segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

RB074.14 O rapto de Ingrid

Tinha-se passado um dia inteiro sem haver novidade. 

A cidade parecia completamente calma, mas todos sabiam que aquela quietude precedia a tormenta. As pessoas procuravam sair à rua o menos possível. E todos se olhavam com receia, coma se aquele homem que passava horas sentado à porta do hotel, bem visível, modelando estranhas figuras num bocado de madeira, fosse um empestado. 

Se bem que não parecesse, Roy tinha os nervos tensos. Sabia que de um momento para o outro os acontecimentos se desencadeariam. O ambiente estava carregado de eletricidade. 

Key foi a única pessoa que se aproximou dele. Levava um olho tapado. O seu vulto recortara-se, solitário e tranquilo, na rua vazia. 

— Olá, Roy. — Olá, rapaz. 

— Vejo que ninguém se aproxima de ti. Estás mais solitário do que uma mulher coxa num baile paroquial. 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

RB074.13 Duelo cara a cara com pistoleiro decadente

Roy conhecia-o. Era Singer, um dos mais famosos pistoleiros da fronteira. Singer vestia sempre de negro e utilizava sempre os revólveres muito de baixo. Tinha uns olhos pequenos de expressão dura. Bastava olhar para ele para se dizer: — Aqui está um pistoleiro... 

Singer tinha parado a uns oito passos da porta. Com certeza que o esperava. Bastava vê-lo, para compreender, pela maneira como tinha os pés assentes no chão e pela posição dos seus braços, que se preparava para «sacar» de um momento para o outro. Roy murmurou: 

— Que fazes aqui, Singer? 

— Esperava-te. 

— Talvez para saberes do meu estado de saúde? 

— Não brinques, Roy. Isso não me interessa nada, se bem que o que se vai passar tenha muito que ver com a tua saúde. 

— Queres dizer que se tenho alguma dor ma vais tirar rapidamente com uma bala, não é? 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

RB074.12 A selvagem Ingrid mostra a sua força

Roy encolheu os ombros. A mania de falar por meias palavras nunca o tinha convencido. Mas Key era um tipo um tanto estranho. Sempre empregava trabalho. Mas então porquê tanta coisa. Certamente que queria que lhe proporcionasse trabalho. Mas então porquê tanta coisa. 

Voltou a encolher os ombros. Como o próprio Key dissera tinham tempo de falar nisso. 

Bebeu mais um trago e saiu, sentando-se num dos bancos existentes à sombra da varanda. Queria estar bem visível. Quanto mais depressa os homens da «Amalgamated» o atacassem, melhor. 

Calculava que os seus efetivos já se encontrassem muito por baixo e que entre ele e Bart não teriam dificuldade em resolver o caso. Depois ia-se logo embora. Não voltaria a ver Hada. 

Uma surda tristeza o invadiu e resolveu pensar noutra coisa. A única coisa que agora importava era estar atento, lutar sem desânimo. Não podia permitir-se a mais ligeira distração. 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

RB074.11 Um contrato com o coveiro

 Hada atravessou a rua. 

Parecia ter emagrecido um pouco e estar mais pálida naqueles dois últimos dias, mas continuava bonita e tentadora como sempre. 

Roy encontrava-se junto da porta principal, como outras vezes, desbastando um pedaço de madeira com a sua navalha. Parecia que não tinha nada que fazer. Mas na realidade vigiava, com todos os sentidos alerta. 

Quando viu Hada aproximar-se quase cortou um dedo, com a navalha. Fez todos os esforços para se manter indiferente, mas sentia um aperto estranho no coração de cada vez que a via. 

— Roy... — disse ela suavemente. 

— Olá! 

— Disseram-me que anteontem deste uma boa lição à «Amalgamated» nos seus próprios escritórios. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

RB074.10 Equipa de ferreiros ao hotel! Já!

Não chegou à rua principal. Pouco depois viu uma ampla carroça parada, na parte exterior da cidade. E um carro velho, mas sólido e arranjado. 

Perto do carro, um rapazote soprava para uma fogueira que acabava de acender. Mas o rapazote tinha umas formas arredondadas, que não eram naturais. Não, aquilo não podia ser. Roy sentiu-se como se tivesse apanhado uma pancada no crânio. 

— Ingrid! — gritou. 

A rapariga voltou a cabeça. 

