A notícia correu por Tonopah como um rastilho de pólvora. A quadrilha de Lloyd Hudson atacara uma caravana que se dirigia para Virgínia City, não deixando um único sobrevivente e roubando tudo quanto levavam de valor. Tratava-se dum autêntico assassínio em massa, e toda a gente sentiu que ao receio se juntava a indignação por uma selvajaria de tal magnitude.
Assustadas, numerosas pessoas, aglomeraram-se em frente da repartição do xerife, que se viu obrigado a acalmá-las. Depois Wickes comentou, na presença de Cliff e Nancy:
— A situação está a pôr-se cada vez pior. Se não encontramos um rápido remédio, Hudson em breve se transformará em dono deste distrito. Não compreendo porque esperam as autoridades para intervir.
— O senhor pensa que Tonopah também corre perigo? — perguntou Nancy.
— Naturalmente. A quadrilha de Hudson é demasiado importante para conseguirmos enfrentá-la com êxito. Só o Exército poderia aniquilá-la. Bem viram o terror que só o seu nome causa nesta gente.
— Talvez que a única solução fosse que alguém conseguisse matar Hudson — comentou Cliff.
Wickes fez um gesto de dúvida.
—Não creio. Nessa quadrilha há tipos muito importantes, que poderiam tomar o comando no caso de Hudson morrer. Por exemplo Cliff Sheridan é tão perigoso como o próprio Hudson. Na realidade pouca diferença faria se ele se convertesse em chefe.
O jovem notou que Nancy, de cujo rosto desapareceu a cor, voltava-se de costas para eles, a fim de ocultar a sua perturbação.
— Conhece esse Cliff Sheridan? — perguntou com aprumo.
— Não, mas toda a gente diz ser um pistoleiro perigoso. Até se garante que, com o revólver na mão, é tão rápido como o próprio Hudson, ou talvez mais. Enquanto esses dois homens viverem, não pode haver paz nesta região.
Quando os dois jovens ficaram sós, Nancy ficou-se a olhar com os olhos muito abertos.
— Cliff...
Ele assentiu com um movimento de cabeça.
— Acaba de ouvir, Nancy. Para que a paz exista é preciso eliminar-me. Pelos vistos toda a gente é dessa opinião, desde Hudson até ao xerife.
A rapariga foi até junto dele.
— Eu não, Cliff. Eu tenho a certeza de que você não é como dizem.
Ele fez um gesto de indiferença.
— Ah! As mulheres têm sempre pensamentos absurdos. Dum canalha como eu, são capazes de fazer um herói. De qualquer maneira, um dia destes partirei para muito longe. Assim deixarei de ser um perigo para todos vós.
Ela contemplou-o durante uns momentos em silêncio, perguntando por fim:
— Está decidido?
— Evidentemente. É o melhor que tenho a fazer.
Nancy, sem pronunciar qualquer palavra, deu meia volta e saiu apressada do aposento. Cliff, ao ficar só, dirigiu-se para o seu quarto e sentou-se na cama. Sentia--se muito fatigado, sem coragem para fazer nada. Por um momento perguntou a si próprio que iria fazer de futuro. Antevia tudo vazio, tão falho de sentido, que mais uma vez desejou que Lloyd o tivesse matado deveras.
— Eh! Ouve!
Cliff voltou a cabeça surpreendido. Na janela viu o rosto sardento e sorridente de Bobby. Os cabelos louros caíam-lhe sobre a fronte, e os seus olhos vivos tinham um brilho gaiato. O jovem levantou-se e foi até à janela.
— Que fazes aqui?
— Vim falar contigo. Ajuda-me a entrar.
Cliff agarrou-o pelos sovacos e, como se fosse uma pena, levantou-o em peso, levando-o para dentro, do quarto.
— E a escola? — perguntou. O pequeno deitou os cabelos para trás.
— Raspei-me.
Cliff franziu as sobrancelhas.
— Fugiste? Porquê?
Bobby meteu as mãos nos bolsos das calças. Ouvi dizer a «miss» Nancy que te vais embora. Uma suspeita brilhou nos olhos do jovem.
— A quem o disse ela?
— Ao xerife.
O rosto de Cliff endurecera.
— Como foi que lhe disse, exatamente?
— O xerife foi à escola para ver se tudo corria bem. «Miss» Nancy queixou-se que faltavam camas, mesas e mais coisas para os alunos e, quando o xerife lhe disse que tu podias encarregar-te de construir tudo, ela respondeu-lhe que ias partir de Tonopah.
— Tens a certeza de que foi isso tudo quanto lhe disse?
—Absoluta.
