terça-feira, 24 de julho de 2018

BUF150.03 A... "solução"

As salas do «Sky-Saloon» resplandeciam de luzes e de animação. A assistência era qualquer coisa de excecional naquela noite. Por toda a parte se viam as caras conhecidas dos elementos mais representativos de Dodge City.
Archie Skelton atendia delicadamente todos os cavalheiros, enquanto lançava olhares ardentes na direção de Sheila Dorrit que, por sua vez, se desfazia em atenções para com as damas.
Uma orquestra vinda expressamente de Kansas City, para abrilhantar aquele dia memorável, iniciava os primeiros compassos de uma valsa.
Os criados, impecavelmente vestidos, atendiam os convidados o melhor que lhes era possível.
Archie Skelton, pedindo desculpa aos seus amigos e intimamente convencido de que era seguido pelos seus invejosos olhares, dirigiu-se ao encontro de Sheila a fim de a convidar para aquela dança.
— Não posso recusar — disse a jovem sorrindo com galanteria e virando-se, seguidamente, para as senhoras presentes. — Não acham que é assim? Tratando-se, de mais a mais de um meu sócio, parece que deverei manter com ele as melhores relações.
As damas esboçaram um sorriso.

— Fazem um bonito par — comentou a esposa do juiz Taylor.
— Não me surpreenderia se a sociedade viesse a acabar num casamento — acrescentou a senhora Warren.
Naquele momento começaram a esboçar-se as primeiras sombras. Chuck Cumberlan apercebeu-se disso imediatamente. A entrada do «Sky-Saloon» encontrava-se Fred O'Dwyer (já com outro traje) solicitando a todos os convidados que lhe entregassem as armas que ele ia colocando em cima de um balcão especialmente preparado para aquele efeito.
— Pura formalidade — esclarecia. —E para maior tranquilidade de todas as senhoras.
De início não reparou na presença de «Pícaro» nem de Luciano, uma vez que a beleza de «Goody» e Sam atraía as suas atenções.
— Está com sono, O'Dwyer? — perguntou o «marshal».
O outro pestanejou repetidas vezes.
— De forma nenhuma — respondeu Fred, reagindo. — A propósito, faz-me o favor de me entregar os seus «Colts»?
Chuck encarou-o com um olhar de gelo.
— Vê mas é se tens juízo! Eu represento a lei!
— Mas «miss» Dorrit recomendou-me...
«Goody» Seam interveio conciliadoramente:
— O «marshal» nunca se separa das suas armas. É a própria esposa quem lho diz.
— Eu sei, senhora — replicou o outro, atarantado.
«Goody» acrescentou:
— Até dorme com elas.
Chegou a vez de Bellamy.
— Que diabo de disparate é este? Eu não posso entregar armas por que as não tenho. Não é meu costume andar armado.
O'Dwyer não se deixou embalar e retirou-lhe do coldre, que usava sob o sovaco, o seu «Colt» 45. Assim que se apercebeu da presença de «Pícaro» e de Luciano, o pistoleiro de Sheila Dorrit tornou-se mais rubro do que uma papoila e rugiu completamente fora de si:
— FORA DAQUI!
Bill espreitou por cima do ombro e poisou os olhos em O'Dwyer. Com quem se entende o que acaba de dizer? — perguntou. — Não vejo ninguém atrás de mim.
— Entende-se exatamente convosco!
Cumberlan rodopiou sobre os calcanhares e olhou com dureza para O'Dwyer.
— Não tenho nada que ver com estes dois cavalheiros — disse ele. — Mas fui testemunha do que se passou esta manhã. Isso não passa de puro despeito e eu não o consinto. Entendido?
O «gun-man» mordiscou o lábio inferior.
— Perfeitamente «marshal». Podem entrar, mas terão de largar as armas.
«Pícaro» e Luciano entregaram os revólveres com a maior submissão. Entretanto «Doc» cochichava qualquer coisa ao ouvido de Cumberlan.
— Porque afirmaste não teres nada a ver com os homens?
— Mais adiante o compreenderá.
«Goody» sorriu-se afetuosamente para Bellamy.
