Durgan avançou diretamente para o saloon de Mona Davison. Entrou perturbado e aproximou-se do balcão, pediu um whisky, que bebeu a pequenos sorvos, e depois olhou para o barman.
— Mona está? — perguntou.
— Em cima. Suponho que no quarto, ou no escritório.
Durgan subiu a escada, alcançou o patamar e voltou à direita. Deteve-se em frente de uma das três portas e bateu com o nó dos dedos. Depois entrou.
Mona Davison levantou-se ao vê-lo. Era uma beleza de mulher. Uma beleza selvagem e provocante dos pés à cabeça. Morena, de cabelo negro, curto e ondulado, e com uns olhos escuros e brilhantes. A sua boca vermelha de lábios carnudos e sensuais, feitos unicamente para beijar, abriram-se num sorriso de boas-vindas.
— Jack, querido...
Imediatamente lançou-se nos seus braços. Depois separou-se dela, suspirou fortemente e veio sentar-se num cadeirão, Mona por sua vez sentou-se na sua frente, olhando-o nos olhos.
— Que se passa contigo, Jack? -- perguntou com o olhar preocupado, como se a intuição a avisasse de antemão que, a partir daquele momento, as coisas entre os dois iam ser diferentes.
Durgan olhou-a durante muito tempo antes de responder:
— Não sei como dizê-lo, Mona — disse. — Mas... o caso é que isto tem que acabar. Acabo de me casar. Com Sadie Farrow.
A resposta dela deixou-o embaraçado:
— Sempre calculei que isto aconteceria querido. Soube-o desde o princípio. Por que nos havemos, pois, de preocupar? — continuou a olhá-lo engolindo o grande desgosto do seu coração uma vez que estava verdadeiramente apaixonada, acrescentou: — Conta-me tudo, queres? Agora sou para ti uma boa amiga. Talvez te possa ajudar.
—Obrigado, Mona. Compreende... eu...
— Não precisas de te explicar perante mim, Jack. Mas, queres contar-me como isso aconteceu? Pensava que as vossas relações eram muito parecidas às que existem entre um rato e uma ratazana. Ou não era assim?
—Sim, Mona. Era assim. Olha...
Contou-lhe tudo. «Tintim por tintim». Quando acabou, ela perguntou:
— E tu eras um deles, Jack?
Assentiu com um gesto de cabeça e ela desviou os olhos para olhar para o azul intenso do céu que se divisava pela janela aberta.
— Não posso acreditar, Jack. Nunca acreditarei. Que jogo tens entre mãos, pode saber-se?
— Jogo? Nenhum, Mona. É a verdade. Eu fui um desses homens — pós-se de pé. — Deverias acreditar-me, Mona.
—Nunca. Nunca pensarei isso de ti. E a tua mulher... — mordeu a palavra — é bastante estúpida para acreditar que disseste a verdade. Que diabos tentas ocultar, queri... Jack?
— Nada. Nada, Mona.
Dirigiu-se para a porta. Ela não se mexeu, sabendo que se o fizesse cairia outra vez nos seus braços. Era uma coisa irremediável. Portanto, permaneceu sentada, olhando-o. Chamou-o quando ia a cruzar o umbral.
—Jack!
Voltou-se olhando-a sem dizer nada.
— Jack — continuou ela —, se tiveres dificuldades, sejam de que classe forem, vem. Ajudar-te-ei. Tenho muitos amigos que dariam tudo para me fazer um favor.
— Porquê, Mona?
Qualquer coisa de muito doloroso passou pelo seu semblante, como uma sombra fugaz, uma vez que percebeu muito bem a pergunta.
— Por que me perguntas, Jack? — replicou, num sussurro.
Durgan não respondeu. Sem dizer palavra abandonou o escritório dela, saindo pata o bar. Estavam pessoas ao balcão. Dois pistoleiros a julgar pelo aspeto. Durgan olhou para eles e para o assustado barman.
Desceu o resto da escada e começava a atravessar o saloon para sair, quando um deles se afastou do balcão, levando a mão perigosamente em direção ao cabo do colt.
— Um momento, mister Durgan — disse acentuadamente.
Deteve-se no centro do saloon, e depois voltou-se encarando o pistoleiro.
—É comigo? — perguntou friamente.
— Suponho que o senhor é o engenheiro de miss Farrow, sim.
Durgan olhou para o outro. Alto, seco, de rosto cadavérico, parecia que tinha fugido duma sepultura, ou um defunto a quem o coveiro por razões particulares, tinha deixado sair do sepulcro naquele dia.
Encontrava-se encostado ao balcão de lado, costas direitas, pendendo-lhe da cintura um negro e solitário colt de cabo nacarado. Com o cigarro ao canto dos lábios, olhava-o atravessado, enquanto o seu companheiro, idoso, bastante gordo e muito pequeno o enfrentava. Replicou tão friamente como tinha perguntado anteriormente.
— Efetivamente, sou esse engenheiro. Que se passa?
—Simplesmente, queremos falar consigo... de negócios.
—Desembuche. Tenho pressa.
