Contexto da passagem: Wade escapou e voltou dez anos depois, pistoleiro famoso, com o objetivo de vingar os seus e reaver o que lhe pertencia. Secundado por alguns amigos, apoderou-se do rancho da família e obrigou Drillman a devolver-lhe o gado que lhe pertencera. Entretanto, a filha deste transformara-se numa linda mulher e chegara do Este onde tivera esmerada educação. A pequena ignorava a história da família e sentia uma certa atração por Wade, visitando-o por vezes…
Wade estava sentado nos degraus do barracão, como todas as tardes. Fumava o seu inseparável cachimbo e olhava ao longe, onde o gado punha uma nota de vida e movimento. A seu lado, fumando também paulatinamente, Walter trauteava entre dentes uma cançoneta em voga.
De repente qualquer coisa perturbou a monotonia da paisagem, a mancha escura das reses que pastavam e a linha uniforme do horizonte.
Sobre o seu inconfundível cavalo baio, Stacy chegava ao rancho, escoltando uma pequena carruagem. No banco do veículo, via-se uma mulher vestida de azul vivo.
O coração de Wade começou a pulsar muito mais depressa do que devia. Era «ela».
Pôs-se em pé e esvaziou o cachimbo contra a parede do barracão. O cavaleiro e o pequeno carro haviam-se detido a uns seis metros.
Stacy disse:
— A menina quer ver-te, patrão.
— Obrigado por a teres escoltado, Stacy.
O rapaz piscou um olho significativamente.
— Como sabes, Wade, nós temos o bom costume de não confiarmos nas mulheres por muito bonitas que sejam.
E, sem fazer caso do olhar furibundo que ela lhe deitou, voltou o cavalo e afastou-se no meio de uma nuvem de poeira.
Walter também se esfumou misteriosamente, mordendo o seu charuto com expressão de intenso regozijo.
Carlota e Wade permaneceram uns momentos olhando-se fixamente nos olhos. Depois, o pistoleiro aproximou-se, tomou-a pela cintura e pô-la no chão com delicadeza. A cabeça de Lottie mal chegava ao ombro dele.
— Obrigada — disse a jovem, imprimindo à palavra a sua mais perigosa doçura.
Depois, começou a caminhar para o barracão, enquanto desatava as fitas do chapéu. Sentou-se no degrau mais elevado e olhou para as pastagens.
— Pelo que vejo, você é um homem de iniciativa.
Wade ocupou o degrau mais baixo. As cabeças de ambos ficaram ao mesmo nível.
— Por que diz isso?
— Garantiu-me que dentro em pouco teria gado e cumpriu. Aonde o foi buscar?
— Deu-mo seu pai. Foi muito amável.
Mas, as palavras saíram-lhe como urna dentada. Evitou olhá-la, porque os olhos azuis da jovem tinham a virtude de desvanecer todas as ânsias de vingança e convertê-las em água que se lhe escapasse entre os dedos sem que a pudesse reter.
Ela sorriu.
— Não disse isso muito convencido. Há entre meu pai e você mais do que uma simples rivalidade de rancheiros. Que é, Wade?
O olhar masculino perdeu-se na distância. Houve um instante em que sentiu vontade de lhe contar tudo, mas, como sempre acontecia, calou-se. Era como se á presença de Lottie o fizesse esquecer tudo.
— Talvez algum dia lho conte. Mas, não é nada que valha a pena.
Houve um silêncio. Carlota inclinou-se para ele, sabendo de antemão a que se arriscava. A sua voz tornou--se tão meiga e suave que o sangue de Wade começou a circular a tremenda velocidade pelas suas veias.
— Porque não esquecem de uma vez todos esses assuntos absurdos? No vale de Winslow há lugar para todos.
Lugar para todos!
Uma sombra de sorriso passou pelos olhos de Wade. Aquele rapariga nada sabia das patifarias do seu pai. Estava à vista que o poderoso Arthur Drillman não a tinha a par da sua vida e ela julgava que toda aquela fortuna era limpa e legal.
Mas, ainda não foi daquela vez que a desiludiu e limitou-se a murmurar:
— Você desejá-lo-ia?
Lottie fechou os olhos e respondeu:
-- Sim.
— Porquê?
Lottie voltou o rosto para o outro lado, como se quisesse ocultar um súbito rubor, e a sua voz foi débil, quase inaudível, por detrás do chapéu:
— É necessário que o diga?
Um relâmpago pareceu estalar em frente dos olhos do pistoleiro. Tudo desapareceu da sua mente apagado por aquela frase. «É necessário que o diga?» E, sem medir o que fazia, porque os impulsos não podem medir-se, tomou Carlota pelos ombros e fê-la virar-se para ele, ao mesmo tempo que lhe procurava a boca e a beijava.
Um beijo longo, forte, quase selvagem.
«É um bruto. Um primitivo filho da pradaria.»
Ao separarem-se, era Carlota quem estava vermelha como uma papoila, enquanto os olhos de Wade continuavam a ser dois bocados de aço brilhante.
— Será melhor que vá para casa.
Ela concordou, aturdida. Não opôs qualquer resistência quando as mãos do rapaz a ergueram até ao banco do pequeno veículo nem quando Wade incitou o cavalo com uma palmada nas ancas. A carruagem minúscula arrancou como uma flecha e afastou-se.
Wade permaneceu imóvel, vendo como a imagem da jovem se ia tornando cada vez mais pequena na distância. Depois, voltou a ocupar os degraus do alpendre e acendeu o cachimbo.
