«— A felicidade é efémera como a gota do orvalho sobre a flor de lótus.»
Wade riu, com uma expressão feliz nos seus olhos azuis.
— Oh! Chang, deixa-te de ser passarão. Digo-te que nos amamos e vamos casar-nos dentro em pouco!
— Cuidado, Wade. Há qualquer coisa que não consigo ver claro neste assunto.
— Tu és sempre tão desconfiado...
— Tu, em contrapartida, confiaste demasiado nessa rapariga.
Fez-se um grande silêncio entre ambos.
Ao longe, a luz do novo dia inundava docemente a planície. Eram nove da manhã e as pastagens requeimadas pela seca começavam a dar sinais de vida. Dentro de muito pouco tempo, a primeira manada de gado de Drillman atravessaria a cerca de «Rancho Morgan» paro beber nas suas águas, o que Wade nunca pensara que chegaria a suceder. Que espécie de perturbação era aquela que Carlota Drillman lhe havia causado?
Mas, não se arrependia. Em troca desse facto, a paz renascia em Winslow. Carlota seria sua mulher e os dois partiriam para longe, a fim de esquecer todo aquele passado que só podia servir de amargura na vida de um homem.
Chang falou de novo:
— Julgas-te duro e forte, Wade Morgan, mas estes dez anos não te serviram de nada. Continuas a ser um rapaz que se rende perante a primeira palavra de amor de uma mulher bonita e astuta.
— Chang, se não fosses meu amigo, far-te-ia engolir essas palavras e alguns dentes à mistura.
— Duvido de que o pudesses fazer.
Nunca, até então, tinha visto tão sério o oriental e Wade começou a pensar nas suas palavras. Mas, bem depressa a recordação de Carlota o fez esquecer tudo. Era impossível que uma mulher pudesse beijar daquela forma e estivesse a mentir.
Pôs o chapéu na cabeça e levantou-se.
— Até logo, Chang. Não quero discutir contigo.
Saiu do «saloon» e montou no seu cavalo. O prado em breve o acolheu com a monotonia árida e poeirenta. O caminho serpenteava por entre uns altos matagais de espinhos e mais ao longe atravessava o leito seco de um riacho, que no Inverno costumava levar um pouco de água. O sol começava a transmitir já o seu calor às coisas, cada vez mais alto sobre o horizonte.
De repente, uma gargalhada feriu-lhe os ouvidos como um tiro. «Ela».
E em seguida uma voz masculina.
Qualquer coisa pareceu apertar-se em volta do coração de Wade Morgan. Desmontou, procurando fazer o menor ruído possível, e deixou o cavalo preso a um dos arbustos espinhosos. Depois, começou a deslizar para o leito do arroio, sem fazer o mínimo rumor. Um índio não o teria realizado melhor.
Deteve-se, escondido atrás de umas silvas. Frente a ele, somente separados das suas mãos pelos matagais, Carlota e o jovem elegante do Este, Cris, riam-se às gargalhadas.
— Foi muito divertido, Cris! O pobre acreditou em tudo o que lhe disse!
Wade não podia saber de quem estavam a falar, mas irritou-o aquele riso e a intimidade que parecia haver entre eles. Estavam de mãos dadas e o olhar do indivíduo chamado Cris não oferecia lugar a dúvidas.
Um vago mal-estar começou a apoderar-se de Wade, enquanto recordava as palavras de Chang: «Confiaste demasiado nessa rapariga».
Com mil diabos! Porque havia de duvidar da sua felicidade? Cris podia ser um parente ou um amigo de infância, ou...
Tal como um trovão, chegou-lhe ao ouvido a voz daquele homem:
— Parece-me que Wade Morgan não é tão perigoso, como diziam.
As pupilas do pistoleiro tiveram um reflexo prateado e isso só lhe acontecia quando sentia ânsias de matar.
— Oh! Foi muito fácil! No fundo, é demasiado inocente e crédulo! E riu-se como se achasse muita graça àquela ideia. --- Convencer-se de que eu podia apaixonar-me por um vulgar pistoleiro como ele, sem educação nenhuma!
Wade sentiu que qualquer coisa se desmoronava dentro dele e uma onda rubra invadiu-o.
Cris disse:
— Deves perdoar-me, Lottie. Por um momento, estive furioso, pois os ciúmes não me deixavam viver pensando que... esse assassino e tu podiam chegar a...
Ela tapou-lhe a boca, com uma gargalhada e um olhar cintilante.
— Não sejas tonto, Cris. A princípio, esse homem fascinou-me. Era qualquer coisa de novo para mim. Mas, depois, chegaste tu e pude reconhecer a diferença que existe entre vocês. Ele não passa de um pistoleiro sem educação nem delicadeza. Ontem, fui ao seu rancho porque assim convinha aos planos de meu pai para nos salvar da ruína. Mas, isso não quer dizer nada. Wade Morgan é um bruto e um grosseiro. Nunca poderia ser feliz com um homem como ele. Torna-se demasiado... rude. Beija como um selvagem. Continuarei a fingir até que a epidemia tenha terminado e, então... — Soltou um riso cristalino, enquanto se refugiava entre os braços do rapaz. — Oh! Cris, que jogada mestra! O golpe será tão forte que se deixará matar sem resistência! Mas, isso a mim não me importa. Quando tudo terminar, Cris, casar-nos-emos.
