quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

PAS849. Retrato e morte dum usurário

Bishop O'Brien pertencia àquele número de indivíduos que não deviam existir à face da terra. Era um sovina e avarento da pior espécie. Tinha mais amor ao dinheiro do que à sua própria mãe. Quase se podia considerar o senhor de Enid, pois utilizava o seu dinheiro, amealhado com o maior desvelo, em compras de terras e casas, ou então emprestava-o aos proprietários sobre hipotecas e com juros.
Quando acontecia o juro não ser pago no prazo devido, não hesitava em levar o penhorado aos tribunais e confiscava-lhe a coisa hipotecada. Assim, a pouco e pouco, os seus bens aumentavam. Noventa e nove por cento dos habitantes de Enid ficariam contentes se um dia o corpo de Bishop fosse a enterrar no cemitério à saída do povoado. Temiam-no.
Quando ele passava, saudavam-no com grandes mesuras e sorrisos. Mas, por detrás, amaldiçoavam-no. O'Brien era um indivíduo franzino. De idade já avançada, era baixo e magro, tinha mãos esguias e ossudas e usava óculos com lentes de miopia. Vestia sempre um casaco preto, comprido, e calças de riscas, camisa branca e laço preto. Cobria a cabeça com .um chapéu baixo, diplomata.
Pertenciam-lhe a Agência de diligências, o «saloon» «Estrela Prateada», os «ranchos» «Sorriso» e «Cactus», além de muitos hectares de terreno ainda inculto, a Meia milha do povoado, e tinha quotas nos Caminhos de Perro e no Banco local.
Apesar de tudo isto habitava num quarto sombrio e escuro, no primeiro andar do «saloon» «Estrela Prateada», onde instalava também o seu escritório. O quarto tinha apenas a cama, uma mesa-de-cabeceira, uma mesa grande e um armário. Temendo, talvez, que lhe roubassem alguns documentos de valor, ou até dinheiro, não consentia que fossem lá fazer limpeza.
Seria difícil descobrir onde O'Brien guardava o dinheiro, mas na parede frontal à porta de entrada estava um quadro pendurado, com um retrato de Abraham Lincoln — paradoxo! — e debaixo deste mandara embutir na parede um cofre de ferro. Naquela manhã estava o usurário sentado à mesa de trabalho, repleta de papéis poeirentos, a ler um contrato de hipoteca, quando ouviu bater à porta.
— Quem é?
— Correio! — foi a resposta.
Levantou-se levando na mão o documento que estava a ler e foi abrir. Qual não foi o seu espanto, ao deparar-se-lhe um colossal cesto de flores artificiais, que encobria totalmente o portador.
— Mas que brincadeira é esta? — bradou irado. Não teve tempo de dizer mais nada porque soaram, duas detonações e os projéteis, atravessando as flores, foram-se cravar no corpo de O'Brien, no sítio do coração, e O'Brien Caiu, como saco vazio, sem um grito. O assassino atirou para cima do corpo a cesta com flores e correu pelo corredor.
 

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