— Se vem novamente por causa desse rapaz, podia ter evitado o incómodo, Grunter.
— Viemos por isso, efetivamente — foi Kim quem respondeu —. Estes dois rapazes estavam com ele quando sucedeu o facto em questão, que motivou o encerramento do meu vaqueiro e, se é verdade quanto me contaram sobre o caso, coisa que não duvido, creio que deve voltar a estudar o caso.
— E quem é você? — perguntou o homem, obeso, erguendo-se no amplo cadeirão atrás da sua secretária para o ver melhor, afastando um grosso charuto dos seus lábios grossos.
— Chamo-me Henry Kinastor e sou o novo capataz do rancho Gray.
— Pois saiba que não penso rever nada.
— Quer dizer-me porquê? — Kim mostrava-se o mais suave possível perante a soberba superioridade do indivíduo.
— Não tenho explicações a dar-lhe. O caso está encerrado e estou farto de discussões de rua. Veja se isto lhe serve de lição.
— E pensa continuar protegendo o agressor?
— Rapaz, parece-me que você se mostra muito impertinente. Esquece com quem está falando?
—Procuro recordá-lo —. A paciência do texano estava-se esgotando rapidamente.
— Não tenho mais tempo a perder com vocês. Saiam. Peço a revisão do caso.
— Já lhe disse que penso fazê-lo.
— Nega-se a escutar a declaração de duas testemunhas?
— Não tenho de ouvir ninguém.
— Sabe que a sua atuação neste caso é completamente ilegal?
— Se não saem imediatamente farei com que o aguazil os expulse.
— Acha que seria capaz? — havia ironia na pergunta.
O juiz mordeu furiosamente o charuto, voltando-se para tomar o cordão da campainha que tinha à sua esquerda, mas a sua mão não chegou até ele pois naquele mesmo momento pareceu que um «Colt» saltava na mão esquerda do vaqueiro, e a habitação encheu-se com o estrondo da detonação.
Foi tudo tão rápido que ninguém pôde fazer nada para o evitar o todos ficaram olhando absortos para o juiz, que piscando os seus olhos contemplava a alcachofra em que se havia convertido o charuto que ainda mordia.
O denso silêncio que se seguiu ao rugido do «Colt» foi interrompido pelo som dos passos de alguém que se aproximava correndo. Quase no mesmo momento abriu-se a porta do gabinete, assomando a cabeça do aguazil.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, olhando o juiz, que ainda não havia conseguido recompor-se.
— Chame o «sheriff» — respondeu Kim por ele.
O seu revólver repousava de novo no coldre e estava completamente tranquilo. A detonação parecia ter feito tremer os próprios alicerces do Município e chagava-lhes o rumor de passos e vozes da gente que enchia os corredores.
— Que aconteceu aqui? — perguntou com voz forte um homem que chegou correndo e em cujo peito brilhava uma estrela.
— Olá, Rust. Que surpresa voltar a encontrar-te!
O som daquela voz lenta e arrastada fez com que o «sheriff» se voltasse para o canto em que Rim se havia situado para dominar a porta, e ao reconhecer o texano empalideceu intensamente.
— Pistol Kim! — murmurou.
— Eu mesmo, Rust. É curioso. Jamais me ocorreu a ideia de que te encontraria como «sheriff» depois de te expulsar de Lubbodk como indesejável.
--- Mas... Mas que faz aqui?
— Bem vês. Esta maldita vida dá bastantes voltas. Eu expulsei-te de Lubbodk quando era «sheriff» e agora o juiz vai pedir te que me expulses de Flagstaff.
— Efetivamente — chiou o homem obeso, recuperando a fala —. Expulse todos estes homens daqui e prenda este pistoleiro por agressão armada contra mim.
— Vamos, Rust. Não ouves o juiz?
O «sheriff» olhava um e outro e tanto a expressão das suas feições duras e curtidas como a atitude do seu forte corpo, eram dignas de estudo. A palidez que o invadira um momento antes ia-se convertendo num vermelho quase forte, enquanto os compridos braços se afastavam de uma forma estranha e pouco normal, como se se esforçasse por manifestar que não queria sequer roçar com eles os grandes revólveres que adornavam a sua cintura.
— Não tens nada contra mim, Kim — —murmurou finalmente umedecendo os lábios.
— Não, eu não — sorriu o jovem, com um brilho alegre nos seus grandes olhos azuis —, o juiz é que parece não estar muito satisfeito.
— Rust — gritou aquele, fora de si —. Não me. ouviu? Ordeno-lhe que prenda esse homem.
