terça-feira, 31 de agosto de 2021

ARZ107.07 Tentativa de cobrança mal sucedida


O homem que se intitulava cobrador do Imposto Especial votado pela Câmara — George Murphy — dirigia-se acompanhado pelos seus três guarda-costas para o rancho de Mike Taylor, ou, melhor dizendo, dirigia-se para a casa da herdade por que as terras que dele faziam parte já eles vinham pisando havia mais de uma hora montados nos seus cavalos.

— Então, Donald, qual o cálculo aproximado do número de cabeças que possui o nosso contribuinte de hoje? — perguntou o pálido jovem detendo a sua montada, no que foi imitado pelos outros.

O interpelado coçou a cabeça, relanceando os olhos em redor. Olhou em seguida para Reynolds, como a pedir-lhe auxílio, e respondeu:

— Trata-se de um rancho enorme; eu, por mim, diria que... talvez umas cinco mil cabeças.

— Dez mil dólares — comentou o cobrador, sorrindo.

— Não é nada mau.

— Não será mau... se ele pagar.

Murphy olhou, aborrecido, para o que acabava de falar e que era Reynolds.

—E porque é que não há de pagar, se todos os rancheiros visitados até agora o têm feito? Não vejo motivo para que este constitua uma exceção.

—Eu estava à janela quando Bragg interveio tão providencialmente em nosso auxílio. O velho Mike foi o único que protestou e pouco faltou para começarem aos tiros um contra o outro. Ë muito possível que não queira dar o braço a torcer.

— Fantasias! Quem manda aqui é o senhor Bragg, como já tivemos ocasião de verificar, e não é certamente esse homúnculo quem se atreverá a recusar o pagamento — disse ele esporeando o cavalo. — Para a frente, rapazes. Seja como for, nada de confiar demasiado.

Minutos depois faziam uma nova paragem, desta vez diante da porta da residência onde apenas encontraram um velho jornaleiro que, sentado à sombra projetada pela parede, se entretinha a consertar uma velha albarda com a maior atenção. Reynolds que acabara de apear-se, aproximou-se do velho.

— Olá, avozinho! Onde se encontra o patrão? — perguntou.

O velho, porém, pareceu dar mais atenção à sombra que o homem projetava do que à interpelação que lhe dirigira. Piscou um olho e sorriu-se, continuando na sua tarefa de perfurar o coiro da albarda com a comprida agulha que tinha nas mãos.

— Perguntei pelo seu patrão -- insistiu Reynolds, quase em cima do homem.

O velho ergueu a cabeça, olhou novamente para o intruso, tornou a rir-se com um riso alvar e prosseguiu no seu trabalho. O ajudante do recebedor olhou para os companheiros e abriu os braços, em ar de desalento.

— Talvez seja surdo; grita-lhe aos ouvidos — sugeriu Murphy que se mantinha a cavalo. — Onde está o senhor Taylor? — gritou o intruso, fazendo uma espécie de buzina com as mãos.

Desta vez, os mortiços olhos do velho manifestaram um rebate de inteligência, erguendo-os para os de Reynolds que se debruçava sobre ele. O outro supôs que o velho o tinha compreendido pois os seus lábios mexeram--se como se quisesse falar.

— Ah! Ah! Ah!... Está hoje um lindo dia, não lhe parece? — Foi tudo o que o velho disse.

Reynolds fez um gesto de raiva e ergueu as mãos como se pretendesse agredi-lo com um tabefe.

— Cuidado, senhor forasteiro! Se se atreve a tocar no homem, arrepender-se-á no mesmo instante.

A voz que acabavam de ouvir vinha da varanda do primeiro andar e todos puderam verificar que fora Mike Taylor em pessoa quem proferia aquelas palavras. Reynolds pôs-se a esfregar as mãos e recuou alguns passos sorrindo abertamente, em obediência a um sinal de Murphy que tinha agora o uso da palavra.

— Bons dias, senhor Taylor. O meu ajudante não queria, nem por sombras, agredir o pobre velho... Folgo muito em encontrá-lo. Pode conceder-nos alguns minutos de atenção?

Mike olhou para os visitantes e respondeu:

— Ora essa, porque não? Vou descer no mesmo instante.

