sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

CLT017.03. Fuga frustrada

Soou um estampido.

Ronald soltou um grito e deixou cair a arma. Em seguida Tony deu um salto para trás enquanto movia o revólver em forma de leque.

— Quietos, todos!... Todo aquele que se mover leva um tiro!

A sua mão direita não ficou parada. Puxou a pistola .do mesmo lado. Luke largou o revólver antes de Tony acabar o seu aviso.

Carrol mostrou-se mais teimoso, mas ao ver o olhar frio do forasteiro, estendeu o braço e encostou a espingarda a uma cadeira. Somente Smilles conservava a sua pistola, mas continuava a apontar para o chão.

Na janela não se via ninguém. Aquela parte da rua havia ficado deserta ao dar-se o disparo.

Ronald agarrou na mão esquerda e soltou uma ameaça:

— Maldito!... Hás-de pagar isto caro!

— Escuta, verdugo — disse Tony. — Podia ter-te matado, mas não o fiz.

— Porquê, Tony? — interveio o «sheriff». — Porque não o quis matar?

— Porque não quero complicar isto mais do que já está. Repito o que disse antes, «sheriff». Eu não matei esse Lee Carey. Nem nunca o vi na minha vida.

— Então será melhor não fazer nenhuma asneira. Entregue-se, filho.

Trevor sacudiu a cabeça em sentido negativo.

— Não, «sheriff», não vou fazer isso. Dei-lhe um pouco de corda para saber com o que devia contar. Palavra que não queria chegar a este ponto, mas agora já não tenho qualquer dúvida.

— Pense bem.

— Está pensado. Nunca entrou nos meus cálculos acabar na forca... Porte-se bem, «sheriff». Abaixe-se e deite o revólver no chão.

Smilles fez uma careta.

— Não creia que com a sua atitude dissipará toda a dúvida a respeito da morte de Lee Carey?

— Cantigas. Você sabe tão bem como eu que o meu julgamento se celebrou aqui neste «saloon» ... Deixe o revólver!

Smilles deu uns estalos com a língua e finalmente abaixou-se e pôs a pistola no chão. Ao endireitar-se, perguntou:

— Que vai fazer agora?

Tony apontou o revólver para Carrol.

— Você, amigo, vai despojando os revólveres todos dos presentes e deita-os para trás do balcão... Vamos, depressa!... Não posso perder aqui toda a manhã.

Carrol moveu rapidamente as pernas. Foi tirando os revólveres aos homens que ainda os. conservavam

Um a um, deitou-os para a pia que havia atrás balcão. Trevor dirigiu-se a Sandy.

— Você saia daí e sente-se a uma mesa. Já esteve bastante tempo de pé.

Sandy saiu detrás do balcão e deixou-se cair numa cadeira. Em seguida voltou-se novamente para Carrol.

— Você vai-me acompanhar à saída. Pare no passeio para que todos os que estão fora o vejam bem.

O barbeiro engoliu em seco.

— Porque lhe hei-de servir de escudo. Pode... pode escolher outro.

— Você reúne as condições necessárias. Pesa uns cem quilos. Cobrir-me-á perfeitamente.

Ronald havia verificado que não tinha qualquer ferida nas mãos, e voltou a mostrar os seus afiados dentes enquanto dizia:

— Atira muito bem, Trevor... O homem que matou Lee Carey tinha de ser um bom gun-man.

— Não me provoque, Ronald. — advertiu o jovem, e acariciou com um dos canos o sítio onde o ajudante o havia golpeado minutos antes. — Podia-lhe devolver a carícia.

Ronald manteve-se calado. Em seguida, Trevor olhou para Carrol.

— Já pode começar a andar, amigo. E procure manter-se erguido. Será conveniente que se recorde de que joga a pele.

Carrol passou as suadas mãos pelas calças. Deu meia-volta e começou a andar para a saída.

— Agora todos para o fundo da sala — disse Trevor. — Rápido!

Ronald, Luke e Smilles afastaram-se do balcão e serpentearam por entre as mesas até ao canto mais afastado. Carrol havia chegado às portas.

— Empurre as portas! — ordenou Trevor.

O barbeiro hesitou uns segundos, mas por fim levantou os braços e empurrou as portas de vai-e-vem. Saiu, mas ficou visível a sua cabeça e as suas enormes costas. Na rua não se ouvia nenhum ruído. Trevor olhou para os representantes da Lei.

