terça-feira, 7 de janeiro de 2020

KNS049.05 Emboscada falhada

Melvin Patton abriu a boca, e naquele momento a porta do salão abriu-se, dando passagem a um Percy Craig excitado e suado.
— Esteve no meu rancho! — exclamou.
O rancheiro apertou uma mão na outra e olhou os homens ali reunidos. Craig apresentava umas feições de púrpura; o xerife Keller estava encostado a uma das paredes, com os polegares no cinto; Clem Yorkers, passeava pela boca, uma bola de tabaco, enquanto o seu olhar pálido parecia sem vida; e o ex-xerife Ray Went mordia os lábios.
— Todos com lamentações e nenhum decidido a partir-lhe a cara — gritou Patton.
Craig balbuciou:
— Adivinhou o lugar por onde introduzi-mos as reses no Arizona — tragou a saliva e acrescentou: — Ele e o maldito rancheiro mexicano, com um grupo de peões, entraram no meu rancho pelo rio, seguindo as marcas das vacas roubadas.
— Não seja imbecil, Craig. Não há tais marcas.
O alcaide estremeceu.
— Quis dizer que iam por bom caminho e que...
— Não há provas, Craig — cortou seco, Patton. — Meta isto na cabeça: não há provas, a não ser que você lhas dê.
Craig estremeceu de novo.
— Como pode dizer isso? O meu pescoço também está em jogo.
— Alegro-me que se lembre. Todos temos o nosso pescoço ameaçado, e talvez seja você o que possui maior responsabilidade. Cuide de tudo e, sobretudo, cuide da sua língua. — Um silêncio espesso reinou na sala. As finas botas de Patton gemeram ao mover-se em direção do armário, de onde tirou uma garrafa de «whisky» e um copo. Bebeu sem sequer convidar os demais, e voltando-se, acrescentou — Disse-lhes muitas vezes: há que matar esse intrometido Juiz.
— Quem tem de o fazer? — Era Yorkers quem tinha falado, deixando a sua tarefa de mascar o tabaco. — Há alguém que tenha alguma ideia?
Ninguém respondeu e Patton cabeceou.
— Já o imaginava. Tenho sempre de ser eu a pensar em tudo.
— Você é o chefe — lembrou Keller.
— Bem. Tenho uma ideia que dará resultado... se vocês tiverem unhas para a cumprir.
Went disse:
— Conte connosco.
— Cala o bico, imbecil. Têm ainda o atrevimento de falar?
O ex-xerife torceu o nariz, mas calou-se, enquanto o seu olhar se incendiava.
— Você vai visitar o nosso Juiz, Craig. Visitá-lo-á esta mesma tarde e contar-lhe-á umas quantas coisas de mim.
O alcaide esticou o pescoço.
— Quê...?
— Ouviu muito bem. Dir-lhe-á que sou um foragido, por exemplo — e mostrou os dentes amarelos. — E também...
Avançou dois passos e os demais imitaram--no, indo ao seu encontro. Patton não teve necessidade de levantar a voz para instruir os seus homens.
***
Ken meteu a mão no bolso e fez tilintar algumas moedas. Levava a chave do seu quarto na mão, e a cabeça repleta de reflexões.
— Juiz...
Voltou-se, no corredor debilmente iluminado do hotel, e a sua mão introduziu-se no sovaco esquerdo. Era Percy Craig, que aparecia de uma esquina do corredor.
— Chamou-me, alcaide?
A primeira autoridade de Tombstone aproximou-se.
— Queria falar-lhe, Juiz.
— Venha ao meu quarto.
Olhou para todos os lados, certificando-se de que não havia ninguém emboscado, e abriu a porta do quarto. Craig entrou, torcendo as mãos, com nervosismo.
— Sou todo ouvidos, Craig.
— Trata-se da sua visita ao meu rancho, esta manhã.
— Sim?!
— Portei-me... incorretamente, eu sei. Mas tinha medo.
— Medo?
— De Melvin Patton, sim.
— Por fim oiço esse nome numa acusação direta.
— Não posso acusá-lo de nada, porque nada sei, Juiz. Mas estou convencido de que é ele o cérebro que dirige os roubos.
— Não pode dar-me melhores provas?
— Não — e sacudiu a cabeça. — Não as tenho... mas sei como pode obtê-las.
Ken tirou a levita e ficou em mangas de camisa. O seu revólver sovaqueiro avultava denunciador, no lado esquerdo do peito.
— Um pouco de «whisky», alcaide?
Craig sacudiu a cabeça.
— Cair-me-á bem.
Beberam ambos e Craig limpou os lábios.
