segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

RB074.07 Um duelo, dois cadáveres e um xerife corrupto

Na realidade os sarilhos depressa começaram. Muito mais depressa do que Roy pensava. 

No entanto, Roy adivinhou o que se passava quando viu aproximarem-se aqueles dois tipos arrastando os pés, parecendo não terem pressa de chegarem a parte alguma. Naturalmente que a velocidade deles se encontrava nas mãos e não nos pés. 

Tinham tipo de texanos e por conseguinte de pistoleiros. 

Roy, que se entretinha a aparar um palito com a sua navalha, perto da entrada do «Grand Bassin», viu que os dois se dirigiam para ali. «Estão a preparar-se para entrar em ação», pensou. 

Os dois indivíduos pararam a pouca distância de Roy, apenas a uns cinco passos e fitaram-no fixamente 

— Tu chamas-te Roy — disse um deles. 

— E tu, Donald — respondeu calmamente o outro. — Não és mais do que um pistoleiro de segunda categoria. Que fazes aqui? 

— Trabalho. 

— Sim? Para a «Amalgamated»? 

— Suponhamos que sim. 

— E que é que eu tenho a ver com isso? Se tu trabalhas e te pagam a mim tanto se me dá. 

— Os chefes conhecem-te! 

— Sim? E pensam oferecer-me um emprego? 

— Sabemos que já aceitaste o emprego de outro lado.

—  Em todo o caso o assunto diz-me respeito apenas a mim, não acham? 

— Sabemos — disse Donald — que és o que chamam um pacificador. Limpas uma cidade quando te pagam para isso. Mas agora meteste-te num assunto muito diferente; vendeste o teu revólver a entidades particulares. Dois particulares ou uma- cidade inteira. Que dá mais? Os dólares com que me pagam são iguais. Não gostamos nada que te metas nos nossos assuntos, Roy. 

— E quais são os vossos assuntos? 

— Estamos a perder tempo com palavras e isso não me agrada. Os dois compreendemo-nos perfeitamente desde o primeiro momento, por isso vou fazer a minha oferta: Se queres viver desaparece daqui. Se ficas espera pelas consequências. 

— Parece-me uma combinação muito razoável — disse Roy, dissimulando um sorriso. — Ou foges ou ficas, mas para sempre. Quanto tempo tenho para lhes dar uma resposta? 

— Tempo nenhum. Tens de resolver agora mesmo. 

O jovem riu abertamente. 

— Bom, fico... 

— «Ficas» — disse Donald dando enfâse à palavra. 

Quem se moveu primeiro, porém foi o seu companheiro. Pensavam que Roy estaria somente atento à conversa de Donald e que o esqueceria a ele. Mas Roy era demasiadamente sabido para cair naquela armadilha. Sabia que quando um dos pistoleiros falava e o outro só ouvia, o segundo é que era mais perigoso. Por isso fingia observar Donald, mas estava atento aos movimentos do outro. 

Quando o homem levou a mão direita ao coldre já Roy se pusera em movimento. Era um autêntico profissional, um verdadeiro diabo. Atirou através do coldre e apanhou o inimigo na garganta, fazendo-o saltar para trás com um grito de horror e de angústia. 

A curta distância a que se encontravam permitiu aquele género, de tiro ultrarrápido, através do coldre, quase sem apontar. 

Em seguida o corpo de Roy girou velozmente e disparou para a cabeça dê Donald. Haviam chegado quatro segundos para que os homens se encontrassem caídos aos pés de Roy. Este volteou o revólver no ar como o havia feito Flanagan, na tarde anterior. E guardou-o no coldre. 

Naquele instante apareceu um tipo que tinha as pernas arqueadas de tanto andar a cavalo. Trazia uma estrela presa na camisa. 

— Não sabe como estou encantado em conhecê-lo, xerife — disse ironicamente Roy, ao vê-lo aproximar-se, levando ao mesmo tempo um dedo ao chapéu. 

— Que se passou aqui? — perguntou o xerife. 

— Não vê? Houve uma festa. 

— Estes dois homens trabalhavam para a «Amal-gamated». 

— E o senhor? 

O xerife mudou de cor ao ouvir a insinuação de Roy. 

— Que quer dizer? 

— Nada. 

— Gostaria de saber como se passou isto — disse o da estrela. 

— Nada mais fácil. Pergunte aos vizinhos porque houve mais gente a espreitar às janelas do que se todas as bailarinas do saloon resolvessem mudar de roupa no meio da rua, E se não se convencer com o que lhe disserem, julgue por si mesmo. Dois contra um e cara a cara. Não é o que chamam por aqui um duelo legal? 

O xerife mordeu o lábio inferior. Não precisava de ser muito esperto para compreender que as possibilidades para a acusação de homicídio eram nulas naquele caso. De maneira que não mencionou o assunto. 

— Vive no «Grand Bassin» e chama-se Roy? — perguntou. 

— Vejo que está bem informado. 

— Sei que pessoas entram e saem na cidade. 

— Pois é. Estes dois «saem» ... 

O xerife mordeu outra vez o lábio inferior, raivosamente. 

— Por agora não o detenho — disse por fim. — Mas proíbo-o de que se exiba pelas ruas e arranje conflitos. Sei bem que é um pistoleiro profissional. Os tipos como você são um perigo na cidade, de modo que talvez decida expulsá-lo. Entretanto deixe-se estar no hotel e não saia à rua sob nenhum pretexto. 

—É a única coisa que pode mandar-me fazer, xerife. E nada mais. 

— Pois é isso mesmo que o mando fazer. 

— Quanto a expulsar-me quando é que se decidirá? Quero dizer quando é que os da «Amalgamated» lhe dirão o que deve fazer? 

— Está a passar das marcas, Roy! 

— Porquê? Eu não o insulto, xerife. Quero saber apenas qual será o meu futuro, o que é uma coisa muito razoável. Por aí nada poderá fazer-me também. Ah, já me esquecia de uma coisa... 

— O quê? 

Roy atirou um dólar para o chão. 

— Certamente quer multar-me por deitar lixo para as ruas da cidade. Aí está o dinheiro da multa. E aí fica o lixo. 

Apontou para os dois cadáveres. O xerife levou a mão ao queixo, coçando-o com fúria, enquanto Roy entrava no hotel. 


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