Permaneceu imóvel até que o céu se coalhou de estrelas. Depois, durante o jantar, não disse uma palavra. E tão-pouco pôde dormir naquela noite.
Na manhã seguinte, sentado a uma mesa de «Chang», sem que introduzisse nenhuma explicação preliminar entre eles, disse para o oriental, em tom firme e seguro:
— Chang, apaixonei-me como um idiota pela filha do meu pior inimigo.
De repente qualquer coisa perturbou a monotonia da paisagem, a mancha escura das reses que pastavam e a linha uniforme do horizonte.
Sobre o seu inconfundível cavalo baio, Stacy chegava ao rancho, escoltando uma pequena carruagem. No banco do veículo, via-se uma mulher vestida de azul vivo.
O coração de Wade começou a pulsar muito mais depressa do que devia. Era «ela».
Pôs-se em pé e esvaziou o cachimbo contra a parede do barracão. O cavaleiro e o pequeno carro haviam-se detido a uns seis metros.
Stacy disse:
— A menina quer ver-te, patrão.
— Obrigado por a teres escoltado, Stacy.
O rapaz piscou um olho significativamente.
— Como sabes, Wade, nós temos o bom costume de não confiarmos nas mulheres por muito bonitas que sejam.
E, sem fazer caso do olhar furibundo que ela lhe deitou, voltou o cavalo e afastou-se no meio de uma nuvem de poeira.
Walter também se esfumou misteriosamente, mordendo o seu charuto com expressão de intenso regozijo.
Carlota e Wade permaneceram uns momentos olhando-se fixamente nos olhos. Depois, o pistoleiro aproximou-se, tomou-a pela cintura e pô-la no chão com delicadeza. A cabeça de Lottie mal chegava ao ombro dele.
— Obrigada — disse a jovem, imprimindo à palavra a sua mais perigosa doçura.
Depois, começou a caminhar para o barracão, enquanto desatava as fitas do chapéu. Sentou-se no degrau mais elevado e olhou para as pastagens.
— Pelo que vejo, você é um homem de iniciativa.
Wade ocupou o degrau mais baixo. As cabeças de ambos ficaram ao mesmo nível.
— Por que diz isso?
— Garantiu-me que dentro em pouco teria gado e cumpriu. Aonde o foi buscar?
— Deu-mo seu pai. Foi muito amável.
Mas, as palavras saíram-lhe como urna dentada. Evitou olhá-la, porque os olhos azuis da jovem tinham a virtude de desvanecer todas as ânsias de vingança e convertê-las em água que se lhe escapasse entre os dedos sem que a pudesse reter.
Ela sorriu.
— Não disse isso muito convencido. Há entre meu pai e você mais do que uma simples rivalidade de rancheiros. Que é, Wade?
O olhar masculino perdeu-se na distância. Houve um instante em que sentiu vontade de lhe contar tudo, mas, como sempre acontecia, calou-se. Era como se á presença de Lottie o fizesse esquecer tudo.
— Talvez algum dia lho conte. Mas, não é nada que valha a pena.
Houve um silêncio. Carlota inclinou-se para ele, sabendo de antemão a que se arriscava. A sua voz tornou--se tão meiga e suave que o sangue de Wade começou a circular a tremenda velocidade pelas suas veias.
— Porque não esquecem de uma vez todos esses assuntos absurdos? No vale de Winslow há lugar para todos.
Lugar para todos!
Uma sombra de sorriso passou pelos olhos de Wade. Aquele rapariga nada sabia das patifarias do seu pai. Estava à vista que o poderoso Arthur Drillman não a tinha a par da sua vida e ela julgava que toda aquela fortuna era limpa e legal.
Mas, ainda não foi daquela vez que a desiludiu e limitou-se a murmurar:
— Você desejá-lo-ia?
Lottie fechou os olhos e respondeu:
-- Sim.
— Porquê?
Lottie voltou o rosto para o outro lado, como se quisesse ocultar um súbito rubor, e a sua voz foi débil, quase inaudível, por detrás do chapéu:
— É necessário que o diga?
Um relâmpago pareceu estalar em frente dos olhos do pistoleiro. Tudo desapareceu da sua mente apagado por aquela frase. «É necessário que o diga?» E, sem medir o que fazia, porque os impulsos não podem medir-se, tomou Carlota pelos ombros e fê-la virar-se para ele, ao mesmo tempo que lhe procurava a boca e a beijava.
Um beijo longo, forte, quase selvagem.
«É um bruto. Um primitivo filho da pradaria.»
Ao separarem-se, era Carlota quem estava vermelha como uma papoila, enquanto os olhos de Wade continuavam a ser dois bocados de aço brilhante.
— Será melhor que vá para casa.
Ela concordou, aturdida. Não opôs qualquer resistência quando as mãos do rapaz a ergueram até ao banco do pequeno veículo nem quando Wade incitou o cavalo com uma palmada nas ancas. A carruagem minúscula arrancou como uma flecha e afastou-se.
Wade permaneceu imóvel, vendo como a imagem da jovem se ia tornando cada vez mais pequena na distância. Depois, voltou a ocupar os degraus do alpendre e acendeu o cachimbo.
Permaneceu imóvel até que o céu se coalhou de estrelas. Depois, durante o jantar, não disse uma palavra. E tão-pouco pôde dormir naquela noite.
Na manhã seguinte, sentado a uma mesa de «Chang», sem que introduzisse nenhuma explicação preliminar entre eles, disse para o oriental, em tom firme e seguro:
— Chang, apaixonei-me como um idiota pela filha do meu pior inimigo.
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