-- Na capital, pode encontrar dados concretos para encarcerar Patton por toda a vida.
— Quais?
— Patton é um antigo foragido.
— Como o sabe?
— Tenho confidentes. Ouvi uns rumores e... Vá à capital e encontrará. Há cartazes com o seu nome... mas desaparecidos desta região. Ele encarregou-se de limpar o seu nome durante os anos em que viveu aqui. Alguém que fosse audaz e se apresentasse na capital e levasse a cabo uma profunda investigação, poderia trazer uma acusação que ninguém se atreveria a deitar abaixo. Mas têm de ser provas de categoria. Patton tem ao seu serviço advogados capazes de enredar o melhor magistrado.
— Como se chamava Patton?
— Carl North. Foi um grande foragido e pistoleiro. É acusado de vários crimes.
— Se o sabia, porque não atuou antes?
— Já disse: tenho medo, e esta manhã não os tratei como devia... porque sabia que estava alguém a vigiar-me.
— No seu rancho?
— Você não conhece Melvin Patton. Tem espiões em todos os ranchos da comarca, que se encarregam de o manter informado. Sabia que me vigiavam e... Por favor, não complique mais isto. Se ele sabe, mata-me.
Torcia as mãos e parecia a ponto de chorar de terror. Acrescentou ainda:
— Estou aqui porque considero que é meu dever ajudá-lo, mas...
Ken voltou a servir «whisky».
— De acordo, Craig. Se a pista que me diz, for boa, Patton cairá nas nossas mãos.
— Desejo-o com toda a minha alma.
Era uma expressão de sincero desejo.
— Os antecedentes de Carl North devem constar no Palácio da Justiça de Phoenix. Eu tratarei de tudo...
— Pensa ir?
— Imediatamente. Amanhã mesmo partirei na diligência.
— Tenha cuidado. Poderiam matá-lo. Se Patton suspeita da razão da sua partida, não se deterá até acabar consigo.
— Enganá-lo-ei, levando toda a bagagem. Far-lhe-ei julgar que vou definitivamente e ele sentir-se-á tão aliviado que não tentará nada contra mim.
— Talvez seja uma boa ideia.
— Pois é.
— Quantos dias estará fora?
— O tempo necessário para encontrar esses detalhes. Mas então, gostaria que tivesse preparada uma força armada disposta a entrar em ação. Se Patton, foi de verdade um pistoleiro, não quererá morrer na forca.
— Estará tudo preparado, descanse.
Ken deu-lhe uma palmada nas costas.
— Obrigado pela sua ajuda, Craig.
— A sua disposição... e na verdade Tombstone ficará em dívida consigo.
Quando o alcaide saiu, Ken murmurou:
— Pobre imbecil!
***
A notícia da partida do juiz tinha corrido em Tombstone como um rastilho de pólvora. Mabel foi a última a despedir-se dele.
— Que o fez decidir-se?
— Uma súbita inspiração.
— Alegro-me. Longe, estará seguro.
— Se é que me deixam chegar ao meu destino.
Estreitou aquela fina mão que ela lhe estendia e fez uma leve vénia. Um criado tinha levado a sua bagagem à diligência, e na «Casa da Posta» encontrava-se um numeroso grupo de curiosos. O cocheiro, ao vê-lo, saudou-o com um grunhido.
— Esta sua viagem é um mau negócio para a Companhia.
Quando os outros passageiros souberam que vinha, anularam as passagens. Ken sorriu com naturalidade.
— Assustei-os?
— Você, não, Juiz. Mas há outros que podem assustar com maior motivo. Se está pronto sairemos já, embora ainda não esteja na hora. Não irá mais ninguém connosco, estou certo. — Ao fechar a porta da diligência, o cocheiro acrescentou ainda: — Não seria melhor ir a cavalo, Juiz? Ofereço-lhe um, se se decidir a fazer a viagem por sua conta.
— Isto é um serviço público, não?
E assinalava com o indicador a diligência.
— É claro que sim, mas a sua presença converteu-a em propriedade particular. Não sabia?
A porta foi fechada e os curiosos afastaram-se à voz do cocheiro.
— Bem, rapazes; podem ir para vossas casas e contar que viram um cadáver sobre duas rodas.
— Têm um raro sentido de humor por aqui, não é verdade?
A voz pastosa e grave fez Ken voltar-se. Era Eva, que estava esplêndida no seu vestido escarlate, mostrando um decote bastante generoso.
—Dois para a morte, pelos vistos — disse Ken. — Não tem medo?
