segunda-feira, 23 de julho de 2018

BUF150.02 As ideias do xerife Chuck Cumberlan

«Doc» Bellamy perguntou, curioso:
— Porque te mostras tão irritado? Sheila Dorrit é a mulher mais encantadora que já existiu em Dodge City!...
As frias pupilas do «marshal» cravaram-se no rosto do médico. Bellamy apressou-se a acrescentar:
— Pondo de parte, está claro, a tua esposa. «Goody» é a mulher mais encantadora que...
— «...que já existiu no mundo inteiro» — interveio Chuck, carrancudo. E prosseguiu: —Oiça, «Doc». A questão não é essa. «Miss» Dorrit, apesar de todos os seus encantos e das suas delicadas maneiras, «constitui um perigo para toda a cidade».
—Como ousas tu fazer uma tal afirmação? — perguntou o médico, escandalizado.

Cumberlan repoltreou-se no cadeirão e torceu o nariz.
— Achas natural que uma mulher seja possuidora de um milhão de dólares apenas com vinte e cinco anos?
—É possível que os tenha herdado...
Chuck limitou-se a abrir uma gaveta de onde tirou um papel que apresentou ao seu amigo.
Era um pedido de captura, dimanado das estâncias oficiais. Bellamy olhou atónito para o retrato da pessoa estampada no papel.
— Deus do céu! — exclamou. —É ela!
Cumberlan voltou a guardar o folheto.
— Sim, trata-se dela, mas você não reparou na data. Isto passou-se vai para seis anos, quando ela era ainda pouco mais do que uma criança... perdida de amores por Burke Sontag.
O médico franziu o sobrolho.
— Recordo-me vagamente de que Sontag e o seu bando foram totalmente exterminados em Abilene.
— Já vejo que tem boa memória — replicou o «Marshal». «Miss» Dorrit era colaboradora de Sontag, intervindo até, por vezes, em alguns assaltos. Acabou por ser capturada em Abilene, quando o xerife Story e os seus beleguins liquidaram a quadrilha. Escapou da morte apenas por ser mulher, mas foi condenada a prisão.
— Uma condenação pesada?
— Cinco anos, «Doc».
Bellamy meneou a cabeça.
— Tudo isso está muito certo, Chuck. Mas suponho que não há nada que impeça que ela possa ter herdado o tal milhão.
— Ou o tenha ganho a fazer bordados — comentou Chuck com ironia. — Não, «Doc». A coisa é muito outra: trata-se do «produto dos roubos de Burke Sontag». Ela sabia onde estava escondido e quando recuperou a liberdade não teve mais trabalho do que apoderar-se dele. —É possível que assim seja... a verdade, porém, é que não é fácil demonstrá-lo. Nem sequer podes prendê-la quanto mais acusá-la de...
Cumberlan voltou a fechar os olhos.
—Não serei certamente eu quem dê o primeiro passo, «Doc». Por agora limitar-me-ei a observar... mas o que tenho vindo a descobrir não é de molde a agradar-me por aí além. Tem investido muito dinheiro em certos negócios de Dodge City e até já comprou uma casa. Dá festas e receções em que embarrila tanto o presidente da câmara, como o juiz Taylor e toda, as outras pessoas de certa importância de Dodge City.
Bellamy encolheu os ombros.
— Ninguém a pode censurar por isso. Sheila mudou completamente de vida e faz o possível por tirar partido dos benefícios do passado.
— Metendo-se em negócios?
—É natural que seja ambiciosa.
— É isso mesmo o que eu receio.
—Há mais quem seja ambicioso, Chuck.
Cumberlan agitou-se na cadeira.
—É certo,. mas... não contratam para o seu serviço homens da qualidade de Elia Wayne, Budd Entig, Iver Clark, Fred O'Dwyer e Albert Accard e outros. O mais curioso de tudo isto é ter cada um destes pistoleiros de profissão assumido a gerência dos vários negócios de que «miss» Norrit é presidente do conselho de administração, por ter adquirido o número suficiente de ações para esse efeito. Que me diz você a isto? Quer que eu me convença de que O'Dwyer, Entig e os outros se tenham convertido em expoentes de honestidade?