Ficou também corno que petrificada ao ver o rapaz. Levantou-se lentamente, esquecendo a fogueira. Estava, como sempre, vestia com roupas de rapaz e cheia de carvão, com os seus loiros e curtos cabelos caídos para a testa. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

RB074.09 O ajudante oculto volta a atuar

Roy preparava calmamente o seu cavalo. Custava-lhe deixar Tonopah, mas era melhor assim. Iria a Carson City e aceitaria ali novo trabalho. Avisar Bart não seria difícil, pois o amigo observava-o a todo o instante, dos sítios. mais ocultos possível e iria ter com ele ao notar que se afastava dali. 

Acabou de apertar bem as cilhas do cavalo, junto da porta da cocheira onde o tinha guardado. Foi então que sentiu qualquer coisa nos rins. 

— Preparas-te para a viagem, Roy? 

O rapaz não se mexeu. Voltou apenas um pouco a cabeça, pois pensava que aquela voz não lhe era desconhecida. O tipo que se encontrava atrás dele também o conhecia. Era um indivíduo de meia-idade, vestido de negro. 

— Quem és? 

— Chamam-me o «Colt». 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

RB074.08 Os olhos de um homem que queria morrer cara a cara

 Flanagan encontrava-se no vestíbulo. 

— Admirável! — disse. — Que desafio! Diabo, nunca vi coisa igual! 

Roy olhou-o de lado. 

— Ainda bem que gostou do espetáculo. Para a outra vez terá de pagar entrada. 

— Não se ponha assim, homem. Parece que não está alegre. 

— Não, não estou. 

— Convido-o a beber um capo. Tenho uma garrafa de uísque que acabam de me trazer diretamente da Escócia. Sabe o que isso significa? Deu quase a volta ao mundo. Não estranha que as garrafas deem voltas ao mundo. 

— Nós damos voltas em redor das mulheres — disse Roy. — Está bem, aceito esse copo. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

RB074.07 Um duelo, dois cadáveres e um xerife corrupto

Na realidade os sarilhos depressa começaram. Muito mais depressa do que Roy pensava. 

No entanto, Roy adivinhou o que se passava quando viu aproximarem-se aqueles dois tipos arrastando os pés, parecendo não terem pressa de chegarem a parte alguma. Naturalmente que a velocidade deles se encontrava nas mãos e não nos pés. 

Tinham tipo de texanos e por conseguinte de pistoleiros. 

Roy, que se entretinha a aparar um palito com a sua navalha, perto da entrada do «Grand Bassin», viu que os dois se dirigiam para ali. «Estão a preparar-se para entrar em ação», pensou. 

Os dois indivíduos pararam a pouca distância de Roy, apenas a uns cinco passos e fitaram-no fixamente 

— Tu chamas-te Roy — disse um deles. 

— E tu, Donald — respondeu calmamente o outro. — Não és mais do que um pistoleiro de segunda categoria. Que fazes aqui? 

domingo, 20 de fevereiro de 2022

RB074.06 A força do veneno de uma mulher

Ray estava estendido sobre a cama, com as mãos debaixo da nuca, na posição preferida do seu amigo Bart. 

Encontrava-se assim não sei há quantas horas. Talvez há uma tarde inteira; não sabia. Os pensamentos enchiam-lhe o cérebro e pareciam chocar entre si, produzindo uma espécie de vertigem. Uma sensação de fracasso, de dor que lhe enchia a alma. 

Devia ser muito tarde porque estava tudo envolto em sombras. Mas Roy tinha perdido a noção, das horas, a noção de tudo. 

Logo se abriu a porta das traseiras que dava diretamente para a rua. Bart entrou sem bater. Não trazia máscara. Tinha apenas o chapéu coberto de pó puxado para a cara. 

— Olá, Roy. — Roy baixou a cabeça. 

— Bart, alguém pode ter-te visto. 

— Ninguém me viu. Está tudo vazio como um cemitério.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

RB074.05 Contrato para um pistoleiro

Hada fez um gesto brusco. Para fechar-lhe a porta na cara.

— Soubeste muito depressa que eu estava aqui. Fora!

Roy empurrou a porta com a mão.

— Um momento. Não sabia que vivias aqui.

— Então porque vieste?

— Escreveram-me esta carta.

Tirou a carta do bolso e ela leu com olhos assombrados.

Por fim, uma expressão de contrariedade e de espanto apareceu no seu rosto.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

RB074.04 Encontro com uma mulher de sonho

Tonapah...

Um conjunto de casas perdidas numa paisagem silenciosa, debaixo de sol, rodeadas pelo deserto de todos os lados.