— Deve saber que Chuck costuma ser um tanto misterioso. Até comigo é pouco ou nada expansivo. Quando abre a boca é só para me dizer que gosta muito de mim.
«Pícaro» aproximou-se naquele momento do grupo, seguido do seu minúsculo amigo. Chuck assegurou-se de que O'Dwyer se encontrava completamente entregue à tarefa de atender os convidados que continuavam a chegar, não lhes prestando, por isso, a menor atenção.
— Caramba! — exclamou Bill. — Isso é que se chama imparcialidade, «marshal»!
Luciano sussurrou debilmente:
— Parece-me, realmente, um pouco excessivo.
E «Doc» Bellamy pensou: «Continuo convencido de que Luciano é um homem cem por cento sensato».
Cumberlan voltou-se para Luciano.
— Sabe dançar a valsa?
O outro olhou-o meio intrigado.
— O quê? O senhor pretende dançar comigo, «mister» Cumberlan?
Chuck sorriu amistosamente.
— Que ideia, meu amigo. Gostaria apenas que convidasse minha esposa. Sabe? Eu sou muito mau dançarino; «Doc» é já um tanto ou quanto idoso e «Pícaro» tem de me pôr ao corrente de muitas coisas.
Luciano olhou-o com certo receio.
— Em resumo — disse Luciano, deitando-se a adivinhar — o que o senhor quer é que me retire.
— É isso precisamente — confirmou Cumberlan. — Mas não poderá negar que o faço com a maior delicadeza.
Resignado e convencido, o pequeno mexicano dirigiu-se a «Goody» solicitando a honra de dançar com ele. «Goody» Seam olhou para seu marido interrogativamente. Chuck anuiu com a cabeça. A jovem esposa sorriu-se com um ar encantador e estendeu os braços a Luciano.
— Que grande «ponto»! — exclamou Bill, interrompendo a sua conversa com Cumberlan. — Como se espaneja! Não há maneira de seguir os meus conselhos. Nunca se deve cortejar a esposa de um amigo... — E virando-se para Chuck: —Não deve preocupar-se com o caso. No fundo, Luciano é totalmente inofensivo.
— Não estou absolutamente nada preocupado — disse Chuck sorrindo e passando um braço por cima dos ombros de William a quem arrastou para o balcão. — Porque não havemos nós de tomar umas bebidas?
«Doc» dirigiu-se em voz baixa ao «marshal»:
— Se não me deixas beber, ponho tudo em pratos limpos. Faço compreender a «Pícaro» que afastaste Luciano de propósito para pôr em prática algum dos teus diabólicos planos.
Cumberlan sorriu-se como se fosse um carrasco, dizendo em voz alta:
— Por esta vez e em atenção a «Pícaro» Bill, fecharei os olhos. Consinto que beba um uísque, amigo Belamy.
Muitos dos que iam entrando dirigiam os seus cumprimentos ao «marshal» e aos seus amigos. Alguns que reconheceram «Pícaro» sentiram eriçarem-se-lhe os cabelos, logo se afastando para o lado a fim de lhe abrirem passagem até ao balcão. Um criado solicito, indagou:
—Uísque para si e para o seu amigo, e cerveja para «mister» Bellamy, não é isso, «marshal»?
— Não adivinhaste. Uísque para todos os três.
Depois de ingeridos alguns copos de licor, enquanto conversavam, animadamente, Chuck declarou com estranheza, virando-se para Bill:
— Parece que se encontra bastante modificado. Não dança?
«Pícaro» replicou com a maior franqueza:
— A única mulher com que gostaria de dançar era com a sua esposa, Chuck. E eu sou muito seu amigo.
Cumberlan voltou a encher-lhe o copo. «Doc» estendeu também o seu copo e Cumberlan, embora contrariado, fez a vontade ao amigo.
— Dodge está repleta de raparigas galantes — disse alegremente.
«Pícaro» ouviu o comentário, engulipou o uísque e, apesar de não alimentar quaisquer esperanças, deu uma vista de olhos por toda a sala. Naquele mesmo instante, Archie Skelton e Sheila Dorrit passaram dançando sorridentes por diante do balcão.
— Puxa! — exclamou «Pícaro», de olhos esbugalhados. — Que primor de mulher!
