A derrota sofrida nos Big Horn de Montana pelo general Custer, resolveu o «Ward Department» a desencadear uma grande ofensiva contra os «sioux». Concentraram vários regimentos na fronteira e no dia 17 de Julho de 1876 iniciavam o ataque. Ao coronel Stenton foi dada a missão de submeter o chefe «sioux» «Mão Amarela», um dos mais irrequietos e intratáveis caudilhos índios, cujos guerreiros estavam todos armados de modernas espingardas de repetição. O seu primeiro encontro com ele custou mais de trinta baixas e a perda de vários carros de abastecimento. No segundo, por verdadeiro milagre não ficaram todos fora de combate. Mas no terceiro... Acabara o coronel de organizar as suas forças, depois da última derrota, quando uma sentinela anunciou a aproximação de Búfalo Bill. De facto, a conhecida figura do coronel Cody, com a longa cabeleira ao vento, samarra de franjas e altas botas de montar, apeava-se pouco depois junto do comandante das forças,
— Bons dias, coronel Stenton — cumprimentou o batedor. — Soube que foi encarregue de apanhar «Mão Amarela» e venho oferecer-lhe os meus serviços. Conheço os vossos fracassos e acrescentarei que mais virá a ter, se insiste na tática empregada até agora. É preciso combatê-lo doutra maneira.
O coronel aceitou contentíssimo a colaboração de Búfalo Bill que, durante uma longa meia hora continuou a falar e concluiu:
— É a única solução, coronel. Conheço-o bastante para ter a certeza de que acederá... se o encontrarmos antes que nos aniquile.
Não obstante reconhecer que era muito arriscado para Búfalo Bill, o coronel aceitou o plano e deu ordem de marcha, a conselho daquele.
Durante o resto do dia a coluna, agora dirigida por Búfalo Bill, marchou para o norte sem descanso. Próximo da noite chegaram junto duns montes. Acamparam, distribuindo sentinelas para vigiar para além da colina.
Búfalo Bill vagueou durante umas três horas pelos arredores. Por fim estendeu-se no chão e adormeceu. Mas pouco antes de amanhecer...-
— Bem, coronel. Chegou o momento de marchar. Mão Amarela» está a menos de oito quilómetros daqui, com cerca de um milhar de guerreiros, com os quais se dispõe a atravessar o rio. Esta noite visitei o seu acampamento e pelo que vi estão dispostos a liquidá-lo, coronel. O que não imaginam é que o têm tão perto. Não percamos tempo. Mande começar.
Tudo saiu como Búfalo Bill previra. Ao romper do dia estavam nas proximidades do Indian Creek. Assomando-se sobre o monte que os ocultava, Búfalo Bill e o coronel Stenton viram a uns quatro ou cinco quilómetros do rio uma nuvem de poeira que avançava para ali.
— AI os tem, coronel! Só falta que o meu plano dê resultado. Não esqueça: que ninguém dispare sem eu avisar. Entendido?
— Entendido, Cody. Boa sorte.
Búfalo Bill montou dum salto e galgou rapidamente a centena de metros que o separava da margem do rio. Quando o cavalo meteu as patas da frente dentro da água, estacou o animal e esperou, imóvel. Apenas se mexeu quando os três índios que cavalgavam à frente da formação chegaram à beira do rio na margem oposta. Levantou um braço e falou em linguagem «sioux»:
— Não parece, mas «Pahaska» lê nos olhos de «Cão Rastejador» que está surpreendido.
— «Pahaska» não foi prudente desta vez —respondeu o índio, depois duns segundos de silêncio. — Agora não poderá fugir, como doutras vezes, de cair em poder de «Mão Amarela>. A cabeleira de «Pahaska» irá finalmente adornar o cinturão do grande chefe «sioux».
— «Cão Rastejador» é precipitado na conclusão — replicou, com um sorriso sereno. — Falando assim, demonstrou não conhecer bem «Pahaska».