Tonopah a selvática. Tonopah a violenta.

Roy parou o seu cavalo a certa distância e contemplou a cidade. Nunca ali tinha estado e a primeira sensação que a cidade lhe produziu foi muito desagradável.

Mas a verdade é que ia ali ganhar sete mil e quinhentos dólares. Não tinha ido precisamente para fazer turismo.

Tirou do bolso a carta que recebera em Elko e onde se encontravam instruções para encontrar o destinatário.

Essas instruções eram muito simples.

Num post-scriptum dizia-se simplesmente:


«Em Tonopah encontrará um hotel chamado «Grand Bassin». Pergunte pelo quarto n.° 4.»

Bom, era isso que ia fazer.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

RB074.03 Adeus à menina que trabalhava como ferreiro

— Senhor Roy, disseram-me que se vai embora.

— Sim, Ingrid. Por isso aqui estou.

Os olhos da rapariga iluminaram-se por um momento.

— Veio despedir-se?

— Não. Quero que o teu pai prenda uma das ferraduras do meu cavalo.

Ingrid baixou a cabeça durante um momento.

— Ah... pensava...

— Porque é que se vem à oficina de um ferrador, pequena?

— Sim. Está bem. Para pôr uma ferradura. Mas não me chame pequena.

— Quantos anos tens?

— Dezassete. E você?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

RB074.02 O pacificador em ação

Roy tinha aberto bem os olhos, procurando descortinar os seus inimigos no meio da planície.

Sabia que se encontravam ali. O terreno era acidentado, com pequenos relevos ideais para uma emboscada. Armados de espingardas os três pistoleiros podiam matá-lo mal ele se descuidasse.

Com todos os músculos tensos, esperando o primeiro tiro, Roy avançava cautelosamente.

O revólver ardia na sua mão direita que tinha começado a suar. E sentia o sol quente bater-lhe nas costas. Era essa a sua única vantagem. Os inimigos tinham o sol de frente a bater-lhes nas caras e isso poderia enganá-los.

O primeiro tiro soou no meio do silêncio da planície. Habituado àquelas situações, Roy atirou-se para o chão no momento em que a detonação soou. Um décimo de segundo depois, a bala atravessou o local onde estivera o seu corpo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

RB074.01 Diálogo entre o pistoleiro e a menina aprendiz de ferreiro

— Não saia! Vão matá-lo! Não saia!

Roy Williams voltou levemente a cabeça. Viu o rosto terrivelmente pálido da rapariga que se encontrava uns passos atrás de si. Viu o seu busto palpitante e reparou que a respiração dela era ofegante por causa do medo que sentia.

— És nova demais para dar conselhos., Ingrid — disse com suavidade,

Ela moveu a cabeça com desespero.

— Mas eu já não sou jovem, antes pelo contrário — disse então outra voz e, no entanto, acho que Ingrid tem razão.

Roy voltou a cabeça outra vez.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

RB074. Um pistoleiro em Tonopah

(Coleção Rio Bravo, nº 74) 


Roy Williams era o que no velho Oeste se designava por pacificador, um indivíduo, rápido no gatilho, que se dedicava à limpeza de cidades, aniquilando e expulsando os malfeitores que faziam a vida negra aos pacatos cidadãos. Para ter êxito, socorria-se de uma ajuda especial: um mascarado com quem não contatava enquanto estivesse em missão de limpeza que o seguia, sem dar nas vistas, para todo o lado e que, escondido, dava conta de todas as traições a que o pacificador estava sujeito.

Roy tinha assinalável sucesso e vivia à conta da sua nova profissão, não se arrependendo de ter abandonado o que fazia antes: ensinar como professor. Até que um dia…

A carta vinha de Tonopah e era igual a tantas outras. Mal ele sabia que o homem que o contratava estava casado com a mulher belíssima que, dois anos antes, o tinha abandonado. Hada! Oh! Que desespero ao reencontrar aquela mulher!

Como iria desenvolver-se este conflito? Iria Roy conseguir levar a nova missão a bom termo sem se deixar influenciar pela paixão? É que, para complicar tudo, Silver Kane resolveu meter na história uma aprendiz de ferreiro que, quando vestida de mulher, revelou formas esculturais.

Livro interessante, embora se note uma certa decadência do autor no relato. Ele recorre a imensos diálogos sem relevância com o objetivo claro de preencher páginas. Apesar de tudo, o último capítulo é emocionante, mesmo ao nível daquele grande autor.