— Só isso? — perguntou o «sheriff» irónico, recobrando-se da impressão recebida.
— Nega-se a fazê-lo?
— Suponha que sim.
— Nesse caso destitui-lo-ei imediatamente.
— Pensa ficar por aqui, Pistol?
— Sinto dizer-te que sim, Rust. Em troca, podes voltar para Lubbodk. Não devo voltar para lá. –
— Eis uma boa notícia — E tirando a estrela rodeou a mesa aproximando-se do juiz, tirou-lhe o destroçado charuto dos lábios e colocou ambas as coisas sobre a mesa. -- Não vai poder destituir-me, porque me demito. Esse é o seu homem, prenda-o você. Adeus, Pistol Kim. Espero não voltar a ver-te — e girando sobre os calcanhares encaminhou-se decididamente para a porta.
— Um momento, Rust — a voz de Kim deteve-o —. Faz o favor de me mandares um rapaz chamado Dick que tens numa das tuas celas.
Um suspiro de alívio escapou-se dos lábios cerrados do homem que assentindo com a cabeça se apressou a desaparecer.
— Jack — prosseguiu o texano —. Faz ao juiz um relato detalhado do que aconteceu no «The Bull».
O rapaz imediatamente cumpriu a ordem.
— Em vista do qual, confirmada esta declaração por esta outra testemunha do facto, que afirma que tudo ocorreu dessa maneira, não é verdade, Lee?
— Sim. Assim é — apressou-se a responder o outro vaqueiro.
— Você reconhece o seu erro — prosseguiu Kim — e confirma agora mesmo a ordem de liberdade.
— Mas isto é um atentado — protestou o juiz, sem firmeza na voz, evidentemente pressionado pela deserção do «sheriff».
— O atentado foi antes. Trata-se de uma reparação que você faz ao compreender o seu erro.
— Não, não e não — gritou o homem fora de si.
— Está seguro?
— Ameaça-me? — chiou o juiz, vermelho de indignação.
— Não. Trato de o fazer entrar na razão, porque está ofuscada.
— Farei com que os persigam.
— Por quem?
— Por... Por...
— Não tem nenhum motivo para isso. Repare que o preso é posto em liberdade pelo «sheriff» sem que tenha havido violência. Não pretenderá que o rapaz se negue a sair até que você lhe dê o consentimento.
— Disparou sobre mim.
— Engana-se. Se assim fosse estaria morto. Disparei sobre o seu charuto, e aqui tem um dólar como compensação por o ter destroçado — atirou uma moeda que rolou tilintando pela mesa.
Naquele momento irrompeu na habitação um mocetão moreno, forte e simpático.
— Grunter, Jack, Lee! — gritou exultante de alegria —. Sabia que não me deixariam apodrecer naquele covil.
— Enganas-te, Dick — interrompeu-o o seu amigo Jack —. Ê ao novo capataz que deves a tua liberdade. Aqui o tens: Henry Kinastor.
— Olá, Dick — sorriu Kim, a quem agradou o aspeto nobre e jovial do rapaz que irradiava alegria —. Não sentes deixar a cidade? Adeus, juiz. Pense bem antes de tomar qualquer medida que poderá vir a arrepender-se.
— Viemos por isso, efetivamente — foi Kim quem respondeu —. Estes dois rapazes estavam com ele quando sucedeu o facto em questão, que motivou o encerramento do meu vaqueiro e, se é verdade quanto me contaram sobre o caso, coisa que não duvido, creio que deve voltar a estudar o caso.
— E quem é você? — perguntou o homem, obeso, erguendo-se no amplo cadeirão atrás da sua secretária para o ver melhor, afastando um grosso charuto dos seus lábios grossos.
— Chamo-me Henry Kinastor e sou o novo capataz do rancho Gray.
— Pois saiba que não penso rever nada.
— Quer dizer-me porquê? — Kim mostrava-se o mais suave possível perante a soberba superioridade do indivíduo.
— Não tenho explicações a dar-lhe. O caso está encerrado e estou farto de discussões de rua. Veja se isto lhe serve de lição.
— E pensa continuar protegendo o agressor?
— Rapaz, parece-me que você se mostra muito impertinente. Esquece com quem está falando?
—Procuro recordá-lo —. A paciência do texano estava-se esgotando rapidamente.
— Não tenho mais tempo a perder com vocês. Saiam. Peço a revisão do caso.
— Já lhe disse que penso fazê-lo.
— Nega-se a escutar a declaração de duas testemunhas?
— Não tenho de ouvir ninguém.
— Sabe que a sua atuação neste caso é completamente ilegal?
— Se não saem imediatamente farei com que o aguazil os expulse.