— Como disse? — perguntou Cumberlan em tom vago.
— Não reparou naquela beldade? — perguntou «Pícaro» por sua vez, verdadeiramente encantado. —E uma estupendíssima mulher.
— Ah, sim! Sheila Dorrit — comentou o «marshal», acrescentando: —E a dona do estabelecimento.
— Quem é o tipo que dança com ela?
— E o sócio.
O semblante de «Pícaro» iluminou-se.
— Nada mais do que sócio?
— Nada mais.
— Sendo assim... — suspirou William, sem desviar os olhos do par dançante. — Sendo assim... — repetiu ele, ao mesmo tempo que enchia e despejava o copo duas vezes seguidas. — Parece que a festa começa a agradar-me.
— Sim. O ambiente é bastante agradável — concordou Cumberlan.
— Oh! Não quero referir-me exclusivamente ao ambiente... — murmurou «Pícaro» por entre dentes.
 -- Ah, não?
Bill encarou-o com impaciência.
— Oiça, Chuck. Que diz se deixarmos a nossa conversa para mais tarde? Creio que vou ter o meu tempo ocupado. Há-de compreender que não posso consentir que Luciano esteja dançando com uma mulher tão bonita como é «Goody», assim sem mais nem menos. Passaria o resto da vida a atirar-me com isso à cara.
— Compreendo! Vá dançar também com «Goody».
«Pícaro» sorriu-se, com os olhos cravados em Sheila Dorrit.
— Não. Vou pôr-me em despique com Luciano. Até mais logo!
E abrindo caminho em linha recta, encaminhou os seus passos na direção de Archie e de Sheila que continuavam dançando sorridentes, de olhos postos um no outro. «Doc» Bellamy deu uma cotovelada em Cumberlan.
— Porque consentes semelhante coisa, Chuck?
O «marshal» observava a cena da chegada de «Pícaro» junto dos dois bailarinos.
-- Porque... isso é a «solução».
E sorrindo-se de um modo singular, levou o seu copo aos lábios, ao mesmo que desviava o outro do alcance de Bellamy.
— Já basta por hoje, «Doc». Tanto se me dá que vá dizer a «Pícaro» que acabo de o meter em um ninho de escorpiões, como não. Tenho a certeza de que lhe vai recomendar que me transmita os seus agradecimentos.
Acabou de beber o uísque, colocou o copo sobre o tampo do balcão e fez um sinal a «Goody» e a Luciano. Ambos se aproximaram.
— «Doc» vai acompanhar-te a casa, «Goody». Luciano fica aqui junto de mim.
Nem «Goody» nem o médico reagiram. Um minuto depois, quando Archie Shelton começava a sentir o sangue subir-lhe à cabeça em face de um homem sorridente e despreocupado, «Goody» e Bellamy escapuliam-se do «Sky-Saloon». Luciano, meio inquieto, perguntou:
— Que vamos nós fazer, «marshal»?
Cumberlan recostou-se, apoiou os cotovelos no balcão e respondeu:
— Observar.
O mexicano suspirou, pesaroso:
— Sim, é claro, observar e... ouvir.
— E também ouvir, sim senhor. Sim, escutar, porque a voz de Archie ia subindo gradualmente de tom, enquanto William, piscava, tranquilamente, um olho a Sheila.
— Isto é insuportável! — exclamava Archie. — Quem é, afinal, você? Que faz aqui dentro? Quem o autorizou a vir a esta festa?
Bill olhou-o com bonomia.
— Nada neste mundo é insuportável, desde que exista boa harmonia e correção nos nossos actos. Eu não passo de um homem simples e complacente que estima todos os seus semelhantes. Mas, uma vez que mo pergunta, dir-lhe-ei que faço aqui dentro o mesmo que o senhor -- procuro divertir-me. Quando quem me autorizou a vir a esta magnífica reunião, direi que talvez o deva ao Destino, à Providência e aos deuses do amor, porque... — os seus olhos verdes acariciavam o bonito rosto de Sheila Dorrit — ante uma tão formosa mulher, ninguém pode deixar de sentir-se enamorado, deixando que as asas da ilusão o transportem a um mundo melhor do que aquele em que vivemos.
