Enquanto subia a íngreme encosta, mantendo-se com dificuldade na sela, Cathy compreendeu perfeitamente por que a maioria das mulheres preferia montar escarranchada, não obstante o processo resultar um tanto masculino.
Também ela montara desse modo, até dois anos antes, quando era ainda uma rapariguinha, e embora depois lhe tivesse custado montar à amazona, vira-se forçada a habituar-se sob pena de se tornar objecto de reparos. Mas uma coisa era cavalgar por um parque em Saint Louis ou nas campinas de Missouri e Illinois, e outra muito diferente nas montanhas do alto Wyoming.
Finalmente, conseguiu vencer o agreste pendente, atrás do vaqueiro que conduzia pelas rédeas o enorme zaino. Atingida a crista da colina, iniciou a descida da ladeira oposta. Seguiam-na mais alguns vaqueiros.
Lá em baixo brilhavam, como prata fundida, as águas de uma lagoa, no extremo mais afastado da qual havia um pequeno pinhal, que se alongava pelo lado oposto do vale que existia à esquerda até se converter num largo e abrupto «canyon» de paredes verticais cobertas de plantas bravias.
Cathy olhou para todos os lados com crescente ansiedade, mas não tardou que as suas belas pupilas se sombreassem.
— Mas aqui não há ninguém! — proferiu.
Um dos vaqueiros voltou-se para ela.
— Olhe ali, menina Cathy, na extremidade da lagoa. Não vê uma linha contínua de arbustos entre os pinheiros e a água?
— Sim. Há como um largo corte a meio.
— É uma cerca dissimulada, menina. Há-de haver uns três dias estavam ali a trabalhar. Eu próprio pude verificá-lo.
— Mas, agora, não há ali ninguém.
— Vou descer para ver. Não podem ter tido tanto trabalho para nada.
— Leve o cavalo e entregue-o ao senhor Keller, se o encontrar. Mas não lhe diga que eu estou aqui, nem mesmo no caso de ele lho perguntar.
— Esteja descansada, menina Cathy.
O vaqueiro, segurando as rédeas de «Stormy», empreendeu imediatamente a descida.
De súbito, algum tempo depois, outro dos vaqueiros que haviam ficado soltou um grito excitado.
— Olhe ali, menina! ... No «canyon» ... saindo dele ...
Cathy voltou-se na direção indicada, descobrindo uma longínqua nuvem de pó através da qual se distinguia muito dificilmente uma manada de cavalos de longas crinas e caudas eretas, que se aproximavam a todo o galope pelo fundo do pequeno vale.
— Cavalos selvagens! — gritou a rapariga com súbita compreensão deleitando-se a contemplar os impetuosos animais.
— Olhe como os empurram para a cerca da lagoa —continuou o homem. — Se o conseguirem, terão apanhado toda a manada. E deve haver para cima de cinquenta cabeças!
— Aí vai Paddy! — gritou de repente outro dos vaqueiros. — Vai lançado e não há dúvida que chega no momento mais oportuno. Aquele baio que vai à cabeça estava a desviar-se para passar para o outro lado da lagoa.
Enquanto os vaqueiros gritavam excitados, Cathy olhava sem perder pormenor algum, muito abertos os seus imensos olhos, retendo quase a respiração e apertando o agitado peito com as mãos, pendente de quanto ocorria no fundo do pequeno vale.
— Olhem o guia! — gritou rouco de excitação um dos homens. — O maldito parece pressentir a armadilha. Está inquieto e galopa com a cabeça erguida, vigilante e desconfiado. Se não o abatem com um tiro irá espantar toda a manada.
— Oh! Não farão tal selvajaria! — protestou a jovem.
Ninguém pareceu ouvi-la.
— Aquele deve ser Keller. Vejam como se aproxima de Paddy. Agora ergue-se nos estribos e ... vai saltar! ...
Efetivamente, um cavaleiro havia-se destacado, correndo a todo o galope na direção do vaqueiro que conduzia o zaino à arreata. Flanqueava a manada de cavalos selvagens, procurando evitar que se desviasse, mas era visível que perdia cada vez mais terreno no seu intento.
Momentos depois, os três animais cavalgavam a par, formando um apertado grupo, até que, de súbito, sem se deter ou mesmo diminuir a velocidade do galope, o cavaleiro saltou para a sela do zaino com uma agilidade circense.
O enorme garanhão estirou-se num súbito arranco e pareceu que os outros dois brutos haviam ficado parados.
— Conseguiu-o!
— É um verdadeiro demónio!... Olhem como corre agora!
