terça-feira, 19 de maio de 2015

PAS469. Terceira esposa

A casa de Teyson ficava a meia milha. Viam-se. I uz,éis dentro. A lua tinha-se erguido sobre a meseta e os lobos uivavam ao longe. Lester calçou-se depois de tirar a água das botas e despiu-se para enxugar u pouco a roupa torcendo-a. Tornou a vestir-se e apertou o cinto depois de verificar que, salvo uns borrifos, revólver não se tinha molhado. Lançou-se ao caminho com extrema cautela.
Havia gado à sua direita. Evitou-o, avançando len. Lamente, sem pressas. Parado entre as árvores, manteve-se à escuta durante uns dez minutos, observando o rancho e as respetivas vizinhanças. Lobrigava-se luz em duas janelas da frente. Fora, não parecia haver ninguém.
Avançou como um lobo que vai à caça. Não teve: nenhum mau encontro; nem os esperava. Se Teyson receava a sua visita devia ter posto homens a vigiar entradas do vale, por onde forçosamente viria qualquer intruso.
Passando entre uma arrecadação de feno e a cavalariça, alcançou a zona mais sombria do pátio, e pá ela, ràpidamente, a parede da casa principal. Havia muito falatório lá dentro e Lester lembrou-se de alguns costumes dos marmonistas.
Nem naquele pátio nem noutro qualquer sítio se via ninguém no exterior. Ousadamente aproximou-se uma janela para espreitar.
Viu parte de um amplo compartimento bem mobilado, de paredes caiadas e cobertas com mantas e troféus de caça. A meio, uma mesa comprida; em torno dela sentavam-se vários 'homens e mulheres. Não pôde distinguir Teyson nem os Templars. Mas, pela algazarra, pelas grandes quantidades de bebidas e comidas postas em cima da mesa e pelo ambiente geral da reunião, não lhe restou dúvidas do que se tratava: um banquete d'e casamento...
Sentiu-se invadir pelo desejo louco, pela ânsia febril de entrar naquela sala e matar Teyson como se mata um cão raivoso, sucedesse depois o que sucedesse Mas conseguiu apelar para a serenidade, embora com grande esforço.
E então ficou pasmado ao ver Gary entre os comensais.
Por momentos não quis acreditar nos sentidos. Devia tratar-se apenas de uma alucinação. Tinha desconfiado que o taberneiro viera procurar Teytson na véspera à noite. Mas que permanecesse ali, para tomar parte no banquete, com os Templars, isso já era outra coisa muito diferente.
No entanto era ele. Sem dúvida nenhuma.
Afastou-se cautelosamente da janela, dominando o desejo de ver Ruth. E foi agachar-se ao abrigo da parede, a pensar no que havia ide fazer. Tinha realmente muito em que pensar.
Mais «arde, já depois da meia-noite, a reunião desfez-se. Abriu-se a porta da casa e saíram homens e mulheres, despedindo-se do anfitrião. Da negra sombra das árvores, junto do Ashley, viu Lester partir os convidados, uns a cavalo e outros, a maioria, em carros. Havia uma barcaça amarrada na margem direita do Green River, que levou vários deles para o outro lado, embora o maior número seguisse o caminho de Vernal.
Por fim, tudo ficou em silêncio e apagaram-se as luzes da casa.
Lester podia e devia retirar-se já. Mas alguma coisa o impeliu a manter-se ali. Não sabia o que esperava. Todos estariam a dormir àquelas horas, ou em vésperas disso. Ruth Templar talvez já se tivesse convertido em esposa de Teyson.
Rodeou a casa em, silêncio, às escuras como um cão perdido, sentindo no coração a mais intensa amargura. De súbito pairou ao ouvir o ruído de unia janela que se abria e logo o som de urna voz feminina, sonolenta.
— É melhor que te venhas deitar, mulher.
— Dói-me a cabeça. Quero tomar um pouco de fresco.
Era a voz de Ruth Templar. Tinha um timbre de cansada, o que fez pulsar com maior violência o coração de Lester. E fê-lo também proceder como não faria em circunstâncias normais.
Desencostou-se da parede e passou para um ponto ande a claridade das estrelas desenhava o seu vulto, Olhava diretamente para a janela onde se encontrava a rapariga. E mesmo sem a ver, teve consciência de que ela o tinha reconhecido.
Passou-se um longo minuto. Depois...
— Vou até lá fora um bocado, Myriam — soou, rouca e trémula, a voz de Rufia. — Estou tonta, preciso de aliviar a cabeça. Não posso ainda adormecer.
