sábado, 26 de fevereiro de 2022

RB074.12 A selvagem Ingrid mostra a sua força

Roy encolheu os ombros. A mania de falar por meias palavras nunca o tinha convencido. Mas Key era um tipo um tanto estranho. Sempre empregava trabalho. Mas então porquê tanta coisa. Certamente que queria que lhe proporcionasse trabalho. Mas então porquê tanta coisa. 

Voltou a encolher os ombros. Como o próprio Key dissera tinham tempo de falar nisso. 

Bebeu mais um trago e saiu, sentando-se num dos bancos existentes à sombra da varanda. Queria estar bem visível. Quanto mais depressa os homens da «Amalgamated» o atacassem, melhor. 

Calculava que os seus efetivos já se encontrassem muito por baixo e que entre ele e Bart não teriam dificuldade em resolver o caso. Depois ia-se logo embora. Não voltaria a ver Hada. 

Uma surda tristeza o invadiu e resolveu pensar noutra coisa. A única coisa que agora importava era estar atento, lutar sem desânimo. Não podia permitir-se a mais ligeira distração. 

Enquanto pensava isso viu Key sair do hotel. Aproximava-se de cabeça baixa. Quando Key a levantou. Roy esteve quase a saltar um grito. 

— Mas que te sucedeu? 

Key tinha um olho negro. 

— O que me sucedeu? Metes-me em lindos sarilhos. Eu? Perguntei por essa ferazinha. Não estava de muito bom humor. Devia ter acabado de sair do banho porque estava envolvida num albornoz branco que não deixava ver nada do seu corpo. Logo aí tive o primeiro aborrecimento. O segundo foi quando lhe expliquei que tu é que ma havias recomendado. Que eu procurava uma rapariga para casar e que me tinhas dado o nome dela. Rapaz, não sei o que lhe passou então pela cabeça, mas Deus me livre de passar por isso uma segunda vez. Ficou como uma fera. Disse que tu eras o maior imbecil que já tinha posto os pés no Oeste. E então atirou-me um bofetão que me apanhou um olho. Mas que força, rapaz. Nunca tinha pensado que uma mulher pudesse ter tanta força. 

— A verdade é que estou surpreendido — disse Roy. — Não pensei que ela levasse as coisas assim. 

Ergueu as mãos como se quisesse tomar o céu por testemunha. 

— E afinal estava a fazer-lhe um favor. Todas as mulheres, afinal, se querem casar! Pois esta não... 

— E depois, que sucedeu? Continuou furiosa depois de te bater? 

— Isso não. Aí mostrou-se boa rapariga. Pediu-me desculpas e disse que tu é que merecias o olho negro. 

— Vê lá, homem! Eu a tentar resolver-lhe a vida e a ela dizer uma coisa dessas! Vê lá o que é a ingratidão feminina. 

O companheiro despediu-se. 

— Bem, vou ao médico porque o olho está a fechar-se. Que bofetada, rapaz! Se fico assim, daqui em diante todas as raparigas vão pensar que lhe estou a piscar os olhos. 

E com isso Key afastou-se. Roy ficou taciturno. O que Ingrid fizera não estava certo, que diabo! Assim ia converter-se numa ferazinha indomável! O que ela tinha era falta de escola e de um professor bem severo. Ele lhas contaria! 

Passado um bocado levantou-se. Acabara de se lembrar que Ingrid não tinha roupa para vestir. Entrou numa casa de roupas femininas, coisa que fazia pela primeira vez na vida. Quase corou quando a empregada lhe disse: 

—Que deseja, senhor? 

— Bem... roupas para uma rapariga. Mas... de cima a baixo... tudo. 

— Roupa interior também? 

— Sim. 

Transparente? 

— Que quer dizer? 

— Se as quer assim ou assim? 

Estendeu umas peças de roupa interior sobre o balcão. Umas eram de tecido fechada, mas as outras eram tão transparentes que Roy ficou atrapalhado. 

— Quero destas. São para uma colegial. 

— Ah, muito bem e quais são as medidas? 

Roy voltou a corar. Sabia lá as medidas de Ingrid. 

— Bem, é da sua altura. 

— E de largura? 

— De largura? 

— Sim. A medida das ancas — disse a empregada apontando para as suas, que eram opulentas. 

— Bem... devem ser... mais ou menos assim... como as suas. 

Roy afastou as mãos, deixando entre elas um espaço. A empregada olhou-o. 

— Assim? 

— Mais ou menos. 

— Mas se é tão alta como eu e tem essas medidas não se trata de uma colegial... 

— Não diga disparates. É uma rapariguinha. 

— Sim? Está bem.

— É preciso conhecê-la. Bem, dê-me o que achar melhor. Quero um sortido completo. 

A empregada afastou duas mudas de roupa interior, seis pares de meias finíssimas, dois vestidos um branco e outro vermelho — e até um par de sapatos de salto alto. 

— Aqui tem. 

— Acha que isto está bem para uma colegial? 

— Para a colegial que o senhor diz, está. Está bem. Levo tudo. 

— São cento e cinquenta dólares. 

Roy soltou um assobio. 

— Quem se case, neste tempos... 

Porém pagou sem reclamar e dirigiu-se ao hotel em que se encontrava Ingrid alojada. 

— Lembra-se da rapariga que se instalou ontem aqui? — perguntou ao dono do hotel. 

— Claro que me lembro... E o homem soltou um assobio. 

— Que se passará hoje com as pessoas? — perguntou Roy. 

— Em que sentido? Falam dessa rapariga como se fosse uma mulher. 

— E não o é? 

— É apenas uma menina. 

O dono do hotel pôs-se sério de repente. 

— Senhor... — disse solenemente. — Que é? — perguntou Roy. — Aqui tem cinco dólares. Dou-lhos com muito gosto. 

— Mas para quê? 

— Para ir ao médico dos olhos. Há um oculista apenas a cinquenta jardas daqui. 

Roy soltou uma imprecação. 

- Estão todos doidos... Deixe-se disso, homem! A chamar-me cego a. mim! 

— Aposto cem dólares em como o é, meu amigo. Precisa de óculos e não deu ainda por isso.

— Ah! Deixe-se de disparates! Entregue esta roupa à senhora em questão e diga-lhe que queime as que tinha. 

— Sim senhor. 

Roy saiu do hotel muito dignamente, pensando que estavam todos enganados menos ele. 


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