domingo, 27 de fevereiro de 2022

RB074.13 Duelo cara a cara com pistoleiro decadente

Roy conhecia-o. Era Singer, um dos mais famosos pistoleiros da fronteira. Singer vestia sempre de negro e utilizava sempre os revólveres muito de baixo. Tinha uns olhos pequenos de expressão dura. Bastava olhar para ele para se dizer: — Aqui está um pistoleiro... 

Singer tinha parado a uns oito passos da porta. Com certeza que o esperava. Bastava vê-lo, para compreender, pela maneira como tinha os pés assentes no chão e pela posição dos seus braços, que se preparava para «sacar» de um momento para o outro. Roy murmurou: 

— Que fazes aqui, Singer? 

— Esperava-te. 

— Talvez para saberes do meu estado de saúde? 

— Não brinques, Roy. Isso não me interessa nada, se bem que o que se vai passar tenha muito que ver com a tua saúde. 

— Queres dizer que se tenho alguma dor ma vais tirar rapidamente com uma bala, não é? 

— Mais ou menos. 

— Porquê? Que tens tu a ver com isto? Não me digas que trabalhas para a «Amalgamated». 

— Pois... é verdade que trabalho. 

— A última vez que soube de ti estavas em Idaho. 

— Estive. 

— E que te tinhas casado? 

— Sim. 

— Dantes eras um homem honrado, dentro do que esta profissão tem de honrado, Singer. 

— Ninguém está a falar do que se passou ontem. 

— Vou falar eu só por um momento, Singer, para não te aborrecer. Sempre viveste do gatilho, mas dantes fazia-lo ao serviço da lei. 

— Como eu o faço agora. Ninguém te podia acusar de seres um bandido. Mas agora estás ao serviço do grupo de assassinos mais repugnantes que podem existir. Custa-me ver-te cair tão baixo... quando estavas no fim da tua carreira. 

Singer emitiu uma espécie de gemido. 

— Não digas isso! 

— Custa-te confessar que envelheceste, Singer? Que talvez já não sejas tão rápido. 

— Ninguém pode dizer isso! Estou na minha melhor forma! 

— Os anos não perdoam, Singer. Também não me perdoarão a mim. Sentimo-nos fortes como antes, mas só damos porque os nossos reflexos estão demasiadamente lentos... quando já é tarde demais. Quando já temos uma bala cravada no coração. 

Depois, destacando bem as palavras, continuou: 

— De resto tens a desgraça de só saberes matar cara a cara. 

— Faço-o porque quero! 

— Oh, claro que sim, rapaz... E tratarás de matar-me cara a cara porque tens necessidade de brilhar. Apresentaste-te aos da «Amalgamated» pedir trabalho e esses porcos disseram-te: — Mate um imbecil chamado Roy e quando o fizer contratá-lo-emos com um magnífico soldo. Não é verdade, Singer? Não foi quase assim, palavra por palavra, o que eles te disseram? 

Singer empalideceu. Por um momento as suas mãos tremeram, mas logo a seguir recuperou a sua frieza habitual, essa frieza que lhe tinha dado tantos êxitos ao longo de dez anos de manejar o revólver e viver dele. 

— Que importa que me tivessem dito isso? Tenho mulher e um filho, Roy. Preciso de trabalho. 

— É a tua última oportunidade, não é verdade, Singer? 

— Isso não interessa a ninguém.

Roy apertou os lábios. 

— Estás a tempo, Singer. Pago-te a viagem de regresso. Não te exponhas a morrer por uma coisa que não vale a pena. 

— Não preciso de esmolas! 

Erguendo um pouco a mão direita, disse: 

— Tira a tua arma! 

A sua voz foi acompanhada de um movimento instantâneo. O revólver apareceu à luz. Singer tinha todas as vantagens porque fora ele que escolhera o momento. Mas sucedeu o que Roy dissera: os seus reflexos foram um décimo de segunda mais lentos do que deviam ter sido e que eram tempos atrás. 

Ouviu-se um tiro, um só. Singer largou a arma, com um grito de dor, enquanto levava a mão esquerda ao braço direito, ferido. Caiu de joelhos. Roy aproximou-se dele, guardando a arma no coldre. 

— Porque não me mataste? — disse Singer. — Tu nunca falhas. Porque é que não acabaste comigo de uma vez? 

— Porque não tenho motivo para isso, Singer. E porque tens uma mulher e um filho à tua espera. 

— Isso não é razão. 

— Tu e eu temo-nos habituado muito a pensar que a vida é uma aventura, Singer. Mas deixa de o ser quando existe alguém que nos espera, que confia em nós, que depende de nós. Queres fazer-me dois favores, Singer? 

— Favores? 

— O primeiro é não estares de joelhos. Não posso ver nessa posição um homem que sempre se manteve de pé. E fez as coisas cara a cara. 

