sábado, 3 de dezembro de 2016

PAS681. A vingança da formiga

Quase como entre sonhos, Carlota sentiu que chegavam ao rancho e Wade dava algumas ordens. Depois, ele arrastou-a para uma das dependências do rés-do-chão e fechou a porta por dentro. Brutalmente, empurrou-a, até a atirar sobre um cadeirão.
— Escuta-me agora, Carlota Drillman! O teu respeitável pai nunca te disse a causa do meu ódio?
Carlota encolheu-se a um canto do assento, tremendo dos pés à cabeça. Na luta, um dos ombros do vestido havia-se rasgado e um pedaço de pele ficava a descoberto por entre o tecido azul.
— Wade, eu... — gemia como uma criança assustada. — Juro-te que não...
— Claro que não! Tu és apenas uma vítima das ordens do teu pai! Só fizeste o que te mandou! Não foi assim? Vamos! Responde!
— Eu... Wade, eu amo-te!
O pistoleiro soltou uma gargalhada brutal.
—Nunca mais poderás enganar-me com as tuas manhas, raposa matreira! Nem nada poderá livrar o teu pai da morte que lhe está destinada!
Carlota parecia um animal encurralado pelos cães de caça. Enrolou-se sobre o destroçado cadeirão, último vestígio do «Rancho Morgan» de dez anos atrás. Mas, não tentou dizer nada e deixou que Wade falasse.
— Há dez anos, o teu pai tentou expulsar-nos das nossas terras. Sim, expulsar-nos a tiros, ajudado por essa equipa de pistoleiros que tem ao seu serviço! E, como o meu pai não quisesse sair, uma noite assaltou o nosso rancho, matou os meus pai e entregou a minha irmã como diversão para os seus homens! Depois, mataram-na também! — Os olhos de Wade pareciam naquele momento dois pedaços de aço reluzente. — Consegui fugir nem sei bem como. Mas, jurei vingar-me e aqui estou. Tu vais ser o instrumento da minha vingança, Carlota Drillman! Por teu pai e por ti!
Avançou para ela e agarrou-a pela cintura violentamente. A rapariga resistiu debilmente, chorando de terror.
— Wade... eu não tenho a culpa do que se passou...! Juro-te que não sabia...!
Wade riu-se de novo daquela forma que era pior' do que uma bofetada.
— Oh! Claro, tu não sabias! Mas, isso não evitou que te prestasses a fingir uma coisa que não sentias! Intrujona!
— Wade, é verdade... é verdade que te amo...! Cris era apenas uma diversão para mim...! Por meu pai, te juro que é verdade...!
— Compreendeste-o demasiado tarde, Carlota Drillman !
E beijou-a com violência, da mesma maneira que ela havia qualificado de selvagem. Depois, a jovem sentiu que as mãos dele a apertavam até fazer-lhe mal e deixar--lhe a pele marcada. De repente, Wade inclinou a cabeça para trás e observou-lhe o rosto por instantes.
Carlota não se defendia. Sabia que de nada lhe serviria. Tinha os olhos muito abertos, aterrorizados, fixos num ponto indefinido da parede, esperando o castigo da sua audácia imprudente. Wade sentiu um estremecimento estranho dentro de si e pensou em Stella e em que talvez tivesse tido no seu rosto a mesma expressão enquanto os homens de Drillman a dominavam.
Afastou-a de si, com brusquidão, sentindo a boca amarga pelo seu comportamento.
— Podes estar descansada. Não te farei mal. — E voltou-se para ela com o rosto tão tenso de furor que Carlota sentiu medo. Mas, o teu pai julgará o contrário. E nada poderá convencê-lo do seu erro, porque não viverá o suficiente para saber a verdade!
Agarrou-a novamente e de um esticão rasgou-lhe parte da saia do vestido. Ela soltou um grito.
— Wade, por misericórdia!
— Cala-te.
