

— Quem fez isto? — perguntou. — Algum de vós decerto!

Tony tinha visto quem o tinha feito. Um tipo de estatura média e nariz comprido. Tony olhou-o fixamente nos olhos enquanto limpava a cara com as costas da mão. O outro, o que lhe tinha cuspido, começou a tremer e os seus lábios moveram-se temerosos sem pronunciar palavra alguma. Por fim, deu meia-volta e perdeu-se no meio da multidão.

Tony compreendeu que aquele homem não passava de um cobarde e que havia bastado olhá-lo bem nos olhos para lhe meter o medo até à medula. Provavelmente todos seriam iguais, mas estavam unidos e queriam uma cabeça, não importava qual. Era um público sanguinário, excitado nos mais baixos instintos ante a possibilidade de praticar uma suposta justiça, de levar a cabo algo que juntos podiam fazer, mas que nenhum deles a sós se atreveria a tirar a vida a um ser humano.

— Vamos, Trevor — disse Smilles.

Continuaram a andar, mas agora já ninguém dizia nada. Um minuto mais tarde, o representante da Lei e o seu prisioneiro entravam no escritório. Luke estava sentado numa cadeira e levantou-se como um raio.

— Que se passou, chefe? — perguntou.

Smilles fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Abre a cela.

Cruzaram um corredor, ao fim do qual havia duas celas. Um homem estava estendido na tarimba da primeira. Levantou-se e chegou à porta.

— Ela, rapaz! Como se passou isso? — perguntou a Trevor.

Era um tipo gordo, de cara redonda e cabelo revolto.

— Culpado— respondeu Tony.

Smilles tirou-lhe as algemas enquanto Luke abria a porta. Uma vez dentro, Luke fechou-a novamente.

— Vai-te para o escritório— disse o «sheriff», com voz autoritária.

Quando os passos de Luke se perderam ao longe, Smilles olhou através das grades para Tony, que se havia apoiado à parede junto da janela.

— Ouve, rapaz— agora tratava-o por tu. — Posso fazer alguma coisa por ti?

— Não.

— Refiro-me a que, se não sabes escrever, posso fazê-lo por ti.

— Sei escrever.

— Bom, queres mandar alguma mensagem a algum parente ou amigo?

— Já lhe disse que não preciso de nada.

— Está bem — resmungou Smilles. — Só queria ser-te agradável. Chama-me se mudares de opinião.

O representante da Lei começou a andar para o escritório, e nesse momento o outro preso chamou-o:

— Eh, senhor Smilles.

— Que foi, Morrow?

— Já que ele não quer, pode fazer um favor a mim?

— Tu aproveitas sempre. De que se trata?

— Não sei escrever.

— A quem queres que escreva?

— A Joe «O Torto», Houston, Texas.

— Que queres dizer?

— Só para 'lhe pedir que chegue aqui uma noite com um par de amigos e que ponha uma bomba debaixo da minha janela.

Smilles fechou os olhos e apertou os dentes com raiva, enquanto Morrow estalava às gargalhadas. O «sheriff» apontou-lhe com o dedo e disse:

— Qualquer dia vais ter a tua bomba, Peter Morrow. Asseguro-te que me estás fazendo perder a paciência.

Smilles deu meia, volta e continuou a caminho do escritório, enquanto Morrow apertava o estômago a rir. Ao fim de um momento, perguntou:

— Para quando te preparam a festa, Trevor?

— Para amanhã, às seis.

— Infernos! Estão com pressa!...

Tony não teve forças para sorrir. Ao fim de cinco dias de prisão tinha simpatizado com aquele indivíduo chamado Morrow.

Morrow já lá estava quando ele chegou. Cumpria unia condenação de dez dias por ter armado escândalo no «saloon» de Sandy. Mas pelo que parecia, Morrow visitava com frequência aquelas celas. Estava acostumado à prisão e a tomava com filosofia, pois ele não deixava de aproveitar qualquer oportunidade que se lhe apresentava para brincar com Smilles ou com os seus ajudantes. Depois de um largo silêncio, Morrow murmurou:

— Eh, Tony!

— Que queres, rapaz?

— Eu acabo hoje à meia-noite a minha condenação. Se quiseres utilizar-me como mensageiro, podes fazê-lo.

— Obrigado, Peter, mas já ouviste o que disse ao «sheriff». Não existe ninguém a quem possa interessar a notícia da minha morte.