— A morte é minha velha amiga. Devia apresentar-se aqui — e as suas unhas verem-lhas acariciavam o pescoço—mas chegou atrasada. Surpreendido?
— Que faz aqui?
— Tento chegar a qualquer lado.
— Precisamente hoje?
— Devemos dar-lhes trabalho, não crê? Ambos estamos marcados e eles estão decididos a matarem-nos. Porque não morrer juntos, se juntos nos fizemos credores da última pena?
Ken sentou-se em frente da formosa e enigmática rapariga. O seu corpo mostrava vitalidade, e ela regozijava-se com o olhar masculino. Dir-se-ia que se tinha preparado para o casamento, mas naquele caso tratava-se das núpcias da morte.
— És uma rapariga estranha. Queres viver e falas da morte. Tu brincas com ela. Pareces chamá-la e vens com um vestido de festa.
— Gosta do vestido?
— Não.
A resposta de Ken foi dura, mas desviou o olhar. O cocheiro lançou uns quantos gritos e fez estalar o chicote. A parelha de cavalos lançou-se a galope e fez a diligência dar um enorme solavanco. Uma nuvem de pó envolveu o veículo, e atrás dele, Tombstone foi desaparecendo. Eva não foi capaz de estar calada muito tempo.
— Parece preocupado, Juiz. Acaso pensa no que nos espera?
— Será melhor que mantenhas a boca fechada; não quero que apanhes poeira.
— É a mesma coisa morrer asfixiada ou com uma bala no coração.
Momentaneamente, Ken não respondeu, mas ao cabo de uns momentos perguntou:
— Para onde vais, Eva?
— Para a capital. Em Tombstone não me sentia muito segura, mas lamento não ter escolhido um dia melhor para viajar.
— Podias ter anulado o teu bilhete, como fizeram os outros viajantes.
— Não tenho medo, e de todas as maneiras a sua companhia não é desagradável. Se não fosse você pensar nos pistoleiros que nos vão cortar o caminho, isto poderia tornar-se num romance.
— Não gosto das tuas brincadeiras, Eva.
— Com toda a sua rudeza, não tem os nervos muito certos, Juiz. Confesse que tem medo...
— Não tenho medo... Se o tivesse, não estaria aqui.
— Quer dizer que sabe ao que se expõe?
— Para falar com sinceridade, sei que tentam assassinar-me... e que não chegaremos a Phoenix.
Eva estremeceu, como se uma corrente gelada tivesse passado por ela.
— Não o compreendo.
A sua voz tinha-se apagado até ao murmúrio, que ficava abafada pelo ruído da diligência. Ken olhava para o exterior, vendo a pradaria imensa que se estendia perante eles sem nenhum obstáculo apreciável e debaixo dum sol radioso que dava à paisagem um colorido alegre.
— Não me compreendeste em nenhum momento, Eva — disse ele, como censurando-a embora sem a olhar. — Vi que estavas inocente e salvei-te da armadilha que te tinham armado; e não encontrei colaboração da tua parte, Eva, e sim só palavras que não gosto.
As faces femininas coraram perante aquelas palavras. Uma estranha perturbação fê-la vacilar.
— Você é um homem estranho.
— Porquê? Porque não sou um rufião ao serviço de Patton? Porque a minha honra não está visível? Porque não pretendi nada em troca por salvar-te a vida? — Fez um gesto desdenhoso. — Vejo que em Tombstone a honra tem muito pouca cotação.
Cruzou as pernas e acomodou-se melhor no assento.
— Patton e os seus homens são uns miseráveis, e a população de Tombstone são uns cobardes, e tu... — encolheu os ombros. — Não vale a pena pensar o que és na realidade. Mas elegeste mau companheiro para a viagem, se pensavas que ias ter um romance excitante.
Ela ergueu-se furiosa por aquelas palavras, mas um solavanco brusco fê-la cair nos braços de Ken, que a segurou a pouca distância do seu peito, aspirando o perfume feminino que vinha do profundo decote. Os lábios vermelhos ficaram a uns milímetros, mas o jovem não cedeu à tentação. Ela exclamou:
— Odeio-o!
Ken colocou-a suavemente no assento fronteira, sem sequer roçar os lábios que tremiam furiosos.
— Podes ficar na primeira estação de muda que passarmos, se não gostas da minha companhia. Estás aqui de livre vontade.
A partir daquele momento o silêncio só era interrompido pelo ranger da carruagem e pelos gritos do cocheiro incitando os cavalos. O tempo foi passando lento. O calor fazia-se sentir dentro do veículo, cujas persianas estavam fechadas numa tentativa vã de impedir a entrada do pó.
