segunda-feira, 5 de agosto de 2019

FBV035.10 Um cavalo emprestado


Três dias mais tarde...
Jim Sheldon, capataz do rancho, entrou na pequena sala em que se encontravam Sigrid e seu pai, e anunciou, com uma expressão séria e voz grave:
— Clark Evans está à porta e quer falar consigo. Disse que...
Sigrid interrompeu-o com um pequeno grito, levando as mãos ao seio palpitante, enquanto o seu rosto empalidecia.
— Não...não... Que não entre! Clark julga que tu assassinaste seu pai e vai matar-te. Veio por isso! Eu...
Bolton levantou-se e abraçou a filha.
— Clark não disparará contra mim, sem me ouvir... e quando isso suceder, não o fará jamais. Não, Sigrid, não vai matar-me... —voltando-se para Sheldon, acrescentou: — Diga-lhe que entre, Sheldon.
Enquanto este saía, resmungando entre dentes algo que não se entendia, Bolton separou-se da filha e foi sentar-se onde estava anteriormente. Ambos aguardavam, com os nervos tensos, a chegada de Clark.
— Entre, a porta está apenas encostada.
Evans obedeceu, de semblante carregado. Sigrid retorcia as mãos, nervosamente, sem se atrever a levantar os olhos para ele, pálida como um cadáver.
— Não tem nada para me dizer, senhor Bolton?


Sigrid soltou um leve gemido, enquanto o rancheiro se movia inquieto na cadeira. Por fim, serenou e respondeu:
— Só uma coisa, ainda que o não acredites, rapaz. Eu não matei teu pai.
Quando Bolton acabou de proferir estas palavras, os olhos de Sigrid estavam presos da figura de Evans, como um passarinho assustado. Por isso, quase ficou sem alento, ao ouvir o marido retorquir:
— Eu nunca disse isso, mas o senhor é que parece tê-lo acreditado, não é verdade?
Sigrid ficou suspensa dessas palavras, enquanto Bolton se pôs de pé com uma violência tal, que fez cair a cadeira.
— Que diabo está dizendo? — perguntou, com voz rouca.
O rosto de Evans permaneceu impassível quando começou a falar e, no transcurso das suas palavras, em todo o tempo que durou o seu monólogo, nem uma só vez olhou para Sigrid.
— Se o senhor não tivesse fugido de Stanton, mal ocorreu o sucedido, portando-se como um imbecil, jamais alguém o teria perseguido. E eu muito menos. Mas assustou-se, e teve medo de que alguém dissesse que, duas horas antes, por causa duma cerca, o senhor tivera uma questão com meu pai, ameaçando-o de morte, diante de numerosas testemunhas, e que esse facto, conjuntamente com a inimizade que existia entre os dois, o levasse à forca. Mas fugiu e, assim, não pôde saber o que se passou posteriormente. Horas depois de perpetrado o assassínio e quando o senhor já estava longe de Stanton, o xerife descobriu o verdadeiro criminoso.
Fez uma ligeira pausa, fumou, em silêncio, sem que o interpelassem e em seguida continuou:
— Recorda-se de Pool Freeman? Sim, ele matou-o, — ao relembrá-lo a sua voz tornou-se rouca —. Antes, tinham estado a jogar no “saloon", e Freeman perdera quinze mil dólares, numa renhida partida de póquer. Por isso o matou, para lhe roubar o que tinha perdido já que ficara arruinado. Parou um pouco, para retomar logo a seguir a narrativa dos factos. O xerife Rice fez todo o possível para o encontrar, Bolton. Mas parecia que a terra o havia tragado. O senhor continuou fugindo com sua filha a quem, para despistar, chamava neta, até que o destino me fez intervir de forma casual, quando já estava meio morto, com uma bala nas costas. Então, o senhor, reconheceu-me e teve medo de mim. Não sabia que eu conhecia a verdade e a sua dúvida faz-me duvidar também. Agora, pode dormir tranquilo, Bolton.
Pôs os olhos no chão e terminou:
— Vou-me embora da região. Anularei o casamento com Sigrid, tão depressa chegue a um sítio, onde possa viver tranquilo.
Bolton não respondeu, nem podia, mesmo que quisesse. Tinha um nó na garganta, difícil de desfazer.  Sigrid pensava agora como tinha duvidado dele, e se prometera em casamento a um batoteiro, ainda que fosse para salvar a vida de seu pai. E, agora, ele partia...
— Que vou fazer pai? — perguntou, angustiada.
O pai colocou-lhe as mãos nos ombros.
— Ele é teu marido, e tu és uma rapariga formosa. Procura reavê-lo.
Olharam-se em silêncio, por um longo momento.
— Pai…
E foi tudo. Correu para a porta. Sheldon estava perto comum cavalo do qual acabara de desmontar. Saltou para o animal, deixando o outro boquiaberto.
—Devolvo-te o cavalo dentro em pouco, Sheldon.
Cumpriu a sua palavra, mas no regresso não vinha só. Evans cavalgava a seu lado, depois de ambos terem uma larga explicação, pela qual ela soube que aqueles cinquenta mil dólares procediam dum assalto que não fora efetuado por Evans que os tirara, sim, mas à quadrilha assaltante.
Por isso, o perseguiram até dar com ele em Turner. Cinquenta mil dólares que devolveu e três anos que passou numa prisão federal remiram o crime. Desejava casar com ela, mas não se considerava merecedor da sua pureza. por isso partira a cumprir o castigo da Lei, e voltara como um homem decente. Por isso, abalara por três anos. E ao chegar...
Mas, agora, os dois muitos juntos avançavam para o rancho, sorrindo felizes, imensamente felizes. O passado de Clark Evans tinha morrido para sempre e todo um mundo de felicidades lhes pertencia.
FIM

Sem comentários:

Enviar um comentário