— Acha que seria capaz? — havia ironia na pergunta.
O juiz mordeu furiosamente o charuto, voltando-se para tomar o cordão da campainha que tinha à sua esquerda, mas a sua mão não chegou até ele pois naquele mesmo momento pareceu que um «Colt» saltava na mão esquerda do vaqueiro, e a habitação encheu-se com o estrondo da detonação.
Foi tudo tão rápido que ninguém pôde fazer nada para o evitar o todos ficaram olhando absortos para o juiz, que piscando os seus olhos contemplava a alcachofra em que se havia convertido o charuto que ainda mordia.
O denso silêncio que se seguiu ao rugido do «Colt» foi interrompido pelo som dos passos de alguém que se aproximava correndo. Quase no mesmo momento abriu-se a porta do gabinete, assomando a cabeça do aguazil.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, olhando o juiz, que ainda não havia conseguido recompor-se.
— Chame o «sheriff» — respondeu Kim por ele.
O seu revólver repousava de novo no coldre e estava completamente tranquilo. A detonação parecia ter feito tremer os próprios alicerces do Município e chagava-lhes o rumor de passos e vozes da gente que enchia os corredores.
— Que aconteceu aqui? — perguntou com voz forte um homem que chegou correndo e em cujo peito brilhava uma estrela.
— Olá, Rust. Que surpresa voltar a encontrar-te!
O som daquela voz lenta e arrastada fez com que o «sheriff» se voltasse para o canto em que Rim se havia situado para dominar a porta, e ao reconhecer o texano empalideceu intensamente.
— Pistol Kim! — murmurou.
— Eu mesmo, Rust. É curioso. Jamais me ocorreu a ideia de que te encontraria como «sheriff» depois de te expulsar de Lubbodk como indesejável.
--- Mas... Mas que faz aqui?
— Bem vês. Esta maldita vida dá bastantes voltas. Eu expulsei-te de Lubbodk quando era «sheriff» e agora o juiz vai pedir te que me expulses de Flagstaff.
— Efetivamente — chiou o homem obeso, recuperando a fala —. Expulse todos estes homens daqui e prenda este pistoleiro por agressão armada contra mim.
— Vamos, Rust. Não ouves o juiz?
O «sheriff» olhava um e outro e tanto a expressão das suas feições duras e curtidas como a atitude do seu forte corpo, eram dignas de estudo. A palidez que o invadira um momento antes ia-se convertendo num vermelho quase forte, enquanto os compridos braços se afastavam de uma forma estranha e pouco normal, como se se esforçasse por manifestar que não queria sequer roçar com eles os grandes revólveres que adornavam a sua cintura.
— Não tens nada contra mim, Kim — —murmurou finalmente umedecendo os lábios.
— Não, eu não — sorriu o jovem, com um brilho alegre nos seus grandes olhos azuis —, o juiz é que parece não estar muito satisfeito.
— Rust — gritou aquele, fora de si —. Não me. ouviu? Ordeno-lhe que prenda esse homem.
— Só isso? — perguntou o «sheriff» irónico, recobrando-se da impressão recebida.
— Nega-se a fazê-lo?
— Suponha que sim.
— Nesse caso destitui-lo-ei imediatamente.
— Pensa ficar por aqui, Pistol?
— Sinto dizer-te que sim, Rust. Em troca, podes voltar para Lubbodk. Não devo voltar para lá. –
— Eis uma boa notícia — E tirando a estrela rodeou a mesa aproximando-se do juiz, tirou-lhe o destroçado charuto dos lábios e colocou ambas as coisas sobre a mesa. -- Não vai poder destituir-me, porque me demito. Esse é o seu homem, prenda-o você. Adeus, Pistol Kim. Espero não voltar a ver-te — e girando sobre os calcanhares encaminhou-se decididamente para a porta.
— Um momento, Rust — a voz de Kim deteve-o —. Faz o favor de me mandares um rapaz chamado Dick que tens numa das tuas celas.
Um suspiro de alívio escapou-se dos lábios cerrados do homem que assentindo com a cabeça se apressou a desaparecer.
— Jack — prosseguiu o texano —. Faz ao juiz um relato detalhado do que aconteceu no «The Bull».
O rapaz imediatamente cumpriu a ordem.
— Em vista do qual, confirmada esta declaração por esta outra testemunha do facto, que afirma que tudo ocorreu dessa maneira, não é verdade, Lee?
— Sim. Assim é — apressou-se a responder o outro vaqueiro.
— Você reconhece o seu erro — prosseguiu Kim — e confirma agora mesmo a ordem de liberdade.
