Ernie Allen levantou-se. Era muito cedo. O sol acabava de aparecer. O jovem já estava em casa havia três dias e o pai mal conversava com ele. Limitava-se a saudá-lo e depois mergulhava nas tarefas do rancho. Ele não se ocupava de coisa nenhuma, limitando-se a passear pelos arredores do vale, envergando um elegante trajo de montar, que fazia abanar com desalento a cabeça aos vaqueiros da equipa.
Eles tinham admirado a energia daquele rapaz e lamentavam agora que seu pai tivesse tido a infeliz ideia de o mandar estudar para Leste. O seu posto era ali, para resolver tudo quanto pudesse respeitar ao podia suspeitar as calamidades que iam cair sobre o vale.
Ernie galopava para um planalto, do qual se divisava tudo. Já tinha inspecionado o rio que passava pelas cercanias. Os seus conhecimentos de engenharia fizeram-lhe observar imediatamente a forma de aproveitar-lhe a poderosa corrente e fazer que aumentasse a fertilidade do vale. 'Dedicar-se-ia a efetuar aquela obra. Seria uma ajuda para seu pai e para os ranchos dos arredores, visto que todos seriam beneficiados.
Galopou por aqueles terrenos tão conhecidos, até chegar ao «caminho dos corvos», lugar que sempre preferira. Os passos do cavalo, que metera a trote, ressoaram com um ruído grato aos seus- ouvidos naquele imenso silêncio.
Deteve-se, contemplando ensimesmado aquele rincão incomparável, de uma grata beleza acolhedora. A parede do «caminho», de uma rocha avermelhada, na qual os raios do sol punham um número sem conta de corei; que deslumbravam, elevava-se a uma altura incomensurável, correndo a lenda de que sobre ela se erguia um corvo que esperava uma presa e por esse motivo o «caminho» tomara o nome por que era conhecido.
Um regato de águas cristalinas e rumorosas deslizava preguiçosamente em baixo na grande parede e caía num remanso que em alguns sítios chegava a alcançar a profundidade de mais de dois metros.
O jovem deixou o animal à solta e despiu-se. Mergulhou com deleite na água, gozando por se sentir acariciado por ela. Nadou com ardor, como fazia quando era garoto. Quando saiu do regato, friccionou os seus membros com energia, enquanto o Sol caía sobre o seu corpo de jovem atleta.
Vestiu-se com lentidão e estendeu-se preguiçosamente na erva. Patrick Allen, José Weaver, Ruth e os vaqueiros das duas equipas, ter-se-iam surpreendido grandemente se o vissem tirar de uma algibeira uma bolsa de tabaco e fazer um cigarro, acendê-lo e aspirar o fumo com deleite. O mais provável era que estas pessoas olhassem umas para as outras e que um raio de esperança aparecesse nas suas atónitas pupilas.
De súbito, Ernie ergueu a cabeça. Acabava de perceber as passadas de um cavalo que se acercava. Com ligeireza, arrojou o cigarro para o sítio onde a corrente era mais rápida e viu que não tardava a desaparecer. Tirou a cigarreira de prata e pôs nos lábios uma daquelas belas cigarrilhas que tinham feito franzir o sobrolho de José Weaver.
Pôs-se em pé quando viu acercar-se Ruth. A jovem, quando parou o cavalo, pareceu contrariada.
— Bons dias, Ruth.
— Olá, Ernie!
– Parece que tivemos ambos a mesma ideia de vir
— Sim! Assim parece.
A jovem saltou do cavalo, sem aceitar a mão que Fatie lhe oferecia.
— Lembras-te das vezes que brincámos neste sítio?
— Sim.
— Éramos então umas crianças — comentou Ernie.
E pôs-se a rir de uma forma que Ruth achou desagradável.
— Naturalmente, agora já somos crescidos.
— Sim. Agora já sabemos apreciar o valor das coisas.
— Compreendo.
— Fiquei surpreendido como o vale progrediu. Já não é aquela povoaçãozita aborrecida. É mais interessante.
--E mais desagradável. Uma pessoa honrada não pode andar nas suas ruas com tranquilidade. Um homem pode ser morto impunemente por um pistoleiro e uma mulher agravada por qualquer embusteiro. Deixou de existir justiça em Vale de Pluck, que foi invadido por ladrões de gado e trapaceiros...
— Creio que exageras, Ruth. É indubitável que uma povoação que se engrandece veja aparecerem pessoas suspeitas, mas isso não tem importância.
— Tu acabas de chegar e deves ignorar que a situação da maioria dos ranchos é difícil, inclusivamente o do teu pai e do meu.
— Não vi nada de estranho no rancho.
— Talvez seja por não te incomodares em observar. Simplesmente deves ter passeado.
O tom da rapariga era hostil e Ernie não julgou prudente prosseguir a discussão. Com habilidade, mudou de conversa, descrevendo a Universidade de Harvard onde estudara. Por vezes, Ernie exaltava-se e a sua voz adquiria aquele ardor que lhe era tão conhecido e tanto a atraía, mas não tardava a adquirir o seu tom agradável e expressivo.
