terça-feira, 5 de maio de 2015

PAS462. Salvaste-me, sou tua escrava...

Os dois homens saíram do escritório, levando, cada um, o seu candeeiro. Despediram-se, no corredor, e Mike Alford entrou no seu quarto. Ao passar pela porta do aposento onde se acolhia «Raio de Luar», James pensou que ela dormiria já a sono solto. Mais adiante ficava o quarto dele. Abriu a porta. Imediatamente levou a mão à coronha do revólver, porquanto, a débil língua de lume iluminava um vulto que se encontrava no seu quarto.
No primeiro momento, Carson pensou que se tratava de um intruso mal-intencionado. Sentiu subir-lhe um rubor a cara, ao verificar que se assustara em vão.
Era «Raio de Luar», que estava ali, sentada na borda da cama, e que se levantara quando ele assomou à porta.
Surpreendido, o «cow-boy» deu alguns passos para ela e inquiriu:
— Que fazes aqui, «Raio de Luar»?
 A índia manteve-se calada. Apenas o seu doce olhar pousado no amigo e a sua atitude de total submissão diziam tudo.
O homem do Arizona estremeceu. Depôs o candeeiro, numa mesa e, lentamente, aproximou-se da jovem e pousou-lhe as mãos nos ombros, que estremeceram, também, ao contacto. Fitaram-se por curtos instantes, até que o olhar da virgem não pôde suportar mais o fogo do olhar masculino. No entanto, manteve a sua atitude submissa., com um sorriso feliz a franzir-lhe os lábios bem desenhados.
James segurou-lhe o queixo, forçando-a a levantar a cabeça. Nunca a achara tão dócil, tão linda, tão tentadora. No entanto, limitou-se a rodear-lhe os ombros com o seu braço forte e encaminhá-la suavemente para a salda.
Passado o ligeiro atordoamento de sentidos, sobrelevara-se nele o homem digno, incapaz de se aproveitar das circunstancias para abusar da candura duma jovem desamparada. Compreendeu que a pele-vermelha, dispusera-se retribuir-lhe todos os carinhos, a defesa da sua vida e os presentes com que ele a tinha brindado cidade, com a única riqueza que guardava em si
— Não voltes aqui — sussurrou-lhe o «cow-boy» -- não deves voltar, compreendes?
— Sou tua escrava — murmurou a jovem nativa. Pertenço-te.
— Não és minha escrava nem me pertences. Somos apenas dois bons e grandes amigos; compreendes? Anda, vai para o teu quarto...
Ela disse que sim com a cabeça. No seu olhar brilhava a chama do reconhecimento — e talvez mais alguma coisa de muito terno que James não quis definir.
— És grande e generoso... Compreendo tudo. Boa noite — proferiu, ela, num murmúrio apaixonado.
Saiu silenciosamente. Se o corredor estivesse deserto, ninguém daria pela passagem..
James sentou-se na cama, e começou a descalçar as botas, disposto a não pensar mais .na adorável companheira. Outros problemas lhe deviam absorver a mente. Todavia, depois de se deitar e apagar a luz, ainda resmungava:
— O diabo da rapariga, hem!...
 

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