— Odeio as serpentes! — disse Chuck.
— De que espécie? — perguntou uma voz, tranquilamente.
Chuck olhou de soslaio.
E viu-o.
O homem que havia falado era alto, magro, com voz de entoação irónica, sorriso pouco acentuado e olhos semicerrados. Vestia descuidadamente uma camisa de flanela vermelha, colete de couro e calças pretas; os tacões das suas botas eram espantosamente finos e as esporas de prata resultavam enormes, de bordos afiados; cobria-se com um chapéu cinzento de copa baixa e, pendentes dos estreitos quadris, assomavam dos coldres as coronhas de dois «Colt-Lightining» (1) calibre 38.
Ao observar os coldres daquele homem, Chuck reparou-lhe nas mãos e leu escrito nelas uma inquietante mensagem.
Eram umas mãos grandes, viris, nervosas, mas de pele fina, cuidada, delicada, limpa ...Os longos dedos pareciam seres elásticos e sensíveis. Só os polegares mostravam uma... suspeitosa deformidade.
Cumberlan sentiu tremer o músculo do queixo.
Debaixo da unha, a carne estava achatada e calejada como o bico de um pato.
O xerife compreendia melhor do que ninguém o que aquele calo nos polegares significava; só o mostravam os pistoleiros — os escassos pistoleiros — cujo «Colt» carecia de gatilho, estando sempre a arma montada; bastava puxar o percutor para trás e soltá-lo. Não se precisava de apertar o gatilho... e ganhava-se uma fração de segundo preciosa; sobretudo, quando dela dependia a vida.
— Você disse que odiava as serpentes, xerife — falou o homem. — Todos... todos, compreende?, sentimos ódio contra alguma coisa... ou contra alguém.
O rosto de Cumberlan tornou-se inexpressivo.
Olhou-o nos olhos, mas, mentalmente, continuou a ver aquela deformidade na polpa dos dedos... que representava um exercício ininterrupto ao longo dos anos.
Achava-se perante um dos pistoleiros denominados «pistoleiros assassinos», pois a sua cintilante rapidez em matar não era conseguida nem imitada pelos mais velozes atiradores.
E a deformação... aparecia em ambos os polegares. Uma... em cada mão.
Um «Flat-Thumb» (2) ambidextro!
Aquele indivíduo possuía tanta habilidade numa mão como na outra. Um pistoleiro... perfeito.
— Porque se olham desse modo ? — exclamou Bellamy. — Parecem... parecem duas feras à espreita!
Um som abafado estremeceu os assistentes.
O pistoleiro ria.
«Frisco» ria poucas vezes. Só quando a tensão dos nervos lhe fazia mal ao espirito... porque, por sua vez, «Frisco» havia observado detidamente Cumberlan... e sentiu pelo xerife um estranho sentimento de atracão e repulsa. Teve a certeza de se achar diante de um igual, diante de um matador, diante de outro que vivia e dormia com o revólver... E isso causou-lhe certa angústia. Algo chocou no seu interior; duas ondas de pensamentos, chegando de direções opostas...
Era o único momento da sua existência em que se sentia inseguro... Inseguro ante aqueles olhos frios, cinzentos, metálicos; ante aquela boca... aquele rosto de traços excessivamente duros.
Tinha diante de si o «seu» adversário. Não houvera outro antes; não haveria outro depois. Mas aquele longo momento passou e as feições de «Frisco» crisparam-se estranhamente.
E o rosto de Cumberlan experimentou uma reação idêntica.
O que teria sacudido a alma de ambos os homens?
«Virtuosa» Seam apenas soube que sentia uma grande angústia, e quando «Frisco», sem acrescentar palavra alguma, rodeou Chuck, passou a seu lado e entrou no «saloon», teve necessidade de se apoiar em «Doe» Bellamy, sem conseguir explicar porquê.
Mas o médico, com os olhos fixos nas esporas de Cumberlan, resolveu com umas palavras o motivo do seu temor:
— São iguais. Separa-os... uma estrela.
Chuck já se encontrava no outro passeio; dobrava a esquina... «Virtuosa» seguiu-o com o olhar.
— Bendita seja essa estrela, «Doc».
— De que espécie? — perguntou uma voz, tranquilamente.
Chuck olhou de soslaio.
E viu-o.
