sábado, 22 de junho de 2019

BUF089.08 Duelo no bar luxuoso

O «Empire Saloon» era no seu género o local mais luxuoso de quantos existiam em Valley Smoky. A ele costumavam acudir as pessoas endinheiradas: rancheiros, ganadeiros e... pessoas de duvidosa reputação, que tinham por norma gastar o dinheiro às mãos-cheias, já que no dito estabelecimento custava tudo os olhos da cara.
Naquela tarde, a concorrência parecia ser mais numerosa do que usualmente. Quase todas as mesas se encontravam abarrotadas de homens que se afanavam em jogar caríssimas partidas de «poker» ou esvaziar numerosas garrafas de «whisky».
Edmund Kendall parecia achar-se no seu elemento. Rodeado de uns quantos indivíduos da sua mesma condição moral, o rancheiro manifestava os maus instintos que se albergavam na sua alma ruim e cobarde. As suas palavras eram acolhidas com enorme satisfação pelos seus ouvintes e com desgosto pelas pessoas que se sentavam nas mesas contíguas à ocupada pelos seus amigalhaços.
A mortandade que os vaqueiros do «Quatro Ventos» tinham levado a cabo sobre os ladrões de gado que, em segredo, trabalhavam às suas ordens, não parecia produzir-lhe o menor desassossego. Nenhum tinha ficado com vida e estava na crença de que ninguém se atreveria a relacioná-lo com os bandidos.
— Mas estás seguro do que dizes, Kendall? — perguntou naquele momento Rod Hich, tipo com cara de brigão. — Diabo! A coisa é para nos desfazermos com riso.