Cliff deu um suspiro de alívio. Por um instante, pensou que a rapariga o traíra, mas agora reconhecia que se tratava apenas dum falso alarme. Depois olhou para o pequeno, admirado.
— E que tem de ver eu ir-me embora com tu fugires do colégio?
Bobby levantou a cabeça para poder olhar para ele.
— É que eu quero ir contigo.
Cliff deu um salto.
— Ires comigo?
O pequeno assentiu, muito sério.
— Se tu te vais embora, eu não quero ficar aqui. És meu amigo, e os bons amigos nunca, devem separar-se.
Cliff passou a mão pelos cabelos e ajoelhou-se junto do pequenito.
— Escuta, Bobby, tu não podes acompanhar-me.
Uma sombra de tristeza toldou os olhos do rapaz.
— Porquê? Cliff contorceu-se sem saber que explicação havia de dar-lhe.
— É que... na vida existem perigos que tu não deves correr. Agora... agora tens de ficar.
—Mas eu não quero separar-me de ti.
Cliff pôs-lhe as mãos nos ombros.
—É necessário que nos separemos. Eu tenho de seguir o meu caminho, e tu deves esperar fazeres-te um homem para poderes fazer o mesmo que eu.
Humedeceram-se os olhos do pequenito.
— E deixas-me só? Eu... eu não tenho pais.
Cliff sentiu invadir-se por uma tristeza imensa.
— Não ficarás só, Bobby. «Miss» Nancy cuidará de ti. Tu não és seu amigo?
O pequeno esforçava-se por conter o pranto.
— Sim, sou seu amigo. Mas é uma mulher e eu sou mais teu amigo.
Num impulso, deitou-lhe os braços ao pescoço. Cliff ficou imóvel, sentindo o corpito de Bobby tremer com os soluços. Não sabia que fazer, como resolver a situação.
— Escuta, Bobby, sê razoável...
— Não quero que me deixes! Não quero que me deixes!
Cliff acariciou-lhe a cabecita.
— Faremos uma coisa. Eu partirei sozinho, mas prometo-te que dentro duns anos, quando sejas crescido, virei buscar-te. Está bem?
O pequeno separou-se dele, olhando-o através das lágrimas.
—Não voltarás, se te vais embora! Eu sei! Eu sei! Tu não és meu amigo, essa é que é a verdade!
Deu meia volta e dirigiu-se a correr para a janela.
— Bobby! Espera! — exclamou Cliff.
Mas já era tarde. O pequeno, com surpreendente agilidade, saltara pela janela, desaparecendo da sua vista.
Assustadas, numerosas pessoas, aglomeraram-se em frente da repartição do xerife, que se viu obrigado a acalmá-las. Depois Wickes comentou, na presença de Cliff e Nancy:
— A situação está a pôr-se cada vez pior. Se não encontramos um rápido remédio, Hudson em breve se transformará em dono deste distrito. Não compreendo porque esperam as autoridades para intervir.
— O senhor pensa que Tonopah também corre perigo? — perguntou Nancy.
— Naturalmente. A quadrilha de Hudson é demasiado importante para conseguirmos enfrentá-la com êxito. Só o Exército poderia aniquilá-la. Bem viram o terror que só o seu nome causa nesta gente.
— Talvez que a única solução fosse que alguém conseguisse matar Hudson — comentou Cliff.
Wickes fez um gesto de dúvida.
—Não creio. Nessa quadrilha há tipos muito importantes, que poderiam tomar o comando no caso de Hudson morrer. Por exemplo Cliff Sheridan é tão perigoso como o próprio Hudson. Na realidade pouca diferença faria se ele se convertesse em chefe.
O jovem notou que Nancy, de cujo rosto desapareceu a cor, voltava-se de costas para eles, a fim de ocultar a sua perturbação.
— Conhece esse Cliff Sheridan? — perguntou com aprumo.
— Não, mas toda a gente diz ser um pistoleiro perigoso. Até se garante que, com o revólver na mão, é tão rápido como o próprio Hudson, ou talvez mais. Enquanto esses dois homens viverem, não pode haver paz nesta região.
Quando os dois jovens ficaram sós, Nancy ficou-se a olhar com os olhos muito abertos.
— Cliff...
Ele assentiu com um movimento de cabeça.
— Acaba de ouvir, Nancy. Para que a paz exista é preciso eliminar-me. Pelos vistos toda a gente é dessa opinião, desde Hudson até ao xerife.
A rapariga foi até junto dele.
— Eu não, Cliff. Eu tenho a certeza de que você não é como dizem.
Ele fez um gesto de indiferença.