— Desapareça daqui para fora — rugiu Skelton.
«Pícaro» olhou com intimidade para Sheila.
— Não ligues importância ao caso, luz dos meus olhos. Vamos dançar esta valsa.
Archie Skelton interpôs-se entre os dois. Foi um instante apenas. O homem deixou de constituir um obstáculo, para se transformar num projétil humano que foi bater brutalmente, de cabeça, contra a base do balcão, enquanto Bill, sorridente, passava a mão sobre os nós dos dedos, olhando triunfalmente para a assombrada rapariga.
— Repito o meu convite, minha bela. Dançamos?
Fred O'Dwer, Elia Wayne, Bud Entig, Albert Accard e Iver Clark começaram a fazer o cerco a «Pícaro» aguardando apenas um sinal de Sheila para se lançarem sobre ele. Sheila, porém, não fez o mínimo gesto. Estendeu os braços a Bill que a atraiu para si, rompendo a orquestra na execução de um novo número do programa.
Archie Skelton levantou-se, resmungando, com as mãos na cabeça, entre Luciano e o «marshal», que tinham sido forçados a desviar-se, cada um para seu lado, a fim de deixar o caminho aberto para o balcão onde o outro foi contundir o crânio.
-- Ficou muito maltratado? — perguntou Chuck.
Skelton, rugiu:
— «Marshal»! Prenda imediatamente esse homem!
— Porquê?
— Subtraiu-me Sheila pela violência!
Chuck fez um gesto de dúvida.
—Não me parece. Ela mostra-se até bem contente.
Archie procurou-a com os olhos e certificou-se de que Cumberlan tinha dito a verdade. Sheila ria-se em estrondosas gargalhadas, entre os braços de «Pícaro», enquanto volteavam e revolteavam ao som dos instrumentos musicais.
Toda a assistência, considerava o incidente sanado, dada a atitude de Sheila, e grande número de pares se lançou no rodopio da dança.
Archie Skelton viu-se obrigado a reconhecer, entre perplexo e confuso, que o facto de ter sido desfeiteado ante as pessoas mais gradas da cidade não tinha, afinal, a mínima importância. Voltou-se para o empregado do balcão, pedindo meio carrancudo:
— Um uísque duplo, Kirby.
— É um instante, «mister» Skelton.
Cumberlan destocou-se para junto de Luciano.
— Fica por aqui, ou quer acompanhar-me?
— Ficarei por aqui, «mister» Cumberlan. Estou convencido de que «Pícaro» acaba de se meter num tremendo sarilho. Quer que o abandone em semelhante situação?
Chuck deu-lhe uma amigável palmada nas costas.
— Decididamente que não, meu rapaz. Boas noites!
E, na íntima convicção de que a paz voltaria brevemente a reinar em Dodge City, regressou tranquilamente a sua casa.
— «E claro que... antes que a paz volte a reinar...» ia ele refletindo. Voltou de novo a sorrir... e a sentir-se tranquilo. William Vitória era um homem que mais facilmente se deixaria matar, do que atraiçoasse um amigo.
Porque se ria tanto, afinal, o par bailante Sheila e «Pícaro»? A sua conversa não podia ser mais singular. No momento em que ela lhe estendeu os braços e começaram a dançar, disse a jovem, dirigindo-se ao seu intrépido companheiro de ocasião:
— Está a parecer-me que não sairá vivo daqui.
— Isso não constitui para mim qualquer problema, luz dos meus olhos!
— Tão seguro se sente da sua pessoa?
— As almas cândidas e puras como a minha nunca tiveram nada que perder. Se tanto eu como tu vivemos o mesmo idílio... que poderá haver de mais maravilhoso?
— Apenas a festa acabar, os meus homens tomá-lo-ão à sua conta e é muito possível que o liquidem, senhor forasteiro...
-- Se isso vier a acontecer, como sempre tenho sido um bom rapaz, irei direitinho para o céu. Como já disse, a minha segurança pessoal nunca me deu muito que pensar. Tenho-me saído sempre bem de tudo aquilo em que me meto.
Sheila riu-se, divertidíssima.
— Você é um perfeito mancebo. Pena é que esse lindo rosto esteja transformado num farrapo dentro de cinco minutos.
