domingo, 13 de março de 2022

CLT008.05 Sair da prisão à força

 Ted não mexeu os olhos, nem sequer pestanejou. E disse:

— A senhora é muito amável e muito generosa.

O guarda continuava apoiado na ombreira da porta, com as mãos indolentemente pousadas nas coronhas dos revólveres. Como estava por detrás de Anabela, não via as mãos desta. A única coisa que podia ter-lhe indicado que algo de anormal acontecia era o rosto desfigurado de Regina, mas nesse momento não reparava nela.

Com um ágil movimento de dedos, o revólver passou das mãos de Anabela para as de Ted Lambert, que o ocultou rapidamente, sem fazer o mais pequeno movimento suspeito.

— Ê possível que nesta mesma semana me case realmente — disse Anabela, olhando para o chão. — Mas quis antes vir dizer-lhe que não me guarde rancor. Se tiver de morrer, ao menos ficará sabendo que está perdoado.

Ted semicerrou os olhos.

—Obrigado!

Tudo aquilo era comédia. Anabela e Ted fingiam. A única coisa real era o revólver carregado que o Prisioneiro tinha em seu poder. Mas era preciso desorientar o carcereiro e não despertar nele a mais pequena suspeita.

—Deu-me um grande consolo, «misse Loren. Não sei como agradecer a sua nobre atitude, esquecendo todo o sucedido. E, agora, adeus. Não é lógico que permaneçamos mais tempo juntos.

Levantou-se, ocultando Ted parcialmente. Este aproveitou o momento para introduzir o revólver debaixo da manta. O guarda não reparou no seu gesto e realmente estava naquele momento muito longe de suspeitar, que uma mulher como Anabela Loren, pudesse prestar ajuda a um preso de tal categoria.

— Adeus! Que Deus a abençoe!

A rapariga, sem voltar a cabeça, desapareceu e a porta foi fechada atrás dela. Ted estirou-se sobre a tarimba, ocultando com o seu corpo o volume que o revólver fazia debaixo da manta.

—Nem uma palavra—murmurou, fitando Regina. —Deita-te e fica quieta!

Depois, com os lábios ainda contraídos por uma careta de espanto, Ted tentou compreender aquilo. Não era possível que Anabela, depois dos últimos sucessos, sentisse por ele a menor compaixão. Nem sequer o desejo de correr uma aventura original, que ainda poderia conceber-se numa mulher rica e caprichosa, como explicação para o que ela havia feito.

Ted compreendeu que devia renunciar a pensar em tão estranha conduta, porque não obteria nenhum resultado positivo. Mas não pôde fazê-lo. Durante mais de duas horas analisou, um a um, todos os móbiles que poderiam ter levado Anabela a dar aquele passo, sem encontrar uma explicação lógica ou mesmo verosímil.

Por fim, teve de renunciar. O revólver estava à sua disposição e isso era o bastante. Era preciso traçar um plano de fuga.

Regina não se mexia da sua tarimba, no outro lado da parede, e o prisioneiro, na calma da sua solidão começou a pensar.

Para fugir, era preciso esperar a noite. Encontravam-se num extremo da localidade, perto de um «saloon» de terceira categoria. Se conseguissem, sem disparar nenhum tiro, chegar até à barra dos cavalos, não haveria quem os alcançasse. Ele conhecia todos os 'caminhos e atalhos de Arizona.

Dois minutos de liberdade e uma boa montada era tudo quanto ele precisava para se pôr a salvo.

Com impaciência esperava o decorrer das horas. Por fim, as sombras da noite caíram sobre Pedra Branda. A claraboia do tecto, fez-se primeiro violeta e depois tornou-se completamente negra. Na rua, começaram a ouvir-se, coados pelas distâncias, alguns sons musicais.

—Regina! —sussurrou ele. —Regina!

Como se estivesse à espera da sua chamada, o rosto da prisioneira apareceu imediatamente no outro lado do postigo gradeado.

— Conheces os costumes dos guardas? — perguntou Ted.

— Os guardas não têm costumes, porque normalmente não os há aqui! Mas hoje, vigiar-nos-ão pelo menos três tipos no outro lado das portas. Convém agires com prudência, Ted.

—Foi para isso que esperei pela noite. Agora é preciso agir e depressa. Permanece quieta, esperando, enquanto eu tento a fuga. Quando chegar o momento propício, tirar-te-ei daqui.

—Se não o fizeres, Ted, matar-te-ei!...

Ele fitou-a por alguns instantes. Boa mulher aquela, para um tipo como Larry Thompson. Boa companheira, capaz de demonstrar o seu amor, matando um homem pelas costas. _

— Cala-te... ou, apesar das grades, parto-te os dentes.

A frase pareceu agradar a Regina. O seu olhar brilhou, ao mesmo tempo que uma expressão de firmeza e resolução aparecia no seu rosto.