— Demónio, és um tipo raro!... Se não tens família, sempre há um amigo... Eu tenho muitos, sabes? Toda a população de Pau Verde me estima— baixando a voz: — Exceção feita a Smilles e aos seus ajudantes.

Tony começou a rir e de repente ficou sério. Acercando-se da porta gradeada, agarrou-se aos varões.

— Ouve, Peter.

— Que há?

— Suponho que Lee Carey seria também muito teu amigo.

— E depois?

— Fala-me dele.

— Bem, era um tipo simpático. Lee e eu sempre nos demos muito bem. Granjeava a amizade de toda a gente. Sabia sempre dizer a palavra oportuna. Por isso o povo sentiu tanto a sua morte.

— Disseram-me que era muito rápido com revólver.

— Isso é infelizmente verdade. Não conheci ninguém como ele. Recordo que certa vez me fez apanhar uma carta no «Bom Cowboy», pôs-se a uma distância •de dez jardas e meteu quatro balas pelo mesmo buraco da primeira. Foi algo de sensacional.

— E que me dizes da sua rapidez em sacar?

Peter Morrow soltou um assobio.

— Só visto. Tinha a mão vazia e um milésimo de segundo depois, da sua mão saía fogo. Pelo menos essa era a impressão que todos tinham. Mas, naturalmente, só saía fogo do revólver.

— Muito bem, Peter. Agora vais-me dizer quem eram os seus inimigos.

— Inimigos de Lee Carey?... Santo Deus, não tinha!

— Eu conheço um.

— O quê, tu?...

— Sim, Peter. Trata-se de Ronald, o ajudante do «sheriff».

— Ronald Donovan?... Não é possível... Sempre os vi na melhor das harmonias... Precisamente, formavam parte, como parceiros, nas partidas de «poker».

— Mas ambos queriam a mesma mulher: Lídia.

— Lídia Howells?... Quem te disse?

— Tu sabes que me detiveram em casa de Lídia. Antes de me apanharem tive oportunidade de escutar uma conversa entre ela e Ronald. Ao que parece, em tempos, Ronald assediou Lídia, mas esta esquivou-se e preferiu Lee Carey. Isso é algo que muitos homens não perdoam, e Ronald deu-me a impressão de ser mau bicho.

— Mas, como ia ele atrever-se com Carey?

— Provavelmente não o fez. Encarregou o trabalho a um par de bandidos que conseguiu fora. Eram os dois homens que me trocaram o cavalo e me compraram o relógio.

Morrow soltou outro assobio.

— Inferno! Julgas que pode ter acontecido isso?

— É uma hipótese que gostaria de comprovar.

— De que forma?

— Imagino que os tipos que encontrei no caminho e me meteram neste jogo, estão agora em El Paso. É lógico que Ronald fosse ali para comprar a sua colaboração. Não podem estar em outra parte.

— Não disseste nada disso no julgamento?

— Não. És a primeira pessoa a quem dou conta da minha suspeita.

— Porquê? Não te entendo! Era a tua melhor defesa.

Tony soltou uma sarcástica gargalhada.

— Eu sou o único que conheço esses homens... além de Ronald. Julgas que as autoridades iam permitir que fosse a El Paso para os identificar?

— Já te entendo. Mas de todas as formas, tu não podes fazer nada.

— Tenho ainda uma vasa para jogar.

Tony olhou o corredor até ao fim para certificar--se de que continuava deserto, e depois disse:

— Se conseguisse escapar daqui e chegar a El Paso para solucionar o meu problema...

— Escapar daqui? Deves estar louco... Vão-te enforcar amanhã.

— Sim, vão-me enforcar amanhã, às seis, supõe que a essa hora me encontrava muito longe daqui... Tinham de adiar a minha execução.

— Muito bem. Mas, com mil demónios, vais fugir desta ceifa? Eu tentei um montão de vezes e nunca o consegui!

— Só há uma pessoa em Pau. Verde que poderia facilitar-me a fuga.

— Não digas que essa pessoa sou eu. Demónios Não posso apontar dois revólveres e ameaçar Smilles. Então é que me davam cabo da pele. Até agora sempre me têm prendido por meter-me com algum cidadão..., mas na verdade, isso que me propões...

— Não é isso que te proponho, Peter. Nem tão-pouco és tu a pessoa a que me referia. Morrow emitiu um suspiro de alívio e levantou as sobrancelhas interessado:

— Então quem é?

— Lídia Howells.

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