Apesar disso, o cavaleiro conduzia a passo, sem se importar que chovesse e se molhasse dos pés à cabeça, nem que a água passasse o seu «Stetson» para deslizar pela cara até entrar-lhe pelo peito.
Cavalgava pelas margens do Arkansas, aproximando-se lentamente de Fowler. Mas muito antes de chegar, deteve-se em frente aos mesmos penhascos em que um dia muito distante, alguém emboscado entre as rochas o atacara com tiros de «Winchester».
Olhou em volta por entre a cortina de chuva. Ali estava o dique de retenção. Ou melhor, o que restava das obras, uma vez que tudo o que tinha feito, se era que se tinha feito mais alguma coisa depois da sua partida forçada, estava destruído.
Pensou em Sadie.
Perguntou a si próprio a que se deveria aquele facto tão extraordinário. Seria que ela tinha desistido de continuar o dique depois da sua partida? Então, para que demónios tinha trazido outro engenheiro da capital?
Incapaz de responder satisfatoriamente, Durgan esporeou o cavalo em direção a Fowler, onde chegou meia hora depois.
Deteve-se em frente ao saloon pensando em Mona. Nela e nas suas maravilhosas pernas. Teria mudado muito?
Desmontou de um salto. Quando já estava no chão sacudiu-se tal como um cão e entrou. O interior não tinha mudado em nada, a não ser o barman que não era o mesmo, e, em vez de Mona, no palco estavam duas mulheres formosíssimas, com tudo aquilo que lhes era necessário e muito mais, apenas oculto dos olhares incendiados dos clientes.
Olhou-as de relance e aproximou-se do balcão. O olhar curioso do barman fixou-se nele logo que se encostou.
— Que toma, forasteiro?
— Um whisky — respondeu. —Mas primeiro quero fazer-lhe uma pergunta. Onde está. Mona? Não a vejo em lado nenhum.
O barman respondeu com outra pergunta.
—Pelo visto não passa por cá há muito tempo, não?
— Sim, uns seis anos.
— Então não deve saber, forasteiro. Mona morreu.
Durgan deixou escapar um grito que não pode evitar.
— Quando? — perguntou em voz rouca.
— Há uns quatro anos—baixou a voz. —Mataram-na, sabe? Houve uma rixa dentro do saloon e uma bala perdida acertou-lhe. —Isso é verdade? —Eu não estava cá, forasteiro. Mas é o que dizem.
— Quem é agora o dono do saloon?
—Mister Al Holland. Conhece-o?
Durgan julgou conveniente dizer a verdade.
—Sim — disse. — Desde há muito. Como está ele?
— Bem. Melhor que nunca. Os seus negócios também. Cada dia sobem mais, deve compreender-me.
— Não sabe quanto gosto me dá sabê-lo — replicou mordazmente, ainda que o barman não compreendesse. — E o sheriff, como está? Suponho que lhe agradaria tornar a ver-me — terminou com acentuada ironia.
— Quem, Pat Morley? Pensei que não o conhecesse.
Tinham mudado muitas coisas em Fowler no decorrer daqueles anos. Durgan pensou nisso enquanto respondia:
— Não me referia a Pat Morley.
— Ah! O outro?... Bem, destituíram-no. A ele e ao juiz.
Voltou-se para se encaminhar para a prateleira. Quando se voltou com a garrafa de whisky e um copo, encontrou-se com os olhos perscrutadores de Durgan. Encheu sem deixar de o olhar, e Durgan bebeu um pouco antes de voltar à carga.
—Pelo visto as coisas mudaram muito desde que me fui embora — disse à toa, tentando desenrolar a língua do outro.
—Sim. Segundo o que me disseram, bastante, forasteiro.
Durgan sorriu ao formular a pergunta seguinte:
— Que sabe dos outros ranchos? Mudaram de dono?
— Alguns sim. Os outros... vão de mal a pior. Algum em particular?
Agora Durgan vacilou.