Um dos dois índios que acompanhavam «Cão Rastejador» deu um grito apontando para a retaguarda de Búfalo Bill e este apressou-se a dizer:
— Sim, «Cão Rastejador», são as baionetas do coronel Stenton. «Pahaska» guiou-os até aqui e agora são eles que não vos deixarão avançar um passo. Todos quantos tentarem atravessar o rio, morrerão. E o pior não é isso. A mesma sorte terão se recuarem. Os «guerreiros azuis» cercaram todo o curso do rio. Vai dizer isto a «Mão Amarela» e também que «Pahaska» quer falar com ele.
Passados alguns momentos regressou um grupo de seis cavaleiros índios, que se desligaram da formação, avançaram para Búfalo Bill. Á frente vinha um robusto guerreiro engalanado com todos os atributos de grande chefe, com o rosto pintado com as cores de guerra da sua tribo.
— «Pahaska» pode falar. «Mão Amarela» — escuta disse o índio com petulância.
— Já deves saber — começou Búfalo Bill —que tens a passagem cortada para a frente, pelos soldados do Coronel Stenton. Se recuas, cairás em poder do general Lippman. Ora bem: «Pahaska» oferece-te uma solução para poupar as vidas dos teus guerreiros. Lutemos os dois. Se venceres, o coronel Stenton deixa-te fugir com os teus homens para as montanhas. Se perderes todos os teus «bravos» terão de ficar prisioneiros, ou prometer que não intervirão mais nesta guerra. Que respondes?
— «Pahaska» ditou a sua própria sentença. «Mão Amarela» vai falar aos seus «bravos» e depois virá matar «Pahaska».
A primeira parte do plano de Búfalo Bill estava realizada. Faltava a pior: combater com «Mão Amarela».
Passados dez longos minutos «Mão Amarela» regressou de corpo nu da cintura para cima. Búfalo Bill deitou fora a espingarda. Os guerreiros de «Mão Amarela» mantinham-se a uns trinta metros de distância, atrás do seu chefe. E começou a luta...
«Mão Amarela» ergueu no ar o «tomahawk» e meteu o cavalo na corrente. Búfalo Bill foi ao seu encontro empunhando também um «tomahawk». O choque deu-se mesmo no meio do rio, A água dava apenas pelos joelhos dos cavalos, mas mesmo assim, não era fácil manobrá-los.
Por três vezes os braços armados procuraram atingir o contendor; mas ambos eram bons lutadores e esquivaram o ataque contrário.
«Mão Amarela) atirou à cabeça de Búfalo Bill, obrigando este a defendê-la. Nesse momento, o índio, desviando a arma, descarregou-a sobre a cabeça do cavalo do adversário, que arrastou este na queda.
Os dois combatentes lutavam agora corpo a corpo, mas trocando os «tomahawks» por facas, com as quais atacavam com redobrada fúria. A água dava-lhes pela cintura. As tropas do coronel Stenton e os «bravos» de «Mão Amarela» assistiam impávidos ao dramático combate. De repente viram desaparecer nas águas do rio os dois lutadores. Durante cerca de um minuto só se viram borbulhas na superfície da água. Depois, algo que só podia ser sangue, começou a turvar as águas. Decorreram uns segundos sem que nenhum dos contendores aparecesse na superfície.
O coronel Stenton fez sinal aos seus homens para que se preparassem para o que pudesse acontecer. De repente, junto da margem onde estavam os soldados, apareceu a cabeça inconfundível de Búfalo Bill. Foi assim que Guilherme Frederico Cody matou o famoso guerreiro índio «Mão Amarela». De todas as suas façanhas «autênticas», esta foi talvez a de maior mérito.
As forças da União acabavam de ganhar a mais cómoda das suas batalhas: a histórica de Indian Creek.
— Graças a você, Cody, consegui cumprir as ordens que recebi. Continuará a campanha connosco.
Búfalo Bill negou com um gesto de cabeça.
— Não, coronel -- respondeu a seguir. — Se não se tratasse de «Mão Amarela» nem sequer teria vindo aqui. Esperam-me noutro sítio. Boa sorte.
Búfalo Bill, depois de pedir um novo cavalo, partiu a galope.
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