De repente, ao sair de uma curva, deu-se o ataque. Foi tão súbito que Eva saltou do assento ao primeiro disparo, que atravessou a carruagem, embatendo na janela oposta. Soou outro disparo seguido logo de vários.
Ken lançou-se ao chão da diligência e nas suas mãos apareceram dois revólveres, que começaram a disparar através dos vidros partidos da janela.
Na boleia, o ajudante do cocheiro disparou contra o grupo de cavaleiros que cavalgavam próximo da diligência, mas uma bala alcançou-o no peito, fazendo-o cair. Num repente, Ken assomou à janela, disparou e o assassino do infeliz condutor caiu com a cabeça perfurada.
Por seu lado, Eva também tinha entrado em ação. De uma mala de mão tirou um par de «Colts» calibre 39, com os quais se pôs a disparar sem medo através da janela do seu lado. Entretanto, os cavalos corriam espavoridos, aterrorizados pelo zumbido das balas.
Os assaltantes eram seis e disparavam com fúria contra a diligência, tentando crivar os seus ocupantes, mas a madeira da carruagem era grossa e protegia-os. O cocheiro pretendeu apoderar-se do rifle do seu ajudante, mas uma bala destroçou-lhe o pescoço lançando-o abaixo da diligência.
Os cavalos, sem direção alguma, galopavam loucamente pelo meio daquelas rochas, passando obstáculos milagrosamente e girando instintivamente no último segundo, antes que as rodas caíssem no vazio ou chocassem contra o estreito desfiladeiro.
Ken, dentro do veículo, fazia fogo sempre que tinha um cavaleiro na linha de tiro, e Eva pelo seu lado, procedia de igual modo. Essa era a razão por que os pistoleiros se mantinham ao longe, num ângulo que os protegia das balas do jovem par.
Um dos pistoleiros galopando junto aos cavalos, saltou sobre o primeiro, apoderando-se das rédeas para dominar pouco a pouco os enlouquecidos animais, e outros dois saltaram para cima da diligência, pela parte posterior, e passaram para o tecto. Ken ouviu-os e, furioso, disparou contra o tecto, mas não alcançou nenhum deles. Estes por sua vez fizeram fogo repetidas vezes, convertendo o interior da diligência num inferno de balas, que milagrosamente não apanhou nenhum dos viajantes.
Eva, encolhida sobre o assento deixou de disparar para carregar os seus revólveres e ocupada naquela tarefa viu assomar pelo lado a cabeça e a mão de um dos assaltantes que se inclinava de cima do tecto. Gritou loucamente:
— Cuidado, Juiz! ...
Ken voltou-se como um raio, disparando, e a cabeça do pistoleiro esfumou-se debaixo de uma cortina de sangue. Depois caiu no caminho devido ao solavanco do veículo. Ken chegou-se para a jovem instintivamente, e abraçou-a pelos ombros. Eva soluçava pelo susto e pela emoção de ver aquele rosto brutalmente destroçado.
— Vamos, não chores, isto não é nada.
Os disparos dos assaltantes iam diminuindo e o jovem olhou pela janela e verificou que os pistoleiros iniciavam a retirada. Só então reparou na razão dessa retirada. Os cavalos dirigiam-se em linha recta para um precipício que havia a uma centena de metros mais adiante. Guardou os revólveres e pegou num braço de Eva.
— Temos de saltar daqui ou ficaremos feitos em pedaços ao despenharmo-nos no precipício.
A jovem tinha perdido o sangue frio e tremia.
— Eu...
— Vamos, há que ter coragem. Matamo-nos ao cair a esta velocidade. É a única possibilidade de vida que temos, Eva põe-te de pé, depressa.
Os cavalos lançavam-se cegamente para o abismo, como se este tivesse um magnetismo especial que os atraísse. A jovem obedeceu e Ken abriu a portinhola. Com a velocidade a porta foi bater contra o corpo do veículo. O vento agitava as roupas femininas, embaraçando ambos nelas e dificultando-lhe os movimentos.
Ken pegou a jovem nos braços e lançou-se. A bofetada de ar fê-los perder o alento e abraçados, caíram no solo, rebolando. O golpe foi brutal, mas o jovem protegeu a sua companheira com o seu corpo, evitando que esta fosse muito maltratada.
Um segundo depois, ouviu-se um relincho agonizante: os cavalos precipitaram-se no abismo. Uma chuva de pedras rolou pela encosta e quando a diligência e os cavalos chegaram ao fim do precipício, ficou numa pasta de sangue, que as pedras foram cobrindo piedosamente, com o seu alude protetor.