— Sim — respondeu depois de uma ligeira pausa. — Queria saber se Sadie Farrow ainda continua em Fowler.
O barman semicerrou os olhos olhando-o agora atentamente. Depois, em tom vacilante aventurou a pergunta:
— Oiça, o senhor é o marido dela, mister Durgan, não é verdade?
— Sim, sou eu esse marido que andou perdido durante algum tempo. Na prisão digamos, falando francamente.
—Demónios! Ela sempre disse que voltaria.
—A quem disse isso?
—A mister Holland.
— Que tem ele a ver com a minha mulher?
— Oiça, mister Durgan, será melhor que não continue a fazer perguntas, sabe? Eu não penso responder a mais nenhuma.
—Mas poder-me-á dizer se ela cá está, não?
—Sim. No seu rancho.
Afastou-se dele bruscamente. Durgan começou a saborear lentamente o whisky com os olhos fixos nas pernas das duas raparigas, que tinham acabado de dançar. Desceram do palco e começaram a passear em torno dos clientes.
Durgan deixou de as olhar e voltou a cara para o balcão. Bebeu lentamente o conteúdo do copo enquanto no interior do seu cérebro os pensamentos mais contraditórios ameaçavam fazer-lhe saltar os nervos.
— Forasteiro?
Lentamente Durgan pôs o copo em cima do balcão e voltou-se. Na sua frente, olhando-o com os olhos cálidos, estava um jovem alto, forte, ruivo, de rosto anguloso e olhos acinzentados. Na camisa de quadrados brilhava a estrela prateada, índice do seu cargo.
—O mesmo que o senhor, sheriff.
— Que quer dizer com isso?
— Que o senhor também não é de Fowler, pelo menos que eu me lembre.
Olharam-se e Morley aproximou-se do balcão.
— Vendo as coisas assim, é verdade, forasteiro—replicou. —E agora, quer dizer-me quem é e o que faz na minha comarca?
Durgan semicerrou os olhos, mas Morley susteve o seu olhar.
—A que propósito vem essa pergunta? —perguntou por sua vez.
Morley mostrou a dentadura forte num breve sorriso. Assinalou o colt que pendia da cintura de Durgan e respondeu:
— Não gosto da forma como usa essa arma. Isso é tudo. Fowler agora está tranquila e não gosto de pisto-leitos.
Durgan voltou a cara para o balcão, agarrou no copo de whisky, e olhando-o novamente, respondeu:
—Quem o nomeou sheriff? O povo?
Por momentos, Morley pareceu vacilar, mas por fim respondeu.
—Não. Fui nomeado pelo governador do Estado. Satisfeito? E agora, quer responder à minha pergunta?
Durgan sorriu friamente.
— Por que não, sheriff? Chamo-me Jack Durgan.
O outro conseguiu reprimir o grito de admiração.
—Demónios, isso ainda é pior,
— Porquê?
Morley pareceu meditar antes de dar uma resposta categórica. Por fim, decidiu-se.
— Oiça, Durgan —disse— o seu regresso vai trazer complicações e não as quero.
— Pensa por acaso fazer-me sair de Fowler? Esquece-se que tenho aqui interesses e a minha esposa?
—Não, Durgan, não posso fazer isso, ainda que gostasse. Mas previno-o que tenha cuidado. O senhor é um recém-chegado de um presídio, compreende? Alguém que não está muito bem visto aos olhos da lei. Terá que estar quieto, de contrário...
—Voltarei para lá, não? — inquiriu Durgan friamente.
— Poderia ser.
Durgan permaneceu uns minutos silencioso. Depois falou roucamente.
— De que tem medo, sheriff? De que tente descobrir quem é o responsável pela morte de Mona? Que tente também averiguar quem tem grande parte da culpa de que a minha mulher não tenha continuado a construção do dique nas margens do Arkansas, parte do qual voou por causa da dinamite?
Sem comentários:
Enviar um comentário