O médico pestanejou.
— Caramba, Chuck! Isso é um caso muito grave!
— Positivamente que o é. Nenhum destes homens é capaz de administrar seja o que for, a não ser o tempo indispensável para matar um semelhante. Para encurtar razões, «Doc»: Sheila Dorrit fez ressurgir a quadrilha de Burk Sontag, com particularidade de ser ela quem governa e não estar disposta a dar os seus golpes em plena rua. A experiência de Abilene está fazendo os seus efeitos.
—Como pensa você, então, que eles vão agir?
Chuck Cumberlan deu um profundo suspiro.
—Diga-me cá, “Doc»: quem tem as maiores facilidades para esvaziar o cofre-forte de uma empresa comercial? É o aventureiro que entra de súbito, de revólver em punho, dispondo apenas de poucos segundos... ou o próprio gerente da empresa, que dispõe das chaves e de todo o tempo necessário para praticar sossegada e conscienciosamente um saque total?
—O gerente.
— Brilhante dedução, Bellamy... não lhe parece que vai ser assim?
«Doc» voltou a franzir as sobrancelhas.
— O quê! Queres fazer-me acreditar que Sheila pretende «roubar-se a si mesma?».
— A si mesma não, «Doc», visto que ela guardará as mercadorias em qualquer parte. Os seus sócios é que ficarão praticamente arruinados... podendo assim comprar-lhes as ações pelo preço que lhe convenha. Começa ou não começa a compreender? Desta maneira será, dentro em pouco, a dona de toda esta cidade. E se algum dos espoliados se mostrar inconformado ou rebelde... lá estão os revólveres de Accard, de Entig, de Wayne, de O'Dwyer e de Clark para lhe selar a boca.
Bellamy passou a língua pelos lábios.
—É claro que tudo isto... não passa de simples conjetura da tua parte, Chuck.
—Sim...
— Meras suposições...
— Evidentemente.
«Doc» compreendeu que as suas palavras não faziam mossa no crânio do «marshal».
— Estás convencido de que vai suceder qualquer coisa... «de inconveniente?».
Cumberlan acenou afirmativamente:
— Nem mais nem menos...
— Porquê?
O outro enrolou paulatinamente um cigarro antes de responder. Acendeu-o e expeliu uma densa baforada.
— Baseio-me em factos reais. Sheila seduz as autoridades por um lado, ao mesmo tempo que investe quatrocentos mil dólares nos mais lucrativos negócios. Tem sócios tão honrados como Ornar Warren, Bert Cassidy e outros comerciantes da cidade. A honradez, na maioria dos casos, anda estreitamente ligada à ingenuidade e, ao mesmo tempo... como dizer... pressupõe também o desejo de uma aventura galante. «Miss» Dorrit é uma mulher sedutora que sabe tirar partido dos seus encantos. Sabe prometer, insinuar... dar a entender que um dia mais tarde poderá chegar-se a um trato mais intimo... mais agradável que as simples relações comerciais. Uns após outros, todos os homens honrados de Dodge, seduzidos pela perspetiva da aventura sentimental, vão mordendo a isca, sem se aperceberem de que se entregam completamente nas mãos de uma tal mulher.
— Começo a compreender, Chuck...
— Repare que nenhum dos referidos «gerentes» chegou à cidade ao mesmo tempo que qualquer outro. Foram aparecendo como por encanto, de cada vez que «miss» Dorrit começava a tomar parte em qualquer negócio. Enfim! Não há como dar tempo ao tempo...
— Tens algum projeto em vista?
Chuck mordeu o lábio inferior.
— É difícil, sabe! No momento em que ela se aperceba de que me resolvi a meter o nariz nos seus assuntos, não hesitará nem um segundo: dará ordens imediatas para que eu seja suprimido. O mais grave no meio de tudo isto, é se eu não consigo obter provas para a incriminar. Ela continuará, sossegadamente, a contratar pistoleiros em série.
