sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ARZ014.20 Desafio decisivo

Cliff, empunhando o seu revólver, dirigiu-se apressado para a mais avançada das barricadas. Os homens, com as espingardas apontadas, permaneciam imóveis. O jovem, colocando-se atrás duma carroça voltada, assomou a cabeça por cima do parapeito.
Pelo extremo da rua, vindo da pradaria, avançava a galope um grupo de cavaleiros que gritavam e disparavam as armas sem cessar. Era um espetáculo impressionante, capaz de infundir o pânico ao mais valente.
Cliff conhecia muito bem aquela forma de ataque e os homens que o realizavam, porque outrora tinham sido seus companheiros. Olhou em volta, certificando-se de que a sua gente estava a postos.
Depois, os seus olhos voltaram-se para os edifícios próximos. Viu ali, nos terraços e nas janelas, os atiradores que empunhavam as suas armas. Wickes, que era quem os comandava, fez-lhe sinal de que tudo estava bem. Cliff voltou a olhar para os cavaleiros inimigos, que estavam agora já mais próximos.
Ergueu o seu revólver e apontou cuidadosamente a um que gritava como um possesso e disparava para a direita e para a esquerda. Decorreu uma fração de segundo e Cliff disparou. O cavaleiro, como se mão invisível lhe aplicasse um tremendo -soco no peito, foi arrancado violentamente da montada e caiu ao chão. Aquele era o sinal para os defensores.


Todos os dedos, que durante longo tempo esperaram ansiosamente a ordem, premiram os gatilhos num golpe seco e brusco. O rugir de tantas armas fazendo fogo em uníssono converteu-se num trovão ensurdecedor. Uma verdadeira chuva de chumbo caiu sobre os assaltantes, cujas primeiras filas se viram materialmente varridas. Formou-se um amálgama de cavalos feridos que esperneavam furiosamente entre os cadáveres dos cavaleiros, que iam caindo uns após outros. Uma espessa nuvem de poeira cobriu aquela cena sangrenta, onde os lamentos dos moribundos se confundiam com os relinchos dos animais.
Mas os assaltantes não refrearam a correria. Saltando sobre os restos dos seus companheiros, continuaram a avançar, como se não houvesse força humana capaz de os deter. Os defensores disparavam agora freneticamente, procurando conter a avalanche que para eles se, dirigia.
Cliff, enquanto acionava o gatilho do seu revólver, e a cada tiro derrubava um inimigo, via à sua volta muitos dos seus companheiros caírem atingidos pelo fogo dos bandidos.
Os primeiros cavaleiros haviam já conseguido saltar por cima dos parapeitos avançados, seguidos por muitos dos soas companheiros. Cliff e os seus homens tiveram de combater então entre os seus inimigos.
O jovem disparava sem cessar em todas as direções. Um dos bandidos investiu contra ele tentando esmagá-lo com o cavalo. Cliff disparou duas vezes, derrubando o cavaleiro e a montada. A situação tornava-se insustentável.
Cliff ouviu atrás de si o ruído dum corpo que caía no chão. Voltou-se rapidamente. Um dos inimigos jazia no chão enquanto o seu cavalo fugia. O jovem levantou os olhos para um dos terraços. Wickes, empunhando a fume8iinte espingarda, fez-lhe um sinal. Cliff compreendeu O xerife acabava de salvar-lhe a vida, matando o bandido que o atacara pelas costas.
O jovem voltou-se para os seus homens.
— Depressa! É preciso separarmo-nos!
Sem deixar de disparar, foi retrocedendo até uma travessa. Os sobreviventes do seu grupo, entre os quais se contava McClaw, imitaram-no. Dali viram os bandidos lançar-se ao assalto da segunda barricada, cujos defensores se esforçavam em estabelecer uma barreira de fogo.
— Que fazemos, Werfel? — perguntou McClaw.
O jovem não respondeu nada porque acabava de descobrir Hudson à frente da sua gente. Levantou o revólver e apertou o gatilho. Mas nada aconteceu. Todas as cápsulas do tambor estavam vazias. Com um gesto de contrariedade, repôs as munições, ordenando depois:
— Venham comigo!
Deitaram a correr pelas ruas solitárias onde as casas continuavam fechadas como se nelas não houvesse habitantes. Ao dobrar uma esquina, tropeçaram com um grupo de cavaleiros inimigos que tentavam forçar as portas das residências.
Cliff disparou e dois dos bandidos caíram fulminados. Os seus companheiros também abriram fogo, crivando os seus inimigos. Vencido aquele obstáculo, continuaram para a frente. No estábulo não havia um único ser humano quando o grupo entrou.
