quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

RB074.02 O pacificador em ação

Roy tinha aberto bem os olhos, procurando descortinar os seus inimigos no meio da planície.

Sabia que se encontravam ali. O terreno era acidentado, com pequenos relevos ideais para uma emboscada. Armados de espingardas os três pistoleiros podiam matá-lo mal ele se descuidasse.

Com todos os músculos tensos, esperando o primeiro tiro, Roy avançava cautelosamente.

O revólver ardia na sua mão direita que tinha começado a suar. E sentia o sol quente bater-lhe nas costas. Era essa a sua única vantagem. Os inimigos tinham o sol de frente a bater-lhes nas caras e isso poderia enganá-los.

O primeiro tiro soou no meio do silêncio da planície. Habituado àquelas situações, Roy atirou-se para o chão no momento em que a detonação soou. Um décimo de segundo depois, a bala atravessou o local onde estivera o seu corpo.

Deitado no chão, Roy apertou o gatilho. Tinha visto o clarão do tiro e sabia que pelo menos um dos seus inimigos se encontrava atrás da pequena pirâmide rochosa que havia à esquerda.

A bala arrancou pedacinhos de pedra. Roy avançou velozmente, apoiando-se nos cotovelos e abrigou-se atrás de uma pedra grande que ali havia. Fê-lo a tempo. Uma nova bala veio cravar-se na pedra, a meio metro da sua cabeça.

O tiroteio generalizou-se. Roy sabia que estava a ser encurralado, mas isso parecia não o preocupar demasiadamente.

Ao que parece a única coisa que lhe interessava era fazer com que os seus inimigos concentrassem a atenção exclusivamente nele.

Nesse instante, ouviu-se o ruído de uma bala de calibre pesado partindo de outra direção. Claro que isso não importou nada a um dos pistoleiros que caiu para trás, sobre a pirâmide rochosa. A bala desfez-lhe parcialmente a cabeça. O impacto foi tão forte que deixou bocados de pele do homem agarrados à rocha.

Os outros dois homens voltaram-se instantaneamente sem compreenderem o que se passava. Um deles chegou a ver de relance o rosto de um homem que se ocultava atrás das rochas, coberto por urna máscara negra. Ia desviar a arma, mas não pôde terminar o gesto.

Uma segunda bala foi cravar-se no seu peito.

O pistoleiro teve uma convulsão e ficou caído por terra. Num último e inútil esforço disparou para o ar.

Restava apenas um homem com vida e esse tratou de fugir. Correu desesperadamente para o sítio em que haviam deixado os cavalos.

Roy gritou:

— Conan!

O outro voltou-se rapidamente. Os seus dentes brilharam quando a boca dele se abriu para soltar um gemido.

A bala de Roy, disparada com incrível precisão — visto que se encontrava a mais de cem metros — atravessou-lhe o coração. Conan levou as mãos ao peito e caiu para a frente, soltando um gemido de agonia.

O homem da máscara negra pôs-se em pé num instante, fazendo um aceno a Roy. Este correspondeu e o homem da máscara desapareceu rapidamente.

Roy também não perdeu tempo. Continuou a trabalhar com a rapidez e a calma que o tinham tornado famoso. Avançou até ao sítio em que se encontravam os cavalos dos foragidos e trouxe os três pelas rédeas. Em seguida colocou cada um dos mortos sobre uma cela, como se fossem dar o seu último passeio e conduziu-os a pouca velocidade pela rua principal de Elko.

Esta ficava a muito pouca distância dali. Mas Roy não entrou pelo lado em que se encontrava a oficina do ferrador, mas sim pelo lado oposto.

A cidade, que parecia morta, animou-se daí a minutos. De todos os lados apareciam homens e mulheres que queriam ver de perto os cadáveres.

 Todos felicitavam Roy e lhe davam palmadas nas costas.

O xerife, que coxeava duma maneira bastante ostensiva, foi um idos primeiros a felicitá-lo.

— Nunca julguei que o conseguisse, Roy.

— Tinham-me contratado para isso.

— Mas o êxito era mais que duvidoso. Esses tipos eram perigosos pistoleiros e antes de você chegar tinham dominado completamente a cidade. Infelizmente eu, com a minha ferida, pouco podia fazer.

Roy sorriu.

— Pois o caso está liquidado, xerife. Não se preocupe mais com o assunto.

— Não sabe o que isso significa para uma cidade como Elko. Creio que só a partir de agora poderemos começar a viver em paz. O dinheiro que lhe vamos pagar é o mais bem empregado que gastámos desde que os nossos avós se estabeleceram aqui.

— Agradeço que fale desse detalhe, xerife. Preciso de receber.

— Vai-se embora?

— Tenho trabalho noutros sítios. Por exemplo, hoje recebi uma carta de Carson City.

— E se chegarmos a um acordo financeiro? A si talvez lhe conviesse aceitar...

— Não, xerife, de maneira nenhuma. Não sou homem que possa permanecer muito tempo no mesmo sítio. Já sabe o que se passa com pessoas que tenham o meu ofício. Temos sempre a vida pendente de um fio, por isso gostamos de variar...além disso o senhor em breve se restabelecerá e será suficiente para impor a ordem aqui.

