quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PAS034. Noite sem Luar

Mais além da empinada encosta com que terminava a rua principal de Butler Town, existiam campos silenciosos. Na noite sem Lua, todos os seus perfis pareciam sinistros e carregados de ameaças. Nenhum rumor chegava até à cidade vindo das pradarias que a circundavam, e nas casas e currais isolados não se notava o menor indício de vida.
Só num deles havia uma débil luz, mas era preciso aproximar-se muito para a ver. Tratava-se de um coto de vela que se esgotou rapidamente.
A mulher, ao ver-se envolta em trevas, começou a soluçar.
- Não te inquietes. Quando aparecer a Lua verás tão bem como se fosse de dia. Agora, fecha os olhos. Fecha os olhos e apoia a cabeça nos meus braços. Assim. Quieta.
A voz do homem era suave e tranquila, mas em cada uma das inflexões acusava uma imensa fadiga.
A mulher serenou-se. Fechou os olhos e esforçou-se por esquecer tudo. Mas a sua testa ardia e cada uma das suas lágrimas resvalava pelos braços do homem.
- Ardes em febre, Judite. Queres que te abrigue com a manta?
- Não. Isto passa.
Por um instante, ouve um brilho de esperança nos olhos da mulher. Mas o homem, na obscuridade, não o pôde notar.
- Sim, durará muito pouco. Assim que a Lua assomar, sairei daqui.
Um golpe de vento fez que chegasse até ambos, mais intenso que nunca, o odor fresco da palha. As madeiras do celeiro em que se ocultavam vibraram, produzindo um ruído fantástico, como se algo de misterioso, ameaçador, atravessasse as suas juntas.
(Coleção Búfalo, nº 19)

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