E ofereceu-lhe os seus lábios com toda a naturalidade.
Wade sentiu por uns momentos que tudo se tornava vermelho à sua volta. Mil relâmpagos estalaram à frente dos seus olhos e envolveram-no com a força de um furacão. Carlota havia troçado dele! Nas suas mãos, tinha sido apenas um fantoche, movimentando-se ao ritmo que a ela lhe apetecera! Uma fúria espantosa percorreu-o de cima abaixo, sacudindo-o interiormente. Viu-se ludibriado pela mulher em quem havia depositado o melhor de si mesmo e imaginou a expressão de Arthur Drillman quando a filha lhe relatara a cena do rancho.
Sentiu que os olhos se lhe arrasavam de lágrimas. Por uns momentos, havia sonhado em reconstruir a sua vida e esquecer a vingança, vendo em Drillman uma simples formiga. Afinal, os papéis voltavam a inverter-se, a formiga voltava a ser tigre e ele, Wade Morgan, o pistoleiro, convertia-se de novo em inofensiva formiga pelas artes de uma mulher astuta.
Mas, ainda não estava dita a última palavra. E a última palavra não a diria Drillman.
Cego de raiva, afastou as silvas atrás das quais se escondia e colocou-se em frente do par. Os dois jovens beijavam-se apaixonadamente, sem verem nada do que se passava à sua volta. Wade estendeu as mãos e separou--os violentamente. Antes que nenhum dos dois pudesse sequer reconhecê-lo, o seu punho embateu no rosto de Cris Cassel, derrubando-o sem sentidos.
Carlota soltou um grito de terror.
— Wade!
Agarrou-a pelos braços, fincando-lhe brutalmente os dedos. Os seus lábios apertados davam a impressão de uma lâmina de aço.
— Maldita...!
E uma bofetada terrível atravessou o rosto feminino, deixando-lhe quatro sulcos negros na face. Ela debateu--se entre aqueles braços de ferro, tentando soltar-se. Mas, Wade não lho permitia. Descarregou-lhe mais dois bofetões na cara, enquanto gritava:
— Vais saber a verdade de tudo, Carlota Drillman! Saberás porque nos odiamos teu pai e eu! E, quando tiver feito contigo o que os seus homens fizeram com minha irmã, matá-lo-ei diante de ti!
Colocou-a ao ombro como um saco, montou no cavalo e partiu para o «Rancho Morgan», como uma flecha.
Wade riu, com uma expressão feliz nos seus olhos azuis.
— Oh! Chang, deixa-te de ser passarão. Digo-te que nos amamos e vamos casar-nos dentro em pouco!
— Cuidado, Wade. Há qualquer coisa que não consigo ver claro neste assunto.
— Tu és sempre tão desconfiado...
— Tu, em contrapartida, confiaste demasiado nessa rapariga.
Fez-se um grande silêncio entre ambos.
Ao longe, a luz do novo dia inundava docemente a planície. Eram nove da manhã e as pastagens requeimadas pela seca começavam a dar sinais de vida. Dentro de muito pouco tempo, a primeira manada de gado de Drillman atravessaria a cerca de «Rancho Morgan» paro beber nas suas águas, o que Wade nunca pensara que chegaria a suceder. Que espécie de perturbação era aquela que Carlota Drillman lhe havia causado?
Mas, não se arrependia. Em troca desse facto, a paz renascia em Winslow. Carlota seria sua mulher e os dois partiriam para longe, a fim de esquecer todo aquele passado que só podia servir de amargura na vida de um homem.
Chang falou de novo:
— Julgas-te duro e forte, Wade Morgan, mas estes dez anos não te serviram de nada. Continuas a ser um rapaz que se rende perante a primeira palavra de amor de uma mulher bonita e astuta.
— Chang, se não fosses meu amigo, far-te-ia engolir essas palavras e alguns dentes à mistura.
— Duvido de que o pudesses fazer.
Nunca, até então, tinha visto tão sério o oriental e Wade começou a pensar nas suas palavras. Mas, bem depressa a recordação de Carlota o fez esquecer tudo. Era impossível que uma mulher pudesse beijar daquela forma e estivesse a mentir.
Pôs o chapéu na cabeça e levantou-se.
— Até logo, Chang. Não quero discutir contigo.
Saiu do «saloon» e montou no seu cavalo. O prado em breve o acolheu com a monotonia árida e poeirenta. O caminho serpenteava por entre uns altos matagais de espinhos e mais ao longe atravessava o leito seco de um riacho, que no Inverno costumava levar um pouco de água. O sol começava a transmitir já o seu calor às coisas, cada vez mais alto sobre o horizonte.
De repente, uma gargalhada feriu-lhe os ouvidos como um tiro. «Ela».
E em seguida uma voz masculina.
Qualquer coisa pareceu apertar-se em volta do coração de Wade Morgan. Desmontou, procurando fazer o menor ruído possível, e deixou o cavalo preso a um dos arbustos espinhosos. Depois, começou a deslizar para o leito do arroio, sem fazer o mínimo rumor. Um índio não o teria realizado melhor.