O homem da estrela estendeu-lhe a mão direita.

— Lamento, Roy... hoje mesmo pode receber o dinheiro. Repito que o dinheiro que empregámos em si é o mais bem gasto de toda a nossa vida.

Roy apertou a mão ao xerife. E não foi apenas essa mão que teve de apertar, mas muitas outras que se estendiam para si. Todos se mostravam ansiosos por verem o pacificador e aproximarem-se dele.

Por fim chegou ao hotel em que alojava. Era um quarto no rés-do-chão com uma saída independente. Era essa uma precaução que muitas vezes lhe tinha valido para lhe salvar a vida.

O dono do hotel também o felicitou.

— Devolveu-nos a tranquilidade, senhor Williams. Estou encantado por o ter tido no meu estabelecimento estes dias.

— Não fiz mais do que cumprir aquilo que combinei e pelo qual me pagaram um preço fixo. Logo à noite também lhe pagarei a minha conta.

— De modo nenhum meu amigo. Considere-se um convidado de honra. Não volte a falar em pagamento.

Roy dirigiu-lhe um alegre sorriso.

--- Não posso dizer que os negócios aqui me tenham corrido mal. Obrigado.

Ia a afastar-se, mas o outro deteve-o com um gesto.

— Senhor Roy. Tenho aqui uma carta para si.

— Oh, obrigado. Dê-ma.

 O hoteleiro entregou-lhe um envelope branco.  Roy rasgou-o e leu o papel que se encontrava dentro. O conteúdo era breve, pois constava apenas de urna dezena de linhas, mas indicava uma quantia. Ao lê-la, Roy soltou um suspiro de admiração.

— Boas notícias?

— Estupendas — disse Roy. — Hoje é o meu dia de sorte!

Entrou então no quarto, fechando a porta atrás de si.

Lá dentro encontrava-se um homem com o rosto coberto por uma máscara negra.

Roy não pareceu surpreendido. Parecia já esperar encontrá-lo ali.

— Olá, Bart.

— Olá, rapaz.

Bart tirou a máscara que era de seda e que uma vez dobrada ocupava muito pouco espaço. Em seguida guardou-a cuidadosamente na algibeira interior do casaco. Era um tipo de aspeto jovial e alegre e que teria como Roy uns vinte e poucos anos.

— Estivemos vários dias sem nos vermos —disse.

— Sim, desde que aceitámos este trabalho.

— Uf! Estava farto de estar escondido. Não tens uísque por aí?

— Sim. Na gaveta da secretária.

— Ainda bem!

Bart bebeu diretamente da garrafa e só a largou quando o estômago lhe começou a arder. Então, olhou novamente Roy.

- Quando te pagam?

— Esta noite. E amanhã vamo-nos embora.

— Bom trabalho, hem?

— Os nossos trabalhos saem sempre bem — disse Roy.

— Fechaste bem a porta?

— Sim. Não há perigo de que nos surpreendam.

Bart deixou-se cair sobre a cama e cruzou as mãos atrás da cabeça.

— Uma cama, que bom! Não sabes que é estar a viver quase como um condenado! Mas a verdade é que o sistema funciona!

— Claro que funciona. É uma ideia quase perfeita. Contratam-me a mim para pacificar urna cidade e livrá-la de um ou outro bando que a assole. Tu vens quase ao mesmo tempo que eu, mas por um caminho diferente e enquanto o trabalho dura não temos nenhum contacto. Nem sequer de longe. Ninguém te conhece e ninguém te relaciona comigo, porém tu segues-me para todos os lados e vigias-me com cem olhos. Os pistoleiros que eu tenho de liquidar esperam-me só a mim, concentram sobre mim toda a sua atenção. Quando o caso fica mais duro, procuro ter um encontro decisivo com eles, num lugar mais ou menos solitário. Imobilizo-os então no terreno e depois apareces tu. O êxito, entre os dois, é relativamente certo.

Bart bebeu outro trago.

— Julgam que foste tu que fizeste tudo sozinho? — perguntou.

— Claro. Como sempre.

— E quanto te irão pagar?

— Cinco mil dólares. E o hotel não me custa nada. De modo que são dois mil e quinhentos limpos para cada um.

Bart esfregou as mãos de contente.

— Muito bem! E agora vamos para Carson City onde nos espera outro magnifico trabalho!

— Parece-me que não vamos para aí.

— Porquê?

— Acabo de receber outra oferta e acho que é melhor aceitarmos esta última.

— De onde ta fizeram?

Roy pôs-lhe nas mãos a carta que acabava de receber.

— Veio de Tonopah, no centro do território. Lê e verás que nos convém muito mais.

Bart soltou um assobio.

— Sete mil e quinhentos dólares!...

— Uma bonita soma, hem?

— Temos que a aceitar já.

— Amanhã mesmo nos poremos a caminho. Tu podes sair antes, se quiseres e ao chegarmos a Tonopah procederemos como de costume. Tu limitas-te a observar-me e ages no momento preciso. Antes de partirmos, vem buscar o dinheiro. E bom proveito...

Bart bebeu novo golo de uísque. Depois saiu.


Sem comentários:

Enviar um comentário