-- Al, tira a carreta. Vou com vocês.
Desmond não disse nada, limitou-se a montar, partindo a trote para a linha divisória de Big Valley com o rancho de Elmer Reed. Desmontou para acender um cigarro, como um viajante fazendo uma paragem agradável, em contemplação da paisagem à primeira luz do alvorecer. Viu aproximar-se a carreta conduzida por Al Rosen, a cujo lado, a tia Brenda se mantinha direita, com o seu aspeto de coruja sábia.
Voltou a montar, e duas horas depois, detinha-se diante da pedra com o martelo gravado, que Duncan Hunter ali tinha colocado em sinal de propriedade. Foi tirando parte da terra em torno da base. Endireitando-se, voltou a olhar fixamente a grande tabuleta: «Três Fontes Proibida a passagem».
Agarrou o poste, dando-lhe fortes sacudidelas, até que conseguiu desenterrá-lo, atirando a tabuleta ao chão. Esgrimindo o grande alicate cortador, aproximou-se de vedação. Da carreta, Brenda Hunter reprovou, suavemente:
— Não devias fazer isso, Desmond.
— Talvez não. Há muitas coisas que um homem não deveria fazer, mas que ao realizá-las o fazem sentir-se muito melhor.
Cortou o arame farpado superior, que vibrou como a corda de um violino. Depois do golpe, saltou para trás para evitar a chicotada do arame. Repetiu o golpe, no segundo, nó terceiro e no último arame. Em seguida voltou a deter-se diante da enorme pedra de cento e vinte quilos. Abriu as pernas, e encostou o ombro à pedra. Dobrou os joelhos e começou a empurrar. Depois, voltando-se abraçou a pedra. Sentia o sangue juntar-se nas suas fontes devido ao esforço. A camisa rasgou-se nos ombros.
-- Deixa-a, Desmond -- gritou Brenda. — Vais ficar derreado... quando Duncan enterrou essa pedra, levantou-a do carro... Não e levantou estando enterrada no chão.
Crispando os maxilares, Desmond Hunter empurrou para uni liado COM todas as suas forças. Os seus músculos já estavam endurecidos pelas três semanas de lenhador. A pedra emitiu um sussurro, e ele sentiu-a elevar-se num dos lados. As suas botas afundaram-se quase até aos tornozelos no terreno mole. Os seus olhos enevoaram-se com um véu sanguinolento. Deu um novo empurrão, e a pedra saiu da terra. Segurou-a contra o peito.
-- Já chega, Desmond! — gritou Prenda, angustiada.
Ele negou com a cabeça, e deu um passo, logo outro, abraçado à pedra. Por fim inclinou-se para deixar a pedra em pé, dois metros mais além. O suor banhava todo o seu corpo, e os seus pulmões pareciam prestes a rebentar. Lentamente, a nuvem de sangue desapareceu dos seus olhos.
Viu Brenda Hunter olhá-lo com orgulho:
-- És um louco, filho. Um magnífico louco.
Entrecortadamente, resfolgando de fadiga, Desmond afirmou:
-- Esta terra é nossa, e foi ganha palmo a palmo. Assim há-de continuar a ser. Nossa, palmo a palmo.
Cambaleando, dirigiu-se para agarrar no bidão da gasolina, despejando a gasolina sobre a tabuleta, o poste, e a estaca dos arames cortados. Al Rosen, com os olhos brilhantes, comentou:
-- Esse trabalho não o perco, patrão. Já fizeste a tarefa mais dura... Deixa-me acabar com o resto.
E pegando no alicate, o ex-ajudante do sheriff correu para as outras vedações, começando a cortar com deleite. Brenda Hunter, aproximando-se de Desmond, poisou a sua mão esquerda no ombro do sobrinho:
-- Tenho vivido à espera deste momento, filho. Benvindo sejas ao teu lar, Desmond Hunter.
(Coleção Califórnia, nº 3)
Sem comentários:
Enviar um comentário