Deteve-se, escondido atrás de umas silvas. Frente a ele, somente separados das suas mãos pelos matagais, Carlota e o jovem elegante do Este, Cris, riam-se às gargalhadas.
— Foi muito divertido, Cris! O pobre acreditou em tudo o que lhe disse!
Wade não podia saber de quem estavam a falar, mas irritou-o aquele riso e a intimidade que parecia haver entre eles. Estavam de mãos dadas e o olhar do indivíduo chamado Cris não oferecia lugar a dúvidas.
Um vago mal-estar começou a apoderar-se de Wade, enquanto recordava as palavras de Chang: «Confiaste demasiado nessa rapariga».
Com mil diabos! Porque havia de duvidar da sua felicidade? Cris podia ser um parente ou um amigo de infância, ou...
Tal como um trovão, chegou-lhe ao ouvido a voz daquele homem:
— Parece-me que Wade Morgan não é tão perigoso, como diziam.
As pupilas do pistoleiro tiveram um reflexo prateado e isso só lhe acontecia quando sentia ânsias de matar.
— Oh! Foi muito fácil! No fundo, é demasiado inocente e crédulo! E riu-se como se achasse muita graça àquela ideia. --- Convencer-se de que eu podia apaixonar-me por um vulgar pistoleiro como ele, sem educação nenhuma!
Wade sentiu que qualquer coisa se desmoronava dentro dele e uma onda rubra invadiu-o.
Cris disse:
— Deves perdoar-me, Lottie. Por um momento, estive furioso, pois os ciúmes não me deixavam viver pensando que... esse assassino e tu podiam chegar a...
Ela tapou-lhe a boca, com uma gargalhada e um olhar cintilante.
— Não sejas tonto, Cris. A princípio, esse homem fascinou-me. Era qualquer coisa de novo para mim. Mas, depois, chegaste tu e pude reconhecer a diferença que existe entre vocês. Ele não passa de um pistoleiro sem educação nem delicadeza. Ontem, fui ao seu rancho porque assim convinha aos planos de meu pai para nos salvar da ruína. Mas, isso não quer dizer nada. Wade Morgan é um bruto e um grosseiro. Nunca poderia ser feliz com um homem como ele. Torna-se demasiado... rude. Beija como um selvagem. Continuarei a fingir até que a epidemia tenha terminado e, então... — Soltou um riso cristalino, enquanto se refugiava entre os braços do rapaz. — Oh! Cris, que jogada mestra! O golpe será tão forte que se deixará matar sem resistência! Mas, isso a mim não me importa. Quando tudo terminar, Cris, casar-nos-emos.
E ofereceu-lhe os seus lábios com toda a naturalidade.
Wade sentiu por uns momentos que tudo se tornava vermelho à sua volta. Mil relâmpagos estalaram à frente dos seus olhos e envolveram-no com a força de um furacão. Carlota havia troçado dele! Nas suas mãos, tinha sido apenas um fantoche, movimentando-se ao ritmo que a ela lhe apetecera! Uma fúria espantosa percorreu-o de cima abaixo, sacudindo-o interiormente. Viu-se ludibriado pela mulher em quem havia depositado o melhor de si mesmo e imaginou a expressão de Arthur Drillman quando a filha lhe relatara a cena do rancho.
Sentiu que os olhos se lhe arrasavam de lágrimas. Por uns momentos, havia sonhado em reconstruir a sua vida e esquecer a vingança, vendo em Drillman uma simples formiga. Afinal, os papéis voltavam a inverter-se, a formiga voltava a ser tigre e ele, Wade Morgan, o pistoleiro, convertia-se de novo em inofensiva formiga pelas artes de uma mulher astuta.
Mas, ainda não estava dita a última palavra. E a última palavra não a diria Drillman.
Cego de raiva, afastou as silvas atrás das quais se escondia e colocou-se em frente do par. Os dois jovens beijavam-se apaixonadamente, sem verem nada do que se passava à sua volta. Wade estendeu as mãos e separou--os violentamente. Antes que nenhum dos dois pudesse sequer reconhecê-lo, o seu punho embateu no rosto de Cris Cassel, derrubando-o sem sentidos.
Carlota soltou um grito de terror.
— Wade!
Agarrou-a pelos braços, fincando-lhe brutalmente os dedos. Os seus lábios apertados davam a impressão de uma lâmina de aço.
— Maldita...!
E uma bofetada terrível atravessou o rosto feminino, deixando-lhe quatro sulcos negros na face. Ela debateu--se entre aqueles braços de ferro, tentando soltar-se. Mas, Wade não lho permitia. Descarregou-lhe mais dois bofetões na cara, enquanto gritava:
— Vais saber a verdade de tudo, Carlota Drillman! Saberás porque nos odiamos teu pai e eu! E, quando tiver feito contigo o que os seus homens fizeram com minha irmã, matá-lo-ei diante de ti!
Colocou-a ao ombro como um saco, montou no cavalo e partiu para o «Rancho Morgan», como uma flecha.
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