Montaram nos cavalos e afastaram-se do local. Ela apercebeu-se de 'que a indumentária do seu companheiro era elegante, do Leste, confirmando a impressão de que não lhe agradava vestir os trajos de vaqueiro que sempre usara. Também não trazia revólver à cinta. Todas as suas ilusões se desfaziam. Amava Ernie, quer dizer, amara-o até ao seu regresso e estava convencida de que jamais voltaria a amar outro homem.
Ernie montava com a sua habitual mestria, mas sem aquela flexibilidade que instantaneamente denunciaria nele o cavaleiro excecional. Tornaram a parar num sítio muito belo, que formava uma pequena esplanada, com muitas árvores, que ofereciam uma sombra deliciosa. Os jovens apearam-se.
— Ruth, lembrava-me de ti corno uma garota muito linda, com grandes tranças, mas a verdade é que te converteste numa mulher muito formosa.
Aquelas palavras, que poderiam constituir a sua maior felicidade, produziram-lhe então uma impressão desagradável.
— Tornaste-te muito lisonjeador — replicou com aspereza.
— Não... Sou sincero.
E aproximou-se dela.
Ruth fitou-o com desgosto, apesar de se sentir atraída por alude semblante varonil. Ernie parecia não notar a sua atitude.
— Vamo-nos embora.
— Não tenhas tanta pressa. É a primeira vez que estamos sozinhos.
— Farei que seja a última.
— Ruth, julgava que gostavas de mim.
-- De ti? De um homem estúpido e egoísta?
Os braços de Ernie, num rápido movimento, enlaçaram o busto da jovem e atraíram-na para si, ao mesmo tempo que a beijava nos lábios.
A moça 'ficou durante uns instantes aturdida, sentindo-se subjugada pelo atraente e varonil rosto do homem. O seu espírito desfalecia ante o ardor dos lábios de Ernie, mas, refazendo-se, repeliu com as duas mãos o peito do rapaz, impelindo-o para trás. A mão direita ergueu-se com rapidez e caiu sobre a face de Ernie, produzindo uma estalada ruidosa.
Ernie levou a mão ao sítio magoado. A bofetada fora forte. Na mão de Ruth apareceu um pequeno revólver.
— És um canalha, Ernie! Nunca supus que te portasses de forma tão ruim.
— Não pensei que tomasses o facto por essa forma!
— Foi isso que aprendeste no Leste?
— Ruth...
— Não te preocupes... Não direi nada a meu pai. Matar-te-ia. És um cobarde!
Montou agilmente o seu cavalo e afastou-se a galope. Ernie viu-a distanciar-se com um estranho sorriso, enquanto afagava a face esbofeteada.
Eles tinham admirado a energia daquele rapaz e lamentavam agora que seu pai tivesse tido a infeliz ideia de o mandar estudar para Leste. O seu posto era ali, para resolver tudo quanto pudesse respeitar ao podia suspeitar as calamidades que iam cair sobre o vale.
Ernie galopava para um planalto, do qual se divisava tudo. Já tinha inspecionado o rio que passava pelas cercanias. Os seus conhecimentos de engenharia fizeram-lhe observar imediatamente a forma de aproveitar-lhe a poderosa corrente e fazer que aumentasse a fertilidade do vale. 'Dedicar-se-ia a efetuar aquela obra. Seria uma ajuda para seu pai e para os ranchos dos arredores, visto que todos seriam beneficiados.
Galopou por aqueles terrenos tão conhecidos, até chegar ao «caminho dos corvos», lugar que sempre preferira. Os passos do cavalo, que metera a trote, ressoaram com um ruído grato aos seus- ouvidos naquele imenso silêncio.
Deteve-se, contemplando ensimesmado aquele rincão incomparável, de uma grata beleza acolhedora. A parede do «caminho», de uma rocha avermelhada, na qual os raios do sol punham um número sem conta de corei; que deslumbravam, elevava-se a uma altura incomensurável, correndo a lenda de que sobre ela se erguia um corvo que esperava uma presa e por esse motivo o «caminho» tomara o nome por que era conhecido.
Um regato de águas cristalinas e rumorosas deslizava preguiçosamente em baixo na grande parede e caía num remanso que em alguns sítios chegava a alcançar a profundidade de mais de dois metros.
O jovem deixou o animal à solta e despiu-se. Mergulhou com deleite na água, gozando por se sentir acariciado por ela. Nadou com ardor, como fazia quando era garoto. Quando saiu do regato, friccionou os seus membros com energia, enquanto o Sol caía sobre o seu corpo de jovem atleta.
Vestiu-se com lentidão e estendeu-se preguiçosamente na erva. Patrick Allen, José Weaver, Ruth e os vaqueiros das duas equipas, ter-se-iam surpreendido grandemente se o vissem tirar de uma algibeira uma bolsa de tabaco e fazer um cigarro, acendê-lo e aspirar o fumo com deleite. O mais provável era que estas pessoas olhassem umas para as outras e que um raio de esperança aparecesse nas suas atónitas pupilas.