Retirou-se da varanda em que se encontrava, aparecendo à porta dois minutos depois. Já dissemos que Mike era um homem de baixa estatura e já bastante idoso, mas dotado ainda de grande varonilidade e de um génio bastante agressivo.

O seu corpo magro, mas perfeitamente conformado, só denunciava a sua pequenez quando se encontrava perto de qualquer pessoa de estatura regular, e, como naquele momento refulgiam dois «Colts» no seu cinturão, o seu aspeto não só não era para graças como era, até, bastante ameaçador.

— Vamos lá a saber o que pretende, senhor Murphy? — disse ele com o sobrecenho carregado, plantado na soleira da porta, de onde não se arredou. O cobrador de impostos apeou-se do cavalo e encaminhou-se para Mike com a mão direita estendida. O velho fez de contas que não viu.

— A pessoa que o recebe não tem muito tempo para perder com ninharias. Vamos ao que interessa, senhor Murphy.

O jovem recebedor olhou desolado para os seus homens, como a tomá-los por testemunhas das suas boas intenções e da maneira desabrida como era recebido.

— Receio que não possa ser tão breve como é da minha vontade, senhor Taylor; o motivo da nossa visita necessita do tempo indispensável para estabelecer alguns cálculos e preencher vários documentos. Se agora lhe não dá jeito, voltaremos à hora que mais lhe convier.

O velho não perdia palavra do que o outro dizia. Quando acabou de falar, afastou-se para um dos lados, dizendo:

— Se é coisa para grandes demoras, então queiram fazer o favor de entrar.

Murphy fez sinal aos outros com os olhos, demonstrando um certo ar de triunfo. Entraram para o amplo salão de onde saía um corredor e uma escadaria que conduzia ao andar superior. Murphy olhou para Mike esperando que este lhes indicasse o caminho que deviam seguir. O velho, porém, uma vez transposta a entrada, ficou extático e com as mãos colocadas sobre o peito.

— Ora bem! Pode dizer afoitamente o que deseja, senhor Murphy — disse.

O cobrador limitou-se a encolher os ombros.

— Trata-se de saber se o número de cabeças de gado que o senhor tem no seu rancho está ou não certo.

— Quantas calculam os senhores? — perguntou Mike.

A boca do jovem abriu-se num vago sorriso e olhando de soslaio para Donald respondeu:

— Cinco mil reses.

— Têm os seus cálculos errados, meus senhores, — ripostou Mike. — Bom, o nosso cálculo é apenas aproximado; é natural que haja mais ou que haja menos, mas não aceitaremos nenhum manifesto de onde conste menor quantidade.

— Continuam a persistir no erro; eu não quero dizer que o número de cabeças que possuo seja inferior a cinco mil; muito pelo contrário. Ascendem, precisamente, a seis mil duzentas e trinta e seis. Posso provar-lho à face da minha documentação.

— Magnífico! —exclamou Murphy, esfregando as mãos. -- O senhor facilita-nos a tarefa de uma forma que ainda não encontrámos em parte alguma. Estamos-lhe muito agradecidos, senhor Taylor. Falta apenas que o senhor nos faça entrega dos respetivos doze mil dólares, não entrando o restante em consideração e fica o caso arrumado... Como é óbvio, passar-lhe-emos um recibo dessa importância.

Mike sorriu-se pela primeira vez. E o seu riso ia crescendo de forma que acabou por uma estrondosa gargalhada. E conforme o seu riso ia aumentando, ia aumentando também o ar sisudo dos visitantes que olhavam desconcertados uns para os outros. Murphy acabou por sorrir-se igualmente, dizendo:

— Ora ainda bem! Muito folgo com a sua satisfação. A discussão aborrece-me, sabe?

Mike acabou de sorrir-se, adquirindo o seu rosto uma expressão entre grave e risonha. Por fim, concluiu:

— Acabaram-se as graças, meus senhores: podem dirigir-se para onde muito quiserem a tratar das suas obrigações porque daqui não levarão nem um simples centavo.

— Confesso que lamento que o senhor assuma uma tal atitude, senhor Taylor. Podemos mostrar-lhe, se quiser, a cópia do decreto votado pelo parlamento.