— Mas esse baio também é rápido como o vento. Já não há dúvida de que se advertiu da ratoeira e procura contornar a cerca. Vai fazê-lo mesmo pela frente de Keller!
— Levará a manada inteira consigo se não matam esse maldito!
— Aproximam-se cada vez mais!
O bater de cascos ouvia-se já claramente e acabou por se converter num surdo trovão quando a manada passou diante de Cathy e dos vaqueiros que a escoltavam.
Então produziu-se o estampido de alguns disparos e a rapariga soltou m grito.
— Oh, isso não! ... Mas ...
O baio continuava a correr como uma flecha, as suas douradas crinas ao vento, não parecendo assustado com as detonações.
— Escapa-se! — gritou louca de alegria.
— Em compensação os outros assustaram-se... Estão apanhados!
Cathy nem sequer os ouviu e tão pouco lhe importava. Exprimia a sua alegria em virtude do maravilhoso animal ter conseguido desviar-se a tempo e, correndo pela margem da lagoa, rodear esta e iludir a armadilha.
Passou como um raio por entre os primeiros e espacejados pinheiros, voltou novamente ao vale, atravessando uma clareira e, deixada já para trás a cerca, não tardou em desaparecer.
— Que maravilhoso animal! — exclamou Cathy, magnífica na sua excitação, chispantes os seus olhos e coradas as suas faces.
— Pouco faltou para que levasse toda a manada atrás dele. Não compreendo como Keller se arriscou tanto quando podia tê-lo derrubado a tiro.
— Porque isso teria sido uma selvajaria! — protestou a jovem, indignada.
O vaqueiro olhou-a manifestamente admirado.
— Que importância teria isso? De qualquer forma, iria fugir, e podia ter estragado um trabalho de muitos dias.
Cathy fulminou-o com o olhar.
— Como pode ser tão insensível? Será que não lhe importa a vida de um animal tão belo?
O vaqueiro não parecia compreender muito bem a importância que podia ter a beleza de um cavalo que não pudera ser apanhado.
— Se os outros não se assustam, podiam ter envolvido Keller. O baio é, na verdade, um bonito animal, mas bem se viu que se tornava impossível apanhá-lo. Por que se exporem então a perder os outros? Não tem sentido.
Cathy apertou os punhos e tomou alento, mas a expressão do vaqueiro era tão obtusa e surpreendida, que desistiu, compreendendo que seria inútil discutir.
Também ela montara desse modo, até dois anos antes, quando era ainda uma rapariguinha, e embora depois lhe tivesse custado montar à amazona, vira-se forçada a habituar-se sob pena de se tornar objecto de reparos. Mas uma coisa era cavalgar por um parque em Saint Louis ou nas campinas de Missouri e Illinois, e outra muito diferente nas montanhas do alto Wyoming.
Finalmente, conseguiu vencer o agreste pendente, atrás do vaqueiro que conduzia pelas rédeas o enorme zaino. Atingida a crista da colina, iniciou a descida da ladeira oposta. Seguiam-na mais alguns vaqueiros.
Lá em baixo brilhavam, como prata fundida, as águas de uma lagoa, no extremo mais afastado da qual havia um pequeno pinhal, que se alongava pelo lado oposto do vale que existia à esquerda até se converter num largo e abrupto «canyon» de paredes verticais cobertas de plantas bravias.
Cathy olhou para todos os lados com crescente ansiedade, mas não tardou que as suas belas pupilas se sombreassem.
— Mas aqui não há ninguém! — proferiu.
Um dos vaqueiros voltou-se para ela.
— Olhe ali, menina Cathy, na extremidade da lagoa. Não vê uma linha contínua de arbustos entre os pinheiros e a água?
— Sim. Há como um largo corte a meio.
— É uma cerca dissimulada, menina. Há-de haver uns três dias estavam ali a trabalhar. Eu próprio pude verificá-lo.
— Mas, agora, não há ali ninguém.
— Vou descer para ver. Não podem ter tido tanto trabalho para nada.
— Leve o cavalo e entregue-o ao senhor Keller, se o encontrar. Mas não lhe diga que eu estou aqui, nem mesmo no caso de ele lho perguntar.
— Esteja descansada, menina Cathy.
O vaqueiro, segurando as rédeas de «Stormy», empreendeu imediatamente a descida.
De súbito, algum tempo depois, outro dos vaqueiros que haviam ficado soltou um grito excitado.
— Olhe ali, menina! ... No «canyon» ... saindo dele ...
