A ténue claridade matutina empurrava e desfazia as últimas sombras da noite. O xerife Craig Larson e o comissário Adams chegaram à cabana das «Colinas Pardas». Não tinham tido nem uma hora de repouso, porque o xerife não queria expor-se a que desaparecessem os vestígios considerados por ele uma importante pista. Ambos refletiam nos rostos o cansaço e a tensão a que tinham estado submetidos no decurso das últimas horas.
— Repara bem, Adams! — murmurou o xerife, triunfante. — Vês? Aqui, deu a volta o carro. Junto dele, há pegadas de três pessoas, dois homens e uma mulher. Jorge Palácios era um deles, com certeza. Mas quem foram os outros?
As pegadas de regresso e as marcas que deixava a carruagem ao retirar-se dali entrecruzavam-se no pó do caminho, tornando fácil seguir a pista. Ao fim de alguns momentos de cuidada observação durante a qual os olhos de Larson não se desviavam do terreno, o xerife compreendeu, sem margem para dúvida, o rumo dos sulcos. Iam diretamente ao rancho que se chamava El Robledal. Não esperava tal coisa, mas também era certo que não o surpreendia.
Numa curva do caminho, por trás de uns penhascos elevados, soou uma voz que muito bem conhecia:
— Bons dias, xerife e companheiro!
— Lloyd! Que diabo fazes aqui?
— Parece-me que nos picou a todos a mesma ideia, Craig.
Martin Palácios surgiu por trás de Lloyd Cormon.
— Não posso aprovar a tua atuação de ontem à noite, Lloyd. É delito grave opor-se à lei e aos seus representantes. Depois conversaremos os dois a esse respeito, com calma. Suponho que te irão fazer bem uns dias de descanso.
— Estupendo, Craig! Assim terei a possibilidade quase infalível de te ganhar ao póquer o teu vencimento. E o dos teus comissários também.
Adams corou, enraivecido, e principalmente, por se recordar da afronta recebida umas horas antes. Martin Palácios sorriu. Imitou-o Craig, apesar do gracejo também ser dirigido a ele.
— Esperava que cumprisses a tua palavra, Martin —prosseguiu Larson. —Meio-dia foi a hora combinada.
— Eu sei, Larson. Mas segui Cormon, essencialmente porque alimentava o desejo de dar uma olhadela à cabana. Suponho que chegámos todos à mesma conclusão.
—A qual?
— A de que a solução do assunto se encontra dentro dos limites de El Robledal.
— Sim. Tens razão. Reparaste, portanto, nas marcas deixadas pela carruagem no pó do caminho.
Martin Palácios abanou afirmativamente a cabeça.
— Marcas... pegadas... Umas eram de um pé pequeno — prosseguiu o xerife. — Eu diria que de mulher. Achas que?...
— Sei no que pensas, Larson — disse Martin Palácios, empalidecendo intensamente. — Mas enganas-te. Beatriz é incapaz de uma atrocidade como aquela.
— Não digo que tenha sido Beatriz, Martin. Mas pode ter presenciado...
— Não, não creio. Não é possível! — murmurou Martin.
— Queres ver o que encontrei ontem na cabana? — tornou Larson, tirando o cachimbo da algibeira.
Martin Palácios examinou-o em silêncio e passou-o a Cormon, que também o observou com interesse.
— Não te dizem nada estas iniciais? — perguntou o xerife.
— M. A. — sussurrou Palácios. — As de... Marcos Alcântara.
— Exatamente.
— Não era essa a ideia que eu tinha em mente, Larson. Agora, mais do que nunca, preciso de falar a dom Matias. Durante estes dez anos pensei em qualquer coisa que talvez pudesse ter um fundamento. Sendo assim, isso esclarecia tudo.
— Poderá ser. Vamos.
Os quatro, a cavalo, dirigiram-se para a fazenda que se divisava não muito longe dali. Recebeu-os à entrada do portão um homem que aí se encontrava de guarda.
— Alto! — ordenou, imperioso.
Larson apontou para a estrela prateada que levava ao peito.
— Queremos falar a dom Matias — declarou secamente.
— O patrão não descansou esta noite e está agora a repousar. Não deve poder recebê-lo.
— Recebe — limitou-se a dizer o xerife.
E, fazendo um sinal aos companheiros, deu um toque nos ilhais do cavalo e passou sob o arco para entrar no rancho. Seguiram-no os outros. Desmontaram no pátio, junto das escadas que subiam para o alpendre do edifício e prenderam os animais nas anilhas do muro.
— Esperem-me aqui. Vou eu lá acima — disse Larson.
A porta da entrada materializou-se uma figura de mulher. Larson reconheceu-a imediatamente, se bem que não a visse havia mais de um ano, pois era pessoa que só raramente ia a Corrales: Flora, a governanta dos Quintanas.
— Bons dias, Flora — cumprimentou-a, tirando o chapéu.
— Bons dias — repetiu a mulher. — Que o traz por cá, xerife Larson?
— Queríamos falar com dom Matias.
— Queríamos?
— Sim. Os outros estão lá em baixo à espera.
— É assim tão urgente?
— Sim — respondeu laconicamente o xerife.
— Bom, nesse caso, vou ver se pode recebê-los agora.
— Obrigado, Flora. É importantíssimo.
Passou um longo quarto de hora, que não menos. Matias Quintana não aparecia. Larson passeava com nervosismo, fazendo rodar o chapéu entre os dedos. Preocupado pelo que pudessem pensar os companheiros, desceu os degraus para lhes falar.
— Onde está Martin? — perguntou, admirado, ao notar a ausência do jovem Palácios.
— Disse-nos há minutos que você lhe fez sinal de uma janela de cima e foi por ali — explicou o comissário Adams, apontando para urna das esquinas do edifício.
— Diabo de rapaz! — exclamou Larson, aborrecido com o facto. — Volto para cima. Vocês procurem-no e, uma vez. que o encontrem, não se separem mais dele, sob pretexto nenhum.
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