O «marshal» olhou para o cigarro meio consumido.
— Sei que posso contar consigo «Doc»... mas confesso que não me agrada ter de o colocar frente a frente a homens assim tão perigosos. Com Danny Cue não posso contar porque está ferido. Sam Roark, devido aos ferimentos de Danny, não pode abandonar o escritório. Ben Sloane encontra-se ausente da cidade a fim de arranjar fundos para a fundação de um jornal... um diabo de um jornal que tem sido todo o sonho da sua vida. Mais uma vez me encontro sozinho, a braços com um punhado de bandidos. Sabe uma coisa? As vezes... sinto um receio terrível de que a sorte me abandone.
Bellamy sorriu-se com certa comoção.
—É muito possível que a sorte te falte um dia, Chuck. Mas... tu não faltas com certeza. Podes continuar tranquilo.
— Bem hajas pelas tuas palavras, «Doc». És um amigo às direitas.
— A propósito... Sheila suspeita, porventura, das tuas investigações?
Cumbarland fez um gesto vago.
— Se não for tonta de todo é natural que suspeite de alguma coisa. Fui forçado a fazer muitas perguntas, como se compreende. Lembro-me que Ornar Warren se indignou quando lhe fiz ver a conveniência de não firmar nenhum contrato com Sheila Dorrit. É perfeitamente compreensível que, para se tornar mais simpático perante ela, lhe desse conhecimento da minha atitude.
«Doc», que olhava agora através da janela, levantou--se subitamente.
—É ela! — exclamou.
Cumberlan olhou para ele, de soslaio, por cima do ombro, e torceu o nariz.
— Dirige-se para aqui.
Distribuindo sorrisos e cumprimentos para a esquerda e para a direita, a jovem correspondia às saudações que os homens lhe dirigiam ao cruzarem-se com ela. Sheila Dorrit com a sua cabeleira fulva, olhos azuis e pele deliciosamente aveludada, complementos radiosos do seu elegante perfil, possuía todas as condições para fazer andar à roda o juízo de todo e qualquer indivíduo por mais equilibrado que fosse. Entrou no gabinete, graciosa e sorridente.
— Muito bons dias, «marshal»! Bons dias doutor!
Ambos os homens se tinham levantado com a maior cortesia. Chuck esboçou um sorriso. O sorriso, porém, não chegou aos seus olhos.
— Queira sentar-se, «miss» Dorrit. Em que posso servi-la?
A jovem instalou-se graciosamente na cadeira que o médico lhe ofereceu e dirigiu os seus belos olhos para Chuck Cumberlan.
— Trata-se de uma simples visita de cortesia — explicou Sheila com o mais aliciante dos sorrisos.
— É muita amabilidade da sua parte.
— Correspondo apenas àquela que tem demonstrado por mim, «mister» Cumberlan, pois, segundo me consta, o «marshal» tem-se ocupado, ultimamente, muito com a minha pessoa. Não me surpreende, porque o mesmo acontece com todos os outros homens... — comentou, quase num murmúrio. — Mas... tenho ouvido falar tanto de si, têm-me dito coisas tão extraordinárias... que tomei a resolução de procurá-lo para saber o que há de verdade em tudo isto.
Cumberlan não se deu por achado. «Doc» pigarreou e sorriu-se por entre dentes.
— Curiosidade feminina, é claro...
— Sim, até certo ponto! — respondeu Sheila, sorrindo. — Mas, partindo do principio de que se interessa por mim, parece-me que o melhor será fazer-me as perguntas diretamente, em vez de andar a cirandar de um lado para o outro, não acha?
Cumberlan respondeu sossegadamente:
— Não tenho qualquer pergunta a fazer-lhe, «miss» Dorrit.
Sheila mostrou-se surpreendida.
— Seriamente? Eu tinha compreendido outra coisa.