—Podes estar tranquilo.

Ted bateu na porta que dava para o corredor, com os nós dos dedos. Como não obtivesse resposta, começou aos pontapés contra ela, como se quisesse arrombá-la. Ouviu alguém da parte de fora aproximar-se pesadamente.

—Que queres?

O postigo abriu-se. Então, com um agilíssimo movimento, Ted enfiou nele o cano do seu revólver. A surpresa petrificou o guarda, ao ver-se ameaçado tão de perto pelo cano da arma.

—Não te mexas... Ou queres experimentar se a tua cabeça é miais rápida do que uma bala.

O guarda não quis experimentar. Empalideceu extraordinariamente. Só acertou em dizer uma palavra:

—Louco!

—Abre a porta!

Havia outro homem atrás do guarda, a escutar o diálogo. 'Entretanto, o guarda tentou ganhar tempo.

— Não tenho as chaves. O meu companheiro é quem as tem.

—Não acredito!

Com os olhos esbugalhados, o carcereiro viu o dedo indicador do preso mover-se ligeiramente, para trás. Compreendeu, então, que não poderia mover--se e que, por mais felinos que fossem os seus movimentos, a bala seria sempre mais rápida do que ele.

—Vou abrir. Não dispares.

Ouviu-se o ruído do ferrolho, a correr. Entretanto, Ted advertiu-o:

— Dize ao teu companheiro que não dê o alarme ou queimar-te-ei os miolos.

Os dois homens obedeceram. O guarda abriu a porta, sem que o outro desse o alarme. Deviam estar convencidos de que Ted cumpriria a ameaça.

—Que pretendes? Pois não vês que não poderás sair da cidade, e que não 'arranjarás qualquer montada?

O momento de abrir a porta era o pior. Ted compreendeu logo isso, desde que concebeu aquele temerário plano. Quando retirasse o cano do revólver, do postigo, o outro cobrir-se-ia com o seu companheiro, para sacar a sua arma. E eram dois contra ele. Deu um formidável pontapé na porta e, acto contínuo, arrojou-se de lado, contra uma das paredes.

Quatro balas assobiaram atravessando a cela. O guarda que estava atrás do seu companheiro devia já ter o seu revólver preparado e fez fogo quando Ted abriu, com a esperança de caçá-lo no centro da porta. Os quatro tiros foram instantâneos.

—Não sairás daqui.

O alarme fora dado. Pela segunda vez, em poucas. horas, Ted sentiu a angústia de ver todos os caminhos fechados. E isto era pior do que estar completamente perdido, do que ter renunciado a lutar. A débil esperança que o alimentava, tornava ainda mais triste a quase completa certeza da sua morte.

«Preciso de agir —pensou. —Tem de ser agora!»

Saltou para a frente fazendo fogo. Só tinha três balas e decidiu contá-las. Uma... perdera-se. O homem que havia disparado contra ele, encolheu-se atrás de uma mesa que acabava de derrubar, enquanto o projétil se cravava numa tábua do soalho, mesmo a seu lado.

Ted, que havia saltado obliquamente, apoiou as costas na porta. Desse modo, o homem que se encontrava atrás dela ficou entalado, sem possibilidade, de momento, de fazer fogo. Mas o outro, atrás da mesa derrubada, estava livre. E aproveitou bem a sua situação privilegiada.

Ted sentiu uma bala roçar-lhe a cabeça. Foi apenas uma sensação de vertigem. Mas caiu no chão e por um rápido instante, viu andar tudo à roda. Disparou às cegas, ao cair, ao mesmo tempo que no seu subconsciente uma voz surda parecia contar:

«Duas!»

O tiro foi feliz. O homem de trás da mesa, sentindo a morte demasiado perto, estendeu-se ao comprido e disparou ao acaso.

Ted, ainda com um terrível zumbido nos ouvidos, saltou sobre ele. Este era o seu inimigo mais perigoso e era preciso que o enviasse para o outro mundo, se tivesse uns momentos de serenidade.

Os dois homens rodaram uns segundos no chão, e ao chegarem à parede, só um deles se pôs de pé: Ted. O guarda tinha a cabeça aberta por duas coronhadas que Ted lhe aplicara. E não recuperaria os sentidos senão quando o preso estivesse bem longe ou bem morto.

O outro guarda disparou da porta. Mas Ted foi mais rápido: «Três».

O estrondo do seu tiro ressoou-lhe na própria cabeça. Apesar disso, teve ocasião de ver o seu adversário levar a mão ao ombro direito. Com um novo salto, correu para a porta da cela de Regina e abriu-a. A rapariga caiu nos seus braços.

—Agora vou abrir a porta exterior. Deita-te no chão.

Ted abriu, num repente, a porta que dava para a rua e viu, então, ali alguns homens. Davam a impressão de que já o esperavam.

 

 

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