Gordon Eyster tinha a cabeça apoiada sobre o ombro da mulher. Era uma morena delgada, de olhos grandes luminosos, e boca quase sempre contraída num esgar agridoce, como se saboreasse um manjar que nao tivesse acabado de apreciar.
O quarto era pequeno, de paredes pintadas de um azul-escuro e teto amarelo, o que produzia um efeito visual irritante. Havia um divã em dois dos lados e no quarto via-se ainda uma mesita e um espelho. Sobre a mesa estavam os restos de um almoço, uma garrafa de uísque e dois copos.
— És jovem — disse ela — contudo, parece que viveste mais que qualquer dos homens que conheci.
Gordon ia a responder, mas aconteceu uma coisa que nao lhe deu tempo. A porta do gabinete reservado abriu-se com violência e nela desenhou-se uma figura de um coxo, ruivo e sardento, de cerca de quarenta anos.
— Porcos! — gritou, e procurou fixar o olhar um tanto estrábico sobre o par.
Buscou em seguida a coronha da pistola que tinha pendente ao lado do corpo. Fê-lo em bom estilo, se bem que Gordon notasse imediatamente que nao era um profissional. Para contrariar a sua ação, Gordon saltou do lugar que ocupava e «sacou» o seu «seis tiros».
O seu movimento teve a celeridade e a perfeição do que executa a aguia marinha para pescar, e foi quase impossível de acompanhar com a vista. Unicamente um clarão faiscante sob a luz amortecida que iluminava o recinto. A mulher tinha gritado mas o estrondo dos tiros apagou a sua voz.
O ruivo chocou com a meia porta que estava fechada, o rosto distendido por um assombro abjeto e tombou para a frente, caindo sobre o solo. Gordon endireitou-se lentamente e aproximou-se dele. Empurrou-o com a bota ate lhe voltar a cara para cima.
Sempre the tinha parecido que os mortos de cabelo claro ficavam com um aspeto mais repulsivo que os outros porque a cabeleira se evidencia como um chino sobre a pele amarelenta. Aquele nao era uma exceção.
Olhou a morena. Ela contemplava-o numa atitude mesclada de medo e admiração.
Gordon comentou:
— Pareço tão velho... porque sobre mim pesam as vidas de muitos homens.
De súbito, Gordon experimentou uma estranha sensação. Qualquer coisa que nao lhe acontecera nunca. Talvez fosse culpa da frase que acabava de pronunciar, ou do olhar da mulher, o certo é que teve asco de si próprio e de tudo o que o rodeava.
Nao é que the importasse o ato que acabava de praticar. Há vinte anos que seguia a mesma linha de conduta. Mas naquela ocasião produziu-se na sua consciência um choque, uma mudança inesperada das ideias. E, ao mesmo tempo, como uma brutal sacudidela no seu corpo, sentiu também qualquer coisa dolorosa, como a extração da raiz de um molar ou como a guinada lacerante de uma úlcera.
Sentiu que estava cansado e que, realmente, era verdade que sobre a sua cabeça se acumulavam as vidas de todos aqueles a quem havia suprimido, deste mundo. Possivelmente 'a do ruivo fizera encher a medida.
Um infeliz que jazia a seus pés, com uma estranha rosa vermelha sobre a camisa azul e o lábio contraído mostrando os dentes sujos, que tivera tantas possibilidades de o bater em rapidez ao «sacar» como uma mula coxa tinha possibilidades de chegar primeiro numa corrida de puros-sangues.
Sem que pudesse adivinhar o motivo, a recordação da sua juventude ocorreu a mente de Gordon e também a recordação dos acontecimentos por causa dos quais tinha saído de Rockhill, no Utah. E reparou que tinham passado mais de vinte anos, mas de um modo absurdo, sem viver, acumulando dias, arrastando-se, alugando a sua habilidade de «gunman», como uma máquina de destruição que se transporta de um campo de batalha a outro.
O quarto era pequeno, de paredes pintadas de um azul-escuro e teto amarelo, o que produzia um efeito visual irritante. Havia um divã em dois dos lados e no quarto via-se ainda uma mesita e um espelho. Sobre a mesa estavam os restos de um almoço, uma garrafa de uísque e dois copos.
— És jovem — disse ela — contudo, parece que viveste mais que qualquer dos homens que conheci.
Gordon ia a responder, mas aconteceu uma coisa que nao lhe deu tempo. A porta do gabinete reservado abriu-se com violência e nela desenhou-se uma figura de um coxo, ruivo e sardento, de cerca de quarenta anos.
— Porcos! — gritou, e procurou fixar o olhar um tanto estrábico sobre o par.
Buscou em seguida a coronha da pistola que tinha pendente ao lado do corpo. Fê-lo em bom estilo, se bem que Gordon notasse imediatamente que nao era um profissional. Para contrariar a sua ação, Gordon saltou do lugar que ocupava e «sacou» o seu «seis tiros».
O seu movimento teve a celeridade e a perfeição do que executa a aguia marinha para pescar, e foi quase impossível de acompanhar com a vista. Unicamente um clarão faiscante sob a luz amortecida que iluminava o recinto. A mulher tinha gritado mas o estrondo dos tiros apagou a sua voz.
O ruivo chocou com a meia porta que estava fechada, o rosto distendido por um assombro abjeto e tombou para a frente, caindo sobre o solo. Gordon endireitou-se lentamente e aproximou-se dele. Empurrou-o com a bota ate lhe voltar a cara para cima.
Sempre the tinha parecido que os mortos de cabelo claro ficavam com um aspeto mais repulsivo que os outros porque a cabeleira se evidencia como um chino sobre a pele amarelenta. Aquele nao era uma exceção.
Olhou a morena. Ela contemplava-o numa atitude mesclada de medo e admiração.
Gordon comentou:
— Pareço tão velho... porque sobre mim pesam as vidas de muitos homens.
De súbito, Gordon experimentou uma estranha sensação. Qualquer coisa que nao lhe acontecera nunca. Talvez fosse culpa da frase que acabava de pronunciar, ou do olhar da mulher, o certo é que teve asco de si próprio e de tudo o que o rodeava.
Nao é que the importasse o ato que acabava de praticar. Há vinte anos que seguia a mesma linha de conduta. Mas naquela ocasião produziu-se na sua consciência um choque, uma mudança inesperada das ideias. E, ao mesmo tempo, como uma brutal sacudidela no seu corpo, sentiu também qualquer coisa dolorosa, como a extração da raiz de um molar ou como a guinada lacerante de uma úlcera.
Sentiu que estava cansado e que, realmente, era verdade que sobre a sua cabeça se acumulavam as vidas de todos aqueles a quem havia suprimido, deste mundo. Possivelmente 'a do ruivo fizera encher a medida.
Um infeliz que jazia a seus pés, com uma estranha rosa vermelha sobre a camisa azul e o lábio contraído mostrando os dentes sujos, que tivera tantas possibilidades de o bater em rapidez ao «sacar» como uma mula coxa tinha possibilidades de chegar primeiro numa corrida de puros-sangues.
Sem que pudesse adivinhar o motivo, a recordação da sua juventude ocorreu a mente de Gordon e também a recordação dos acontecimentos por causa dos quais tinha saído de Rockhill, no Utah. E reparou que tinham passado mais de vinte anos, mas de um modo absurdo, sem viver, acumulando dias, arrastando-se, alugando a sua habilidade de «gunman», como uma máquina de destruição que se transporta de um campo de batalha a outro.
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