— Ah! As mulheres têm sempre pensamentos absurdos. Dum canalha como eu, são capazes de fazer um herói. De qualquer maneira, um dia destes partirei para muito longe. Assim deixarei de ser um perigo para todos vós.
Ela contemplou-o durante uns momentos em silêncio, perguntando por fim:
— Está decidido?
— Evidentemente. É o melhor que tenho a fazer.
Nancy, sem pronunciar qualquer palavra, deu meia volta e saiu apressada do aposento. Cliff, ao ficar só, dirigiu-se para o seu quarto e sentou-se na cama. Sentia--se muito fatigado, sem coragem para fazer nada. Por um momento perguntou a si próprio que iria fazer de futuro. Antevia tudo vazio, tão falho de sentido, que mais uma vez desejou que Lloyd o tivesse matado deveras.
— Eh! Ouve!
Cliff voltou a cabeça surpreendido. Na janela viu o rosto sardento e sorridente de Bobby. Os cabelos louros caíam-lhe sobre a fronte, e os seus olhos vivos tinham um brilho gaiato. O jovem levantou-se e foi até à janela.
— Que fazes aqui?
— Vim falar contigo. Ajuda-me a entrar.
Cliff agarrou-o pelos sovacos e, como se fosse uma pena, levantou-o em peso, levando-o para dentro, do quarto.
— E a escola? — perguntou. O pequeno deitou os cabelos para trás.
— Raspei-me.
Cliff franziu as sobrancelhas.
— Fugiste? Porquê?
Bobby meteu as mãos nos bolsos das calças. Ouvi dizer a «miss» Nancy que te vais embora. Uma suspeita brilhou nos olhos do jovem.
— A quem o disse ela?
— Ao xerife.
O rosto de Cliff endurecera.
— Como foi que lhe disse, exatamente?
— O xerife foi à escola para ver se tudo corria bem. «Miss» Nancy queixou-se que faltavam camas, mesas e mais coisas para os alunos e, quando o xerife lhe disse que tu podias encarregar-te de construir tudo, ela respondeu-lhe que ias partir de Tonopah.
— Tens a certeza de que foi isso tudo quanto lhe disse?
—Absoluta.
Cliff deu um suspiro de alívio. Por um instante, pensou que a rapariga o traíra, mas agora reconhecia que se tratava apenas dum falso alarme. Depois olhou para o pequeno, admirado.
— E que tem de ver eu ir-me embora com tu fugires do colégio?
Bobby levantou a cabeça para poder olhar para ele.
— É que eu quero ir contigo.
Cliff deu um salto.
— Ires comigo?
O pequeno assentiu, muito sério.
— Se tu te vais embora, eu não quero ficar aqui. És meu amigo, e os bons amigos nunca, devem separar-se.
Cliff passou a mão pelos cabelos e ajoelhou-se junto do pequenito.
— Escuta, Bobby, tu não podes acompanhar-me.
Uma sombra de tristeza toldou os olhos do rapaz.
— Porquê? Cliff contorceu-se sem saber que explicação havia de dar-lhe.
— É que... na vida existem perigos que tu não deves correr. Agora... agora tens de ficar.
—Mas eu não quero separar-me de ti.
Cliff pôs-lhe as mãos nos ombros.
—É necessário que nos separemos. Eu tenho de seguir o meu caminho, e tu deves esperar fazeres-te um homem para poderes fazer o mesmo que eu.
Humedeceram-se os olhos do pequenito.
— E deixas-me só? Eu... eu não tenho pais.
Cliff sentiu invadir-se por uma tristeza imensa.
— Não ficarás só, Bobby. «Miss» Nancy cuidará de ti. Tu não és seu amigo?
O pequeno esforçava-se por conter o pranto.
— Sim, sou seu amigo. Mas é uma mulher e eu sou mais teu amigo.
Num impulso, deitou-lhe os braços ao pescoço. Cliff ficou imóvel, sentindo o corpito de Bobby tremer com os soluços. Não sabia que fazer, como resolver a situação.
— Escuta, Bobby, sê razoável...
— Não quero que me deixes! Não quero que me deixes!
Cliff acariciou-lhe a cabecita.
— Faremos uma coisa. Eu partirei sozinho, mas prometo-te que dentro duns anos, quando sejas crescido, virei buscar-te. Está bem?
O pequeno separou-se dele, olhando-o através das lágrimas.
—Não voltarás, se te vais embora! Eu sei! Eu sei! Tu não és meu amigo, essa é que é a verdade!
Deu meia volta e dirigiu-se a correr para a janela.
— Bobby! Espera! — exclamou Cliff.
Mas já era tarde. O pequeno, com surpreendente agilidade, saltara pela janela, desaparecendo da sua vista.
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