sábado, 10 de agosto de 2013

PAS045. Amor e guerra na noite selvagem

Por cima deles estavam as estrelas e o irónico sorriso da lua e á sua volta os lobos e coiotes em cio, uivando os seus amores. E os veados também…
E o arroio que parecia murmurar-lhes maravilhosas e perturbadoras histórias. E o aceno buliçoso das pequenas chamas da fogueira…
Os seus olhares ficaram presos quando ele levantou os olhos. Nenhum deles falou…
Por vezes, as palavras são supérfluas. Ao cabo de um pedaço de tempo que não puderam precisar, o rosto da rapariga incendiou-se de rubor e fez um gesto para se levantar, balbuciando baixo e tremente:
- Devemos partir…
- Sim…
Ele já estava em pé, sem deixar de a olhar, antes que ela o fizesse. Alongou a mão direita para a ajudar a levantar-se. O braço são da rapariga tremia, tremiam os seus lábios carnudos… mas as suas pupilas formosas estavam cheias de luz e ansiedade.
De súbito, qualquer coisa pareceu partir-se dentro de si e abateu-se sobre o peito varonil, sacudindo-se em soluços espasmódicos e cravando, inconscientemente, os dedos da sua mão sã no flanco de Kendall. Inconscientemente também ele abriu os braços e abraçou-a num gesto carinhoso e protetor.
Depois, enquanto a cara da jovem se afundava no seu ombro regando-lhe o peito de lágrimas quentes, inclinou a cara, levantou a mão direita, acariciou o cabelo sedoso, enredando os dedos nele e depôs um beijo tímido e suave sobre a cabecita adorada. Jeff Kendall tinha encontrado o seu caminho, a sua bandeira e a sua fé.
Em cima, nas colinas, uma loba, em cio, uivou à lua. Não muito longe dali, dois veados entrecruzavam os chifres em luta feroz pela posse de uma fêmea, que os contemplava, imóvel, um pouco mais para lá. O amor e a guerra reinavam por toda a parte, na noite selvagem… tanto para homens como para animais. E a morte estava acima de tudo.
(Coleção Arizona, nº 13)
 
A seguir: Uma dádiva de Deus

Sem comentários:

Enviar um comentário