— Compreendeu mal.
A jovem encarou-o com ar cativante. 
— Não faz ideia de quanto as suas palavras me tranquilizam, «marshal»! Sou, praticamente, uma estranha em Dodge e o meu desejo é converter-me em uma das suas patrícias. Espero que... se em qualquer ocasião me sentir em apuros... o «marshal» me conceda a sua proteção.
— Com toda a certeza.
— Os meus agradecimentos! — Sheila levantou-se, fez uma graciosa reverência e encaminhou-se para a porta.
Antes de sair, porém, voltou-se para trás, como se, à lembrança, lhe tivesse acudido alguma coisa de importante.
—Já me esquecia, «Marshal»! Esta noite dou uma festa no «Sky-Saloon», de que acabo de me tornar uma das suas proprietárias. O meu associado, «mister» Archie, é de opinião que se deve festejar o acontecimento. Já convidei as autoridades de Dodge City e espero que o «marshal» e sua esposa me deem a honra de comparecer. Também conto com a sua presença, doutor Bellamy.
Dirigiu-lhes um novo sorriso e desapareceu. Cumberlan tinha ainda os olhos pregados na porta, quando «Doc» lhe dirigiu a palavra.
—Uma mulher encantadora, não acha?
O semblante do «marshal» não alterou a expressão.
— Sim... uma mulher encantadora... com muitas advertências à mistura...
Bellamy mostrou-se surpreendido.
— Que espécie de advertências?
Chuck deu um profundo suspiro.
— Acaba de colocar-me perante um terrível dilema; não se apercebeu disso? Ou entro para o grupo dos seus amigos... ou... quem sabe o que pode vir a suceder!
Suspirou segunda vez e afastou-se para o lado, olhando distraidamente através da janela. Do outro lado da rua encontravam-se dois cavaleiros. Um sorriso discreto estampou-se-lhe nos lábios.
— Parece-me — murmurou — que já sei o que vai suceder.
Luciano lamentava-se cada vez mais.
— «Pícaro»! Ainda estamos a tempo. Retiremo-nos daqui.
William Vitória, olhou-o surpreendido.
— Porquê ?
Luciano não se tinha cansado, durante várias semanas, de repetir a mesma cantilena, e Bill, pelo seu lado, não se tinha cansado também de demonstrar o seu assombro e de perguntar «porquê». Luciano argumentou:
--Na última vez que aqui estivermos gastou-se mais chumbo do que durante toda a revolução mexicana.
—Um ambiente magnífico, não te parece?
— Não — declarou o outro com sinceridade.
Bill encarou-o com ar amigável.
—Esqueces que fomos xerifes de Dodge City?
— Pois é precisamente isso que tenho gravado na memória.
Chegaram junto da porta de um «saloon» e apearam-se. Tinha chovido na noite anterior. William desmontou de um salto. As suas botas enterraram-se na lama, produzindo um ruído surdo.
A lama salpicou lamentavelmente o fato de Fred O'Dwyer, cujo sorriso desapareceu como por encanto.
— Grandessíssimo imbecil! — rugiu. — Olha o estado em que me puseste!
Bill contemplou-o com um ar inocente.
— Não sei porque se lamenta. Eu também enlameei as minhas botas e não me queixo.
— Ou tu me limpas imediatamente, ou encho-te o corpo de balas!
«Pícaro» saiu, chapinhando do charco, meneando a cabeça.
—Ouviste bem isto, Luciano? —perguntou ele, ao seu pequeno companheiro. —Diz aqui este senhor que lhe limpe eu a vestimenta...
«Colosso» compreendeu imediatamente que Fred O'Dwyer era um pistoleiro.
— Se ele o disse... — comentou, compungido.
«Pícaro» aproximou-se de Fred O'Dwyer.
— O fato, anteriormente, era apenas de uma cor —comentou.
— Claro! — rugiu O'Dwyer. —E quero que volte a ser apenas de uma só cor.
—Esplêndido... — suspirou Bill.