Bill soltou uma gargalhada.
—És uma rapariga muito gentil! Bem hajas pela tua advertência! A propósito, quando acabar a sarrafusca... onde poderemos encontrar-nos?
-- Depois veremos... não faço tenção de me retirar de Dodge City.
— Sucede o mesmo comigo.
— Não será bem assim. Você sairá daqui, amarrado ao lombo do seu cavalo e sem o menor desejo de regressar.
— Que otimista me saíste, riqueza minha!
Os últimos compassos da valsa estavam-se extinguindo. Eram as derradeiras notas.
— Pode ir-se preparando — sorriu-se Sheila. — Vai ser agredido sem dó nem piedade!
— Isso é a sério? Nesse caso não permitirei que fiques por contemplar... a primeira é já para ti!
O tremendo bofetão que atirou com Sheila para o estrado da orquestra coincidiu com o último gemido do violino. «Pícaro» rodou sobre si mesmo e, com um rápido golpe de vista, ficou ao corrente da situação. Cinco homens saltaram sobre ele.
Mas ele também saltou... e saltou com os pés para a frente, não se deixando surpreender. Accard e Clark com as costelas partidas por aquele autêntico par de patadas, recuaram de uma forma verdadeiramente fulminante, cambaleando e uivando de dor.
Budd Enetig assentou o punho na testa de «Pícaro», mas o murro que recebeu em pleno estômago deixou-o caído de joelhos, dobrado para a frente, com os olhos rasos de lágrimas e arquejante. Fred O'Dwyer e Elia Wayne aperceberam-se rapidamente de que «Pícaro» não estava só.
Um homem magro e de pequenas dimensões acabava de se colocar a seu lado estendendo-lhe uma garrafa, enquanto ficava, também, com uma para si.
— Toma. Vamos verificar o que é mais duro: se é o vidro ou se é a cabeça desses tipos.
Os dois «gun-men» levaram a mão aos coldres subaxilares. Sheila Dorrit, ainda com a face vermelha devido ao bofetão, levantou-se e exclamou:
— Quietos!
Seguidamente ordenou, apontando para os três homens estendidos:
— Levem-nos daqui para fora! Não quero voltar a vê-los durante o resto da noite.
O'Dwyer apontou para os forasteiros.
— E aqueles? Vão ficar aqui dentro do «Sky»?
Todos os assistentes esperavam a decisão de Sheila, no meio da maior expectativa. Ela olhou para «Pícaro» de uma forma especial.
— Sim. Ficam ambos aqui.
Archie Skelton sentiu-se na obrigação de intervir.
— Mas... Sheilal... Acaso perdeste o juízo? — exclamou, sacudindo furiosamente as abas da casaca.
A jovem continuava a olhar para «Pícaro» com ternura.
— Estou convencida que sim... — respondeu quase num murmúrio.
Bill atirou com a garrafa ao ar e voltou a apará-la com as mãos.
— Como acabaram de ouvir, a festa continua! O que lá vai, lá vai. Sheila e eu acabamos de fazer as nossas apresentações.
E destapou a garrafa cuja rolha foi projetada contra o teto, após um enorme estampido.
— Parabéns, Luciano. Digo-te que és um homem de bom gosto. Beber champanhe não é coisa que aconteça todos os dias.
— Se tive ou não tive bom gosto, não sei — replicou Luciano — o que sei é que estas garrafas eram as que tinham o vidro mais grosso.
Sheila aproximou-se de William e sussurrou-lhe qualquer coisa ao ouvido. «Pícaro» sorriu-se, condescendente.
«Doc» Bellamy encontrou-se com Luciano no meio da rua. O médico olhou, atónito, para o pequeno mexicano.
Sozinho? — perguntou.
O outro encolheu os ombros.
—E a si que lhe parece?
— Que é feito de Bill? — voltou Bellamy a perguntar.
Luciano olhou-o, surpreendido.
— Que diabo de pergunta...
«Doc» Bellamy pegou-lhe amigavelmente braço.
— Não me digas que ele e Sheila...
Calou-se. Os olhos de Luciano eram a eloquência personificada. O médico, perplexo, acompanhou-o pela rua abaixo...

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