— Que cada um leve o seu cavalo — ordenou o jovem. — Não interessa agora saber quem são os donos.
Ele próprio saltou para o primeiro sem se preocupar em o aparelhar. Os outros imitaram-no, saindo todos a galope aferrando-se com a mão esquerda às crinas do seu respetivo corcel. Deram uma larga volta até alcançarem a rua principal, lançando-se numa carga desenfreada. Disparando como loucos, arremeteram pela retaguarda contra os bandidos, quando estes já tinham abatido a segunda barreira de barricadas.
O ataque constituiu uma autêntica surpresa para os homens de Hudson que, de repente, se viram colhidos entre os fogos dos terraços e janelas, dos defensores da barricada e do grupo de Cliff que com tanto ímpeto os castigava pela retaguarda.
Muitos dos cavaleiros caíram por efeito do fogo cruzado, e durante uns segundos reinou entre os bandidos uma profunda desorientação. Mas, em seguida, Hudson viu a situação e ordenou com voz potente:
—Ao ataque!
Os seus homens dividiram-se em vários grupos, que se lançaram furiosamente contra os defensores. Entabulou-se então uma feroz e sangrenta batalha, na qual, dum e doutro lado se viam aumentar as baixas continuamente. Os homens acometiam como feras, disparando as armas à queima-roupa e atacando-se com facas e até a murro.
Cliff dava o exemplo aos seus, arriscando-se mais que ninguém, e acorrendo aos locais onde a batalha era mais dura. Não dava um segundo de repouso ao seu revólver, que vomitava em todas as direções a sua carga mortal, tombando numerosos inimigos. Mas no seu contínuo combate, o jovem só tinha um objetivo: encontrar Hudson e meter-lhe uma bala entre os olhos. Todavia, não conseguia descobrir o seu antigo chefe.
Por seu lado, também Hudson procurava ansiosamente Cliff. Desejava matá-lo com as suas próprias mãos, visto que um dos motivos principais do seu ataque a Tonopah fora precisamente vingar-se com a morte da tareia que o jovem lhe aplicara. A sorte, porém, comprazia-se brincando com eles, não os pondo uma só vez frente a frente.
Entretanto, na escola, Nancy continuava encerrada num quarto com todas as crianças. Perto dela conservava a espingarda que fora buscar ao armeiro do xerife. Bobby, com a excitação a brilhar-lhe nos olhos, mantinha-se perto da janela, observando os combates que se desenrolavam na rua.
— «Miss» Nancy — murmurou uma das vezes —, quanto eu gostaria de poder ajudar Cliff. Se me desse a espingarda...
Nancy foi até junto dele e olhou para a rua com olhos receosos.
— Bobby, afasta-te daqui. Seria horrível que uma bala perdida atingisse a janela.
O Dr. Graham entrou no aposento vindo da sala das aulas onde fizera diversos tratamentos de urgência a alguns feridos recolhidos na rua. Olhou para os pequenitos assustados exclamando:
Vamos, vamos, não há razão para fazer essas caras. Não acontece nada de especial. Ao todo, uns tiros e nada mais.
— Doutor — murmurou Nancy, indo para junto dele —, isto está a tornar-se num inferno.
Graham encolheu os ombros.
— Bem sei — respondeu em voz baixa. — Mas é preciso não assustar as crianças. Espero que Werfel saiba como resolver a situação.
A angústia brilhava nos olhos de Nancy ao murmurar:
— Receio por ele, doutor. É tão temerário...
Bobby, que se aproximara para escutar, disse, muito convencido:
— Ora, não se preocupe. Ele sabe muito bem como resolver estes assuntos.
Graham olhou para ele com um sorriso.
— Parece-me que Bobby disse uma grande verdade, «miss» Brent.
O furor dos combatentes chegara ao auge. Wickes, que dirigia os atiradores postados nas casas, a uma ordem de Cliff desceu à rua com os seus homens, os quais cercaram os bandidos e continuaram a abatê-los com um fogo ininterrupto.
Cliff idealizara um truque que fez pender a balança do combate para o seu lado. Retirou-se com os seus homens e um bom número dos que combatiam a pé na rua, mas apoderando-se dos cavalos dos bandidos mortos, deixando os assaltantes imobilizados pelas balas da gente de Wickes.
Com todos os companheiros montou a cavalo e, formando uma massa compacta, lançou-se de novo ao ataque.
Desta vez, o inimigo, que ficara notavelmente reduzido pelas baixas sofridas, viu-se atropelado pela briosa acometida. Mais e mais bandidos caíram sem vida, enquanto outros eram encurralados por grupos e exterminados rapidamente.