E, acto continuo, aplicou-lhe um fenomenal «direto» em pleno queixo. O pistoleiro caiu de costas, a todo o comprimento, mergulhando e revolvendo-se no charco. Conseguiu equilibrar-se nos joelhos, freneticamente, e olhou para William com a maior ferocidade.
— Desgraçado! — bramiu ele. — Acabas de arriscar a tua vida.
Bill apoiou um cotovelo na cabeça do seu amigo e murmurou:
— Ouviste, Luciano? Diz ele que acabo de arriscar a minha vida. Mas isso não é verdade. A vida é um dom maravilhoso. Porque havia eu de arriscá-la? O cavalheiro está absolutamente equivocado.
O'Dwyer saiu do meio do charco, com a água e o lodo a escorrer-lhe por todo o corpo.
— Vou matar-te — vociferou com um ranger de dentes.
«Pícaro» fez um trejeito de contrariedade.
—Matar-me, porquê? O senhor queria ter um fato apenas de uma cor... e aí tem o que tanto desejava. E não só o fato, como também as botas, a camisa, o lenço, o cinturão, o chapéu e até a sua própria pessoa. Como vê, estão cumpridos os seus desejos. Parece que não tem o direito de ameaçar-me...
—E o que vamos ver!...
O'Dweyr levou a mão à pistoleira... Mal os seus dedos roçaram pelo «Colt», logo a arma desapareceu como por encanto, arrebatada por uma bala que atingiu em cheio a coronha do mortífero engenho. Fred O'Dwyer olhou com assombro para os dois forasteiros. O mais alto continuava com o braço apoiado na cabeça do mais pequeno e soprava beatificamente o fumegante cano do revólver.
— Que é, afinal o que havemos de ver? — perguntou «Pícaro», melifluamente.
Vários transeuntes tinham parado e presenciavam a cena. O pistoleiro a soldo de Sheila Dorrit sentiu o peso de todo aquele ridículo e compreendeu que aquela situação lhe podia vir a trazer graves consequências. Tentou empunhar o revólver com a mão esquerda, mas, mais uma vez, a arma lhe foi arrebatada por uma bala certeira. O'Dwyer engoliu, dificilmente, em seco. Bill soprou de novo a boca do cano da sua arma e confessou, desolado:
—Continuo sem ver coisa alguma, cavalheiro. O senhor desejava um fato todo da mesma cor e conseguiu o que queria. Estou sempre disposto a auxiliar o meu próximo. O senhor, em contrapartida, diz-me que hei-de ver não sei quê... e não cumpre a promessa. Não estou disposto a consenti-lo. Não sairei daqui sem ver...
— Que diabo é que pretendes ver? — resmungou o pistoleiro.
«Pícaro» sorriu-se com beatitude.
— Apenas que metas a cabeça três vezes no charco e que, ao retirá-la, digas em voz alta: «Sou um asno mal--educado».
O outro cerrou os punhos.
— Não obedecerei. Uma terceira bala arrancou o tacão de uma das botas de O'Dwyer que, perdendo o equilíbrio, ficou lastimosamente sentado no charco.
«Pícaro» advertiu:
— Parece-me que não ouvi bem o que disseste.. Por outro lado a minha pontaria nem sempre é das melhores. E muito possível que a próxima bala se perca entre os olhos...
Fred O'Dwyer, rugindo de cólera, mergulhou três vezes a cabeça no charco lodoso e proclamou que era um «asno mal-educado>. Antes de desaparecer, entre a galhofa dos circunstantes, brandiu ameaçadoramente um punho na direção de «Pícaro» Bill.
— Voltaremos a encontrar-nos! — ameaçou. Bill afastou-se de Luciano e guardou o revólver.
— Triste misantropo! — desabafou. Naquele instante descobriu Cumberlan e Bellamy que os observavam da porta do comissariado.
— Olha, Luciano! Lá está a nossa antiga casa! E os nossos amigos!
Atravessaram a rua e foram cumprimentar o «marshal» e o médico.
