sexta-feira, 7 de novembro de 2014

PAS395. Encontro de vagabundo com beldade em dificuldades


Jim já se dirigia a uma taberna, quando se deteve e se apoiou a um poste, adotando uma das suas posições características. Acabava de ver chegar uma carruagem, e esta sobejamente conhecida, sendo talvez a única coisa porque mostrava interesse, embora tratasse de dissimular na perfeição.
A ligeira carruagem deteve-se e uma bela jovem saltou para o alpendre. O olhar de Jim, «O Calamidade», estava fixo nela. Talvez nem ele mesmo dava conta do seu interesse; fazia-o de forma instintiva. Franziu o sobrolho, ao ver como um homem alto e corpulento se aproximava dela.
Também Gladys Stone olhou preocupada a poderosa figura de Pete Kinton, o famoso pistoleiro que se aproximava dela, e isto nao lhe causava nenhuma alegria. Detestava aquele homem, pois sabia que nao vacilava em matar, abusando da sua habilidade com o Colt. Sempre disposto a provocar, fazendo alarde da sua potência física.
A jovem tratou de desviar-se para o lado, mas Pete Kinton colocou-se na sua frente, inclinou-se ligeiramente, enquanto levava a mão ao chapéu e dizia:
— Bons dias, menina Gladys.
— Bons dias.
Respondeu com azedume, como manifestando o seu desagrado pela inoportuna presença do pistoleiro diante dela. Kinton limitou-se a sorrir; já estava convencido de ter esta receção. Depois acrescentou:
— Menina, percorri muitos Estados, e posso garantir--lhe que em nenhum vi uma mulher tao bonita como você.
— É muito amável. Quer fazer o favor de deixar-me passar?
— Permita-me que lhe fale a sós uns instantes. São muito escassas as ocasiões que a posso ver.
Uma expressão de desagrado apareceu no belo semblante da jovem. O gun-man percebeu-o com clareza, mas fingiu nao dar por isso. Insistiu, sorridente:
— Você é muito arisca. Julgo que fez uma ideia errada a meu respeito.
 — Nunca pensei nada de si, senhor Kinton.
O pistoleiro soltou uma gargalhada.
— Menos mal... Pelo menos sabe como me chamo.
Gladys olhou a sua volta angustiada, nao sabendo como sair daquela apurada situação. Conhecia a brutalidade do seu interlocutor e temia ser vítima de uma das suas conhecidas brincadeiras. Próximo dela viu Jim, «O Calamidade». Aquele homem também lhe era repulsivo, pois tinha-o visto embriagado duas vezes, produzindo-lhe um estranho enjoo.
Não obstante, era a única oportunidade que se lhe oferecia e não vacilou em a aproveitar.
— Quer fazer o favor de vir aqui, Jim ? — chamou.
Kinton olhou surpreendido a jovem, enquanto um desdenhoso sorriso aparecia nos seus lábios. Jim aproximou--se sem vacilar.
— Que deseja, menina Gladys?
— Tenho que comprar umas coisas, Jim. Pode fazer o favor de me acompanhar e levar o carro?
— Sim, menina, estou sempre a sua disposição.
Peter Kinton desatou a rir.
— Valente defensor foi buscar, Gladys. Nao existe em Los Hoyos um ser mais inofensivo.
E deu uma forte palmada nas costas de Jim, fazendo-o cambalear. Gladys corou, arrependendo-se de ter chamado o jovem, sentindo aquela humilhação. Se Jim, «O Calamidade, tentasse responder a insolência do pistoleiro, o mais provável era receber uma terrível tareia.
Indignou-se ao ver que o jovem permanecia impassível, sem fazer o menor caso do insulto. Nao podia conceber como um homem possuidor de uma figura tao magnifica como Jim, «O Calamidade», podia permitir que o tratassem de uma forma tao ignóbil.
Kinton afastou-se, inclinando-se brincalhão:
— Passe, Gladys. Hoje tem pressa; na próxima ocasião confio em que poderá dedicar-me uns minutos. Sou um homem muito interessante; queria que se fixasse bem em mim.
A jovem nao respondeu, limitando-se a passar desdenhosamente por ele. Jim seguiu-a. Ao começar a andar Kinton meteu-lhe uma rasteira, fazendo-o cambalear de forma ridícula. Jim teve que se apoiar na parede para não cair. O pistoleiro soltou uma estrepitosa gargalhada.
Gladys voltou-se furiosa.
-- Isso é mal feito, senhor Kinton. Não tem o direito de fazer troca de um pobre infeliz.
Kinton afastou-se, rindo, sem fazer caso da jovem. Esta porém exclamou indignada:
-- Você é um selvagem!
Ao voltar-se, a jovem ainda se indignou mais ao ver Jim, «O Calamidade». O jovem parecia tranquilo, como se nao se tivesse passado nada. Mordeu os lábios e nao fez mais comentários.
— Nao tem importância, menina Gladys. Pete Kinton procede sempre desta forma — disse Jim.
— Sim, é verdade.
E a mais profunda repulsa advertia-se no tom com que foram pronunciadas estas palavras. Começou a andar atrás da jovem, até chegar à loja. Gladys comprou sem perder tempo, o que lhe fazia falta, pois desejava ir-se embora quanto antes da povoação. Com um gesto, indicou os pacotes preparados e Jim, em apressou-se a apanha-los.
Sem esforço aparente levou-os ao carro. Gladys nao pode deixar de admirar a sua força.
— Obrigado, Jim.
E estendeu-lhe uma moeda de dólar.
O bronzeado semblante de Jim, «O Calamidade», corou de forma visível, coisa que teria surpreendido os habitantes de Los Hoyos. Gladys notou-o com espanto vendo como ele recuava uns passos, levando as mãos atrás das costas.
— Tome, Jim — insistiu a jovem.
Mas este moveu a cabeça:
-- Não, menina Gladys. Foi só um favor que lhe fiz.
— Nao posso permitir, Jim. Tome este dinheiro.
— Não, não. Foi para mim uma honra, poder-lhe ser útil.
E Jim, «O Calamidade», tirou o chapéu, deixando a descoberto os seus ondulados cabelos loiros, e afastou-se. Gladys permaneceu imóvel e com o braço estendido, segurando a moeda. Os seus olhos estavam fixos na figura que se afastava. Reagiu e subiu para o carro enquanto os seus lábios murmuravam:
-- É um desgraçado bêbado. Um cobarde!
E pouco depois saía de Los Hoyos.

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