A primeira coisa de que Wood teve conhecimento foi que estava estendido por terra, no interior de uma confortável cabana, e completamente desatado, uma vez que quando se mexeu notou que o podia fazer com inteira liberdade.
Então olhou em volta.
O seu rosto tornou-se lívido à luz do candeeiro a petróleo, ante os olhos fixos e sem piedade de Durgan, que, sentado numa cadeira, na sua frente, com o colt metido no coldre e o seu metido na cintura entre a camisa e as calças, não o perdia de vista nem por um segundo.
Wood sentou-se no chão olhando para ele. Depois, aparentando coragem que não sentia, perguntou:
—Que demónios quer de mim, Durgan?
— Resposta a algumas perguntas. Ou melhor, Wood; resposta a uma só.
Não havia saída.
Wood pensou assim ao mesmo tempo que imaginava a resposta a dar.
— Que ganho se responder, Durgan?
— Uma oportunidade de saíres daqui com vida. Parece-te pouco?
Wood pensou as palavras de Durgan durante alguns segundos. Finalmente respondeu:
— Pergunte, veremos se posso responder.
—Bem. Quem matou Mona Davison e por ordem de quem? Eram duas perguntas numa só.
Mas Wood não pensou nisso. Para ele apenas contava uma coisa: que aquele diabólico engenheiro, que tinha mais de gun-man do que outra coisa, tinha feito uma pergunta que representava um perigo para ele.
— Morreu por acidente, Durgan.
Este pôs-se de pé e avançou lentamente.
— Porco l— mastigou entredentes. — Foste tu que a mataste. Quem te deu essa ordem? Holland, não é verdade?
—Não sei de que está a falar.
Durgan disparou o punho, batendo-lhe na cara.
Wood deu uma volta para trás, e depois tentou pôr-se de pé. Quase o conseguira, quando recebeu um espantoso pontapé nas costas, que o lançou contra a parede. A própria dor, o medo de receber mais, o terror de morrer a socos, fê-lo raciocinar.
Permaneceu no chão, tentando tomar forças, mas à espera de uma oportunidade, enquanto Durgan de pé à sua frente permanecia na expectativa.
Repentinamente, Wood pôs-se de pé. Lançou. um grito como o de uma mulher e arremeteu contra ele de cabeça baixa. Durgan recebeu o impacto no estômago e caiu no chão abrindo desmedidamente a boca.
Wood não lhe deu tempo para refletir e, começou a golpeá-lo sem lhe dar oportunidade a defender-se daquela chuva de socos.
Conseguiu reagir, quando viu o seu próprio sangue escorrer-lhe pela boca. No seu interior aquilo atuou como uma explosão.
Voltou-se no chão e tirou-o de cima com a ajuda das pernas. Depois, cambaleando, pôs-se de pé. Mas não o atacou. Esperou que Wood acabasse de rolar. Este levantou-se. Então dirigiu-se a ele com um brilho homicida nos olhos.
A partir desse momento, Wood viu-se transportado de um lado para o outro, enquanto uma chuva de socos caía sobre ele por todos os lados. O castigo durou muito tempo, até que por fim, gemendo, chorando como uma criança até perder os sentidos, e, com o rosto tumefacto e irreconhecível, caiu no chão feito num feixe.
Nos olhos de Durgan permanecia o estranho brilho. Do chão, semi-inconsciente, Wood viu-o quando se aproximava. Afastou-se, arrastando-se pelo chão como uma cascavel. Mas Durgan, rindo diabolicamente, agarrou-o num segundo. Agarrando-o pela camisa esfarrapada, levantou-o à altura do rosto, cheio também de equimoses e vergões.
— Vou acabar contigo a murros, Wood — disse friamente e com voz rouca. — Vou arrancar-te a pele às tiras. Quem te ordenou que matasses Mona?
Largou-o, atirando-o contra a parede num empurrão brutal e aproximando-se de novo. Os olhos de Wood, injetados de sangue, abriram-se desmedidamente demonstrando o terror que sentia.
— Foi Holland. Não... não me bata mais... Foi ele... Ele é que planeou tudo.
Durgan deteve-se a meio caminho. Depois olhou em volta. Em seguida, sem o perder de vista, aproximou-se de uma pequena mesa. Tirou papel e um lápis e pôs em cima da mesma.