O velho pôs-se subitamente muito sério e, apontando para a porta, apenas disse:

— Fora daqui! Intimo-os a abandonarem a minha casa, imediatamente.

Murphy olhou para os seus homens, contendo-os com um gesto, e aproximou-se persuasivamente, do rancheiro.

— Mas, por que toma o senhor uma atitude dessas, senhor Taylor? Será melhor levarmos as coisas a bem, a fim de não sermos forçados a recorrer à violência. O próprio exército pode vir em nosso auxílio e confiscar, inclusivamente, as suas propriedades.

— Basta! Disse já tudo o que tinha a dizer.

O cobrador perdeu a serenidade e estendendo as mãos agarrou o velho pelo peitilho da camisa. Mike reagiu e deu a demonstrar que as suas forças, apesar da sua idade, não eram tão frágeis como poderia parecer: deu um violento murro no rosto do homem que se atrevera a agarrá-lo, obrigando este a perder o equilíbrio, ficando sentado no chão.

Murphy voltou-se para os seus homens que olhavam para tudo aquilo muito espantados, e gritou:

—A ele, Reynolds!

E Reynolds, como se se tratasse de um cachorro açulado pelo dono, atirou-se contra o ancião, justamente a tempo de evitar que ele puxasse pelas armas como pretendia e, erguendo-o em peso, aproximou o seu punho, enorme e ameaçador, do rosto do homem.

— Maldito pigmeu! — rugiu. — Quer entrar na razão ou prefere que lhe quebre a cabeça?

Mike não ligou qualquer importância às palavras que lhe foram dirigidas e procurou libertar-se das garras do inimigo, esperneando no vácuo.

— Chega-lhe, Reynolds — incitou o cobrador, pondo-se em pé.

O formidável punho do homem recuou para redobrar o ímpeto do embate e ficou paralisado em consequência de um tiro. Não em virtude de ter sido atingido pela bala, pois o tiro foi disparado para o ar por Lucília, a jovem neta de Mike, que, assomando-se ao topo da escadaria, gritava:

— Foi apenas um aviso! Se não solta imediatamente o meu avô, a segunda bala vai direitinha à sua cabeça.

E a jovem Lucília começou a descer os degraus, de arma aperrada e apontada aos inimigos do avô. Reynolds largou o ancião e recuou alguns passos, de mãos erguidas como os seus companheiros. Assim que a decidida jovem se encontrou junto dos homens, Mike correu para ela exibindo um dos seus «Colts», e gritou:

— Fora daqui, seus mamarrachos! E nada de demoras se não querem levar algumas balas no corpo.

Murphy, mais pálido ainda do que lhe era habitual, foi o primeiro que se apressou a obedecer, no que foi imitado pelos seus homens, embora resmungando. Apenas acabaram de sair, Lucília e seu avô correram a assomar-se à potra para os verem afastar-se do rancho.

Nunca poderiam suspeitar da traição e da cobardia de que eram capazes aqueles homens que, apenas acabavam de chegar à porta, lhes caíram em cima a murro e a pontapé.

Ainda que tentassem resistir, ser-lhes-ia de todo inútil: ficaram desarmados no mesmo instante, revolvendo-se Lucília como uma fera para safar-se dos braços com que Reynolds lhe prendia os movimentos, confundindo-se os seus corpos ao rebolarem no soalho aonde tinham caído.

O velho foi mais facilmente dominado, não porque fosse mais fraco, mas apenas porque eram dois contra um.

A jovem continuava a oferecer resistência e Reynolds que se rebolava com ela, parecia comprazer-se com o facto, sussurrando-lhe ao ouvido, no instante em que conseguiu dominá-la completamente com o seu corpo:

— Fica a saber, minha ferazinha, que não te desejo mal nenhum. Pelo contrário! Para mim foi até um grande prazer apertar-te nos meus braços... Ai!...

Aquele grito acabava de sair da boca do homem a quem a jovem conseguira morder numa orelha no momento oportuno, e da qual só lhe não arrancou um pedaço, devido à oportuníssima aplicação de um murro no estômago que deixou a rapariga sem respiração.

Reynolds pós-se em pé e arrastou consigo a donzela a quem torceu um braço, virando-lho para as costas. Mike foi deixado em liberdade, cientes da sua fragilidade. O pobre velho, talvez por quebra momentânea dos nervos, nem se mexia nem dizia coisa alguma.

