Os homens do bando, totalmente alheios à sua presença, sem sequer lhe darem algum alimento para quebrar o jejum, puseram-se a caminho, decerto para voltarem mais tarde, quando o plano traçado estivesse concluído... quando no peito do velho Saunders deixasse de palpitar um coração bondoso e magnânimo...
As lágrimas correram, então, pelo rosto pálido da pobre criança. O seu coração pulsava num ritmo mais acelerado e febril, numa ansiedade que crescia de segundo a segundo, à medida que o sol despontava no horizonte para uma manhã luminosa e severa, a contrastar com a tempestade que lhe ia na alma!
Foi então que uma voz débil e assustada, mesmo ansiosa, se fez ouvir ali perto, num chamamento:
— Jim! Jim!
Os olhos do rapaz tiveram um fulgor intenso. Aquela voz...
—Jim! Jim! Onde estás?
Não havia dúvida. Era a voz dela, da sua pequenina irmã.
—Jane! Jane! Depressa! —bradou a plenos pulmões.
A pequenita apareceu, sufocada pela fadiga, os olhos azuis, lindos e penetrantes, subitamente alarmados pelo espetáculo que se lhe deparou. Agilmente correu para o irmão e libertou-o das cordas que o amarravam. Abraçaram-se.
— O nosso pai? — inquiriu o pequeno Jim.
— Foi em serviço para a Estação, e não voltou ainda a casa. Mas que se passou? Que quer dizer tudo isto?
— O nosso pai corre sério perigo, Jane. Nesta altura já deve ir a caminho do Forte Oregon, mas não estará ainda muito longe. Eu te conto tudo no trajeto. Agora vamos depressa!... É preciso salvá-lo!
***
Tendo corrido à pequena herdade nos arredores de Westville, os dois irmãos montaram a cavalo e lançaram-se a todo o galope na planície...
Jane já estava a par do plano maquiavélico do grupo de bandidos para deter a marcha do comboio com o importante carregamento para o Norte. Ela própria pretendia colaborar com o irmão naquela corrida vertiginosa para salvar o pai e a própria existência de Forte Oregon!
Ao cabo de um galope infernal, com os cavalos lado a lado, dando todo o esforço dos seus músculos, os jovens alcançaram a linha férrea e lançaram as montadas nas faixas laterais ao longo dos «rails» reluzentes.
Por fim, ao dobrarem uma curva apertada entre rochedos, por onde passava a linha, descortinaram o comboio que Bill Saunders conduzia com toda a paz de espírito. Mais um último esforço e os animais estavam a par da possante máquina, que não seguia em andamento muito veloz.
O velho Saunders lançou a cabeça de fora como para certificar-se de que não estava perante uma miragem ao reconhecer os filhos, e deteve imediatamente o comboio, que se imobilizou alguns metros adiante.
— Jim! Jane! Que se passa? Os dois irmãos subiram para a máquina.
O abraço com que envolveram o pai traduzia bem o contentamento que ambos sentiam por terem chegado a tempo... O rapaz contou todas as peripécias passadas e os intentos diabólicos dos bandidos brancos, que se haviam aliado aos «Sioux» para o aniquilamento de Forte Oregon.
— O pai está na lista dos traidores para ser a primeira vítima! — concluiu o rapaz. — Que fazemos agora?
O velho limitou-se a sorrir tranquilamente, o sorriso de quem sabe sempre cumprir os seus deveres, e apertou os filhos nos braços.
— Orgulho-me de vocês, meus pequenos!... São uns valentes com coração admirável! — E depois de refletir um instante: — Vamos seguir com Deus o nosso caminho! O destino é só um: Forte Oregon, custe o que custar! Que venham os traidores, que nós estamos prontos para enfrentá-los como merecem!
Dizendo isto colocou um revólver, de que era portador, sobre um suporte da máquina, mesmo à sua frente, e pôs o comboio de novo em marcha. A locomotiva resfolegou como um gigante, arrancando devagar para, ao cabo de instantes, rolar velozmente como um bólido.
Ainda não havia decorrido meia hora depois da chegada de Jim e da irmã, quando o olhar atento do velho Saunders se apercebeu de que algo de anormal se passava na linha férrea, a curta distância.
— Jim! Jane! Venham ver!
Os dois pequenos acorreram, olhando pela abertura da janela. Jim soltou um grito:
— São eles! Aqueles dois homens fazem parte do bando! Efetivamente, dois indivíduos assentavam sobre os rails dois poderosos toros de madeira, com o propósito de deter a marcha do comboio. O velho Saunders esboçou um sorriso e os seus olhos chisparam como o aço num clarão de fogo.
— Ao inferno, miseráveis! — bradou. As suas mãos nervosas manobraram rapidamente as alavancas e as válvulas de velocidade.
O comboio ganhou ainda maior embalagem, acercando-se dos dois homens como uma massa. A proximidade era tão diminuta que os bandidos, supondo que a máquina iria parar diante dos toros cruzados na linha. nem tiveram tempo para se retirar e os seus corpos foram pulverizados sob o possante monstro, que, à sua passagem, projetou os obstáculos para ambos os lados da linha.
Surgiram, então, quatro cavaleiros galopando na aridez da planície, ao encontro do comboio. Eram os restantes homens do grupo, decerto abismados, naquele instante, com o que se passava.
Mas quando eles supunham que a sua presença bastaria para dominar a situação, o velho Saunders ergueu o revólver na mão crispada e os seus méritos de atirador tiveram oportunidade de se fazer valer... Ainda a distância, um após outro, os quatro traidores morderam o pó da planície, sem tempo para ajuizar como aquilo estava sucedendo. Na expressão do velho maquinista havia agora um brilho de contentamento.
Jim e Jane, acocorados a um canto da máquina, ergueram-se, finalmente. O perigo passara e a ameaça... não fora mais do que ameaça... Os três abraçaram-se demoradamente, num amplexo terno e feliz. Estava franqueado o caminho até Forte Oregon, onde o carregamento do comboio iria chegar a tempo e horas de preparar a destruição dos índios! E tudo por obra de Deus e de três almas simples e amigas, como as de tantos outros gigantes unidos na luta pela colonização do velho Oeste selvagem!...
FIM
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