sexta-feira, 15 de maio de 2015

PAS466. Primeiro beijo

Joel voltou-se. Estava a fumar sob o alpendre da vivenda dos Colman e a tarde aprazível de domingo, sem reses a pastar nos campos e sem os gritos caraterísticos dos vaqueiros apascentando o gado, oferecia-se de uma bucólica e repousante serenidade.
O movimento do jovem devia-se ao facto de Cynthia ter aparecido na porta de casa. Já não vestia o seu perturbante traje vermelho-escuro, mas sim um fato de montar, com uma blusa que lhe modelava o busto e a cintura, saia curta e bota alta, num conjunto suscetível de realçar os encantos do seu delicado corpo juvenil, um tanto agressivo na sua pujante beleza.
Os dois jovens contemplaram-se em silêncio durante algum tempo. Ambos pareciam dominados pela calma silenciosa que os cercava. E foi ela quem quebrou esse silêncio para proferir, numa voz profunda e grave:
— Joel, desde que você voltou a Lander, meu pai parece outro homem.
— Na verdade, acha que é assim? — perguntou Rose, sorrindo. — Para mim, ele é sempre o mesmo: combativo, duro e disposto a tudo. Não me parece que ele se tenha modificado em nada.
— Pois está enganado. Antigamente, ele perguntava-me constantemente se seria capaz de se manter no seu posto, lutando contra o impossível. Agora, emiti certo de si mesmo, de que se alguma coisa acontecer você o suprirá sem dificuldade e de que será capaz de concluir o que ele deixar em meio.
— Ele sempre acreditou em mim mais do que nele próprio. E com isso quase conseguiu o milagre (pie eu não esperava: convencer-me de que, realmente, posso ainda refazer a minha vida depois do que se passou em Tennessee.
— Disso estou eu também convencida — disse ela, aproximando-se mais de Joel. — Não precisei mais do que vê-lo naquela noite em frente de Wilburn para compreender que Joel Rose não é homem para retrair-se ante qualquer dificuldade ou recuar na iminência do perigo.
— Não esteja tão certa disso — gracejou Joel. Sou humano. E posso ter medo, hesitar, retroceder até em determinadas emergências, como qualquer outro homem.
— Você não é «qualquer outro homem», Rose.
Na frente de Joel, Cynthia olhava-o fixamente, com estranha intensidade.
— Porquê?
— Porque não pode ser. Sei-o, pressinto-o... Desde o primeiro dia que o vi, convenci-me de que você era diferente dos outros... E não me pergunte porquê, nem em que consiste exatamente essa diferença, pois não saberia responder-lhe...
— Talvez porque você também seja diferente das outras mulheres...
— Em quê? — perguntou ela, num sussurro.
Tinha os lábios entreabertos, tentadores. E os olhos semicerrados, perturbantes. As delicadas narinas dilatavam-se sob o impulso de uma respiração emocionada, a traduzir um incontível alvoroço íntimo.
— Não sei... Sei apenas que é a filha de Dan Colman. Se o não fosse...
— Que faria?
— Beijá-la-ia neste mesmo instante nos lábios, Cynthia. Apertá-la-ia nos meus braços e...
— E o facto de ser quem sou vai constituir um obstáculo, Joel?
Na verdade, não foi. Cynthia aproximara-se tanto que ele não teve dificuldade em cumprir a sua ameaça…

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