As esporas tilintaram na escuridão e Went soltou uma praga.
— Tira-as, imbecil, ou enforcar-nos-ão a todos!
O aludido resmungou e abaixou-se para tirar as esporas. Os três homens estavam encostados a uma das fachadas da rua principal, próximo do «saloon» de Mabel, e deslizaram sem se mostrarem, procurando chegar ao hotel onde sabiam encontrar-se Ken Adams.
Uns momentos depois, os três homens continuaram a avançar, examinando o terreno com todas as precauções, antes de darem um passo que fosse. De vez em quando escondiam-se na sombra, quando ouviam passos de algum noctívago. Por fim encontraram-se diante do hotel e detiveram para ultimar os detalhes.
— Só matando-o, voltaremos a ter a confiança do chefe — manifestou Went.
— Não creio que isso seja difícil — disse o das esporas.
— Não?! Digo-te que é um diabo, e se pensas o contrário, ver-te-ás com a cabeça cheia de chumbo.
— Tenho vontade de vê-lo na minha frente para partir-lhe os ossos.
Ray Went deu uma cotovelada ao que falava, fazendo-o calar. Alguém se aproximava com passos pesados pelo alpendre do lado oposto. Os três homens seguiram aquela sombra, que avançava sem ocultar-se, e depois viram como atravessava a rua dirigindo-se em linha recta ao hotel. Agora, os seus passos abafavam-se no pó da calçada, mas a sua figura tornou-se mais visível. Quando já estava próximo da porta a luz iluminou-lhe o rosto.
— É ele! — murmurou Went. — Uma boa ocasião para condenar o juiz — brincou fanfarrão. — O diabo o pôs no nosso caminho.
A mão do ex-xerife começou a curvar-se sobre o seu «Colt» e os outros imitaram-no. Só então escutaram outros passos apressados. Uma figura cintilante cruzava a rua com graciosos movimentos.
— Ken! — chamou a rapariga.
Went, do seu canto, mordeu as palavras:
— É Eva Fraser... É trabalho completo!
O juiz voltou-se ao escutar a chamada, oferecendo o peito ao assassino.
Estes viram até os botões da camisa que o jovem trazia, dada a curta distância que os separava. Eva reuniu-se ao juiz.
— Que se passa, pequena? — perguntou o jovem magistrado.
A sua voz grave e bem timbrada chegou clara até aos ouvidos dos pistoleiros.
— Queria... queria... falar consigo — disse Eva, com a respiração agitada e estremecendo debaixo da intensidade do olhar masculino.
— Já o estás fazendo — e sorriu. — Que grave assunto vens confiar-me?
— Eu... não obtive ainda o seu perdão.
— Perdão? — riu. — De que falas, Eva?
— Não me portei bem e disse grosserias e...
— Esquece-o. Estás perdoada por completo, se é que em alguma coisa me ofendeste.
Eva sacudiu os doirados cabelos.
— Não era assim que esperava ser perdoada, Ken.
— Não?! Como o querias?
Eva tinha as faces incendiadas pelo rubor, mas decidiu-se. Pôs-se em bicos de pés, lançou os braços ao pescoço masculino e abraçou-o. Ao mesmo tempo, seus lábios encontraram os de Ken que os beijaram com ânsia e frenesim. Foi um beijo longo que surpreendeu o rapaz.
Depois, pouco a pouco, perturbado pelo corpo feminino, cingiu também os seus braços em volta do corpo da jovem, enlaçando-a. Era como a melhor aventura da sua vida. Nos ouvidos parecia sentir o zumbido de mil violinos.
— Eva... — murmurou, quando conseguiu respirar.
— Ken, amo-te.
Era uma declaração tão espontânea que merecia outro beijo. Went, no seu canto, disse:
— É agora a ocasião.
Na excitação levantou a voz mais do que devia. E os violinos que Ken ouvia, calaram-se de repente. Atuou com rapidez pressentindo a violência, e arrojou a jovem para o lado. Esta caiu no chão com um gemido, entre um restolhar de saias.
Ken agachou-se, e na sua mão apareceu um «Colt». Começou a disparar com raiva para o lugar donde pressentia que vinha o perigo.
Went e os seus companheiros fizeram fogo por sua vez, mas Ken já não estava no lugar para onde eles dirigiam o fogo. Em troca, as balas do jovem alcançaram os seus inimigos. O primeiro a ser atingido foi o que tinha fanfarronado, como um castigo. A bala entrou--lhe por debaixo do queixo e destroçou-lhe a cabeça.
O seu companheiro sentiu a brasa da morte no peito, por onde lhe saia a vida. Went foi o único que saiu ileso. O próprio medo o salvou das balas de Ken. Agachado, começou a recuar com ansiedade.