— Nada de perder tempo, senhor Taylor. Passe para cá os doze mil dólares e deixá-lo-emos em paz. Somos os primeiros a lamentar este desgraçado incidente.

— Incidente? Um roubo é que deve dizer. Um roubo e à mão armada. Isso é o que os senhores andam a fazer, seus canalhas!

Reynolds torceu ainda mais o braço da rapariga obrigando-a, devido à intensa dor, a não articular as palavras que se preparava para proferir.

— Que diz a isto, senhor Taylor? Ou não se apercebeu ainda da situação em que se encontra?

—Eh! Que é que se passa lã fora? — disse Slater, o terceiro dos sicários de Murphy.

No exterior ia-se avolumando um estrondo como de cascos de cavalos a galope, aliado a uma vozearia que não podia deixar de ser dos cavaleiros que os conduziam. Murphy correu a inteirar-se do que acontecia. Quando voltou a cabeça tinha o pânico estampado no rosto.

— Aproxima-se uma autêntica nuvem de vaqueiros. De que se trata? O senhor tem de sabê-lo, fatalmente. Explique-se, velho maldito, ou juro-lhe que emudecerá para sempre.

O jovem ia-se aproximando de Mike com modos ameaçadores. O rancheiro, porém, não se amedrontou nada com isso e era com expressão alegre que dizia:

— Que é que vocês pensavam? Estavam convencidos de que em todo este rancho não havia mais ninguém além de mim e da minha neta? Naturalmente que sei quem são esses que estão a chegar; são os meus homens e os dos meus vizinhos, todos conluiados para vos aniquilar.

O cobrador deu algumas ordens que foram prontamente cumpridas pelos seus ajudantes. Reynolds levou a rapariga consigo, quase suspensa, para o fundo do salão, em procura do vão da escadaria. Slater fez o mesmo com Mike que se revolvia furioso, seguido de Murphy e do outro.

— Olá, Mike! Estás surdo ou que diabo é isso? Já aqui estamos todos reunidos — gritou alguém de junto da porta, ao mesmo tempo que um homem corpulento transpunha a soleira da porta à frente de um grupo de vaqueiros.

— Alto! — disse Murphy, detendo-os com um gesto. -- Se continuam a avançar, os seus amigos vão passar um mau bocado.

O homenzarrão que avançava na frente parou, fazendo sinal aos outros para que o imitassem. Coçou nervosamente a cabeça, alongando-a para a frente com os olhos semicerrados, pois com os olhos encadeados pela luz solar como estavam não lhe era fácil reconhecer a pessoa que lhe dirigira a palavra.

— Que diabo se passa aqui, Mike? Alguma brincadeira de mau gosto, ou quê? — perguntou.

Mas antes de acabar de formular as suas perguntas já se tinha apercebido do que sucedera, logo que a sua vista se adaptara à escuridão da sala. Os outros, por sua vez, estavam já, também, ao corrente de tudo. Viram Mike e a sua neta dominados pelos intrusos, e um murmúrio de raiva saiu ao mesmo tempo de todas as bocas.

— Bom será que sejam prudentes — disse Murphy. — Ignoro o motivo que os trouxe aqui, mas, se tiverem um pouco de inteligência e se retirarem em boa ordem, nada de mau acontecerá ao senhor Taylor nem à sua neta.

— Não faças caso do que ele diz, Herman! — conseguiu gritar o velho, libertando a boca da mão que lha tapava. — Estão todos aqui; já não será necessário sairmos de onde estamos.

Herman, o esforçado vaqueiro que comandava o grupo, exclamou:

— Quer dizer, então, que é o nosso amigo cobrador! Esta maldita escuridão não me deixa ver nada. E pode saber-se, porventura, que faz esse intrometido nesta casa?

Alguém perguntou de fora:

— Que é que se passa aí dentro? Aqui não se ouve nada e já nos vai faltando a paciência.

—É o cobrador e a sua quadrilha que ameaçam o velho e a neta — disse uma voz anónima vinda do grupo que entrou na sala atrás de Herman. — Por que esperais, rapazes? Vamos a eles!