O homem que havia falado era alto, magro, com voz de entoação irónica, sorriso pouco acentuado e olhos semicerrados. Vestia descuidadamente uma camisa de flanela vermelha, colete de couro e calças pretas; os tacões das suas botas eram espantosamente finos e as esporas de prata resultavam enormes, de bordos afiados; cobria-se com um chapéu cinzento de copa baixa e, pendentes dos estreitos quadris, assomavam dos coldres as coronhas de dois «Colt-Lightining» (1) calibre 38.
Ao observar os coldres daquele homem, Chuck reparou-lhe nas mãos e leu escrito nelas uma inquietante mensagem.
Eram umas mãos grandes, viris, nervosas, mas de pele fina, cuidada, delicada, limpa ...Os longos dedos pareciam seres elásticos e sensíveis. Só os polegares mostravam uma... suspeitosa deformidade.
Cumberlan sentiu tremer o músculo do queixo.
Debaixo da unha, a carne estava achatada e calejada como o bico de um pato.
O xerife compreendia melhor do que ninguém o que aquele calo nos polegares significava; só o mostravam os pistoleiros — os escassos pistoleiros — cujo «Colt» carecia de gatilho, estando sempre a arma montada; bastava puxar o percutor para trás e soltá-lo. Não se precisava de apertar o gatilho... e ganhava-se uma fração de segundo preciosa; sobretudo, quando dela dependia a vida.
— Você disse que odiava as serpentes, xerife — falou o homem. — Todos... todos, compreende?, sentimos ódio contra alguma coisa... ou contra alguém.
O rosto de Cumberlan tornou-se inexpressivo.
Olhou-o nos olhos, mas, mentalmente, continuou a ver aquela deformidade na polpa dos dedos... que representava um exercício ininterrupto ao longo dos anos.
Achava-se perante um dos pistoleiros denominados «pistoleiros assassinos», pois a sua cintilante rapidez em matar não era conseguida nem imitada pelos mais velozes atiradores.
E a deformação... aparecia em ambos os polegares. Uma... em cada mão.
Um «Flat-Thumb» (2) ambidextro!
Aquele indivíduo possuía tanta habilidade numa mão como na outra. Um pistoleiro... perfeito.
— Porque se olham desse modo ? — exclamou Bellamy. — Parecem... parecem duas feras à espreita!
Um som abafado estremeceu os assistentes.
O pistoleiro ria.
«Frisco» ria poucas vezes. Só quando a tensão dos nervos lhe fazia mal ao espirito... porque, por sua vez, «Frisco» havia observado detidamente Cumberlan... e sentiu pelo xerife um estranho sentimento de atracão e repulsa. Teve a certeza de se achar diante de um igual, diante de um matador, diante de outro que vivia e dormia com o revólver... E isso causou-lhe certa angústia. Algo chocou no seu interior; duas ondas de pensamentos, chegando de direções opostas...
Era o único momento da sua existência em que se sentia inseguro... Inseguro ante aqueles olhos frios, cinzentos, metálicos; ante aquela boca... aquele rosto de traços excessivamente duros.
Tinha diante de si o «seu» adversário. Não houvera outro antes; não haveria outro depois. Mas aquele longo momento passou e as feições de «Frisco» crisparam-se estranhamente.
E o rosto de Cumberlan experimentou uma reação idêntica.
O que teria sacudido a alma de ambos os homens?
«Virtuosa» Seam apenas soube que sentia uma grande angústia, e quando «Frisco», sem acrescentar palavra alguma, rodeou Chuck, passou a seu lado e entrou no «saloon», teve necessidade de se apoiar em «Doe» Bellamy, sem conseguir explicar porquê.
Mas o médico, com os olhos fixos nas esporas de Cumberlan, resolveu com umas palavras o motivo do seu temor:
— São iguais. Separa-os... uma estrela.
Chuck já se encontrava no outro passeio; dobrava a esquina... «Virtuosa» seguiu-o com o olhar.
— Bendita seja essa estrela, «Doc».
(1) «Colt-Lightning» — «Colt» — relâmpago (N. do T.).
(2) «Flat-Thumb», nome dado aos pistoleiros que utilizavam o revólver da maneira indicada. (N. do A.). <Flat-Thumb» —‘Polegar achatado». (N. do T.).
(2) «Flat-Thumb», nome dado aos pistoleiros que utilizavam o revólver da maneira indicada. (N. do A.). <Flat-Thumb» —‘Polegar achatado». (N. do T.).
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