Em Hulda City todos se aperceberam de que o chefe daquela expedição de índios era Lester Daley. Assim, quando já todos estavam convencidos de que só ele, e unicamente ele, podia ser a cabeça diretriz de tantos factos, Lester deixou de apresentar-se com a cara pintada. Assaltava de rosto descoberto qualquer comboio. Podia este marchar com as máximas precauções, apetrechada até ao exagera. Lester encontrava sempre ocasião de arranjar uma finta que obrigasse os da caravana a tomarem uma direção falsa; então, como se surgisse da terra, aparecia o grosso do bando. E, com rapidez inconcebível, provocavam a debandada, incendiavam os carros depois de os terem saqueado de tudo quanto pudesse interessar-lhes. Os homens que não haviam perecido na luta ou ficavam feridos, marcava-os com a garra do jaguar. Ao sobrevivente de maior categoria, entregava uma garra.
— Para Fadner...
Se o comboio procedia do Sul, Lester acentuava em tom sarcástico:
— Para o juiz Reddish...
Uma hora mais tarde, a região era batida em, todas as direções, procurando o «Jaguar» e os selvagens que o seguiam. Mas apenas encontraram o rasto que os conduzia para Oeste, para a terra de ninguém.
Tão-pouco puderam saber que sorte correra o falido colono Whitten. O que sabiam ao certo é que no rancho não se encontrava, nem nos arredores. Ficaram na dúvida se o «Jaguar» o teria fulminado ou se o levara para o proteger das represálias que seguramente desencadearia Johnny Redish.
Este, depois de ter mandado explorar a região de um extremo a outro, sabendo-se observado por todos os colonos, e especialmente pela filha de Fadner, começou a tomar posse do rancho de Whitten.
Uma equipa de homens inexperientes em trabalhos agrícolas, mas muito práticos no manejo das armas, situou-se no rancho. Decorreram os dias...
E uma noite, da povoação, avistaram-se enormes fogueiras que tingiam de ouro e vermelho uma grande parte do horizonte. Ardiam os palheiros, os estábulos, as pastagens secas, a casa...
— É no rancho de Whitten!...
-- Era de esperar!
— O «Jaguar» tomou-o por sua conta...
Na população ia-se fixando pouco a pouco a ideia de que tudo o que o «Jaguar» quisesse, tudo conseguiria...
Ao nascer do dia chegaram a Hulda City dois indivíduos que haviam sobrevivido ao feroz assalto do rancho. Ambos estavam assinalados pela garra do jaguar. E um deles, ao ver o juiz Reddish e querendo entregar-lhe a garra, como a levava no coldre vazio, ao levar a mão à retaguarda, não se soube bem como Reddish interpretou o movimento. Talvez julgasse que o indivíduo ia puxar da arma para o agredir. O certo é que Johnny se pôs a disparar contra ele, que até aquele momento fora um dos seus mais incondicionais subordinados. E o indivíduo caiu de costas, mostrando os arranhões do peito e tendo na mão crispada o membro mutilado do jaguar...
Este facto foi presenciado por muita gente. Ninguém disse nada. Mas todos começaram a perceber que o juiz, mantendo até àquele dia uma atitude de jactância, começava a perder os nervos.
Naquela noite, em casa de Fadner, as conversas desenvolveram-se em tom mais baixo e com um silêncio mais prolongado que de costume.
Sucedia isto num dos dias em que precisamente Johnny estava apertando o cerco em torno de Hulda. A jovem, a princípio, alentava-o, suportando com incitador sorriso o assédio a que a submetiam.
Mas, naquela noite, Johnny teve uma amarga surpresa, que encheu a sua alma de ódio pela rapariga.
-- Mas, Johnny, como pôde o senhor pensar?...-
(Coleção Bisonte, nº 62)
Sem comentários:
Enviar um comentário