Kendall encheu um copo e vazou-o de um só trago.
— Pois claro que é verdade. Esse esfarrapado que chegou ao «Quatro Ventos» caindo de fome, conquistou o terno coraçãozinho da sua patroa. Pode dizer-se que o patrão é ele. Com esses trinta mil dólares que lhe deu — o diabo sabe onde os terá roubado -- passou a ser o dono da fazenda e dono da sua dona, não é verdade que me compreendem?
— Naturalmente — exclamou outro dos que se sentavam à mesa do rancheiro.
— Tu queres dar a entender que entre essa Wanda e o tal tipo existem relações... Bem, compreendido.
— Mas tu também terás conseguido alguma coisa dela, não é verdade, Kendall? — perguntou agora Jim Pudler, indivíduo de rosto bestial.
Edmund Kendall sorriu com complacência.
—Sempre te ocorrem coisas, Jim! Tu crês que a tive no meu escritório suplicando debulhada em lágrimas, para a deixar escapar indemne? Eu pinto-me por essas coisas, rapaz...
— Incomodo, senhores?
Os quatro homens levantaram os olhos. Roçando a borda da mesa achava-se a atlética figura de Hugh Hallowan. O sorriso que sempre animava o rosto do jovem, parecia ter-se gelado nele. E embora a sua voz tivesse sido suave, o perigoso brilho dos seus olhos negros pressagiava a iminência de uma grande borrasca.
— Que diabo queres? — estoirou Kendall, furioso. — Sai da minha vista!
O álcool que tinha no corpo emprestava um falso valor ao rancheiro. Além disso, estava rodeado dos seus incondicionais amigos, todos eles rápidos no manejo dos «Colts», que não vacilariam em ajudá-lo, em caso de necessidade. Hugh separou-se dois passos da mesa.
—Vim matar-te, Kendall. Acabo de ouvir quanto disseste aos teus «honrados» amigos. Acabou-se o teu reinado de banditismo. Não voltarás a destilar pelas tuas faces de víbora mais veneno contra as pessoas decentes...
Hugh falava sem se alterar, seguro de si. Não perdia de vista um só movimento dos quatro homens que tinha diante de si. Um silêncio de morte estabelecera-se no local. Todos OS olhares estavam pendentes daquela cena da qual só podia esperar-se um abundante derramamento de sangue.
—Não me ouviste, cobarde? — voltou a dizer Hugh com voz fria, impessoal. — Se antes de cinco segundos não tiveres levado a mão ao revólver, matar-te-ei como a um cão que és.
Como que obedecendo a um mesmo impulso, os quatro homens puseram-se em pé. Houve uns segundos de interminável quietude; em seguida, quatro mãos moveram-se velozmente até aos seus respetivos flancos.
Hugh efetuou um movimento relampejante. Na sua mão direita apareceu o revólver que uma milésima de segundo antes permanecia quieto no seu coldre e o negro cano vomitou um jorro de fogo e chumbo.
Edmund «Kendall e Jim Pudler cambalearam como ébrios para caírem em seguida de bruços sobre a mesa. Na testa de cada um deles havia um redondo buraco pelo qual se escapava a vida. O terceiro acompanhante do rancheiro encaixou um balázio na garganta e desabou também sobre os outros dois, já morto.
Hugh girou a mão direita como um raio na direção onde Rid Hich acabava de efetuar um salto de tigre, mas, não chegou a tempo. O quarto indivíduo, homem rapidíssimo, acabava de disparar.
Hugh sentiu um golpe tremendo no peito e, instantaneamente, os seus músculos afrouxaram. Não pôde apertar novamente o gatilho da sua arma, que se lhe escapou da mão indo ricochetear no chão com um ruído surdo. Mas também Rid Hich não pôde repetir a sua sorte.
Um disparo ouviu-se da porta do local e uma bala alojou-se no cérebro do homem que tinha ferido Hugh.
Cornel Johnson, empunhando firmemente um dos seus velhos revólveres, avançava por entre a assombrada assistência. Chegou com o tempo preciso para suster nos seus braços nervosos o corpo desmaiado de Hugh, que naquele momento, incapaz de permanecer de pé, se dobrava para a frente.
— Hugh, rapaz! — exclamou o velho pistoleiro com voz angustiada. — Hugh! Sou Cornel. Não me ouves?
As palavras chegaram aos tímpanos de Hugh como um eco longínquo. Inclinou a cabeça, perdendo totalmente a noção de quanto o rodeava. 121
—Dizes que é uma velha e que pergunta por mim?
— Sim, patroa.
— Não te disse o seu nome?
—Não; disse que é uma antiga conhecida sua.
—Bem, Austin, diz-lhe que desço imediatamente.
O rapaz saiu e Wanda dispôs-se a fazer o que dissera, depois de arrumar alguns papéis na sua secretária. Não deixava de estranhar o facto que Austin lhe comunicava. Quem seria aquela velha que perguntava por ela? Wanda não tinha a mais pequena ideia.
Desceu as escadas até ao piso inferior. Sentada no saguão, uma mulher de cerca de sessenta anos, rosto enrugado e olhinhos brilhantes, preocupava-se com a tarefa de limpar com um lenço uns óculos que em seguida colocou com gesto firme sobre o seu nariz um tanto aquilino.
Wanda exalou um grito de alegria. Reconheceu-a imediatamente, embora nunca a tivesse visto, por uma fotografia que seu pai tinha sempre no escritório.
— Tia Caroline!
—Wanda!
As duas mulheres fundiram-se num estreito abraço.
—Vamos, vamos, rapariga; és igual a teu pai.