Ele mesmo o ajudou a erguer-se. Singer cambaleou, mas por fim levantou-se. 

— O segundo favor é que aceites um empréstimo. Ultimamente estou bem de dinheiro. Esse empréstimo permitirá que compres algumas cabeças de gado e comeces nova vida. 

— Não quero acei... 

— Por favor... um empréstimo entre companheiros, Singer. 

Antes que o outro pudesse evitá-lo pôs-lhe um rolo de notas nas mãos ensanguentadas. 

— Hás-de devolver-mo. Também a mim os anos não perdoarão. 

Singer fez uma careta de dor e comprimiu os lábios. De repente parecia efetivamente um velho. 

— Favor por favor, Roy... — murmurou. — Devo dizer-te que te preparam uma armadilha, para o caso de eu falhar. 

— Que espécie de armadilha? Querem fazer-te chegar à planície. O procedimento que empregarão desconheço-o, mas não saias da cidade por motivo nenhum. Quantos homens serão? 

— Cinco. 

— É tudo o que resta da «Amalgamated»? 

— Eu diria que sim. 

— Está bem. Obrigado, Singer. 

— Sobretudo não te deixes enganar... 

— Não, rapaz. 

Mas Roy tencionava ir à planície. Queria acabar com aquilo o mais depressa possível. Porque os lugares solitários eram os seus campos favoritos; porque sabia que Bart estaria atento. 

Depois de tudo aquilo, Roy percebeu que devia ir beber qualquer coisa. Tinha desafiado a morte tantas vezes desde que entrara naquela maldita cidade, que receava que a sorte mudasse de um momento para o outro. Pediu um uísque duplo. 

— Podia ter morto aquele homem, amigo — disse o taberneiro. — Porque o deixou ir embora? 

— Falhei. 

— Ninguém pode expor-se a falhar com um tipo como Singer. Creio que o fez propositadamente. 

— Já não sou o que era. Repare, tenho a mão a tremer até a levantar o copo. Dê-me outro. 

— A sua saúde. A convite da casa. 

Depois de ter acabado de beber, Roy sentiu-se melhor. Tinha chegado o momento de dar ume boa descompostura a Ingrid. A rapariga era uma mal-educada e certamente que não tinha sabido vestir-se. 

Entrou no hotel e subiu ao andar de cima. Ia começar a subir as escadas na altura em que uma mulher as descia. Roy preparava-se para lhe dizer um galanteio quando sentiu todo o sangue subir-lhe á cabeça. Só soube murmurar: 

— Ingrid... 

Reparou que o vestido que lhe tinha comprado ficava ainda um bocado curto, porque Ingrid vestida de rapaz não parecia tão alta. Vista de baixo, com as meias transparentes a moldarem umas pernas sensacionais a rapariga era um assombro. 

Ingrid vestira o vestido vermelho. Este moldava de tal maneira as suas curvas juvenis que parecia ir estalar. No entanto não sobejava nada em parte nenhuma. Ingrid era perfeita. 

Roy, que tinha visto muitas mulheres bonitas, ficou parado, literalmente petrificado. Com voz rouca, repetiu: 

— Ingrid... 

A rapariga, que se penteara lindamente apesar dos cabelos demasiadamente curtos, dirigiu-lhe um olhar furibundo. 

— Nunca me tinham disfarçado desta maneira! 

— Mas isto fica-te bem… maravilhosamente. 

— Por menos. de meio dólar largava isto tudo, agora mesmo. Estas roupas são horríveis! Não posso mexer-me dentro delas! 

Roy ergueu a mão., detendo-a. 

— Ouve, Ingrid, não comeces a tirar a roupa porque o hotel vem abaixo... 

— Quero vestir-me como dantes. Onde estão as minhas roupas? 

— Dei ordem para as queimarem! 

— Pois compra-me outras iguais, ou farei caso do tipo que me pediu em casamento! 

— Mas se... 

— Olha que o recomendaste tu mesmo! Precisavas era que eu te partisse um prato na cabeça! 

— Ouve, Ingrid. Falemos disto amigavelmente. Eu... 

— Deixa-me em paz. 

A rapariga passou junto dele como uma rainha e dirigiu-se ao salão do hotel. O dono do hotel que quase tinha subido para cima do balcão para ver melhor Ingrid estava apoiado só num pé e prestes a cair. Roy tirou cem dólares do bolso e entregou-lhos. 

— Tome — disse ao proprietário do hotel. 

— O que é isto? 

— O senhor apostou cem dólares em como eu estava mal da vista. 

— E?... 

— E estou. 

O homem aceitou a nota. 

— Amigo, se continua assim vai ficar sem dinheiro. Vi que deu também dinheiro a Singer. 

— Desde que me fiquem uns vinte dólares já me chegam. 

— E para quê? 

— Para comprar uns óculos. 


Sem comentários:

Enviar um comentário