— Escreve isso, rato — disse. — Vamos, mexe-te, ou serei eu a sentar-te na mesa.
Wood pôs-se de pé a muito custo. Tremendo, aproximou-se da mesa, para se deixar cair em. seguida num banco. Com os olhos turvos onde continuava a refletir se o medo, perguntou:
— Que ganho eu com isto, Dur... gan?
—Já te disse, cão. Uma oportunidade. A única que tens de sair daqui com vida.
Desta vez, Wood não respondeu. Agarrou no lápis e começou a escrever. Suava como um condenado a galés quando largou o lápis depois de ter assinado. Depois olhou para Durgan.
— Afasta-te dai, rato.
Fê-lo precipitadamente, e Durgan avançou para a mesa. Leu o papel. Wood escrevera que, em vista de Mona Davison não ter feito caso das ameaças e pressões de Holland, este tinha simulado uma luta no saloon para a assassinar tal como tinha acontecido.
Wood escrevera também que tinha sido ele o assassino. Tinha ganho cinco mil dólares no trabalho. Durgan afastou o olhar do papel e fitou-o.
— Não sei até que ponto poderá servir esta declaração, uma vez que foi conseguida pela violência, mas espero que não estejas vivo para o confirmar, Wood.
O pistoleiro dilatou os olhos e retrocedeu uns passos tremendo, até que as suas costas bateram na parede.
— Vai...ma...tar-me? Não era isso que tinha dito.
Durgan sorriu sinistramente, e dos seus lábios começou novamente a escorrer o sangue. Então fez uma careta.
— Maldito... —disse. —Preveni-te que era a única possibilidade de salvares a vida, e eu cumpro sempre aquilo que prometo — tirou o colt da cintura e atirou-o aso pés de Wood.
—Vamos, cão, defende-te.
Por instantes, nos olhos do pistoleiro chispou um brilho assassino, que se apagou imediatamente.
— Não o farei — disse. —Sei que quando me baixar para apanhá-lo, o senhor, disparará contra mim, Durgan.
O riso deste sobressaltou-o.
— És um bicho imundo, Wood. Podes estar tranquilo, mas vê bem o que fazes. Tens que o meter lentamente no coldre. Cuidadosamente. Se assim não for, meter-te-ei uma bala na cabeça. Depois, frente a frente, que ganhe o mais rápido e o que tenha razão.
Wood olhou-o durante muito tempo sem se decidir. Durgan preveniu-o então.
—Tens cinco segundos para o apanhar, Wood. Quando passarem, matar-te-ei mesmo que não faças nada para te defenderes. Começo a contar. Um...dois...
Wood começou a baixar-se e Durgan deixou de contar imediatamente enquanto semicerrava os olhos, esperando o momento da traição. A meio caminho do solo, Wood deixou-se cair sobre o colt. A sua mão direita agarrou-o e começou a disparar.
Durgan deixou-se cair para o lado e disparou uma só vez, quando Wood já o tinha feito três vezes. Depois viu o efeito do tiro. Wood estava no chão, com a cabeça por terra, enquanto da testa lhe escorria um fio de sangue.
Tornou a carregar o revólver sem deixar de olhar para ele e aproximou-se lentamente da mesa. Também ele escreveu qualquer coisa num papel, e depois guardou a confissão de Wood no bolso da camisa.
Em seguida, arrastou o cadáver do pistoleiro para fora da cabana, subiu-o para o cavalo pondo-o atravessado na sela, atou-o ao animal depois de ter posto nas suas roupas o papel que tinha escrito, subiu para a sua montada, e, lentamente, encaminhou-se para os rochedos.
Trepou para eles a custo, sem abandonar um só instante a carga macabra, e quando lhe apareceu o rancho de Holland desmontou, dirigiu-se ao cavalo de Wood com a sua carga sinistra e bateu-lhe fortemente com a palma da mão nas ancas.
Sob a luz da lua, Durgan esteve a olhar para o animal quase até o perder de vista, muito perto da casa do rancheiro.
Então, voltou para trás e afastou-se. Quando pôs os pés no chão subiu para o cavalo e afastou-se a todo o galope, e ninguém mais soube dele senão quinze dias depois.
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