Ken deixou de premir o gatilho ao ver que os revólveres dos seus inimigos se tinham calado definitivamente. Moveu-se um pouco no chão e ao verificar que não disparavam, correu para o lugar onde tinha caído Eva.
— Estás bem, pequena? — murmurou, sem esquecer ainda o sabor dos lábios dela.
— Oh, Ken...
Pegou-lhe nos braços, levantando-a. Ao estampido dos tiros tinham saído pessoas do hotel que, ao reconhecer o juiz, acudiram pressurosos.
— Feriram-no, senhor Adams?
— Não tiveram essa sorte.
— E a senhorita, está bem?
— Encontra-se bem, obrigado. Necessita só de um pouco de «whisky» para reanimar.
— Não é necessário, Ken. Estou bem.
Um criado vinha a correr da esquina onde estavam estendidos os pistoleiros.
— Matou-os com um só tiro a cada um, senhor Juiz.
A notícia não o deixou muito feliz, mas contribuiu para que a sua fama aumentasse. Eva olhou-o nos olhos.
— Será preferível que regresse ao «saloon», Ken.
— Não deves voltar ali. Pelo menos, se é verdade o que disseste.
— É sim; mas não devemos estar juntos.
— Aquele não é o lugar mais adequado...
— Mabel sabe cuidar de mim. Ela foi a autora de tudo isto... É muito boa e viverei com ela, sem sair do «saloon».
— Escuta, querida... Sou um homem que gosta de proteger a mulher que ama e...
— A teu lado não tenho agora muita proteção. Lembra-te do que acaba de suceder.
Ken compreendeu as razões da jovem.
— Acompanho-te.
— Não é preciso, e estás cansado. Precisas de descansar para estares amanhã na posse das tuas forças.
— Sempre queres levar a tua avante. Pelo menos quero que alguém te acompanhe. —Chamou um criado e disse-lhe: — Acompanha a senhorita até ao «saloon» de Mabel... e defende-a, se preciso for.
Afastaram-se depois para se despedirem de novo. Ken entrou no hotel e imediatamente subiu ao seu quarto, sem fazer caso das pessoas que conversavam sobre o caso dos tiros.
Entretanto Eva, acompanhada pelo criado dirigia-se para o «saloon». Recordava as palavras de Ken e, sobretudo, as suas carícias interrompidas pelos tiros. Como já estavam próximos da casa de Mabel, Eva disse:
— Pode regressar, se o deseja. Estou em casa.
— Muito obrigado, menina... e descanse.
— Tira-as, imbecil, ou enforcar-nos-ão a todos!
O aludido resmungou e abaixou-se para tirar as esporas. Os três homens estavam encostados a uma das fachadas da rua principal, próximo do «saloon» de Mabel, e deslizaram sem se mostrarem, procurando chegar ao hotel onde sabiam encontrar-se Ken Adams.
Uns momentos depois, os três homens continuaram a avançar, examinando o terreno com todas as precauções, antes de darem um passo que fosse. De vez em quando escondiam-se na sombra, quando ouviam passos de algum noctívago. Por fim encontraram-se diante do hotel e detiveram para ultimar os detalhes.
— Só matando-o, voltaremos a ter a confiança do chefe — manifestou Went.
— Não creio que isso seja difícil — disse o das esporas.
— Não?! Digo-te que é um diabo, e se pensas o contrário, ver-te-ás com a cabeça cheia de chumbo.
— Tenho vontade de vê-lo na minha frente para partir-lhe os ossos.
Ray Went deu uma cotovelada ao que falava, fazendo-o calar. Alguém se aproximava com passos pesados pelo alpendre do lado oposto. Os três homens seguiram aquela sombra, que avançava sem ocultar-se, e depois viram como atravessava a rua dirigindo-se em linha recta ao hotel. Agora, os seus passos abafavam-se no pó da calçada, mas a sua figura tornou-se mais visível. Quando já estava próximo da porta a luz iluminou-lhe o rosto.
— É ele! — murmurou Went. — Uma boa ocasião para condenar o juiz — brincou fanfarrão. — O diabo o pôs no nosso caminho.
A mão do ex-xerife começou a curvar-se sobre o seu «Colt» e os outros imitaram-no. Só então escutaram outros passos apressados. Uma figura cintilante cruzava a rua com graciosos movimentos.
— Ken! — chamou a rapariga.
Went, do seu canto, mordeu as palavras:
— É Eva Fraser... É trabalho completo!
O juiz voltou-se ao escutar a chamada, oferecendo o peito ao assassino.
Estes viram até os botões da camisa que o jovem trazia, dada a curta distância que os separava. Eva reuniu-se ao juiz.
— Que se passa, pequena? — perguntou o jovem magistrado.
A sua voz grave e bem timbrada chegou clara até aos ouvidos dos pistoleiros.