No chão, rodeados ainda por uma nuvem de pó, Ken sacudiu a cabeça tratando de preparar-se para o próximo ataque dos bandidos. Doía-lhe todo o corpo da queda, mas mesmo assim empunhava os revólveres. Eva olhava-o com uma nova expressão, e nos seus olhos havia uma doçura inquietante para ele.
Mas Ken não teve necessidade de usar as armas. De repente um tiroteio furioso dispersou os três pistoleiros sobreviventes, obrigando-os a um galope cobarde para fugir do inesperado ataque. O grupo de cavaleiros deixou-os para se dirigirem ao abismo onde se tinha despenhado a diligência. Mas o que ia à frente descobriu os jovens e parou o seu cavalo.
— Graças a Deus! — exclamou Aceves, saltando do cavalo e indo ao encontro de Ken.
Este levantava-se e ajudava Eva também.
— Um pouco tarde, Raul — comentou. —Julguei que tinha escolhido mal os meus amigos.
— Por favor, Ken! — protestou o rancheiro mexicano. — Foi um azar. Imaginava onde podia dar-se o assalto e adiantei-me com os rapazes para estar melhor preparado, mas neste lado das rochas perdemo-nos, e... Quando ouvimos os primeiros disparos, estremeceu-me o coração! Por sorte...
Ken sacudia a roupa.
— Acredito, Raul. Não é preciso que me dê mais justificações. Podem os seus rapazes laçar um par de cavalos pertencente aos pistoleiros mortos, para nós montarmos? Quero seguir esses foragidos.
Aceves deu uma ordem, e no mesmo instante, três dos seus peões lançaram-se na tarefa. Entretanto, Ken apresentou Eva a Aceves. Depois este retirou-se para ajudar os seus homens e quando Eva e Ken ficaram sós, a jovem disse:
— Fui sempre uma estúpida, e só agora reparo. Você é um cavalheiro e... alegro-me muito em o conhecer.
O jovem passou a mão pelo peito, embaraçado.
— Tu és também uma boa pequena... mas com mau génio — e riu.
Eva corou e num instante uma corrente de simpatia os uniu.
— Estou outra vez em dívida consigo —reconheceu Eva — e... não fui correta. Você precisava da minha ajuda em Tombstone e eu não lhe prestei essa ajuda.
— Sabes alguma coisa de Melvin Patton?
— O que muitas pessoas sabem: que é o cérebro do bando, que rouba gado no México e o passa para o Arizona.
— Provas?
— Não as tenho, mas sim de Craig.
— Do alcaide?
— O seu rancho é utilizado como lugar de trânsito para as reses. Averiguou-o Joe Patton... e por isso morreu.
— Que fazia Joe?
— Era sobrinho de Melvin. Tinha vindo há uns meses e vivia no rancho do tio. Conheceu-me e queria casar comigo. Quando as nossas relações foram avançando, confessou-me que Patton se dedicava a tráfego indigno. Falou com o seu tio, pedindo-lhe que abandonasse aquelas atividades, e só conseguiu ameaças. Depois descobriu que o xerife Went e o alcaide eram também cúmplices e procurou provas contra eles. Encontrou algo contra Craig... e mataram-no cobardemente.
— Depois quiseram converter-te a ti como sua assassina para mascarar tudo? Sim; e teria sido enforcada se não fosse você.
— Deixemos isso. Que foi que Joe encontrou?
— Não mo disse.
— Como dizes que há provas, se as ignoras?
— Existem, estou certa. Joe encontrou-as e deve tê-las escondido em algum sítio.
— Onde?
— Tenho uma certa ideia. Eu posso levá-lo onde julgo que estão e se não me engano, terá nas suas mãos toda a quadrilha.
— Porque não me falaste disto no teu julgamento?
Ela baixou a cabeça.
— Ainda não me fiava em você. Julgava que só procurava... um benefício particular.
Ken apertou os dentes.
— Perdão. Fui uma estúpida. Os cavaleiros de Aceves regressavam com dois cavalos laçados.
— Podemos seguir esses bandidos quando quiser, Ken.
Ambos montaram os respetivos cavalos e o jovem vacilou:
— Será melhor que os deixemos seguir. Temos algo mais importante que fazer.
Aceves não objetou nada, e dispôs-se a encabeçar a expedição de regresso. Eva olhava furtivamente para Ken, que de olhos semicerrados refletia. Havia algo em Eva que a fazia vacilar. Alguma coisa que se referia exclusivamente aos seus sentimentos íntimos, embora não estivesse disposta a demonstrar a sua inclinação. Atrás do grupo armado, uma coluna de pó elevava-se como pano de fundo.

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