—Nós também, mister Durgan —respondeu o pistoleiro. — Portanto, dir-lhe-ei o que pretendemos. Tem que sair de Fowler o mais depressa que seja possível e levar o seu cavalo.
— Nada mais?
— Sim. Há mais qualquer coisa. Quando sair daqui, engenheiro, levará quinze das grandes. Para si só. É uma oferta que alguém lhe quer fazer por ser bom rapaz e saber comportar-se.
—E se eu não aceitar?
— Podem ser quinze balas, engenheiro. Material bastante indigesto se se tiver em conta que seja assim.
—Muito engraçado. E quem é a pessoa que me quer tanto bem?
—Isso não lhe podemos dizer. Agora, vai ou fica?
Durgan pareceu meditar um pouco.
— Creio que vou ficar. E não porque goste de Fowler ou de algum dos seus habitantes, mas porque quero saber quem me armou uma cilada perto das margens do Arkansas, e quem mandou o indivíduo que tentou matar-me com uma «Winchester». Não sabem disso? —perguntou no tom mais inocente do mundo.
Os dois pistoleiros olharam-se furtivamente. Depois, o que o enfrentava falou de novo:
—Tem cinco segundos para pensar, mister Durgan.
— Pode dá-los por contados. Que se passará agora?
— Que ficará aqui, com uma carga de chumbo no estômago.
— É de agradecer esse interesse pela minha pessoa — inclinou-se para diante: -- Bem, pode começar quando quiser.
—Você está louco?
—Estaria se aceitasse esses dólares e me fosse embora, porco. Não iria muito longe. Os quinze mil são uma tentação muito grande...
Não pôde terminar. A cadavérica personagem do balcão levou a mão ao colt. Durgan deixou-se tombar de lado, enquanto o outro sacava por sua vez e, de repente, o local encheu-se de fumo e traços de fogo. Depois, o silêncio caiu no interior como uma placa de chumbo.
Foi então que o barman viu o que se passara na realidade. Junto ao balcão, no solo, estava o indivíduo cadavérico, com uma bala no coração e completamente enrolado. Em frente de Durgan, que estava a carregar a arma, estava o outro, caído de bruços e com três olhos em vez de dois uma vez que no meio da testa havia um orifício negro indicando o local por onde se lhe tinha escapado a vida.
O barman viu como ele metia o revólver no coldre e se voltava para a saída. Depois e quando já tinha saído, olhou para a escada que conduzia ao piso superior.
No primeiro degrau da mesma, Mona mantinha-se parada, imóvel como uma estátua de pedra, com um colt 45 na mão, que não tinha tido tempo de usar.
O barman desviou os olhos das suas magníficas pernas quando ela começou a descer, enquanto Durgan, na rua, subia para o cavalo e partia a todo o galope, para se reunir com os seus homens.
Comeu debaixo das árvores que orlavam o Arkansas, deitando de vez em quando um olhar furtivo aos penhascos que dali se divisavam muito bem, recortando os seus picos agrestes no azul intenso do céu.
Por que não Al Holland?
Aquilo era mais provável. Mas que demónio esperava conseguir eliminando-o a ele? Sadie Parrow não era mulher para se amedrontar facilmente pelo caso de matarem um engenheiro seu, mesmo sendo seu marido.
Contrataria outro, depois talvez um terceiro, e, por fim, se este fracassasse, Durgan tinha a certeza de que seria capaz de arrasar o rancho de Holland se tivesse certeza de que os ataques partiam dali.
Pensou nela, mas não como a mulher que tinha comprado os seus serviços. Mas naquilo que ela representava realmente para ele. Sua esposa! Sentiu enormes desejos de rir. Sua mulher. Sua, mas odiando-o mais do que nunca. Querendo saber qual era o seu segredo e ao mesmo tempo denunciando-o de uma coisa que lhe podia custar uns quantos anos de prisão.
E o pior é que ele próprio lhe dava razão, e sem discussão de espécie alguma.
Que faria agora quando visse por terra o seu intente de o deter em Fowler?
Não ficaria quieta. Durgan tinha plena certeza disse. Revolveria céu e terra até conseguir uma ordem de prisão na capital. Poderia ou não consegui-la.
Sorriu levemente. Talvez conseguisse. Mas nem por isso conseguiria saber o que tanto desejava. Não o saberia até que dobrasse o seu maldito orgulho em frente dele. Até que lhe pedisse de joelhos.
Continuou a pensar em tudo isto, enquanto por contraste conversava com os seus homens. Inclusivamente deu as ordens necessárias para começarem imediatamente com as obras sem saber o que aconteceria no dia seguinte, por volta do meio-dia.
Já caíra a noite, depois de deixar uma forte vigilância em torno das obras e dos barracões que serviam de armazém para material, Durgan empreendeu o caminho do rancho. Por momentos, e já perto da porta, vacilou. Vacilou entre ir para os barracões onde dormiam os cow-boys, ou entrar no rancho, como dono e senhor.
Dono e senhor?
Mais do que nunca teve uma necessidade perentória de rir.
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