— Queria... queria... falar consigo — disse Eva, com a respiração agitada e estremecendo debaixo da intensidade do olhar masculino.
— Já o estás fazendo — e sorriu. — Que grave assunto vens confiar-me?
— Eu... não obtive ainda o seu perdão.
— Perdão? — riu. — De que falas, Eva?
— Não me portei bem e disse grosserias e...
— Esquece-o. Estás perdoada por completo, se é que em alguma coisa me ofendeste.
Eva sacudiu os doirados cabelos.
— Não era assim que esperava ser perdoada, Ken.
— Não?! Como o querias?
Eva tinha as faces incendiadas pelo rubor, mas decidiu-se. Pôs-se em bicos de pés, lançou os braços ao pescoço masculino e abraçou-o. Ao mesmo tempo, seus lábios encontraram os de Ken que os beijaram com ânsia e frenesim. Foi um beijo longo que surpreendeu o rapaz.
Depois, pouco a pouco, perturbado pelo corpo feminino, cingiu também os seus braços em volta do corpo da jovem, enlaçando-a. Era como a melhor aventura da sua vida. Nos ouvidos parecia sentir o zumbido de mil violinos.
— Eva... — murmurou, quando conseguiu respirar.
— Ken, amo-te.
Era uma declaração tão espontânea que merecia outro beijo. Went, no seu canto, disse:
— É agora a ocasião.
Na excitação levantou a voz mais do que devia. E os violinos que Ken ouvia, calaram-se de repente. Atuou com rapidez pressentindo a violência, e arrojou a jovem para o lado. Esta caiu no chão com um gemido, entre um restolhar de saias.
Ken agachou-se, e na sua mão apareceu um «Colt». Começou a disparar com raiva para o lugar donde pressentia que vinha o perigo.
Went e os seus companheiros fizeram fogo por sua vez, mas Ken já não estava no lugar para onde eles dirigiam o fogo. Em troca, as balas do jovem alcançaram os seus inimigos. O primeiro a ser atingido foi o que tinha fanfarronado, como um castigo. A bala entrou--lhe por debaixo do queixo e destroçou-lhe a cabeça.
O seu companheiro sentiu a brasa da morte no peito, por onde lhe saia a vida. Went foi o único que saiu ileso. O próprio medo o salvou das balas de Ken. Agachado, começou a recuar com ansiedade.
Ken deixou de premir o gatilho ao ver que os revólveres dos seus inimigos se tinham calado definitivamente. Moveu-se um pouco no chão e ao verificar que não disparavam, correu para o lugar onde tinha caído Eva.
— Estás bem, pequena? — murmurou, sem esquecer ainda o sabor dos lábios dela.
— Oh, Ken...
Pegou-lhe nos braços, levantando-a. Ao estampido dos tiros tinham saído pessoas do hotel que, ao reconhecer o juiz, acudiram pressurosos.
— Feriram-no, senhor Adams?
— Não tiveram essa sorte.
— E a senhorita, está bem?
— Encontra-se bem, obrigado. Necessita só de um pouco de «whisky» para reanimar.
— Não é necessário, Ken. Estou bem.
Um criado vinha a correr da esquina onde estavam estendidos os pistoleiros.
— Matou-os com um só tiro a cada um, senhor Juiz.
A notícia não o deixou muito feliz, mas contribuiu para que a sua fama aumentasse. Eva olhou-o nos olhos.
— Será preferível que regresse ao «saloon», Ken.
— Não deves voltar ali. Pelo menos, se é verdade o que disseste.
— É sim; mas não devemos estar juntos.
— Aquele não é o lugar mais adequado...
— Mabel sabe cuidar de mim. Ela foi a autora de tudo isto... É muito boa e viverei com ela, sem sair do «saloon».
— Escuta, querida... Sou um homem que gosta de proteger a mulher que ama e...
— A teu lado não tenho agora muita proteção. Lembra-te do que acaba de suceder.
Ken compreendeu as razões da jovem.
— Acompanho-te.
— Não é preciso, e estás cansado. Precisas de descansar para estares amanhã na posse das tuas forças.
— Sempre queres levar a tua avante. Pelo menos quero que alguém te acompanhe. —Chamou um criado e disse-lhe: — Acompanha a senhorita até ao «saloon» de Mabel... e defende-a, se preciso for.
Afastaram-se depois para se despedirem de novo. Ken entrou no hotel e imediatamente subiu ao seu quarto, sem fazer caso das pessoas que conversavam sobre o caso dos tiros.
Entretanto Eva, acompanhada pelo criado dirigia-se para o «saloon». Recordava as palavras de Ken e, sobretudo, as suas carícias interrompidas pelos tiros. Como já estavam próximos da casa de Mabel, Eva disse:
— Pode regressar, se o deseja. Estou em casa.
— Muito obrigado, menina... e descanse.
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