—Encantado por vê-los — disse Chuck com a maior cordialidade.
— Mais encantados estamos nós! — ripostou Bill.
Luciano, como desculpando-se do que ia a dizer, confessou:
— Bill está convencido de que estaremos melhor aqui do que em qualquer outra parte. As provas estão à vista! Foi só chegar e...
Bellamy apressou-se a intervir: — «Pícaro» não fez mais do que a sua obrigação! — Plenamente de acordo — confirmou Cumberlan. E acrescentou: —Não querem entrar? «Pícaro» e Luciano entraram na repartição, seguidos de «Doc» e de Chuck. Ainda não tinham acabado de sentar-se, quando Bellamy ouviu qualquer coisa de maravilhoso:
— «Doc» — disse Cumberlan, sorrindo — por que não vai em busca de uma garrafa de uísque? Temos de festejar este encontro!
Bellamy sumiu-se por uma porta e regressou com uma garrafa, em menos tempo do que o preciso para o contar. Destapou o recipiente e estendeu-a a Bill que ingeriu uma boa dose. A garrafa passou para Luciano... e de Luciano a Cumberlan que engoliu um bom trago, colocando-a fora do alcance de Bellamy que reprimiu um rugido de raiva.
— Vão demorar-se por aqui? — perguntou Chuck.
«Pícaro» encolheu os ombros.
— Isso depende. Talvez uma temporada. Mas como não vamos viver do ar, necessitamos de arranjar trabalho.
Bellamy emitiu a sua opinião:
— Poderiam talvez servir como ajudantes do comissariado. Que te parece, Chuck?
Cumberlan dirigiu-lhe um olhar tão rápido como fulminante, sorrindo seguidamente para os dois recém-chegados.
— Trataremos disso daqui a pouco — respondeu. —Para já, os senhores encontram-se aqui e é isso que, por agora, nos interessa. A propósito, acabo de recordar--me de que há hoje uma festa no «Sky-Saloon» e estou autorizado pelos proprietários a fazer-me acompanhar dos meus amigos.
— Magnifico— comentou Bill.
— Vocês necessitam de um bom almoço e de algum descanso... se quiserem estar em forma quando chegar a noite. «Doc», faça o favor de os acompanhar. «Goody» ficará encantada de os ver e atendê-los-á com a maior satisfação.
Chuck entregava-se à tarefe de arranjar o laço do pescoço enquanto sua esposa envergava o mais belo vestido do seu guarda-roupa.
— Olha cã, meu querido: porque tens tu tanto empenho em te fazeres acompanhar por «Pícaro» e «Colosso»? Confesso que não compreendo para que havemos de ir também nós a semelhante festa.
Cumberlan sorriu-se impercetivelmente.
— Se eles não adregassem de aparecer em Dodge City... era certíssimo que quem lá não ia éramos nós.
— Não compreendo...
Cumberlan voltou-se para ela e comentou:
— Estás o que se chama um amor!
«Goody» acabou de se arranjar sem acrescentar palavra. Sabia que seu marido nada mais diria sobre o assunto. «Pícaro», «Doc» Bellamy e Luciano aguardavam-nos na casa de jantar.
— Bem! — disse Cumberlan com uma expansão pouco vulgar na sua pessoa. — Está tudo a postos. Agora... toca a divertir...
— Já reparaste, Luciano, que regressamos a nossa casa? E pensar que tu não querias vir para Dodge City!...
Chuck olhou-o com ar de censura.
—É verdade o que ele acaba de dizer?
— Sou um pouco supersticioso — desculpou-se o outro.
«É um homem cem por cento sensato», pensou Bellamy. De braço dado com seu marido e ladeada pelos outros três homens, «Goody» Seam saiu de sua casa com a impressão de que... a guerra estava prestes a rebentar
na cidade.
— Suponho que a festa vai ser bastante divertida —aventurou-se ela a dizer. Chuck olhou para as estrelas.
—Certamente, meu amor...

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