Hudson, rodeado por uns quantos sobreviventes, compreendeu que estava perdido e, formando à sua volta uma barreira de fogo, recuou até umas casas próximas, fazendo saltar a fechadura a tiros. Ali se entrincheiraram, defenderam-se a tiro das janelas. Wickes, suado e aflito, correu ao encontro de Cliff.
— Werfel, que fazemos? Por sorte, já tínhamos evacuado as pessoas desta casa. Acha conveniente que a assaltemos?
—Não — respondeu ele pensativo. — Isso significaria mais mortos e feridos da nossa parte, e já temos bastantes.
— Então? — perguntou McClaw, que estava junto dele.
— Terem-se fechado, é para eles o fim. Poderão defender-se mais ou menos tempo, mas acabaremos por exterminá-los. Não têm saída possível e tudo quanto temos a fazer é manter o cerco até que se rendam ou morram de fome ou de um tiro.
Werfel assentiu.
— De acordo. Postarei os meus homens para continuarem crivando a casa de balas.
Enquanto o tiroteio recrudescia entre os habitantes de Tonopah e os restos da quadrilha de Hudson cercada na casa, Cliff meteu o revólver no coldre e encaminhou--se para a escola. Mas não teve de andar muito. Do edifício surgiu a figura de Nancy, que avançava a correr para ele. Encontraram-se num estreito abraço, apaixonado.
— Cliff! Cliff! Estás bem? Não te aconteceu nada de mal?
— Nada. Continuo todo inteiro. Ela abraçou-o fortemente. Sofri tanto por ti. Julguei que não voltaria a ver-te.
Graham, que saía da escola, sorriu ao passar junto deles.
— Bom, «miss» Brent. Bem vê que o rapaz está são e salvo. Bobby tinha razão ao dizer que sabe bem resolver estes assuntos, mas, pelo que vejo, também sabe tratar os assuntos do coração.
Os dois jovens sorriram. Todavia, o sorriso morreu--lhe nos lábios quando, vindo da casa onde se entrincheiraram os sobreviventes da quadrilha, chegou o som duma voz potente que o jovem conhecia demasiadamente.
— Cliff! Cliff Sheridan! Ouves? Sou eu que te chamo!
Era a voz de Hudson. O corpo do jovem pôs-se tenso, vibrante, ao mesmo tempo que nos olhos se acendia um brilho especial. Afastou-se de Nancy, enquanto esta o seguia com a angústia estampada no rosto.
— Cliff, que vais fazer? Escuta-me, Cliff, por favor.
O jovem parou numa esquina, donde se distinguia claramente a casa dos sitiados. Wickes, McClaw, Graham e todos os demais olhavam-no assombrados.
— Cliff Sheridan — voltou a ouvir-se a voz de Hudson —, quero fazer-te uma proposta. Ouves?
— Diz, Lloyd.
--- Reconheço que estamos encurralados, Cliff. Mas tu sabes muito bem que podemos resistir ainda durante dias e causar-vos muitas baixas. A única coisa que a mim me interessa é enfrentar-me contigo e matar-te. Desafio-te para uma luta pessoal. Assim, acabaremos duma vez com esta batalha e com a nossa rivalidade. É melhor liquidar este assunto de homem para homem.
Antes que Cliff pudesse responder, Nancy precipitou-se para ele rodeando-o com os seus braços.
— Não aceites. Hudson é o melhor pistoleiro de todo o território. Diz-lhe que não, Cliff, peço-te.
O jovem verificou que todos os presentes estavam suspensos dele.
— Devo aceitar por muitas razões, Nancy. Se conseguir vencê-lo, os seus homens, ao faltar-lhes o chefe, rendem-se e esta luta acabará duma vez. Não esqueças que enquanto Hudson viver os obrigará a continuar combatendo e parece-me que já houve bastante mortos. É preciso correr o risco.
A rapariga apertou-se contra ele, enquanto as lágrimas lhe corriam pelas faces.
— Tenho medo, Cliff. Hudson pode matar-te, não compreendes? Nunca existiu um homem que o igualasse em pontaria e rapidez. E se tu morres, que será de mim?
Ele acariciou-lhe com suavidade os cabelos.
— Então que foi, Cliff? Tens medo? — disse mais uma vez a voz de Hudson.
O jovem apertou os dentes com força.
— Esta é a outra razão, Nancy. Ao mesmo tempo desprendeu-se dos braços dela.
Os seus olhos, por um momento, encontraram-se com os de Wickes.
— Quero adverti-lo de que não é preciso aceitar — murmurou o xerife. — Enfrentar-se com Hudson é ir para uma morte segura, e isto não se pode exigir a ninguém.
Cliff fez um trejeito e, sem lhe responder, pôs-se a andar.

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