Ainda que os homens de Murphy tivessem as armas apontadas ao grupo intimando-os a parar, nada teriam conseguido, porque o avanço não dependia dos homens da frente, mas sim dos que vinham atrás, principalmente dos que chegavam de fora e que empurravam irresistivelmente os seus companheiros.

Fosse como fosse, nem Murphy nem nenhum dos seus homens fizeram uso das armas, pensando talvez que, se não ferissem nenhum dos atacantes, podiam acalentar a esperança de sair vivos da situação em que se meteram.

Lucília animada por tão oportuno auxílio, e antecipando-se à tempestade que se avizinhava, começou logo a dar caneladas ao homem que a mantinha segura, Reynolds, que prontamente a soltou para evitar os pontapés, preparando-se ao mesmo tempo para lhe desferir um violento murro na cara. É claro que isso não passou de mera intenção, pois, antes de descarregar o golpe, já a potente mão de Herman lhe segurava a dele no ar, frustrando-lhe assim os seus intentos.

O descomunal rancheiro não teve mais do que dobrar o dorso em sentido contrário, para que Reynolds deixasse de ter os pés assentes no solo e voasse por cima da sua cabeça.

Murphy e outros dois tinham sido como engolidos pelos do grupo de Herman e não deviam estar a sentir-se nada bem, a julgar pelos gritos e lamentações que soltavam.

Lucília, em face de tantos homens que se ocupavam na tarefa de castigar os intrometidos, deixou de se preocupar com as canelas dos homens do fisco para se entregar ao arranjo do seu vestido e à compostura do cabelo, enquanto ia observando a confusão que se estabeleceu.

— Já chega por agora, rapazes! — gritou alguém. — Se continuais assim, daqui a pouco não restarão mais do que uns frangalhos para enforcar. Acabem lá com isso e vamos, mas é pendurá-los. Até dá gosto vê-los espernear...

Pareceu nos primeiros momentos que aquelas palavras não fizeram qualquer efeito nos circunstantes, mas, instantes depois, iniciou-se um movimento de retirada, começando a sair os que tiveram a sorte de poder entrar, visto que a maior parte deles nem por sombras cabiam na sala e os que ficaram na rua, ansiosos por passar a mão por sobre os lombos dos intrometidos fiscais que tantos dissabores trouxeram a Green City, apressaram-se a deitar a mão a Slater, o primeiro que saiu e que só então pôde avaliar o que representam os violentos golpes, vibrados por agressores sucessivamente renovados...

Assim foram saindo os restantes, que eram recebidos de igual modo, à medida que surgiam à porta da vivenda.

— Basta! Acabais por matá-los a todos e isso não será mais do que um assassínio tão indigno como os que foram cometidos por eles! Hão de ser conduzidos a Cheyenne e entregues ao Governador!

Era Mike quem proferia aquelas palavras, demonstrando assim o seu bom senso. Debalde falava, porém, o bom do velho, pois ninguém ligava importância ao que ele dizia, preocupando-se apenas em arrastar os homens para junto da árvore previamente assinalada. O velho correu então atrás de Herman, a fim de que este lhe prestasse atenção.

—Herman, não foi isto o que ficou combinado. No fim de contas, eles são agentes do Governo! Vamos meter-nos em algum sarilho se eles não saem daqui com vida...

Herman olhou para o velho meio indeciso.

— Sim, Mike; eu também procuro evitar isso, mas vejo que não é possível. O ódio enlouqueceu-os a todos... Parem com isso, seus loucos! — rugia o homem, afastando à força de murros todos aqueles que se lhe interpunham, no que era secundado por Mike.

Uma corda foi atirada, como uma serpente, para o topo da árvore, ficando um instante a bambolear-se. Não foi mais do que um segundo, pois uma infinidade de mãos se ergueu para serem as primeiras a dar o esticão que asfixiasse Murphy, cujo pescoço estava já rodeado pela corda. Antes que o fatal esticão tivesse sido dado, ouviu-se uma voz junto do padecente:

— Um momento, rapazes! Este homem está desmaiado — Adiante! — gritou outra voz. — Já vamos ver que ele faz quando recuperar os sentidos em pleno espaço... E a horrível corda começou a retesar-se...

 

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