A anciã olhava sua sobrinha com olhos sorridentes.
— Porque é que não me avisou da sua chegada, tia? — perguntou a jovem, abraçando-a de novo.
— Pois... queria fazer-te uma surpresa. Bem, e como vão os teus assuntos? Escreveste-me dizendo que estavas num apuro económico. Pudeste resolvê-lo?
— Oh! Sim, tia. Apresentou-se um homem no «Quatro Ventos» que foi a minha salvação. Emprestou-me o dinheiro de que necessitava, bateu-se como um herói para defender os meus interesses e... para que dizer mais? Inclusivamente chegou ao extremo de receber um balázio no peito que esteve a ponto de acabar com ele. E tudo por minha culpa. É um homem admirável, querida tia Caroline. Nem com a minha vida lhe pagaria os imensos favores que recebi dele.
Hugh, que naquele momento se dispunha a penetrar no alpendre para subir e palestrar um pouco com Wanda, ficou parado no umbral. Embora tivessem decorrido seis semanas desde o dia em que recebera a ferida no «Empire Saloon», o jovem ainda estava convalescente.
— Olhe, tia; aqui está. Venha, Hugh, quero apresentá-lo à minha tia Caroline que veio do Kansas.
Hugh sorriu zombeteiramente e acercou-se das duas mulheres.
— Que tal, patroa? — perguntou estreitando a mão da anciã. — Como vai esse reumatismo?
— Bastante bem, pedaço de avestruz — respondeu Caroline Kollings. — Wanda já me disse o que te aconteceu. Não tens vergonha de te apresentares na minha frente com essa cara descorada? Suponho que te ias deixando agarrar por esse que te deu esse pedaço de chumbo, que esteve a ponto de te levar ao sepulcro, não?
— É verdade, patroa. Foram quatro... Bem, dei conta de três...
— Sendo assim, aceito. Bem, mas que não se diga que a um homem do Kansas o pisam facilmente no Novo México, senão.
Wanda; com os olhos arregalados pela surpresa, olhava Hugh e a sua tia, perguntando a si própria se ambos estariam completamente loucos ou se se tinham proposto divertir-se à custa dela.
—Posso saber que ligação é esta? — interrompeu a jovem a tia Caroline. -- Porque parece conhecerem-se desde há muito...
A anciã sorriu.
—Sim, mas não sabias nada? Hugh, este pedaço de asno que ambas temos diante dos nossos olhos, é o filho de Frank Hallowan, capataz de uma das minhas fazendas, em Topeka. Quando recebi á tua carta, pedindo-me os vinte mil dólares, dizendo-me também que os ladrões de gado te tinham tomado à sua conta, optei por te enviar esta rica peça para que te trouxesse o dinheiro e te desse uma mão... Hugh tem pólvora nas veias em vez de sangue e disse-me que não desgostaria de uma cavalgada desde o Kansas até ao Novo México... Pois bem, como ia dizendo, entreguei-lhe trinta mil dólares em vez dos vinte mil que tu me pedias. Supus que te fariam falta outros dez mil depois de pagar a hipoteca. Isto é tudo. Hugh não é mau rapaz e eu quero-lhe quase como a um filho. Se vos casásseis não faríeis nada mal. Formais um bonito par.
Hugh soltou uma gargalhada, mas Wanda, que acabava de compreender o que até então constituíra um mistério para ela, encarou. com o jovem. 
— Eu casar-me com este intrujão? Antes atirar-me de um barranco. Você é um tipo odioso, Hugh. Julga que procedeu bem, enganando uma pobre rapariga? Não quero vê-lo... Não quero vê-lo nunca mais!...
Saiu a correr, francamente enojada, em direção ao pátio. Os vaqueiros acabavam de chegar dos pastos naquele momento.
— Vai, tonto ---- disse a tia Caroline sorrindo. —Vai e dá-lhe uns quantos beijos. Antes de tu chegares, punha-te nas nuvens. Não vês que eu também sou mulher, embora velha e enrugada? Essa rapariga está mesmo perdidinha de todo por ti.
Compreendendo que a sua patroa tinha razão, Hugh saiu atrás da jovem com toda a rapidez de que era capaz. No pátio, Wanda dispunha-se a montar a cavalo de um dos vaqueiros. Ao ver Hugh, deu uns passos para a direita e tirou o revólver do coldre de Reginald.
— Quieto, Hugh! Quieto ou disparo!
Sem deixar de sorrir, Hugh continuou a avançar. Wanda apertou o gatilho e as balas do revólver sibilaram muito perto do jovem, chegando uma delas a arrancar-lhe o chapéu.
Wanda estava demonstrando ser uma magnífica atiradora. Quando Hugh chegou junto dela, já tinham soado seis tiros. A. jovem fez menção de o golpear com o cano do revólver, mas viu-se fortemente abraçada e sentiu que os lábios de Hugh se esmagavam contra os seus. Pouco a pouco cessaram os seus esforços, acabando também por rodear com os seus braços mórbidos o pescoço, do homem amado.
Os vaqueiros soltaram um trovão de gargalhadas. Cornel Jonhson, aproximando-se de Rusty, propinou-lhe uma cotovelada no estômago capaz de derribar um cavalo.
O grandalhão sentiu que os seus pulmões se esvaziavam de ar, ao mesmo tempo que a voz de Cornel soava aos seus ouvidos:
— Que dizes tu a isto, Rusty? Há um momento, a patroa tratava Hugh a tiro. Agora... Ah! Ah! Ah! O diabo que entenda as mulheres!
Naquele momento, Rusty Fremor começava a recobrar o uso das suas faculdades respiratórias.




F I M

Sem comentários:

Enviar um comentário