De súbito, Ernie ergueu a cabeça. Acabava de perceber as passadas de um cavalo que se acercava. Com ligeireza, arrojou o cigarro para o sítio onde a corrente era mais rápida e viu que não tardava a desaparecer. Tirou a cigarreira de prata e pôs nos lábios uma daquelas belas cigarrilhas que tinham feito franzir o sobrolho de José Weaver.
Pôs-se em pé quando viu acercar-se Ruth. A jovem, quando parou o cavalo, pareceu contrariada.
— Bons dias, Ruth.
— Olá, Ernie!
– Parece que tivemos ambos a mesma ideia de vir
— Sim! Assim parece.
A jovem saltou do cavalo, sem aceitar a mão que Fatie lhe oferecia.
— Lembras-te das vezes que brincámos neste sítio?
— Sim.
— Éramos então umas crianças — comentou Ernie.
E pôs-se a rir de uma forma que Ruth achou desagradável.
— Naturalmente, agora já somos crescidos.
— Sim. Agora já sabemos apreciar o valor das coisas.
— Compreendo.
— Fiquei surpreendido como o vale progrediu. Já não é aquela povoaçãozita aborrecida. É mais interessante.
--E mais desagradável. Uma pessoa honrada não pode andar nas suas ruas com tranquilidade. Um homem pode ser morto impunemente por um pistoleiro e uma mulher agravada por qualquer embusteiro. Deixou de existir justiça em Vale de Pluck, que foi invadido por ladrões de gado e trapaceiros...
— Creio que exageras, Ruth. É indubitável que uma povoação que se engrandece veja aparecerem pessoas suspeitas, mas isso não tem importância.
— Tu acabas de chegar e deves ignorar que a situação da maioria dos ranchos é difícil, inclusivamente o do teu pai e do meu.
— Não vi nada de estranho no rancho.
— Talvez seja por não te incomodares em observar. Simplesmente deves ter passeado.
O tom da rapariga era hostil e Ernie não julgou prudente prosseguir a discussão. Com habilidade, mudou de conversa, descrevendo a Universidade de Harvard onde estudara. Por vezes, Ernie exaltava-se e a sua voz adquiria aquele ardor que lhe era tão conhecido e tanto a atraía, mas não tardava a adquirir o seu tom agradável e expressivo.
Montaram nos cavalos e afastaram-se do local. Ela apercebeu-se de 'que a indumentária do seu companheiro era elegante, do Leste, confirmando a impressão de que não lhe agradava vestir os trajos de vaqueiro que sempre usara. Também não trazia revólver à cinta. Todas as suas ilusões se desfaziam. Amava Ernie, quer dizer, amara-o até ao seu regresso e estava convencida de que jamais voltaria a amar outro homem.
Ernie montava com a sua habitual mestria, mas sem aquela flexibilidade que instantaneamente denunciaria nele o cavaleiro excecional. Tornaram a parar num sítio muito belo, que formava uma pequena esplanada, com muitas árvores, que ofereciam uma sombra deliciosa. Os jovens apearam-se.
— Ruth, lembrava-me de ti corno uma garota muito linda, com grandes tranças, mas a verdade é que te converteste numa mulher muito formosa.
Aquelas palavras, que poderiam constituir a sua maior felicidade, produziram-lhe então uma impressão desagradável.
— Tornaste-te muito lisonjeador — replicou com aspereza.
— Não... Sou sincero.
E aproximou-se dela.
Ruth fitou-o com desgosto, apesar de se sentir atraída por alude semblante varonil. Ernie parecia não notar a sua atitude.
— Vamo-nos embora.
— Não tenhas tanta pressa. É a primeira vez que estamos sozinhos.
— Farei que seja a última.
— Ruth, julgava que gostavas de mim.
-- De ti? De um homem estúpido e egoísta?
Os braços de Ernie, num rápido movimento, enlaçaram o busto da jovem e atraíram-na para si, ao mesmo tempo que a beijava nos lábios.
A moça 'ficou durante uns instantes aturdida, sentindo-se subjugada pelo atraente e varonil rosto do homem. O seu espírito desfalecia ante o ardor dos lábios de Ernie, mas, refazendo-se, repeliu com as duas mãos o peito do rapaz, impelindo-o para trás. A mão direita ergueu-se com rapidez e caiu sobre a face de Ernie, produzindo uma estalada ruidosa.
Ernie levou a mão ao sítio magoado. A bofetada fora forte. Na mão de Ruth apareceu um pequeno revólver.
— És um canalha, Ernie! Nunca supus que te portasses de forma tão ruim.
— Não pensei que tomasses o facto por essa forma!
— Foi isso que aprendeste no Leste?
— Ruth...
— Não te preocupes... Não direi nada a meu pai. Matar-te-ia. És um cobarde!
Montou agilmente o seu cavalo e afastou-se a galope. Ernie viu-a distanciar-se com um estranho sorriso, enquanto afagava a face esbofeteada.
Sem comentários:
Enviar um comentário