— Tratem de acalmar os ânimos. E você, «sheriff», esteja certo de uma coisa. Não se lhe escapa das mãos o assassino de Lee Carey. Estou tão inocente deste crime como você. Não pensem em seguir-me. Se o fazem, ver-me-ei na necessidade de atirar a matar. Ê uma coisa que eu lamentaria, porque antes de darem conta de mim, alguns de vocês não o veriam. Até à vista.

Trevor dirigiu-se para a saída, andando de lado. Saiu para a rua e empurrou Carrol para a frente. Deitou um rápido olhar pela rua. Estava deserta, mas por detrás das portas e janelas encontravam-se os pacíficos cidadãos dispostos a apanhá-lo a tiros logo que tentasse a fuga.

— Desate as rédeas da minha montada, Carrol — ordenou.

O barbeiro, tremendo horrivelmente, acercou-se do animal. Com as mãos a tremer desatou as rédeas do cavalo que tinha pertencido a Lee Carey.

— Afaste-se para o lado, Carrol — dizia-lhe de trás, Trevor.

Assim, Carrol desviou-se para um lado e no mesmo instante Tony deu um salto, apoiando o pé direito no poste. Caiu sobre a sela. As suas esporas fincaram os flancos do cavalo e este partiu como uma flecha.

— Rapazes aí vai ele! — gritou Carrol, com todas as forças dos seus pulmões. — Acabem com ele!

Tony soltou uma maldição e voltou-se um pouco, passando o revólver por baixo do braço esquerdo. Não apontou a Carrol; mas sim aos seus pés, e apertou o gatilho. Carrol deu um salto e lançou-se contra as portas do «saloon» do «Bom Cowboy» para refugiar-se.

Neste momento saíam Smilles e os seus ajudantes. Carrol esbarrou com eles e caiu juntamente com Smilles. Ouviram-se gritos em muitos lugares da rua. Soou um tiro. A bala passou muito perto do fugitivo. Trevor olhou, para a frente. Trinta jardas mais de corrida e dobraria a esquina e se consideraria salvo.

Sandy saiu do estabelecimento, cambaleando, trazendo na mão o rifle de Carrol. Ronald arrebatou--lho das mãos, levou-o à cara, apontou ao cavaleiro que fugia e disparou. Bang!... Bang!... O potro de Lee Carey soltou um relincho e deteve-se elevando as patas dianteiras no ar.

— Alcancei-o! — gritou, triunfal, Ronald.

Tony Trevor saltou da sela para evitar cair debaixo do animal, e rolou pelo solo levantando uma grande poeirada.

— Já o temos, «sheriff»! — exclamou Carrol --E foi com a minha espingarda!

O potro do fugitivo esperneou no solo, soltando aflitivos relinchos. Tony Trevor levantou-se e correu agachado enquanto disparava para o ar em direção do «saloon». Ronald respondeu-lhe com outro tiro, mas não pôde apontar convenientemente porque a nuvem de pó impediu-lhe de distinguir o sítio onde se encontrava o forasteiro.

— Bom— disse Smilles. — Já é nosso.

A nuvem de pó dissipou-se, mas Tony Trevor já não estava lá.

— Dobrou para a rua dos Álamos! — gritou.

— Vamos atrás dele! — disse Carrol.

Agora os homens saíam de suas casas. Traziam revólveres, espingardas ou simples escopetas. Ronald desatou a rir.

— Será como caçar um coelho.

O «sheriff» olhou para o seu ajudante e disse:

— Quero-o vivo.

— Isso já não dependerá de nós, chefe. Só ele poderá dizê-lo. Aposto que esse tipo não se rende.

Smilles fez um movimento de afirmação com a cabeça e em seguida começou a dar ordens.

— Vocês, Barton, Douglas, Nenoudy, vão para o norte da rua e ficam aí parados... e vocês, Robertson, Clifford, Steinf e Mingo, vão por detrás da rua dos Álamos... Quero um grupo de cinco voluntários em frente das Tepas... Os restantes vêm comigo.

Os grupos seguiram imediatamente para os lugares assinalados. Sandy foi buscar ao seu estabelecimento os revólveres que Tony Trevor havia mandado deitar na pia e entregou-os aos respetivos donos. O «sheriff» com os seus ajudantes, Carrol e mais três homens, começaram a andar para o lugar onde havia desaparecido Trevor... apanhando a rua em toda a sua extensão. Os olhos de Ronald brilhavam de regozijo.

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