— Faz o que quiseres. Sabes onde é a cozinha. Mas eu acho que seria melhor deitares-te. É muito tarde.
Fechou-se a janela suavemente. Lester afastou-se devagarinho para a arrecadação do feno. A casa dos criados ficava do lado contrário. Não havia cães soltos. E Ruth ia sair...
Ouviu abrir-se a porta da cozinha. Pouco depois, uma figura furtiva deslizava pelo pátio ao encontro dele, como se soubesse de antemão onde iria descobri-lo.
Dirigiu-se-lhe com impaciência. Ela parou  então.
— Boas noites, Ruth.
A rapariga estava nervosa e agitada.
— Você... você está doido! — havia receio e apreensão na sua voz, que mal excedia um sussurro. — Se descobrirem que se encontra aqui no vale, matam-no!
— E importa-lhe isso muito?
Ela atrapalhou-se.
— Por que veio aqui? Como pôde entrar no vale?
— Dando urna grande volta e vindo pelo Colorado. Nadei para atravessar o Green River. Assim iludi a vigilância das sentinelas colocadas no Ashley. Diga-me só uma coisa: já casou com ele?
— Não... Ainda não...
Lester sentiu um alívio na alma.
Perguntou: •
— Mas então este banquete...?
— É o do noivado. Casaremos... dentro de uma semana.
— Ele tem mais esposas'? Diga-me a verdade.
— Sim... Eu... vou ser a terceira.
— Santo Deus! Gomo pode consentir em tal coisa? É uma aberração! Um disparate inaudito! E tenho a certeza de que você não ama esse patife!
Ela baixou os olhos.
— Não deve falar assim... E eu... eu não posso dizer-lhe nada. Por favor, não me pergunte mais e retire-se antes que o descubram. Peço-lhe...
Não queria que o matassem. E tinha saído, para ír falar com ele. Lester estava a compreender muitas coisas. Falou com voz rouca, pondo-lhe as mãos nos ombros. Ela tinha vestido uma bata sobre a camisa de dormir e trazia os cabelos soltos, caídos pelas costas.
-- Não tenciono retirar-me, Ruth. Quero primeiro dizer-lhe umas coisas. E a principal é que a amo.
Ela abafou um grito.
— Não... Por Deus!
— Sim. Amo-a. E não consentirei que se converta na terceira esposa de um homem desses. Tenho de o matar, já lhe disse.
 A rapariga abanou a cabeça negativamente, com nervosismo.
— Não, não o fará... se realmente me tem amor... não o fará.
Ele estranhou.
— Porquê, Ruth? Que significa ele para si?
— Eu... quero ser a terceira esposa dele.
 Lester largou-a, contemplando-a depois com ar incrédulo.
— Você... quer casar com Teyson?
— Sim... Eu... –
— Melmo 'sabendo que não passa de um canalhq? Não é possível! Ouça, Ruth: não a acredito. E se acreditasse, era de endoidecer! Você... a terceira esposa de Judah Teyson...
— Ele... é o nosso bispo... E um grande amigo de meu pai.
— São essas as razões? Para mim, não. Repito-lhe que não pode fazer asso. Eu amo-a, e não consentirei tal coisa. Nunca!
— Por favor...
Mas não opôs resistência quando Lester a apertou contra o peito e a beijou nos lábios com sofreguidão. Ficou vencida, abraçada a ele. Depois, começou a chorar.
Então Lester largou-a, arrependido do seu arrebatamento.
— Perdoe-me, Ruh. Mas eu estou como louco. E não chore…
A rapariga murmurou:
— Vá-se embora. Vá-se embora... e não volte.
Fez menção de se retirar, mas ficou. Lester insistiu.
— Ouça, Ruth. Isto não pode ser assim. Hei-de encontrar um processo para o impedir. Você também gosta de mim tomo acaba de o demonstrar.
Ruth suplicou:
— Por misericórdia...
— Acaba de mo provar e não estou disposto a manter-me de braços cruzados, asiistindo ao seu mais do absurdo sacrifício. Teysan é indigno sequer de viver. Tem amantes, como aquela pobre rapariga do «Rest», paga a assassinos para que o livrem dos seus inimigos mais perigosos. Não, você não pode casar com ele. Agora me lembro de outra coisa: que fazia aqui na festa o taberneiro Gary, da Encruzilhada de Benson? Ele não é mormonista...
Ruth ergueu o rosto, com assombro.
— Que diz? Elijah Gary é nosso... bem, é um d nossos principais religiosos quanto ao cargo que exerce. É a única pessoa decente que existe na Encruzilhada de Benson.

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