terça-feira, 19 de maio de 2015

PAS470. Rezo para que me venhas buscar

Abandonou a taberna. Montou a cavalo e avançou a trote para as montanhas, não sem olhar à sua volta com suma atenção.
Mas ninguém disparou contra ele conforme receava.
Dormiu entre umas acácias no fundo do desfila-deiro. Ao amanhecer entrava plãcidamente nós campos de Templar.
O fazendeiro lavrava uma parcela de terra. O filho cavava noutro sítio, um pouco mais adiante. Abandonaram ambos as respetivas tarefas a que estavam entregues e ficaram a olhar para ele. Quando o reconheceu, Templar praguejou. Mas não foi além disso.
— Bons dias — saudou-o Lester, em voz alta. A resposta foi violenta:
— Fora daqui! Não quero vê-lo nas aninhas terras!
— Porquê? Não lhe fiz nenhum mal, que eu saiba.
— Os inimigos dos meus amigos são meus inimigos. Retire-se... ou obrigá-lo-ei a retirar-se.
— Como quiser. Nunca me irritarei consigo, Templar. Mas vou dizer-lhe uma coisa. Não tardará muito que venha pedir-me desculpas pela sua atitude de agora.
— Isso nunca sucederá. E basta de conversa. Retire -se e não se aproxime da minha casa.
— Pois é o que eu vou fazer. Vou pedir à sua filha um copo de água e cumprimentá-la, evidentemente. Você, Templar, não levantará um dedo para me impedir. Vendo bem as coisas, quando um homem se dispõe entregar a filha como terceira esposa, a quem já tem duas além do amantes públicas e é reconhecido como cobarde e traiçoeiro, não lhe assiste muito direito criticar o comportamento alheio. Não acha, Templar?
Já estava perto de casa e o rancheiro não recuperara a fala.
Ruth apareceu à porta antes -de ele chegar. Estava muito pálida e nus seus olhos havia vestígios de sofrimento. Lester tirou o chapéu, sem se apear.
— Bons dias, Ruth.
— Por que veio aqui?
— Precisava de 'tornar a vê-la. Sabe o que fiz em Vernal noutro dia?
 Ela mordeu os lábios, dizendo que sim com a cabeça. E depois com a voz:
— Sim...
— Não acredite nem metade do que lho contaram'. Nem estava doido nem bêbado. Procedi assim a sangue--frio, deliberadamente. Precisava de pôr Teyson em xeque. Já consegui. Agora espero livrar-me dele dentro de muito pouco tempo. E livrá-la a si.
— Vá-se embora... O meu pai...
— O seu pai tem fartos motivos para se calar e arrepender. Espero que muito em breve o faça ao ver as coisas comi maior clareza. Então, voltarei aqui para a vir buscar, Ruth. E partiremos os dois. I
Ela estremeceu, corando. Estava imensamente nervosa.
— Não diga isso. Eu.,
— Você casará comigo, Ruth. Não lhe posso oferecer muito, mas é meu o que tenho e foi ganho honradamente. Lá para o sul do Colorado os meus pais ficarão loucos de alegria quando eu regressar acompanhado por uma digna mulher, minha esposa.
— Cale-se, por amor de Deus! — soluçou ela, tapando o rosto com as mãos.
— Calo-me, por agora. Até daqui a dias, Ruth. Vai ouvir falar muito de mim dentro de pouco tempo. Coisas terríveis! Não faça caso do que ouvir. Espere e confie em mim. Lembre-se de que a amo, como não amo nesta vida mais ninguém.
Ela não respondeu. Mas ficou a olhar para ele, vendo-o afastar-se, com os olhos rasos de lágrimas. E estava a murmurar uma oração.

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