Cathy voltou-se na direção indicada, descobrindo uma longínqua nuvem de pó através da qual se distinguia muito dificilmente uma manada de cavalos de longas crinas e caudas eretas, que se aproximavam a todo o galope pelo fundo do pequeno vale.
— Cavalos selvagens! — gritou a rapariga com súbita compreensão deleitando-se a contemplar os impetuosos animais.
— Olhe como os empurram para a cerca da lagoa —continuou o homem. — Se o conseguirem, terão apanhado toda a manada. E deve haver para cima de cinquenta cabeças!
— Aí vai Paddy! — gritou de repente outro dos vaqueiros. — Vai lançado e não há dúvida que chega no momento mais oportuno. Aquele baio que vai à cabeça estava a desviar-se para passar para o outro lado da lagoa.
Enquanto os vaqueiros gritavam excitados, Cathy olhava sem perder pormenor algum, muito abertos os seus imensos olhos, retendo quase a respiração e apertando o agitado peito com as mãos, pendente de quanto ocorria no fundo do pequeno vale.
— Olhem o guia! — gritou rouco de excitação um dos homens. — O maldito parece pressentir a armadilha. Está inquieto e galopa com a cabeça erguida, vigilante e desconfiado. Se não o abatem com um tiro irá espantar toda a manada.
— Oh! Não farão tal selvajaria! — protestou a jovem.
Ninguém pareceu ouvi-la.
— Aquele deve ser Keller. Vejam como se aproxima de Paddy. Agora ergue-se nos estribos e ... vai saltar! ...
Efetivamente, um cavaleiro havia-se destacado, correndo a todo o galope na direção do vaqueiro que conduzia o zaino à arreata. Flanqueava a manada de cavalos selvagens, procurando evitar que se desviasse, mas era visível que perdia cada vez mais terreno no seu intento.
Momentos depois, os três animais cavalgavam a par, formando um apertado grupo, até que, de súbito, sem se deter ou mesmo diminuir a velocidade do galope, o cavaleiro saltou para a sela do zaino com uma agilidade circense.
O enorme garanhão estirou-se num súbito arranco e pareceu que os outros dois brutos haviam ficado parados.
— Conseguiu-o!
— É um verdadeiro demónio!... Olhem como corre agora!
— Mas esse baio também é rápido como o vento. Já não há dúvida de que se advertiu da ratoeira e procura contornar a cerca. Vai fazê-lo mesmo pela frente de Keller!
— Levará a manada inteira consigo se não matam esse maldito!
— Aproximam-se cada vez mais!
O bater de cascos ouvia-se já claramente e acabou por se converter num surdo trovão quando a manada passou diante de Cathy e dos vaqueiros que a escoltavam.
Então produziu-se o estampido de alguns disparos e a rapariga soltou m grito.
— Oh, isso não! ... Mas ...
O baio continuava a correr como uma flecha, as suas douradas crinas ao vento, não parecendo assustado com as detonações.
— Escapa-se! — gritou louca de alegria.
— Em compensação os outros assustaram-se... Estão apanhados!
Cathy nem sequer os ouviu e tão pouco lhe importava. Exprimia a sua alegria em virtude do maravilhoso animal ter conseguido desviar-se a tempo e, correndo pela margem da lagoa, rodear esta e iludir a armadilha.
Passou como um raio por entre os primeiros e espacejados pinheiros, voltou novamente ao vale, atravessando uma clareira e, deixada já para trás a cerca, não tardou em desaparecer.
— Que maravilhoso animal! — exclamou Cathy, magnífica na sua excitação, chispantes os seus olhos e coradas as suas faces.
— Pouco faltou para que levasse toda a manada atrás dele. Não compreendo como Keller se arriscou tanto quando podia tê-lo derrubado a tiro.
— Porque isso teria sido uma selvajaria! — protestou a jovem, indignada.
O vaqueiro olhou-a manifestamente admirado.
— Que importância teria isso? De qualquer forma, iria fugir, e podia ter estragado um trabalho de muitos dias.
Cathy fulminou-o com o olhar.
— Como pode ser tão insensível? Será que não lhe importa a vida de um animal tão belo?
O vaqueiro não parecia compreender muito bem a importância que podia ter a beleza de um cavalo que não pudera ser apanhado.
— Se os outros não se assustam, podiam ter envolvido Keller. O baio é, na verdade, um bonito animal, mas bem se viu que se tornava impossível apanhá-lo. Por que se exporem então a perder os outros? Não tem sentido.
Cathy apertou os punhos e tomou alento, mas a expressão do vaqueiro era tão obtusa e surpreendida, que desistiu, compreendendo que seria inútil discutir.
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