— Mas isto é um atentado — protestou o juiz, sem firmeza na voz, evidentemente pressionado pela deserção do «sheriff».
— O atentado foi antes. Trata-se de uma reparação que você faz ao compreender o seu erro.
— Não, não e não — gritou o homem fora de si.
— Está seguro?
— Ameaça-me? — chiou o juiz, vermelho de indignação.
— Não. Trato de o fazer entrar na razão, porque está ofuscada.
— Farei com que os persigam.
— Por quem?
— Por... Por...
— Não tem nenhum motivo para isso. Repare que o preso é posto em liberdade pelo «sheriff» sem que tenha havido violência. Não pretenderá que o rapaz se negue a sair até que você lhe dê o consentimento.
— Disparou sobre mim.
— Engana-se. Se assim fosse estaria morto. Disparei sobre o seu charuto, e aqui tem um dólar como compensação por o ter destroçado — atirou uma moeda que rolou tilintando pela mesa.
Naquele momento irrompeu na habitação um mocetão moreno, forte e simpático.
— Grunter, Jack, Lee! — gritou exultante de alegria —. Sabia que não me deixariam apodrecer naquele covil.
— Enganas-te, Dick — interrompeu-o o seu amigo Jack —. Ê ao novo capataz que deves a tua liberdade. Aqui o tens: Henry Kinastor.
— Olá, Dick — sorriu Kim, a quem agradou o aspeto nobre e jovial do rapaz que irradiava alegria —. Não sentes deixar a cidade? Adeus, juiz. Pense bem antes de tomar qualquer medida que poderá vir a arrepender-se.
* * *
— Nunca o tive por cobarde, Rust.
— Já sabe que o não sou.
— No entanto, neste caso não demonstrou muita valentia.
— Eu conheço Pistol Kim e você não. Deixa-se influenciar pelo seu anterior encontro com ele. Que pode fazer um homem só contra a nossa organização?
— É que Kim não é um homem. É um diabo.
— Ora!
— Tome-o como quiser, mas escute o que lhe digo. Isto aqui é uma brincadeira comparando com o noroeste do Texas, e se voltam a meter-se com o rancho Gray, Henry Kinastor varre-os de um sopro.
— Exagera.
— Engana-se. Esse homem tem olfato de cão polícia e é um raio com os revólveres. Se o não deixar em paz, não tardará a descobri-lo. Faça caso do que lhe digo e deixe-o de parte; depois de tudo já não podem sacar muita coisa desse rancho e o benefício não compensa o risco.
— Assombra-me, Rust. Como é possível que se tenha deixado intimidar dessa maneira por um homem ferido?
— Bem, vou-me embora. Já o avisei e fará bem em seguir o meu conselho.
— Fique pelos arredores. Preciso de si e proponho-me acabar rapidamente com esse Pistol Kim, como você lhe chama.
— O que deve fazer é evitar que ele acabe com você.
— Não lhe darei tempo. –
— Que pensa fazer?
— Agora mesmo telegrafei a um par de conhecidos meus para que se ocupem dele.
— isso!... É assim que você se propõe acabar com esse homem? Não me faça rir.
— Que há de gracioso no meu projeto?
— Tudo. Mas homem de Deus, se Pistol Rim só, pode acabar, com meia dúzia dos melhores pistoleiros que encontre!
— Não se esqueça que ele está ferido.
— Esse raspãozinho insignificante não afeta um homem de ferro como ele. Não viu como acabou com os assaltantes da diligência? Três dos seus melhores rapazes perdidos antes que ele chegasse aqui.
— Podia ter acabado ali.
— Talvez, mas se levou a vantagem a homens que já tinham as armas empunhadas, imagine o que aconteceria em igualdade de circunstâncias.
— Aproveitou a surpresa.
— Isso é o mau em Kim. Sereno e rápido, vale -se do mais ligeiro descuido para acabar com os seus inimigos, por muita que seja a desvantagem em que se encontre.
— Então, suponho que não posso contar com você.
— Claro que não. Volto para Lubbock, agora que ele não está ali e parece não pensar voltar. Eu consegui que o nomeassem «sheriff» e agora deixa-me só.
— Vim avisá-lo. Você já tem bastante dinheiro e podia viver como o honrado rancheiro que todos supõem ser, mas se não quer, pelo menos deixe em paz o rancho «Gray». De contrário não tardará a ficar pendurado numa árvore.
— Bem, Rust. Visto que não quer ficar connosco, aí tem quinhentos dólares, e boa sorte.
— Também eu lha desejo e parece-me que lhe fará mais falta que a mim.
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