sábado, 3 de agosto de 2013

PAS039. Esther, a bêbeda

Naquela noite, Esther, «a bêbeda», encontrava-se no bar «Os três sois», sentada a uma mesa e bebendo. Era esse o seu hábito e ninguém estranhava, embora um ou outro lhe dirigisse o seu dichote, mais ou menos pesado. Ela umas vezes aceitava-os com uma risada, outras, repelia-os com indignação, conforme o estado de espírito ou os copos de whisky ingeridos ou ainda a simpatia pelo brincalhão.
Era uma mulher curiosa, esta Esther. Na sua juventude, fora artista de «cabaret». Mais formiga que cigarra, amealhou tudo quanto pôde. E, quando se encontrou em declínio, comprou um rancho nas imediações do rio Redwood, arrendou-o em boas condições e instalou-se numa casita em Kneeland, dedicando-se a viver a sua vida como melhor lhe apetecia. O «viver a sua vida» consistia em dar largos passeios a cavalo, sozinha, embora quase sempre tivesse guarda-costas a soldo, embriagar-se todos os dias, frequentar os bares como um homem, dizer as verdades cara a cara sem medo de ferir suscetibilidades e rir-se de alguns galãs que lhe apareciam de quando em quando atraídos pela sua beleza e pela sua bolsa que supunham recheada. Esther divertia-se com eles, mantendo-os à distância não os deixando nunca ultrapassar as conveniências. Muito boa era, consentindo algumas brincadeiras. Esqueciam-se da experiência que ela adquirira em longos anos de luta pela vida.
Não obstante, possuía um coração sensível… e feriram-lho. Aborrecia-a pensar em tais «incidentes». Sempre que deles se recordava pedia um Whisky duplo.
Naquela noite, farta de ouvir falar sobre o mesmo assunto, perguntou com um berro:
- Querem estar calados ou mudar de assunto? Que caturras! Só sabem falar no mesmo!
Um protesto daqueles, quando toda a gente considerava o caso como o mais importante da ocasião, emudeceu a assistência, reagindo cada qual À sua maneira.
- Por favor, Esther, não se aborreça!
- Então o assunto não lhe interessa?
- Não façam caso!
Hilary Tarento, sentado perto com vários amigos, repetiu a frase de um vaqueiro:
- Não façam caso! – e acrescentou: - Está bêbeda.
Esther fuzilou-o com o olhar.
- É possível que esteja, mas não bastante, que a língua desentorpecida não possa ainda chamar-lhe carneiro!
Em volta soaram risos. Hilary fez menção de se levantar, mas os amigos impediram-no. Esther nâo esboçou o mais leve receio. Com desprezo, bebeu outro copo.

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