Durante os minutos seguintes, Carlota sentiu as mãos dele a bater-lhe na cara e nos braços, a desfazer-lhe o' penteado e acabando de lhe rasgar as roupas que vestia. Depois, arrastou-a até à 'porta da rua, obrigando-a a subir para o cavalo, perante o assombro dos seus seis vaqueiros. Bastou apenas um toque das esporas para que o negro puro-sangue de Wade partisse como um bólide para o «Rancho Drillman».
Como num pesadelo, Carlota notou que o cavalo devorava a distância num galope infernal. Wade levava-a atravessada na sela, como se fosse um saco, e o movimento do cavalo havia-a feito perder os sapatos. Pensou no aspeto que devia apresentar, com o vestido feito cm farrapos, despenteada e os braços cheios de manchas negras. Um rouco soluço subiu-lhe até à garganta, porque já nada podia remediar-se e ela tinha grande parte de culpa no que iria acontecer.
Frente à casa do rancho, Wade deteve o cavalo e obrigou Carlota a descer. Depois de ter desmontado também, agarrou-lhe numa das mãos e arrastou-a pelo corredor até ao escritório de Arthur Drillman, onde entraram como um furacão.
— Drillman!
O rancheiro encontrava-se atrás da sua mesa de trabalho. Levantou-se de um salto, ao vê-los chegar, e, então, Wade atirou a rapariga contra a mesa, deixando-a quase estendida. Os olhos de Drillman foram de sua filha para o rapaz, que estava um pouco afastado, bem firme nas pernas, com o olhar cintilante e a espingarda na mão direita.
— Agora, pertence-me, Arthur Drillman, rato de esgoto!
— Não é verdade! — gritou Carlota, com todas as suas forças. — Está a mentir! Não é verdade! Não é verdade!
Mas, os olhos do pai resvalaram de forma inconfundível sobre ela, observando-lhe o aspeto com as pupilas contraídas, do tamanho de cabeças de alfinete.
— Maldito sejas, Morgan!
Wade desatou a rir da mesma' maneira que Carlota já lhe tinha ouvido, um riso amargo e seco, que soava como um trovão ou um tiro.
— Esperei dez anos que chegasse este momento, Drillman! Agora, começas a compreender o que eu devia ter sentido naquela noite quando assassinaste a minha família! Não é verdade que o sentes, Arthur Drillman? Mas, nem sequer és homem para matar o indivíduo que ultrajou a tua filha! O mesmo que está a arruinar-te, deixando o teu gado sem água. Por que fica bem ciente disto, Drillman: nem vou casar-me com Carlota nem deixarei que as tuas reses entrem nas minhas pastagens! Nem mesmo agora desejas matar-me, cobarde?
De um salto, Drillman saiu de detrás da mesa para afastar Carlota 'da linha de tiro. Wade deixou que sacasse o revólver, que o engatilhasse e o pusesse em posição de disparar, tudo em frações de segundo.
Depois, a «Winchester» do pistoleiro entrou em ação.
A primeira bala alcançou Drillman no braço esquerdo e não o impediu de disparar. Mas, Wade já não se encontrava onde tinha estado um segundo antes, mas sim à direita. A bala do «45» perdeu-se, inofensiva.
Um novo projétil da espingarda cravou-se no estômago do rancheiro. Drillman soltou o revólver e levou as duas mãos à parte ferida. Uma terceira bala atravessou--lhe um joelho, fazendo-o cair. A quarta entrou-lhe nos pulmões, enchendo-lhe a boca de sangue. A quinta penetrou-lhe no cérebro, deixando-o definitivamente imóvel.
Como um felino, Wade voltou-se para a porta e disparou duas vezes. Os dois pistoleiros de Drillman que acudiam com os revólveres e a postos ficaram atravessados na entrada.
Ouviu atrás de si a reação de Carlota, sob a forma de um tremendo grito, e pelo canto do olho viu-a cair sobre a alcatifa do escritório, feita num farrapo e com o rosto tão branco como o de um cadáver. Sentiu apertar-se-lhe a garganta, mas não se deteve. Saiu para o corredor e um novo tiro abateu outro pistoleiro que corria para ele.
Já ninguém lhe dificultou a saída. Passados dois segundos, Wade cavalgava à rédea solta para o seu rancho.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário